Volume 2
Capítulo 112: Reconciliação Familiar
Nas terras nórdicas, especificamente no castelo de Estudenfel, governado pelo valente guerreiro Aldebaram, este se preparava em seus aponsentos para uma reunião crucial. Esse encontro reuniria os representantes dos países mais poderosos de Mythárea, formando a prestigiada Liga das Nações.
Mais uma vez, Aldebaram sentava-se à beira de sua cama, deixando que cada milímetro de seu nervosismo transparecesse em sua expressão. Era um momento crucial para o reino, e agora, mais do que nunca, ele precisaria se portar como um verdadeiro rei, algo que o aterrorizava até nas mais ínfimas fibras de seu ser.
Em meio ao tumulto mental, surgiu aquele que muitas vezes clareava a mente do soberano, batendo na porta e recebendo permissão para entrar: Leif, o conselheiro pessoal do rei.
— Majestade. — Ele fez uma reverência elaborada e se endireitou em seguida. — Como vão os preparativos para a partida?
— Velho Leif... Como posso dizer? Só não estão melhores que seus ossos gastos, hahaha! — No fim, o guerreiro tentava disfarçar a ansiedade com o humor habitual.
No entanto, Leif não era ingênuo. Pelo contrário, era um conselheiro experiente que já havia lidado com muitos como Aldebaram. Por isso, adotou um semblante compassivo, e se aproximou.
— Meu rei, este é um grande passo para o reino, isso é inegável. Contudo, não se sinta tão pressionado. Não faz bem à vossa majestade.
Observando o semblante compreensivo do conselheiro, o guerreiro forçou um sorriso e abaixou a cabeça.
— Talvez você esteja certo… Mas, como você mesmo disse, é um grande passo para o reino. Como posso simplesmente não sentir nenhuma pressão? Não sou feito de aço, sabe…
Mesmo que o conselheiro quisesse ajudar Aldebaram a relaxar, era impossível negar a verdade de suas palavras. Naquele dia, tudo poderia mudar para um reino prestes a ruir. A pressão de milhares de vidas e esperanças pesava sobre os ombros do guerreiro.
— Apenas não coloque mais pressão nos seus ombros do que a situação naturalmente apresenta — disse Leif, observando o guerreiro assentir em silêncio. Ele suspirou discretamente. — Bem, mudando de assunto, Vossa Majestade, como está a jovem lady Astrid?
Mudar de assunto era a melhor estratégia no momento. Distrair Aldebaram dos pensamentos sobre a reunião era crucial. O guerreiro apoiou os antebraços sobre as coxas, olhando para o chão, como se uma nova sombra começasse a pairar sobre sua mente.
— Nada mudou, ela continua presa naquele quarto... Sai às vezes para comer, mas logo volta... — Ele ergueu os olhos profundos, só para encontrar o olhar preocupado do conselheiro. — Não sei o que fazer quanto a isso. Me preocupo com ela, mas não consigo encontrar uma solução…
Os olhos de Aldebaram pareciam buscar desesperadamente alguma resposta, alguma ajuda. Para Leif, essas respostas não eram agradáveis, mas já esperadas.
— Meu rei, você já tentou ao menos ter uma conversa franca com ela?
— Ehh... Olhe para mim, Leif. — Um sorriso amargurado brotou no rosto do guerreiro. — Pareço alguém capaz de compreender e aconselhar alguém? Sou apenas um idiota, que tenta fazer piada de tudo…
Leif o observou atentamente. Já sabia que aquelas palavras não eram verdadeiras. Estando ao lado de Aldebaram por quase cinco longos anos, conhecia bem a sua natureza. Sabia que ele era uma das pessoas mais compassivas e compreensivas que já havia visto no reino, a um ponto que era até preocupante, frequentemente tornando-o alvo fácil para ser enganado.
— Meu rei, se me permite ser realmente franco com o senhor... — Aldebaram ergueu uma sobrancelha e assentiu. — Pois bem... Meu rei, Astrid pode não ter o seu sangue, como o senhor já me disse muitas vezes, mas isso não importa, não é mesmo? Ela é sua filha, mesmo que o sangue de vocês não seja o mesmo. Para ela, você é a única pessoa em quem pode confiar neste reino estranho, a única família que ela tem, o único pai que conheceu. Ambos perderam alguém importante, alguém que representava um amor para ela e um filho para você. E neste momento, na verdade, já passou da hora de ela receber um simples abraço. — O conselheiro assumiu um tom firme, mas gentil. — Meu rei... Aldebaram, Astrid precisa de um pai. Ela precisa de você. Sem você, ela apenas irá afundar na mais profunda escuridão. E temo que, quando esse dia chegar e ela se perder no mais fundo poço, resgatá-la se tornará uma tarefa árdua, talvez até impossível.
Com essas palavras, Aldebaram se ergueu decidido. Eram sílabas que carregavam toda a verdade que o guerreiro havia ignorado por anos. Já estava na hora de finalmente agir como um pai, como o porto seguro de quem precisava dele.
— Obrigado, Leif... — Aldebaram tocou no ombro do conselheiro. — Realmente, a velhice traz sabedoria, hahaha!
— Você nunca perde esse senso de humor, não é? Haha! — Leif começou a andar em direção às portas. — Isso me deixa feliz, indica que o poder não lhe subiu à cabeça.
O conselheiro chegou às portas e as abriu. Aldebaram passou por elas e disse:
— Subir à cabeça? Poder? Não acho ser rei tudo isso; é só um título que traz dor de cabeça, para ser sincero. — Era uma visão pessimista de alguém que vivia essa realidade todos os dias.
— Oh, é uma visão diferente sobre reis, minha majestade. Normalmente, as pessoas tratam reis como deuses, pessoas mais importantes que as outras.
Leif fechou as portas, e Aldebaram começou a caminhar pelo corredor, seguido pelo conselheiro, que o observava atentamente. O guerreiro então tirou a coroa da cabeça e começou a analisá-la.
— Não sou tão ingênuo a esse ponto. Sei bem como reis são gananciosos e se acham superiores a todos... — Ele olhou para as próprias mãos, cheias de feridas e cicatrizes que o tempo não curava. — Deve ser pelo poder de decidir sobre a vida dos outros... Guerreiros são igualmente orgulhosos por essa mesma razão.
— Você era um guerreiro antes, meu rei. Não sentia o mesmo? — Leif percebeu que tinha sido direto demais. — Oh, me perdoe, minha majestade...
— Deixa disso, velho, hahaha! — Aldebaram deu um sorriso largo e colocou a coroa na cabeça. — Estaria mentindo se dissesse que nunca senti o orgulho de um guerreiro, o poder de brandir meu machado e desfazer a vida de dezenas de pessoas... Mas um dia, um certo garoto me perguntou sobre o valor da vida, se eu gostava ou não de matar... Eu já vinha questionando isso antes, mas aquele foi o estopim. Percebi como era tolo por sentir orgulho disso, como estava me tornando nada mais que um monstro sanguinário, uma máquina de matar. A partir daquele dia, passei a prezar mais pela vida... Bem, isso até... aquele dia em que...
Ele não conseguiu completar por vergonha, pois aquilo jogaria tudo o que havia dito no lixo. Aldebaram lembrava-se de quando matou quase mil soldados de Estudenfel, comandados por Erne. Isso contrariava em parte o que ele dissera, No fim das contas, Aldebaram era um ser consciente, capaz de ser instável e mudar suas decisões ou pensamentos nos momentos de maior desespero ou necessidade.
Depois de caminharem por mais um trecho enquanto conversavam, os dois finalmente alcançaram as imponentes portas dos aposentos de Astrid. Aldebaram lançou um breve olhar para Leif, que assentiu com um gesto discreto. O guerreiro respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade sobre seus ombros, e reuniu coragem. Um passo após o outro, se aproximou da porta e sua mão se ergueu para bater.
Em um suspiro nervoso, fez a primeira batida, seguida de outras duas, enquanto aguardava uma resposta.
— Quem está aí? — a voz jovem de Astrid ressoou do interior dos aposentos.
— Sou eu, seu p… Quero dizer… seu guerreiro favorito! — respondeu Aldebaram, mas por dentro ele se martirizava, nunca teve dificuldade de se chamar de pai, então porque agora? — Vim verificar como você está... Posso entrar?
Enquanto Leif observava curioso por trás do corpo de Aldebaram, eles ouviram um som pesado ecoar no chão, seguido por passos mais leves, indicando que alguém acabara de se levantar da cama.
— Bem, meu rei, acho que meu trabalho aqui está feito... — disse Leif com um sorriso, virando-se para sair. — Estarei orando a Freya para que você consiga ajudar Lady Astrid.
Com isso, Leif deixou Aldebaram diante das portas, pronto para enfrentar o desafio de confortar sua filha. Após alguns breves segundos, o som das trancas sendo destrancadas ecoou de dentro do quarto. O ranger da porta se abrindo lentamente chegou aos ouvidos do guerreiro, que observava atentamente, apesar do receio que se refletia no fundo de seus olhos.
Conforme a porta se abria, a luz do corredor invadia a escuridão do quarto da jovem, revelando uma figura no vão da porta entreaberta. Uma garota de belos e longos cabelos prateados, com um olhar amarelado, que falhava em irradiar alegria. Ao contrário, seus olhos estavam inchados e cercados por olheiras profundas, refletindo apenas a melancolia.
— Pai… — murmurou ela, fixando o olhar em Aldebaram, que não conseguia proferir uma palavra sequer.
O guerreiro ficou paralisado, observando-a e refletindo sobre como as coisas chegaram a esse ponto. Ele não sabia que ela se encontrava em um estado tão deprimente. Raramente a via pelos corredores do castelo e fazia anos que não trocava uma palavra com ela.
"Eu sou um péssimo pai..." pensou Aldebaram. Paralisado, com a respiração e a rigidez dos músculos sendo a única prova de sua existência, ele se julgava e se depreciava. Diante da falta de reação e do olhar julgativo por parte do guerreiro, Astrid desviou o olhar para baixo e abriu espaço na porta.
— Você queria falar comigo... Entre.
— O-obrigado... — Aldebaram murmurou enquanto passava por ela e entrava no quarto.
Ao adentrar completamente no cômodo, ele notou o estado deprimente do lugar: roupas jogadas por todos os cantos e janelas fechadas, bloqueando a iluminação natural.
— Então, pai... Do que você queria falar? — indagou ela, fechando a porta e vindo por trás dele.
Com a porta fechada, o local mergulhou em completa penumbra, tornando impossível enxergar qualquer coisa à frente. O guerreiro então caminhou até as janelas e as abriu, permitindo que a luz solar inundasse o quarto.
— Eu... queria saber como você está... — disse ele, olhando pela janela para a vista do penhasco atrás do castelo e das cadeias de montanhas ao longe. — Faz tanto tempo que não conversamos, pensei que…
— Eu estou bem, não se preocupe. — A resposta veio rápida, mas parecia desprovida de qualquer sinceridade, a secura reforçava isso.
As palavras cortaram os pensamentos do guerreiro, que baixou as pálpebras e encostou uma mão na janela.
— Astrid... Eu sei que pareço apenas um brutamontes, com músculos no lugar do cérebro... Mas até eu consigo ver que você não está bem... Infelizmente…
As palavras pareceram pegar a garota desprevenida. Pelo reflexo na janela, o guerreiro a viu vacilar e, com poucos passos, sentar-se na beira da cama, como alguém derrotada e sem esperanças na vida.
— E se eu não estiver bem, pai? — perguntou, fixando o olhar vazio no chão. — O que você pode fazer quanto a isso? Estalar os dedos e simplesmente me deixar bem? Não funciona assim...
— Eu sei, Astrid. Sei que não é fácil, sei que não é um simples estalar de dedos que vai te fazer ficar melhor... Eu sei, infelizmente, eu sei.
Astrid soltou um suspiro pesado, esfregando os braços como se tentasse aquecer-se. O silêncio entre eles se tornou denso, quase palpável.
— Então, se você sabe, por que veio aqui? Por quê, pai? — indagou ela, a voz trêmula, fazendo perguntas que pareciam retóricas, introspectivas. — Por que agora?
— Eu também não sei... — Cerrou o punho e encostou a testa na janela.
Havia alguns motivos que ele reconhecia para estar ali, como o pedido de Lief, mas dizer isso para ela não adiantaria; no fim das contas, ele estava ali apenas por influência dos outros. Aldebaram afrouxou o punho, enquanto pensava em como era um péssimo pai e uma péssima pessoa.
— Se você mesmo não sabe, pai... Não vejo motivo para você estar aqui — respondeu, com a voz baixa, parecia quase um murmuro dolorido, o olhar amarelado ainda fixo no chão. — Não acho que conseguirá me ajudar... Na verdade, sua presença só me deixa pior…
Foi como uma chuva de facas em forma de palavras que atingiu o guerreiro. Ele baixou o olhar, mantendo a testa encostada na janela, mas não se deixaria abalar naquele momento. Com determinação, virou-se para ela.
— Eu realmente não sei por que vim agora, Astrid, mas uma coisa é certa: eu quero te ajudar, quero te ver superar isso... Quero minha filha de volta.
A jovem, com o olhar ainda baixo e perdido entre as pernas, sentiu os olhos umedecerem levemente diante daquelas palavras gentis. No entanto, seu coração já endurecido pelo tempo não permitiu-a que aceitasse aquelas palavras como realmente eram.
— E por que só agora? — murmurou, a voz tornando-se pesada e áspera, enquanto seu olhar se tornava tenso.
— Hã? O que você disse, filha?
— Por que agora, pai!? — gritou ela, sem desviar o olhar do chão. — Por que não veio antes? Por que não veio no primeiro ano, quando eu chorava todos os dias e noites? Por que não veio no segundo ano, quando a comida perdeu o sabor? Ou quando os cheiros perderam suas essências, e as cores se tornaram monótonas? Por que não naquele momento em que o sol se tornou perturbador e a presença das pessoas se tornou indesejável para mim? Por que não veio quando eu precisava de palavras de afeto, de um abraço carinhoso, de um pai!? Por quê quando eu mais precisei de você ao meu lado, você simplesmente não veio? E agora... agora está aqui, tentando fazer algo que nunca fez antes... tentando ser um pai…
Astrid deixou escapar todas as emoções represadas, todas as frustrações contidas, todas as dores que havia guardado por anos, suas palavras carregadas do mais puro sofrimento ecoando pelo quarto silencioso.
Aldebaram sentiu o peso das acusações atingi-lo em cheio, como punhais perfurando sua alma já ferida pela culpa. Permaneceu de pé diante dela, próximo à janela, sem palavras imediatas para oferecer como resposta, apenas absorvendo cada uma das suas lamentações com uma expressão de profunda tristeza.
— Astrid... Eu... Eu não sabia como você estava se sentindo, nunca soube e nem imaginei que seria tão devastador como você acabou de dizer... Mas isso são apenas desculpas de alguém tão horrível como eu... No final, falhei com você... Falhei como pai. Não há desculpas para isso — murmurou ele, finalmente encontrando coragem para falar, suas palavras soando frágeis e insuficientes.
Ela ergueu lentamente o olhar para ele, seus olhos amarelados agora cheios de lágrimas que teimavam em rolar por suas bochechas pálidas. Mas não era tristeza pura que expressavam; estavam endurecidos, tensos, como se cada lágrima queimasse.
— E o que espera que eu faça quanto a isso? Que sinta pena de você, que te perdoe? Não me venha com essa! Quando mais precisei de você, você não estava aqui! — Ela se levantou abruptamente, os olhos já inundados de lágrimas que escorriam pelas bochechas pálidas, formando um rastro molhado. — E agora, só porque você aparece e diz umas palavras bonitas, eu vou simplesmente esquecer tudo? Vou ignorar quatro anos de distância e dor? Você realmente falhou comigo, pai. Não há como eu deixar isso de lado, não há como eu só fingir que não aconteceu.
— Não espero que me perdoe Astrid… — Aldebaram soltou um suspiro resignado, enquanto tentava manter-se firme. — Mas só quero te ajudar no que eu puder…
A jovem não sabia o que sentir, o que expressar, tudo estava muito confuso em sua mente. As lágrimas não cessavam, o olhar não suavizava, e tudo que ela fez foi de novo cair na beira da cama, sem qualquer ânimo.
— Eu não queria que fosse assim, pai. Falar tudo isso não é fácil… no fundo, eu só queria... — sua voz falhou por um momento, enquanto lutava contra as lágrimas. — Eu só queria que você estivesse aqui quando eu mais precisava. Mas você não estava, nunca esteve…
Aldebaram se aproximou dela com cautela, ajoelhando-se ao seu lado. Ele estendeu a mão, hesitante, mas Astrid permitiu que ele a tocasse. Seus dedos se entrelaçaram suavemente, um gesto de conexão que há muito tempo não experimentavam.
— Eu sinto muito, Astrid. Você sabe... Eu nunca fui bom em lidar com os sentimentos dos outros que não fossem superficiais como a força... — A mão da jovem tremulava, sua respiração pesada enquanto escutava o desabafo do pai. — E, por ser assim, nunca soube como lidar com meus próprios sentimentos, infelizmente. Com isso, depois da morte do Gideon, senti um vazio que nunca experimentei antes... E então veio toda a responsabilidade de ser rei, ser o responsável pela vida de milhares de pessoas... tudo isso me fez perder o rumo. Eu fiquei confuso. Eu me perdi, Astrid. E quando você começou a se isolar, senti que estava te perdendo também, mais alguém que era importante para mim... Mas ao invés de te ajudar, deixei o medo de não saber como lidar com você e seus sentimentos me afastar por tanto tempo.
— Pai... — Ela o encarou por alguns instantes, os olhos tensos suavizando gradualmente. — Eu não sabia disso…
— Não importa Astrid — O guerreiro em meio a uma face sofrida, se permitiu um sorriso reconfortante. — Não era sua obrigação saber. Muito pelo contrário, era a minha como pai, te ajudar com seus próprios problemas…
Ele desviou o olhar por breves instantes, refletindo sobre toda aquelas conversa, sobre como as coisas estavam se desenrolando, e continuou:
— Eu sei que não posso mudar o passado, e o que aconteceu e o que você sentiu não serão simplesmente apagados. Mas posso prometer estar aqui agora. Estar ao seu lado, dar toda a força e apoio que eu puder. Prometo ser seu pai, algo que talvez eu não tenha sido por um tempo... — Aldebaram voltou seu olhar para sua filha e sorriu novamente, enquanto apertava carinhosamente a mão delicada da garota.
Ela o encarou por um longo momento, buscando nas profundezas dos olhos dele a sinceridade das palavras e a determinação das ações. Finalmente, após um suspiro carregado de anos de desilusão, ela assentiu lentamente, ainda receosa sobre tudo.
— Pai... Estou perdida, sem saber ao certo o que fazer... Eu não consigo te perdoar completamente, mas também não suporto a ideia de continuar distante daquele que me deu o sentido de família. No fundo, pai, quero acreditar em você. — Ela permitiu que as últimas lágrimas de mágoa escorressem. — E acho que, de alguma forma, nós dois nos perdemos nesse caminho. Então, acho que posso começar a tentar. Isso se você tiver paciência comigo e estiver disposto... Não vou te obrigar a nada, pai... Só não me deixe mais sozinha.
O guerreiro assentiu com um aperto no peito. Sabia que havia muito a reconstruir entre eles, mas o primeiro passo crucial tinha sido dado naquele momento de sincera reconciliação.
— Nunca mais vou te deixar sozinha, Astrid. Não se importe nem se culpe por ainda não conseguir me perdoar completamente, é normal... Vamos ao menos tentar juntos encontrar o caminho que perdemos há quatro anos, e no final, talvez voltamos a ser, o que éramos antes... Eu espero. Então acho que devo pedir, não é?
Aldebaram se levantou e a puxou para perto de si, iniciando um longo e caloroso abraço.
— Me desculpe filha... Me desculpe por tudo...
Naquele momento, o guerreiro de grande força deixou o olhar marejar e o corpo ceder nos braços da jovem. Cada segundo daquele abraço era carregado de significados profundos: a dor compartilhada, a saudade que se transformava em esperança, e o amor genuíno de um pai por sua filha. Era a promessa de reconciliação e um novo começo, um vínculo renovado que eles agora se esforçavam para reconstruir juntos.