Volume 2

Capítulo 125: A Caminho do Palácio

Alaric havia terminado sua conversa com Sofía, assim, descendo até a saída principal da residência. Ao abrir a porta, foi acolhido pela luz solar reconfortante que inundava o quintal, sentindo a brisa matinal acariciar sua pele, despertando uma sensação de serenidade.

O hanfu discreto que Alaric vestia balançava suavemente com o leve vento. Era uma peça elegante e funcional, uma saia longa preta adornada com detalhes em branco e verde, que evocavam imagens de folhas e outros símbolos ligados ao elemento vento. A parte superior correspondia perfeitamente à parte inferior em cor e detalhes, fechada o suficiente para dispensar uma camisa por baixo. As mangas eram longas e ajustadas, delineando seus braços, enquanto um cinto de pano azul-celeste marcava sua cintura com elegância.

Por cima de tudo, um sobretudo que alcançava a cintura, amarrado pelo próprio cinto integrado ao hanfu. Suas mangas largas e amplas ondulavam graciosamente ao leve e gelado vento da manhã, adicionando um toque de majestade à sua figura enquanto ele contemplava o horizonte refletindo como seria o dia. 

— Ei, chefe! Bom dia! — Lucian se aproximou, vestindo roupas simples e despojadas, contrastando com a luxuosa indumentária de Alaric. Ele acenou com energia, um sorriso largo no rosto. — Nossa! Como você está elegante! Nem parece que pode matar alguém apenas em alguns movimentos…

Alaric revirou os olhos ao ouvir a voz de Lucian, a única pessoa capaz de tirar sua paz numa manhã que parecia prometer tranquilidade. Respirou fundo, tentando manter a compostura.

— Bom dia, Lucian — respondeu, com uma educação fria e calculada, sem desviar o olhar do que fazia. — Como tem estado?

Lucian hesitou, coçando a cabeça enquanto o sorriso vacilava ligeiramente.

— Hmmm… Acho que bem! Bem? É… sim! Trabalhando bastante para falar a verdade… — Ele abaixou o olhar, um brilho de cansaço visível em seus olhos. — Ei chefe, não pode pedir para eles me darem mais tempo de descanso, não?

— Não. — A resposta de Alaric foi seca e definitiva, como o corte de uma lâmina.

— É, imaginei… Ah! Tudo bem, eu consigo! — Lucian forçou um sorriso radiante, tentando esconder a frustração. 

Os dois ficaram ali, engajados em uma interação que dificilmente poderia ser chamada de conversa. Lucian falava incessantemente, enquanto Alaric, de expressão fechada, se forçava a escutar, sem muito a acrescentar. A tortura só foi interrompida quando a porta atrás deles rangeu suavemente, desviando a atenção de ambos para trás. Lá estavam Zhi Fēng, seguido por Eian Liu, que logo os saudaram com sorrisos e cumprimentos cordiais.

Eles logo se aproximaram e começaram uma conversa. O papo entre eles era descontraído, mas sem grande relevância. Como de costume, Lucian não perdia uma oportunidade para ser inconveniente, o que fazia Zhi Fēng disfarçar seu desconforto com sorrisos amarelos, enquanto Alaric o repreendia com tapas na nuca. 

Essa dinâmica durou até que a porta se abriu novamente, revelando alguém que poderia fazer qualquer queixo cair. Xu Ying apareceu com um olhar profundo e cabelos esvoaçantes, mudando imediatamente o clima do ambiente. Ela cumprimentou todos rapidamente, com uma timidez graciosa, antes de todos se dirigirem à carruagem. Lucian ficou para trás, ainda com muitas tarefas a cumprir como faz-tudo do clã.

A carruagem, luxuosa e ornamentada, esperava por eles do lado de fora. Zhi Fēng e Eian Liu ajudaram Xu Ying a entrar, enquanto Alaric dava uma última olhada para Lucian, seu rosto ainda carregando a irritação dos momentos anteriores. Dentro da carruagem, o ambiente era um contraste com a interação anterior, envolto em uma atmosfera de expectativa e tensão sutil.

O cocheiro deu uma batida firme nas rédeas, e os cavalos responderam com relinchos, começando a se mover lentamente. O silêncio dentro da carruagem era quase desconfortável, carregado de uma tensão que ninguém parecia disposto a quebrar. À medida que se afastavam da residência do clã, o som rítmico das rodas no pavimento preenchia o ar.

De repente, a alguns metros à frente, uma carruagem luxuosa passou pela deles, chamando a atenção de Alaric. Ele virou a cabeça rapidamente, seguindo o som das rodas, e olhou pela janela ao lado de Zhi Fēng. A carruagem imponente, adornada com emblemas dourados, seguia em direção ao clã do vento, indicando que transportava alguém de alta importância.

Alaric notou a reação de Zhi Fēng. O jovem estava visivelmente nervoso, seu olhar fixo na carruagem que se afastava. Sua mão apertava o joelho com força, os nós dos dedos ficando brancos com a pressão. A tensão no rosto de Zhi Fēng revelava mais do que palavras poderiam dizer. Alaric, observando atentamente, lembrou-se de todas as vezes que o rapaz apresentou essa apreensão. Ele deduziu que aquela carruagem provavelmente levava alguém importante para Zhi Fēng, talvez seu pai.

— Zhi Fēng, pode me dizer um pouco sobre o imperador? — indagou Alaric, tentando disfarçar seu desconforto naquele clima pesado que pairava na carruagem. 

Zhi Fēng, que até então observava distraidamente a paisagem que passava pela janela, foi pego de surpresa pela pergunta. Ele piscou algumas vezes, como se estivesse se desprendendo de seus próprios pensamentos, antes de finalmente desviar o olhar para Alaric.

— O imperador? Hmmm… — começou, hesitando um pouco enquanto organizava suas ideias. — Ele se chama Jian Fang — Zhi Fēng elevou o olhar para o teto da carruagem, como se buscasse as palavras certas no intrincado padrão de madeira. — Ele é um homem de idade avançada, mas de grande sabedoria.

— A família Fang é uma das mais poderosas do mundo — começou a complementar Xu Ying, sua voz firme e cativante, atraindo a atenção de todos ao redor. — Eles estão à frente do Império Donfang desde os primórdios da nação.

Alaric observava cada gesto de Xu Ying, sua mente oscilando entre a compreensão e a perplexidade. Ele ergueu uma sobrancelha, o olhar fixo nela, tentando conciliar o conhecimento profundo que ela demonstrava com a imagem que tinha da garota.

— Não entendo — murmurou, mais para si mesmo do que para os outros, a confusão evidente em seu tom. — Como uma garota que sempre viveu em uma vila isolada, no meio do nada, pode ter tanto conhecimento sobre o mundo?

As palavras saíram sem intenção de ofensa, mas a reação de Xu Ying foi imediata. Seus olhos brilharam com uma mistura de mágoa e indignação, e ela respondeu com um tom frio e defensivo:

— Só porque nasci num lugar como aquele, não significa que eu deveria me limitar e não aprender — retorquiu, a ofensa clara em sua voz.

Ela desviou o olhar, virando o rosto com um movimento brusco, os lábios comprimidos em uma linha fina, quase imperceptível. Seu descontentamento era evidente, um clima desagradável tomou conta do ambiente. Alaric, alheio ao impacto de suas palavras, manteve-se impassível, sem reagir a resposta. O veículo continuou seu caminho, mas agora as rodas pareciam pesadas, rangendo sob o peso do desconforto que preenchia o espaço.

Zhi Fēng, desconcertado, tentou disfarçar seu embaraço com um sorriso tímido, mas seus olhos denunciavam sua incerteza. Eian Liu, por sua vez, balançava a cabeça em desaprovação, incrédulo diante da falta de sensibilidade de Alaric. Apesar disso, um sorriso irônico começou a se formar em seus lábios, refletindo uma mistura de divertimento e exasperação, Alaric era realmente um pouco sem noção às vezes.

Ignorando a tensão, Alaric desviou o olhar para fora da janela da carruagem. As ruas estavam tranquilas, com poucas pessoas circulando, algo esperado naquele distrito nobre. As casas seguiam um padrão luxuoso, grandes mansões que ocupavam quarteirões inteiros. A luz do sol, filtrada pelas folhas das árvores cuidadosamente plantadas nas calçadas, projetava sombras suaves nas ruas, criando um cenário de rara beleza. A vista era deslumbrante, uma verdadeira pintura viva.

— É estranho estar tão calmo, considerando que a autoridade máxima está ausente — murmurou Alaric, lembrando-se das palavras de Sofía sobre a ausência do imperador.

Embora fosse um comentário quase inaudível, as correntes de ar levaram suas palavras até os ouvidos atentos de Zhi Fēng. Ele lançou um olhar curioso a Alaric antes de voltar a atenção para sua própria janela, compreendendo a observação do jovem. Cruzando os braços, esboçou um leve sorriso de canto.

— As coisas só estão tão calmas porque a filha mais velha do imperador está cuidando de tudo em sua ausência, mantendo a ordem e a tranquilidade — respondeu Zhi Fēng, seus olhos ainda fixos na paisagem urbana.

Xu Ying franziu o nariz, claramente incomodada, e indagou:

— Esta é a garota que está sendo oferecida como “prêmio”? — Sua voz carregava pitadas de nojo e desprezo, quase como se o conceito a enojasse profundamente.

A expressão da jovem refletia repulsa, como se tivesse acabado de dizer a coisa mais asquerosa do mundo, o que, para ela, não era exagero. A indignação era presente no ambiente; quase todos os presentes compartilhavam da mesma sensação de desconforto e ultraje por verem uma pessoa sendo tratada como objeto de disputa. Zhi Fēng, percebendo a reação coletiva, desviou o olhar da janela para Xu Ying e acenou levemente com a cabeça, mantendo um semblante sério.

— É a própria Mei Fang, a “Princesa de Ferro” — afirmou ele, a voz carregada de uma mistura de respeito e resignação.

Alaric, ainda com o olhar fixo pela janela, escutou o título da princesa e não conseguiu evitar de soltar uma risada contida, porém claramente audível.

— Por que um título tão idiota? — indagou ele, com a voz ainda trêmula da risada.

Eian Liu, imediatamente, lançou-lhe um olhar severo, cruzando os braços de forma defensiva.

— Tenha respeito ao falar da princesa — sua voz era firme e cheia de reprovação. — Além de ser desrespeitoso e rude, qualquer comentário imprudente ouvido por terceiros pode te custar a cabeça.

A consternação de Eian Liu com a falta de tato de Alaric era evidente. Para alguém mais ponderado e cauteloso como ele, comentários como aquele jamais deveriam ser feitos em público. Ele sabia bem que estavam falando da família imperial, pessoas no ápice do poder. Qualquer crítica negativa, se ouvida e reportada, poderia ser fatal. Histórias de pessoas executadas por comentários triviais sobre o penteado ou a roupa de algum nobre eram comuns. Aos olhos dos poderosos, a vida dos menos favorecidos pouco importava.

Alaric, no entanto, parecia incapaz de entender essas sutilezas. Sua falta de sensibilidade frequentemente o fazia ser rude, como havia sido anteriormente com Xu Ying. A reprimenda de Eian Liu, por mais necessária que fosse, apenas o irritou. Ele resmungou alto, cruzando os braços, fechando-se em si mesmo, claramente chateado. O clima na carruagem tornou-se pesado outra vez, até os cavalos pareciam sentir, relinchando.

— Calma, Eian — interveio Zhi Fēng, tentando aliviar a tensão. Ele colocou uma mão no braço do guardião, em um gesto de apaziguamento. Em seguida, lançou o olhar para Alaric. — Mas ele tem razão Alaric, deve ter cuidado ao falar da família imperial, na verdade, evite falar sobre eles, para o bem de todos.

Eian Liu respirou fundo, ainda irritado, mas reconhecendo o esforço de Zhi Fēng para manter a paz, acabou relaxando. Alaric observou-o discursando, e apenas abaixou a cabeça levemente, resignado. Ainda assim, sentia-se incomodado com tudo aquilo, e pouco entendia o porquê de tanta bajulação. Não era como se alguém escutasse dentro da carruagem em movimento, mas tentar argumentar só iria prolongar uma discussão inútil, que o jovem pouco estava interessado.

— Mas se está curioso pelo título — começou Zhi Fēng, já recomposto, apoiando o braço na aresta da janela da carruagem. — Ele vem da sua natureza reservada e fechada. A princesa Mei Fang se esforça ao máximo para não demonstrar sentimentos frágeis na frente dos outros e, talvez, por essa razão, até hoje não se casou...

Alaric, ainda de braços cruzados, encarava Zhi Fēng enquanto assentia, indicando que compreendeu. O título fazia algum sentido, afinal. No fim, não era tão ruim como ele pensava anteriormente. 

Na realidade, ele nem poderia julgar o título dos outros, já que também recebeu alguns títulos vergonhosos, como "Lobo Branco" e "Vulto da Morte". Ele corou levemente ao lembrar-se disso, apertando os olhos com força. Realmente eram títulos horríveis.

A viagem continuou em direção ao palácio, cruzando as ruas belas, mas monótonas, do distrito nobre. Pessoas de vestimentas elegantes e olhares altivos passavam vez ou outra. Alaric notava como os nobres eram, em sua maioria, realmente arrogantes. Ele concluiu isso pela maneira como se portavam, embora soubesse que também mantinha uma postura altiva, o que o tornava um pouco hipócrita. 

Apesar da calmaria nas ruas, ao se aproximarem do palácio, o número de guardas aumentou visivelmente. As ruas já não eram tão vazias, com homens de armaduras e olhares atentos espalhados por toda parte, até mesmo nos telhados das mansões, vigilantes como se algo estivesse ocorrendo. Alaric estranhou essa presença maciça. Embora estivessem próximos ao palácio, o que naturalmente justificava maior segurança, parecia haver mais guardas do que o necessário. Ele virou-se para Zhi Fēng, descruzando os braços.

— Ei, Zhi Fēng, por que tantos guardas? — As sobrancelhas de Alaric se franziram, a incerteza evidente em sua expressão. — Já esperava medidas de segurança robustas por estarmos próximos do palácio e, claro, pela presença dos competidores hoje, o que torna o dia um evento, mas, mesmo assim, isso me parece um tanto exagerado.

Zhi Fēng, inicialmente perdido em pensamentos, voltou-se para Alaric, semicerrando os olhos até que as palavras do jovem se encaixassem em sua mente. Suavizou a expressão e desviou o olhar para fora da carruagem. Guardas em uniformes impecáveis estavam posicionados em cada esquina, a cada metro, formando uma barreira quase impenetrável. Alaric tinha razão em sua observação. Retornou o olhar para ele, enquanto começava explicar:

— Concordo, Alaric, mas, além de uma medida de segurança pelos motivos que você mencionou… — Ele estreitou os olhos, como se o que fosse dizer fosse ainda mais preocupante. — A segurança também foi reforçada devido ao aumento significativo das atividades das organizações criminosas, as tríades. Algumas delas buscam aumentar sua influência através de grandes atos que desafiam as autoridades. Eventos públicos são perfeitos para isso…

Zhi Fēng deu uma breve pausa, seus olhos examinando a paisagem que passava do lado de fora. O dia estava belo, com o sol iluminando as ruas de forma quase poética. As cerejeiras floresciam, espalhando pétalas cor-de-rosa que dançavam ao vento. No entanto,  sabia que essa tranquilidade poderia facilmente se transformar em caos se as tríades decidissem agir. Um inferno poderia ser desencadeado. Seus dedos tamborilaram nervosamente na coxa antes de continuar:

— Por essa razão, os organizadores temiam que alguma facção criminosa tentasse causar tumulto ou colocasse em risco a vida do imperador e das princesas, especialmente durante um evento tão significativo. Aumentaram a segurança em resposta.

Alaric assentiu, absorvendo a complexidade da situação. Ele já tinha ouvido falar dessas organizações antes; não seria surpreendente se estivessem realmente agindo nos bastidores e tentassem causar algo. Um evento como aquele seria o palco ideal para demonstrar poder, algo que tais grupos sempre buscavam para aumentar sua influência.

A tensão cresceu dentro da carruagem após essas informações , quase tornando-se tangível. Xu Ying, sentada ao lado, no banco de couro, não conseguia disfarçar a apreensão que se refletia em seus olhos profundos. Seu corpo parecia encolhido, como se tentasse se proteger das lembranças dolorosas que a assombravam. Ela havia sido sequestrada por um homem influente, pertencente a uma dessas organizações criminosas que assombravam a região, usada como moeda de troca para pagar uma dívida que seus pais, até onde se sabe, já falecidos, deixaram para trás.

As memórias dessa época eram sombrias e pesadas. Naquela época, Alaric resgatou-a das garras do sequestrador, mas, infelizmente, permitiu que o homem escapasse. Agora, sabendo que essas organizações estavam sempre à espreita, uma nova preocupação se instalou em sua mente. As ruas, que antes brilhavam com a beleza da luz do sol, agora pareciam envoltas em uma névoa espessa, onde enxergar o que estava ao redor tornava-se quase impossível. Apenas alguns olhos brilhantes emergiam da escuridão, observando-o atentamente.

Alaric sabia que precisava redobrar a vigilância. Seu rosto, após aquele evento, havia se tornado conhecido pelo sequestrador, e provavelmente já era reconhecido por toda a região. Essa notoriedade o forçava a uma constante vigilância, mais intensa, relembrando-o de épocas antigas.

A viagem chegou ao fim após alguns minutos de silêncio tenso, e a carruagem parou diante do palácio. Outras carruagens igualmente luxuosas já estavam estacionadas ou chegando. Quando o serviçal abriu a porta do veículo, um ar carregado de formalidade e riqueza os envolveu. Ao descerem os degraus, foram recebidos pelo vislumbre da grandiosa escadaria que levava à entrada do palácio. Tapetes vermelhos de veludo desciam os degraus para recebê-los.

"É o momento..." Alaric tentou parecer indiferente, mas não conseguiu esconder o leve nervosismo que o acometia, intensificado pelo ambiente imponente ao seu redor. De repente, uma carruagem preta, adornada com os símbolos distintos do Clã da Escuridão, Hēiàn, parou com um estrondo atrás da deles. As portas rangiam ao se abrir, revelando uma figura que fez Alaric prender a respiração por um momento. 

Uma mulher de beleza sobrenatural emergiu, seus cabelos negros fluindo como uma cascata até os ombros, destacando-se contra a pele pálida. Seus lábios eram tingidos de um preto profundo, enquanto seus olhos, tão escuros quanto o abismo, eram realçados pelo delineador negro que os contornava com precisão. Brincos de prata reluziam contra a escuridão de seu Hanfu escuro, cada peça adicionando um toque de mistério e perigo à sua presença, carregava até certa presença que lembrava a de um demônio.

Sem olhar na direção deles, subiu as escadas a passos decididos, mantendo uma postura altiva que não parecia se abalar por nada. Alaric e Xu Ying logo seguiram atrás, enquanto Zhi Fēng e Eian Liu se juntavam aos outros líderes e nobres em um lugar diferente. Ou seja, Alaric e Xu Ying ficaram sozinhos para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

Conforme subiam os degraus, sentiam os olhares curiosos dos nobres, que cochichavam entre si enquanto os observavam atentamente. Xu Ying, pouco habituada com tanta atenção, lançava olhares nervosos aos nobres, claramente desconfortável. Finalmente, ao atravessarem as imponentes portas do palácio, os olhares curiosos cessaram abruptamente.

Adentrando o salão, sentiram-se transportados para um mundo distinto. À frente deles se estendia uma vasta sala, sustentada por majestosas pilastras que se perdiam no alto teto abobadado. Uma imponente escadaria se erguia dos lados opostos da sala, encontrando-se em uma sacada no topo, dominando o espaço com sua grandiosidade.

No recinto, diversos outros jovens se dispersavam. Alguns lançavam olhares curiosos, enquanto outros pareciam indiferentes à chegada deles. No topo da escadaria, uma figura surgiu na sacada, sua presença serena contrastando com a grandiosidade do ambiente, as mãos cuidadosamente posicionadas atrás das costas, emanando uma aura de autoridade.

— Queridos competidores, é com grande honra que os recebo aqui hoje — anunciou o homem com um gesto acolhedor, convidando-os a se aproximar. — Subam as escadas e apresentem-se diretamente ao imperador.

À medida que os competidores começaram a subir, Alaric se juntou ao grupo, seguindo o protocolo estabelecido. Subitamente, sentiu uma vibração sob seus pés, o chão tremia levemente. Quando virou para investigar a causa desse fenômeno estranho, seus olhos encontraram um homem imenso que passava ao lado. Era um giganoide, que superava em muito a estatura de Aldebaram. Cada passo dele reverberava no solo, fazendo com que todos ao redor sentissem o impacto, enquanto seu olhar permanecia fixo à frente, indiferente ao alvoroço que causava.

Xu Ying, sentindo-se acuada diante da imponência que emanava de todos ali presentes, aproximou-se das costas de Alaric, quase se escondendo atrás do jovem. Ele não se importou, continuando seu caminho em direção à sala do trono. Não demorou muito para subirem a imponente escadaria e atravessarem as portas que separavam os espaços, deparando-se com a magnificência da sala do trono imperial.

Alaric avançou pelo tapete azul, uma passarela de luxo que se estendia desde a entrada até o trono do imperador Jian, um monumento sublime de ouro entrelaçado com cristais preciosos. Cada passo era um encontro com a maciez densa do tecido sob os pés, enquanto imensas pilastras brancas, meticulosamente esculpidas, erguiam-se ao lado, sustentando o teto abobadado do salão. As paredes, revestidas de vermelho, abrigavam janelas de vidro monumentais, permitindo que a luz do sol penetrasse e dançasse sobre os metais nobres que adornavam os móveis e os ornamentos, fazendo-os cintilar como estrelas em um céu noturno.

Guardas, posicionados estrategicamente nos cantos da sala, mantinham suas posturas inabaláveis, vigilantes, com olhares varrendo meticulosamente o ambiente. Um silêncio tenso dominava, quebrado apenas pelo suave movimento dos uniformes dos soldados e pelos passos reverberantes dos recém-chegados. No coração do salão, erguendo-se com uma presença majestosa, o trono do imperador Jian se impunha, seu design refinado refletindo séculos de história e poder. Acomodado ali, Jian irradiava serenidade, um contraste notável com a rigidez formal que permeava ar. À sua direita e esquerda, suas filhas, vestidas em trajes que exalavam a elegância de sua linhagem real, observavam o cenário com olhares serenos.

Alaric, cuja atenção anteriormente vagava despreocupadamente pela sala, de repente encontrou suas íris claras capturadas por uma das princesas. Seus olhos se arregalaram instantaneamente, e não era pela beleza que a moça exalava.

“Wei??” pensou Alaric, lutando contra o impulso de gritar. A garota diante dele era inconfundível. Seus cabelos negros presos em um coque, o olhar cativante, o rosto angelical. Era, sem dúvida, Wei Xin, a mesma que ele havia encontrado no antigo bar de Chen e levado para casa após uma noite de bebedeira. Naquela época, na manhã seguinte, havia acordado sozinho, sem o calor do corpo da garota ao seu lado, logo sabendo da péssima notícia de que ela havia partido sem se despedir.

Alaric achava que nunca mais a veria e já havia se conformado com isso. No entanto, ali estava ela, ao lado do imperador, envolta em vestes luxuosas que denotavam sua posição elevada como princesa. Wei percebeu o olhar surpreso de Alaric e abriu um sorriso contido, porém carregado de significados. Era belo, acelerando o coração do jovem.

Sua irmã, a outra princesa, Mei Fang, notou a interação estranha entre os dois, lançando um olhar reprovador em direção a outra. Wei sentiu a pressão silenciosa, mas poderosa daquele olhar, estremecendo cômicamente. Seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão que tentava ser séria, mas que transparecia uma tristeza mal disfarçada.

O salão estava iluminado por lustres de cristal que lançavam reflexos cintilantes nas paredes decoradas com tapeçarias ricamente bordadas. A atmosfera era de solenidade e poder, reforçada pela postura de todos os presentes, que demonstravam suas impaciências. Alaric sentiu um nó se formar no estômago, enquanto tentava processar a presença inesperada de Wei Xin nesse ambiente grandioso e formal.

Ao lado do imperador, ela parecia diferente da jovem despreocupada que Alaric conhecera no bar. Havia uma aura de dignidade e responsabilidade em sua postura, mas também, no fundo, algo que ainda remetia àquela noite inesquecível.

Percebendo que estava falhando em ser discreto, Alaric respirou fundo e endireitou a postura, focando-se no caminho à frente. Ao se aproximar do trono, a magnificência da sala aumentava, e o brilho dos candelabros refletia nos pisos de mármore polido, criando um ambiente quase etéreo.

Um a um, cada competidor se ajoelhou próximo às escadarias que levavam ao trono, suas cabeças curvadas em uma profunda demonstração de respeito pelo imperador. O ambiente parecia carregar uma tensão reverente, como se o ar estivesse impregnado de solenidade etérea. Embara as vestes coloridas dos competidores contrastavam com a sobriedade da sala, todos exibiam a mesma expressão de seriedade e deferência.

— Meus competidores, é com grande honra que os recebo aqui em meu palácio — a voz do imperador, grave e marcada pelo peso dos anos, ressoou pela sala. Ele se ergueu, sua figura majestosa envolta em vestes de seda bordada e adornada com jóias que brilhavam sob a luz. — Vocês serão responsáveis pela alegria de um povo, do meu povo, e por este motivo devem saber que aprecio cada um de vocês.

O silêncio profundo era quebrado apenas pelo leve farfalhar das roupas dos competidores, que se ajustavam nervosamente enquanto aguardavam suas instruções. 

— Agora, por favor, apresente-se — ordenou o imperador, sua voz assumindo um tom mais brando, mas ainda carregada de autoridade. 

As apresentações iriam começar, finalmente aqueles que se enfrentaram em duelos violentos, teriam seus nomes revelados. 



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