Volume 2

Capítulo 130: Determinação

O sol estava finalmente alto no céu, sugerindo que já devia ser por volta das dez da manhã. Seus raios penetravam timidamente através das nuvens dispersas, refletindo de maneira pálida na água lamacenta que circundava um jovem de cabelos vermelhos e olhos oliva, Patrick.

O jovem, cuja expressão parecia nunca abandonar a carrancuda seriedade, mantinha os olhos fixos à frente, com a respiração mais pesada que o habitual. A água que chegava até seus joelhos borbulhava levemente, como se estivesse em ponto efervescente. Um pouco distante de seu corpo, talvez a alguns centímetros ou um metro apenas, a água lamacenta ondulava omnidirecionalmente, misturando o vermelho vivo com o marrom da lama. No centro dessas ondulações, gotas carmesim caíam ritmicamente, marcando o líquido turvo. De onde vinham? Do alto, caindo diretamente da ponta afiada e banhada de sangue da lança de Patrick.

— É isso que chamam de criatura lendária? 

Onde as íris olivas estavam fixas? Do que exatamente ele estava falando? Do ser imenso, caído de bruços diante de si, uma criatura colossal que facilmente ultrapassava os vinte metros. A pança avantajada parecia conter os últimos suspiros de vida da criatura, subindo e descendo por mais alguns preciosos segundos. O corpo roliço era composto de uma lama espessa, que parecia servir como pele. No entanto, nada disso importava mais, pois onde deveria estar a cabeça intacta, havia agora um semicírculo grotesco, um ferimento que subia da bochecha até próximo à testa. Era realmente um milagre que, mesmo com uma ferida dessas, a criatura ainda tivesse alguns momentos fugazes de vida.

— Não é nada tão extraordinário como eu havia pensado — disse, com um tom de decepção evidente. Girou a lança no ar, colocando-a ereta e fincando o cabo no fundo lodoso da água, fazendo respingos voarem para todos os lados. — Ao menos renderá sessenta pontos, e se todas forem tão fracas assim, não será difícil acumular pontos o suficiente para que ninguém me alcance. 

As feições de desdém de Patrick deixavam claro que ele achou aquele ser nada demais. A água ao seu redor começou a resfriar, dissipando as bolhas borbulhantes de antes. Abriu os dedos que envolviam o cabo reluzente da lança, e antes que a arma pudesse despencar, desapareceu no ar, indicando que era uma arma vinculada à sua alma.

O luxuoso hanfu do clã do fogo, estava sujo pelo terreno difícil que fora obrigado a desbravar. Contudo, o corpo tonificado por baixo, não apresentava um único ferimento sequer, nem uma mísera marca que indicasse qualquer dificuldade na batalha contra a criatura lendária.

Patrick passou a mão pelo anel em seu dedo, idêntico ao que Alaric também possuía, e uma tela formada por raízes vivas surgiu diante dele. Na tela, os nomes e pontuações dos competidores começaram a se formar, cada letra e número parecendo pulsar com uma energia própria. Desviou o olhar rígido para a criatura, que finalmente deu seu último suspiro, e voltou a atenção para seu nome na tela. Observando com satisfação que seus pontos, antes zero, agora eram sessenta, confirmando que aquela era de fato uma besta lendária.

— Os outros realmente estão fazendo algo? — indagou a si mesmo, observando os outros nomes na tela com desprezo. Apenas duas outras pessoas haviam pontuado: Lara, com vinte pontos, e Graug, com quarenta. — Que patético... Estão ao menos se esforçando? E aquele desgraçado… 

Patrick estava incrédulo que, mesmo com o nível baixo das criaturas, muitos competidores não haviam conseguido nenhum mísero ponto. Baseando-se completamente na lendária que acabara de abater, ele considerava a situação patética, principalmente quando observava o nome de Alaric com zero ao lado. Contudo, isso também significava menos competição para ele, algo que considerava vantajoso. Seus lábios se curvaram em um sorriso satisfeito, que não suavizou a expressão severa, apenas a tornou mais intimidadora.

Ele desfez a tela com um movimento brusco e começou a caminhar pela lama, afastando-se da criatura morta. Seus passos firmes ecoavam sua confiança, cada pegada na lama ressaltando sua determinação. No meio da caminhada determinada, escutou e sentiu o ronco de sua barriga, um lembrete de que a fome começava a se fazer presente.

"Passei sete dias naquele inferno, sem nem água para beber. Alguns dias com fome não serão nada", concluiu mentalmente com arrogância. Ele sabia que já enfrentara situações piores na vida, experiências que o moldaram até se tornar quem era. 

Voltando à questão imediata, Patrick decidiu não esfolar a criatura. Claro, e não era pela suposição de que a criatura fosse toda feita de lama, até porque, o sangue que escorria da ferida grotesca em seu rosto e das centenas de ferimentos por todo o corpo da besta deixava claro que havia carne ali, por baixo da pele lamacenta. Mas, apesar da fome que lhe mordiscava o estômago, preferia ignorá-la e continuar avançando. 

Armazenar alimentos naquele terreno era um desafio complexo e imprático demais, pois não dispunha de um local seguro para guardar a carne. Ou seja, carregá-la consigo seria a única opção, mas isso seria muito ineficiente, especialmente no terreno pantanoso que já dificultava sua locomoção. 

Além disso, o peso extra diminuiria sua agilidade em futuras batalhas, algo que ele não podia permitir. Para Patrick, nada mais importava além de acumular pontos. Mesmo que a fome o fizesse gemer de dor, ele não se importaria; sua determinação era seguir em frente, lutar, matar e ganhar pontos, custe o que custasse.

"Eu preciso de um aliado..." pensou ele com relutância. A ideia de ter aliados sempre o incomodara um pouco; sua força o permitia agir sozinho sem problemas. No entanto, alguns pensamentos recentes o fizeram reconsiderar essa posição. Refletiu sobre quem seria a pessoa ideal para ocupar tal posição. Alaric, Xu Ying, Galean e Graug foram automaticamente descartados; eles já haviam entrado em conflito com ele antes, tornando qualquer forma de cooperação ou obediência completamente fora de questão.

"Jie Ming... Não!" Seu semblante endureceu só de pensar naquele monge. A mera ideia de alguém tão passivo estar na mesma competição que ele já lhe revirava o estômago; considerá-lo um aliado era impensável, simplesmente não funcionaria. Lara... também não era uma boa escolha. Aquela garota misteriosa, apesar de ter chamado a atenção de Patrick, não parecia ser alguém que apreciasse trabalhar em grupo. Tinha um espírito independente demais, algo que ele notou apenas observando-a.

— Igual a ela… — murmurou com ternura, deixando escapar um sorriso terno que logo se desfez, sua expressão endurecendo. Balançou a cabeça para afastar esses pensamentos intrusivos. — Tsc... Foco, Patrick!

A figura em que havia pensado já ficara para trás há muito tempo, ainda que seu rosto, cheiro e nome surgissem. Ele sempre se esforçava para enterrar esses sentimentos emergentes no mais profundo de sua psique. No entanto, um pensamento persistia sobre alguém que ele compreendeu desde o primeiro olhar... alguém medroso.

"Perfeito, ele obedecerá sem questionar." Um sorriso vil curvou-lhe os lábios de forma sinistra. Ele pensava em Vincent Frankenstein, o único que parecia verdadeiramente afetado e nervoso durante as apresentações. Vincent era o tipo de rapaz que parecia o típico medroso e fraco, disposto a fazer tudo que um mais forte ordenasse. Era o candidato perfeito aos olhos prepotentes de Patrick, que observava adiante como se visse além do presente.

Para Patrick, não se tratava de encontrar um aliado baseado em confiança mútua. Ele via as relações de maneira diferente, onde a força, o medo e o temor impostos por ele eram a base da estabilidade. Nesses termos, um subordinado que não ousasse questionar suas ordens era mais valioso do que um aliado em quem confiar plenamente por sentimentos "bons" ou pacíficos, que só de pensar lhe dava ânsia. Um subordinado que o temesse profundamente, e Vincent, pobre Vincent, se encaixava perfeitamente nesse perfil. "Só resta te encontrar…”

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No recanto mais sombrio da floresta, Alaric e Alice enfrentavam um grande desafio: um urso mutante, com às presas afiadas brilhando à luz filtrada pelas copas das árvores. O monstro imenso rosnava, cada passo pesado reverberando pela clareira. Sua pele densa, coberta de pelos negros, parecia impenetrável, refletindo a luz esverdeada do ambiente ao redor.

— Meus golpes nem o arranharam — murmurou Alaric, os olhos fixos na besta. — Mesmo desferindo estocadas com quase toda minha força, não consegui fazer um sequer ferimento.

"Quase" pois ele não teve tempo de firmar-se totalmente antes dos golpes, então não era toda sua força, apenas uma grande parte dela. Mesmo assim, era suficiente para perfurar concreto espesso e maciço, ou várias placas de aço. No entanto, a pele coberta de pelos eriçados e escuros do urso não exibia nenhum sinal de ter recebido tais golpes.

Alice engoliu em seco, a adrenalina turvando sua respiração. 

— Mas eu acho que consegui machucá-lo um pouco… — Ela apontou para a pata dianteira do urso, que mancava ligeiramente, um consequência de um golpe poderoso de seu chicote. 

— Golpes contundentes… — Suspirou Alaric, limpando o suor misturado com sangue de sua testa. — É… Parece ser nossa melhor aposta.

Com determinação, ele começou a se aproximar do urso, katana em punho, sem desviar o olhar. O animal rosnou em resposta, seu corpo se preparando para o próximo ataque. Alice olhou para Alaric, confusa. 

— O que você está planejando?

— Ficar parado não vai resolver nossos problemas — disse ele, seu olhar claro estreitando com determinação. — Seus ataques serão os mais eficientes, sem dúvida. Eu irei atrair a atenção dele e tentar segurar os golpes. O resto... bem, você já sabe o que fazer.

A jovem apertou firmemente os dedos em torno do cabo do chicote, sentindo a textura áspera e a firmeza do couro contra sua pele. Ela respirou fundo, inflando os pulmões com ar fresco da floresta, preparando-se para o confronto iminente. Alaric, com passos calculados e cautelosos, aproximou-se lentamente do imponente urso.

A batalha não seria apenas um teste de força bruta; agora, a estratégia era crucial. Alaric sabia que precisava encontrar uma maneira de conter os ataques sem se ferir gravemente. Um desafio imenso, considerando o tamanho da criatura e suas afiadas garras.

O urso, visivelmente agitado, não conseguiu mais conter sua impaciência. Saliva escorria de sua boca semiaberta, pingando em grandes gotículas enquanto ele avançava em direção a Alaric com um ímpeto assustador, fazendo as gotas voarem pelo ar. O jovem assumiu uma postura defensiva, empunhando a lâmina negra adornada com detalhes em vermelho, pronta para o embate. Não houve muita espera; o primeiro ataque do animal foi desferido com a força brutal de suas garras abertas.

O encontro de garra e lâmina foi marcado por um tinido metálico que reverberou por toda a floresta, um som penetrante que fez os tímpanos de Alice vibrarem, provocando uma careta incômoda.

Alaric até tentou conter o ímpeto do ataque, mas a força do animal era avassaladora, impossível de suportar no estado em que se encontrava. Sem a resistência necessária, Alaric foi arremessado como um boneco de pano, projetado a vários metros de distância. Seu corpo, completamente descontrolado e despreparado para o impacto, atingiu o solo coberto de folhas secas e galhos quebrados com um estrondo seco. O choque foi brutal; ele sentiu a dor se espalhar por seus membros com a velocidade de um incêndio, uma sensação abrasiva que tomou conta de seu corpo e fez com que cada respiração fosse um desafio.

Alice observava desesperada enquanto Alaric jazia imóvel, aparentemente inconsciente. Seu coração batia descompassado, ecoando o ritmo frenético do medo que a dominava. O rugido ameaçador do urso, agora mais próximo, misturava-se ao som de sua respiração rápida e irregular. Ela sentiu o pânico crescer, mas não podia permitir que o medo a paralisasse. A visão do urso se aproximando lentamente do jovem caído a encheu de uma determinação feroz. Sabia que precisava agir, e rápido, antes que fosse tarde demais.

— Alaric! — A palavra escapou de seus lábios num tom desesperado. A falta de resposta dele a petrificava. — Maldição! Ei, seu urso imundo, venha para cima de mim! 

Alice provocou, sua voz embargada pelo medo, mas imbuída de uma determinação férrea. O urso, com seus olhos carmesim faiscando de raiva, parou subitamente diante do desafio. Um rugido gutural e ressonante irrompeu de sua garganta, reverberando pela mata e vibrando no ar pesado, enquanto sua colossal figura se voltava para Alice. A fera parecia se ampliar, como se presença imponente cheia de uma fúria assassina, estivesse prestes a engolir tudo à sua volta.

Sem recuar um passo, Alice firmou sua mão no cabo do chicote, os dedos brancos de tanto apertar. Sua mente fervia com uma mistura de pânico e resolução. Ela sabia que não podia falhar. O destino de alguém estava em suas mãos, e enfrentaria aquele desafio com coragem, mesmo que seu coração pulsasse descontrolado de terror dentro do peito.

— Nunca irei abandonar alguém que precise de mim… Nem que eu morra por uma tolice dessas!  

Alice preparou-se com destemor, os músculos tensos e os olhos fixos na criatura. Mantendo-a cuidadosamente à distância da corda de sua arma, controlou a respiração e focou os pensamentos. Com um movimento fluido, soltou a corda que se desenrolou como uma serpente viva em direção ao chão, estendendo-se e preparando-se para o ataque. 

Quando a corda tocou o solo, a brandiu com um vigor implacável. O chicote se moveu com uma elegância mortal, girando e esticando, cortando o ar com uma ferocidade que fez o vento assobiar. O chicote desenhou uma trajetória certeira enquanto gotas de água se dispersavam em um brilho quase mágico ao redor da corda.

O urso, tomado de surpresa pela velocidade e precisão do ataque, não teve tempo para se defender. Apenas sentiu uma queimação intensa no ombro antes de ouvir o estalo poderoso do chicote em contato com sua pele. Sem qualquer reação, deixou que um gemido de dor escapasse de seus lábios. A dor era imensa e instantânea, parando-o abruptamente, dominado pela agonia que fazia seu corpo tremer e seu olhar se encher de pânico. 

A íris vermelha do urso brilhou com um terror indescritível ao se dar conta de que sua agonia não cessaria tão facilmente. Alice, com uma destreza impressionante, puxou a corda novamente, aproximando-a de si. Girou a corda com maestria no ar, desferindo uma série de ataques rápidos e implacáveis. Cada golpe fazia a corda cortar o ar, assobiando como a própria morte, espalhando gotículas de água que brilhavam sob a luz filtrada pelas copas das árvores. O som dos impactos reverberava pela floresta, produzindo gemidos agônicos que ecoavam de maneira lúgubre entre as árvores. Os estalos secos dos golpes faziam os pássaros, assustados, levantarem voo com urgência, suas asas batendo freneticamente enquanto voavam para longe do caos que se desenrolava.

“Desde quando... Eu sou tão fraco?” indagou Alaric consigo mesmo, sentindo-se derrotado no chão. Um único golpe tinha sido suficiente para derrubá-lo, algo inconcebível para aquele jovem que tanto lutou bravamente no passado. Ele virou o rosto na direção da moça, que investia com toda a ferocidade de seu ser. O urso, confuso, parecia perdido, sem saber como reagir diante da intensidade dos ataques intermináveis.

Contudo, os estalos e os urros desesperados da besta não passariam despercebidos. De repente, um novo som começou a se destacar entre os ruídos caóticos: passos pesados e implacáveis que reverberavam pelo chão, fazendo-o tremer ligeiramente sob o impacto. O eco desses passos, ameaçador e imponente, parecia se espalhar entre as árvores altas e escuras.

Alaric sentiu o coração bater com uma intensidade crescente, um tambor furioso que parecia querer se despedaçar dentro de seu peito. A antecipação do pior se apossava dele, uma sensação visceral e aguda que o fazia sentir-se à beira de um precipício. A cada passo que se aproximava, o medo e a expectativa se entrelaçavam, formando um manto pesado e opressor que parecia envolver todo o seu ser.

Não estava errado em sua reação, na inquietação que o dominava. Das sombras densas das árvores ao redor, uma nova ameaça surgia, à medida que criaturas adicionais emergiam, cada uma exibindo uma presença tão imponente e ameaçadora quanto a primeira. Essas bestas, com pelagens espessas e olhos que brilhavam como lâminas cortantes, pareciam erguer-se das trevas como espectros malignos. Seus músculos robustos ondulavam sob a pele escura enquanto se moviam com uma precisão ameaçadora, e o som do crepitar das folhas secas sob suas pesadas patas ressoava de forma quase ensurdecedora, era como a morte chegando.

— Só pode estar brincando… — Alice murmurou, seu semblante atônito enquanto seus ataques começavam a perder força. — Ele tinha amigos? Uma família?

Não havia certeza, mas uma coisa era clara: as coisas estavam prestes a se complicar. As feras, com os olhares selvagens e implacáveis, observavam com uma crueldade crescente enquanto um de seus pares agonizava no chão. Com uma fúria crescente, os ursos se agruparam e avançaram freneticamente em direção a Alice, que arregalou os olhos. Em um desespero crescente, ela brandia o chicote com força, tentando desesperadamente mantê-los afastados, estalando arma como nunca. Seu coração batia descontrolado no peito, a respiração se tornava cada vez mais ofegante. Os monstros, implacáveis, avançavam passo a passo, ganhando terreno e se aproximando cada vez mais, como uma maré.

Alaric observava a cena com impotência. A garota, que havia vindo em seu auxílio por pura bondade, agora estava encurralada por aquelas criaturas. Ele se sentia como um espectador inútil, paralisado pela sensação de fracasso.

— Até parece... — sussurrou para si mesmo, firmando as mãos no chão, para ergue-se lentamente.

Alice desviou seu olhar para ele, seus olhos azuis como o mar em tempestade, úmidos. Ficaram secos ao vê-lo se erguer, e um brilho fugaz de esperança atravessou suas pupilas.

— Impenetráveis? Não me faça rir... — A katana caiu ao chão e, num piscar de olhos, uma lança materializou-se em suas mãos. — Só preciso de força... ou algo mais. 

Ele balançou a lança para trás, os músculos de seu braço endurecidos e tensos, como cordas de aço prestes a romper. A determinação irrompia de cada fibra visível de seu corpo, um brilho feroz e resoluto que iluminava seus olhos. Com um grito primal, ele avançou, dando um passo firme à frente. A cintura girou em um movimento fluido e poderoso, enquanto seu torso seguia a mesma trajetória. O braço, com a lança em mãos, foi lançado para frente com um ímpeto devastador, uma demonstração de força e coragem que parecia desafiar o destino cruel que os cercava.

A mão liberou a lança, que cortou o ar com um assobio sinistro, como se o próprio vento tremesse diante de sua velocidade. A lâmina, reluzente e quase etérea, refletia uma luz fria e inumana, lançando um brilho gélido que parecia antecipar o destino funesto. Algo peculiar surgiu na arma, e sem qualquer hesitação ou remorso, a lança penetrou a pele do urso, desafiando sua resistência aparentemente indomável. A arma cravou-se com uma força implacável na lateral do corpo, perfurando músculos e ossos com uma precisão letal.

O impacto foi devastador; a força da lança esmagou a resistência da fera e selou seu destino de maneira irrevogável. Um último rugido abafado escapou dos lábios do urso, um som carregado de agonia e surpresa. Seu corpo, pesado e desamparado, se curvou em direção ao chão, e seu olhar, agora opaco, revelava a rápida dissipação de sua vida, como se cada batida de seu coração fosse uma memória efêmera do que um dia foi. Finalmente, a imensa massa caiu, atingindo o solo com um baque seco e definitivo.

Mesmo com o corpo dolorido, Alaric avançou em direção à jovem. A dor de cada movimento reverberava em seus ossos, mas ele ignorou. Chegou próximo aos ursos, que ainda a encaravam ferozes, e, com um impulso ágil, saltou por cima de seus corpos robustos. Não deu tempo para a garota sequer pensar; a agarrou firmemente e continuou a correr, sem rumo definido. Lutar contra todas aquelas feras parecia impossível naquele momento. A decisão mais sensata era recuar. A lança cravada no corpo morto do urso desapareceu, sumindo como se nunca tivesse existido, enquanto as criaturas permaneciam ali, confusas, sem entender exatamente o que havia acontecido.

"Nos veremos outra vez, e eu tratarei de exterminar cada um de vocês" prometeu em silêncio, seus olhos faiscando de determinação. Talvez fosse uma maneira de negar a si mesmo que estava fraco, mas isso não importava agora. De uma coisa tinha certeza: ele realmente voltaria, e conquistaria aqueles pontos ao custo das vidas daquelas bestas.

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