Volume 2
Capítulo 106: Retorno Azul
Com a abertura forçada dos portões, os soldados aldemerianos, já próximos, viram o caminho livre para iniciar a invasão. Dalian já não estava por perto, e os homens entraram devastando tudo ao seu alcance.
Havia tão poucos soldados de defesa que mal se ouviam os sons das espadas se chocando. Era praticamente uma proporção de vinte aldemerianos para um loyano, uma completa covardia. Mas os invasores não se preocupavam com isso; não existia moral em uma guerra. Era matar ou morrer, e pensar nas consequências depois, isso se realmente pensassem nelas.
Ao contrário do que se imaginava, os soldados aldemerianos não miravam as vidas civis, focando apenas em alvos militares. Reven estava sob o controle de Re’loyal há apenas cinco anos; portanto, os cidadãos ainda eram considerados aldemerianos capturados pelas forças inimigas. Isso não era apenas uma norma ou formalidade, mas um sentimento genuíno compartilhado por todos. Por isso, mesmo em meio à tragédia e à morte, havia celebrações e sorrisos, pois os cidadãos mantinham a esperança e a identidade aldemeriana.
As forças de Aldemere nem sequer precisaram utilizar todo o seu poderio numérico para conquistar rapidamente a cidade. Em poucos minutos, os sobreviventes do massacre corriam por suas vidas. No entanto, não eram poupados, pois cidadãos outrora pacíficos, tomados pelo êxtase, capturavam os fugitivos e os levavam até um soldado próximo, que lhes tirava a vida.
Foi uma rendição completa, que apenas manchou a cidade de carmesim e espalhou alguns corpos pelo chão, nada mais.
— Foi uma cena realmente... magnífica! — exclamou Dalian, surgindo do nada, perto dos soldados aldemerianos. Eles o olharam confusos. — Não me reconhecem? Isso chega a me entristecer... Que seja, me levem ao seu líder.
Os homens se entreolharam, procurando alguma informação sobre a identidade daquele homem estranho. Até que um tomou a frente, apontando a espada para o mago.
— Ele é o traidor! Capturem-no!
Os soldados foram pegos de surpresa, mas não hesitaram em puxar suas lâminas e apontá-las para Dalian.
— Ora, ainda guardam tanto rancor? — O mago ergueu as mãos em sinal de rendição, recuando alguns passos. — Graças a mim, vocês retomaram a cidade... poderiam ser mais compassivos, não acham?
— Cale-se! Você ousou nos trair, e muitos dos nossos foram mortos naquele massacre! Meu... meu irmão morreu naquele dia!
— Ah, isso realmente me entristece muito... — Dalian tentava ganhar tempo com falsas palavras, enquanto olhava ao redor, procurando uma saída. — Mas, bem... não fui eu quem o matou...
— Pode não ter sido suas mãos, mas foram suas ordens! Sua traição, seu desgraçado! — Ele se aproximou mais do mago, mirando seu pescoço. — Agora cale essa boca! Antes que eu desista de te levar vivo para o general e te mate aqui mesmo!
— Pelo jeito Bartolomeu decidiu não compartilhar nada com seus soldados... Ahhh, acho que é melhor assim.
Dalian até podia se deixar capturar, mas não queria arriscar. Sua traição havia causado a morte de muitos homens naquele dia, incluindo entes queridos de muitos presentes. Provavelmente, sua cabeça rolaria antes que pudesse se explicar. O ar ao redor de suas mãos começou a esquentar, sua pele assumiu um tom avermelhado, indicando que ele estava prestes a lançar uma magia, mas então...
— Dalian! — Delilian surgiu atrás dele, não estava sozinho, mas acompanhado de uma pessoa que deixou o mago perplexo. — Não há tempo para explicar, segure minha mão!
Dalian, intrigado, decidiu seguir as instruções.
— Não deixem que ele faça nada! — gritou o soldado, correndo na direção dos magos. — Peguem-no!
Quando a lâmina estava prestes a atingir o pescoço de Dalian, o mago agarrou a mão do irmão, e Delilian tocou no ombro da pessoa que o acompanhava.
— Agora, Mani! — exclamou Delilian, chamando pela deusa reencarnada.
A espada estava a centímetros da pele de Dalian, mas seu sorriso era irônico e malicioso, como o de um demônio que acabara de se safar. Mani usou seu poder de teleporte, concedido pela lua ainda presente no fim da noite. E, em instantes, onde deveria estar o mago degolado, não restava nada.
— Droga!
Com isso, a queda de Reven foi decretada. Não restava mais ninguém leal a Re'loyal na cidade, pois Dorni e seus homens já haviam abandonado suas posições. Logo, os soldados aldemerianos invadiram e tomaram o trono. Os escravos foram libertos, já que, ao contrário de Re'loyal, a escravidão era proibida em Aldemere. Foram cinco anos de opressão sob os tiranos loyanos, mas esse período sombrio finalmente chegou ao fim. O dia, a semana e o mês seriam de comemoração.
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Para Dalian, o teleporte foi uma experiência intensa. Sentiu seu corpo ser comprimido, e tudo ao seu redor escureceu. Apenas uma brisa gélida dava-lhe a certeza de ainda estar vivo. De repente, tudo se iluminou, e ele teve a sensação de que o corpo se expandia. Assim, encontrou-se em um lugar completamente diferente.
Antes uma cidade próspera, agora a vista era desoladora. O chão era composto por uma terra grossa e dura, com poucas vegetações rasteiras. Ao seu redor, estendia-se um vasto espaço que parecia infinito.
O que mais chamou sua atenção foi o que estava à sua frente. Em meio à paisagem desprovida de construções feitas por mãos inteligentes, destacava-se um enorme casarão. Em tempos mais prósperos, poderia ser chamado de mansão. A estrutura imponente contrastava fortemente com a desolação ao redor, sugerindo uma história antiga e grandiosa que despertou o interesse do mago.
— Dalian! Tudo bem? — Delilian perguntou ao seu lado.
— Hum? Ah, estou sim, apenas... Uau, isso foi diferente — Ele olhou para o lado, vendo seu irmão segurando o corpo imóvel da deusa. — Pelo jeito ela voltou a adormecer...
— Sim... Ela havia acordado do nada e me disse que era urgente precisava te encontrar... Agarrou meu braço, e, num instante, eu estava do seu lado... E depois, de novo, e aqui estamos nós... — Ele levou a outra mão à cabeça, parecendo ter uma enxaqueca. — Isso foi demais para minha mente... preciso…
— Precisamos organizar nossos pensamentos… — Ele ponderou brevemente, seu olhar retornando ao casarão imponente antes de avançar com determinação. — Vamos explorar lá dentro; quem sabe encontramos algo de interesse.
Delilian observou seu irmão avançando com firmeza e franziu o cenho. Ele não estava confortável com a ideia de entrar naquela casa; algo parecia suspeito.
— Não tenho tanta certeza… — hesitou, buscando expressar suas preocupações. — Você tem certeza de que é uma boa ideia?
— Olhe ao redor — respondeu Dalian, já pisando no primeiro degrau, enquanto seu irmão permanecia incerto. — Você vê mais alguma construção humana por perto? Algum ponto de referência? — Ele pausou, dando espaço para a pergunta ecoar. — Exatamente. Não há nada por quilômetros a não ser esta casa.
Dalian não exagerava; ao redor, nada se estendia além da mesma paisagem monótona, pontuada apenas por algumas árvores dispersas. Sem argumentos para contestar as observações de seu irmão, Delilian suspirou resignado e começou a avançar, segurando Mani nos braços.
Cada degrau que Dalian pisava produzia um rangido ameaçador, fazendo a madeira antiga tremer sob seu peso, como se estivesse à beira de ceder a qualquer momento. Finalmente, ao chegar à varanda após mais dois degraus, ele se deparou com alguns bancos empoeirados, todos feitos da mesma madeira envelhecida.
Com uma sensação estranha percorrendo-lhe a pele, Dalian estendeu a mão para o trinco da porta, decidindo ignorar a sensação incômoda. Ao empurrar a porta, o som estridente ecoou pelo casarão, como se estivesse rompendo um selo há muito tempo intacto. O ar viciado da casa escapou para o exterior, levando consigo nuvens de poeira.
O interior revelava uma atmosfera de abandono e desolação, como se o tempo tivesse esquecido aquele lugar. Ao lançar um primeiro olhar ao redor, Dalian teve a sensação de ter descoberto algum tipo de masmorra esquecida. Ele só esperava fervorosamente que não encontrasse monstros. A casa se estendia vasta diante deles, com pelo menos três andares e dezenas de cômodos, todos ainda mobiliados como se tivessem sido abandonados às pressas.
— Que lugar é este... — murmurou Delilian, perplexo.
— Essa é uma pergunta para a qual não tenho resposta... — respondeu Dalian, seus olhos percorrendo os arredores. — Mas uma coisa é certa, que construiu isso tinha um grande poder…
Enquanto exploravam o térreo, a sensação estranha voltou a assombrar Dalian, tornando-se impossível de ignorar. Todos os pelos de seu corpo se eriçaram, as pupilas dilataram e os passos firmes vacilaram.
— Esta sensação... — começou Delilian, também sentindo o mesmo arrepio — Lembro-me de sentir algo semelhante quando...
— Invocamos Bleu... — completou Dalian.
Delilian congelou, um arrepio percorrendo seu corpo. Num instante, a única vontade que o consumia era fugir, deixar para trás aquela casa e nunca mais olhar para trás. Mas Dalian parecia reagir de forma oposta; ao mencionar o nome do primordial, um sorriso malévolo se estampou em seu rosto.
— Dalian, precisamos sair daqui...
— Saia, se quiser — respondeu com prontidão, avançando sem hesitação. — Eu, por outro lado…
Ele acelerou os passos, deixando Delilian para trás, ainda abalado pelas palavras que ouvira. A sensação de estar sendo observado piorou à medida que o outro se afastava, como se olhos invisíveis o observa-se de todos os lados. Incapaz de suportar a ideia de ficar sozinho, apressou-se em alcançar seu irmão.
Os dois entraram por diversos cômodos, saindo por corredores desconhecidos, até se depararem com uma concentração inquietante de magia. A sensação de mal-estar intensificou-se. Seja o que fosse que causava aquilo, estava atrás de uma porta à frente. O mago estendeu a mão até o trinco, sentindo um tremor percorrer-lhe corpo, o coração disparado, enquanto tudo ao redor parecia desacelerar.
Ele empurrou a porta lentamente. A cada centímetro que ela se abria, a estranheza aumentava, como se uma energia maligna escapasse de dentro. Finalmente, abriu-a por completo e...
— Que surpresa agradável... — disse Dalian, com um sorriso malicioso, olhando para baixo.
— O que você quer dizer... Não acredito...
Diante deles, jogado em um canto, estava Bleu, o primordial invocado, aquele que havia matado Dolbrian, um dos seres mais poderosos desde a criação.
— Você ainda está vivo? — Sem demonstrar medo, ao contrário de seu irmão, Dalian avançou em direção ao ser.
— Humano... — respondeu Bleu, a voz fraca e quase inaudível, mas ainda carregando uma potência que arrepiava os pelos de quem ouvisse. — O que faz aqui…?
— Acho que eu é que devo perguntar isso.
Delilian se apressou em alcançar seu irmão, ainda carregando Mani nos braços, e agarrou o ombro de Dalian com as mãos trêmulas.
— Dalian, não acho que seja uma boa ideia interagir com ele...
— Me solte — ordenou Dalian com uma rudeza que fez Delilian recuar imediatamente. — Obrigado. Agora relaxe, ele não está em posição de nos prejudicar no momento.
Delilian não estava tão confiante. O demônio podia parecer fraco e debilitado, mas ainda era um primordial. Certas leis do mundo não se aplicavam a seres como ele. Contudo, infelizmente, ele não tinha como impedir seu irmão de fazer o que queria; restava-lhe apenas observar.
— Você foi um dos que me invocou, não é? — indagou Bleu, ainda com dificuldade para falar.
— Que boa memória você tem… Sim, está correto. Eu fui o responsável por trazer você para meu mundo.
Quatro anos atrás, Dalian recebeu uma missão de Amon em troca de poder: ajudar a trazer Bleu de volta à Terra. Ele cumpriu sua parte do trato, mas nunca recebeu o pagamento prometido. No entanto, não se importou muito com isso, pois sabia que, mais cedo ou mais tarde, esse ato traria alguma consequência favorável. Talvez, agora, estivesse diante dessa oportunidade.
— Um traidor da própria espécie — comentou Bleu, lançando um olhar penetrante para o mago. — Será que posso confiar em você?
— Eu apoiei os demônios e, como você disse, traí minha espécie. — Ele sorriu, olhando para as próprias unhas. — Hmm, acho que isso me torna confiável aos demônios, ao menos.
— Você é um traidor da raça... Agora pertence a outra, o que te torna menos confiável.
Dalian olhou para trás e viu Delilian afastado, sentado no chão, com Mani desmaiada ao seu lado. O homem parecia incapaz de ouvir qualquer coisa. Então, Dalian voltou sua atenção para o demônio.
— Outra raça...? — Ele disse com ironia, como se já soubesse a resposta. — O que quer dizer com isso?
— Você não engana ninguém, humano. Posso sentir a essência demoníaca em você. Já faz muito tempo que deixou de ser humano por completo. Agora é um meio-demônio...
— Oh não, me descobriu... — Dalian fez uma ceninha dramática, mas logo voltou a sorrir. — Não se preocupe, só traí minha antiga raça por poder. Trair a nova não me traria nenhum benefício.
Bleu sorriu com a resposta. De fato, aquele homem já não parecia mais humano, mas ainda era difícil confiar nele.
— Bem, que seja... — Bleu tentou se ajeitar, conseguindo um pouco, mas ainda estava desajeitado. — Você me perguntou por que estou aqui... É por causa da maldita barreira.
— Barreira? — Dalian arqueou uma sobrancelha. — Ela não estava enfraquecida?
Para o mago, a barreira que separava o plano terreno dos domínios divinos e demoníacos já não estava em seus melhores dias, enfraquecida pelas invocações consecutivas de deuses que a deterioravam lentamente. A invocação de Bleu só foi possível devido a esse enfraquecimento; com a barreira debilitada, um portal poderoso para o inferno pôde ser criado, trazendo o primordial.
— Estava, faltava pouco para cair de vez. Mas algum maldito conseguiu consertá-la.
Dalian, pela primeira vez em muito tempo, expressou algo além de seus sorrisos falsos. Seus olhos se arregalaram de surpresa.
— Como? A barreira não pode ser consertada, nem reerguida por simples humanos, não sem a ajuda divina completa.
— Também pensava assim, e de fato, ela não pôde ser completamente restaurada. Acontece que eles encontraram um jeito de "remendá-la". Não é tão eficiente e logo cederá outra vez, mas, mesmo assim, com a barreira em um estado melhor, acabo enfraquecido... Maldição! — Seus dentes começaram a ranger, denotando um ódio ainda maior. — E o pior, remendá-la vai contra todo o conceito de simetria!
Dalian arqueou novamente a sobrancelha para essa última parte, embora já tivesse ouvido histórias sobre o fascínio de Bleu pela simetria. Havia até uma antiga lenda que contava sobre sua intervenção durante a invasão demoníaca ao mundo terreno. Segundo a história, Bleu chegou a uma cidade construída na encosta de uma montanha, que por natureza não era simétrica, cheia de bifurcações e linhas não retas. O primordial ficou tão incomodado com isso que, segundo as lendas, balançou sua katana cortando a cidade junto com a montanha ao meio, transformando parte do local em uma desolação simétrica.
Eram apenas lendas, mas não havia como duvidar de tais coisas quando se tratava de seres como ele. A outra parte que chamou sua atenção foi a de remendar a barreira, teoricamente também era impossível. Apenas um mago de extrema habilidade talvez conseguisse, mas ainda não era uma certeza, e poucos assim existiram na história. Com certeza, uma pessoa com tanto poder seria famosa no continente, como quase todo mago presente em Alexandria.
— Hmmmm... Agora compreendo o motivo de você estar nesse estado... lastimável, com todo o respeito... — Dalian então caminhou até a janela mais próxima e passou a olhar para fora. — Com isso, passou esses quase cinco anos escondido aqui?
— As igrejas e templos promoveram uma inquisição contra mim. Ficar em qualquer local mais vulnerável seria adiantar meu fim. Então sim, passei esses quase cinco anos aqui.
— Entendo... — Ele observava a desolação, o nada opressivo que se estendia para fora, com olhos atentos. — E o que seria aqui? Este lugar?
— Também não sei, humano. — Ele baixou a cabeça insatisfeito. — Em meio ao meu voo, acabei caindo neste lugar. Ao menos a casa foi feita por seres que entendiam de simetria.
Dalian analisava cada palavra, pensando em maneiras de usar as informações a seu favor. Mas muitas partes ainda eram inclusivas. Assim, deu um olhar de soslaio para o demônio sentado. Ele parecia tão vulnerável naquele momento que seria fácil matá-lo ali mesmo. Mas não era isso que Dalian queria; matar um ser assim não traria qualquer benefício para ele. Com isso, voltou a atenção para fora, dando um sorriso malicioso.
— Aposto que deseja recuperar sua força novamente — comentou, como quem não quer nada, ainda com o olhar fixo no horizonte.
— É claro que desejo! Ainda tenho minha missão passada por Noir... — A voz firme vacilou por instantes ao mencionar o demônio negro. — Desobedecer ou simplesmente falhar não é uma opção... nunca será!
Isso não se devia à sua determinação e força de vontade, e sim ao medo, medo da penalização dada por Noir caso falhasse. Até um primordial temia outro mais poderoso; na verdade, todos temiam Noir e Blanc.
Essa foi a resposta que Dalian esperava ouvir. O olhar no horizonte, desceu mirando no reflexo de Bleu no vidro, e com uma voz suave, perguntou:
— Que determinação admirável... Mas, então, me diga, o que é preciso para isso?
— Hm? — O demônio dirigiu sua atenção para o mago, observando suas costas. — Almas... Muitas almas de seres conscientes, como humanos, elfos, giganoides... Isso por si só já aumentaria meu poder. Depois, enfraquecer a barreira outra vez. Por que da pergunta, humano?
— Sabe... Posso te ajudar nisso... — Ele viu o semblante de Bleu mudar para curiosidade pelo reflexo. — Obviamente, nada no inferno, no céu ou... na terra é de graça…
— E o que deseja, humano?
Bleu não confiava em Dalian. Era impossível confiar em alguém que falava daquela maneira, sempre com um quê de manipulação, usando um tom suave e gentil. Muitas vezes, lembrava o modo como Blanc falava, só que de maneira mais sutil e paciente, parecendo então uma mistura das linhagens branca e preta. No fim, Bleu não tinha muitas opções. Se recusasse, restaria a ele definhar naquela casa e, depois, morrer de algum modo, sendo punido por Noir no inferno. Era uma situação difícil, uma sinuca de bico complicada.
— Eu desejo... — começou Dalian, tirando o demônio de seus devaneios. — Na verdade, por enquanto, nada. Quando precisar, te informarei. Apenas quero que trabalhemos juntos... Então, aceita?
Não havia muito o que tirar daquelas palavras, e o demônio sabia e repudiava isso. Sentia-se entrando em um acordo às cegas, algo que apenas seres como Blanc fariam, pois teriam o poder necessário para remodelar os acordos como quisessem. Mas Bleu não tinha essa força, assim como não tinha meios de recusar.
— Aceito.
Só lhe restava esperar e ver para onde esse acordo o levaria. Talvez o demônio azul tivesse acabado de firmar um pacto com o demônio sem cor.