Volume 1

Capítulo 59: Passado do ancião (Parte Final)

Três anos transcorreram desde que cheguei ao palácio de Aldemere, e com isso alcancei meus 18 anos de idade, o que significava que estava pronto para explorar o mundo. Despedi-me das pessoas do palácio; algumas despedidas foram mais dolorosas do que outras. Mas finalmente, parti, acompanhado de Andra, minha arqueira.

Antes de deixar o reino, fiz uma visita à casa do Nabu para me despedir dele e do jovem Galdric. Sua residência ficava próxima ao palácio, afinal, ele também era um nobre.

Caminhando um pouco pela rua, cheguei ao portão de sua mansão.

— Andra, fique aqui e eu volto rapidamente — pedi.

Ela concordou, e eu entrei. Trazê-la não teria mudado muita coisa, mas preferi poupá-la dos momentos tristes, já que ela não os conhecia.

— Dolbrian! — Mal pisei no piso interno da casa, e Galdric veio em minha direção.

Era esperado; esse era o horário em que costumava visitá-lo. Durante o tempo que passei no palácio, sempre fazia questão de fazer-lhe companhia.

— Ei, Galdric. Onde está o Nabu? — perguntei, ponderando acariciar seus cabelos, mas ele já era um jovem forte. Seria estranho fazer isso.

— Ele disse que precisava sair. — Ao me responder, notei seu olhar desviando para baixo. — Você está mesmo indo?

Então, era isso que provocava essa reação entristecida nele. À medida que o tempo passou, nossos laços se estreitaram; posso dizer que me tornei como um irmão para ele. É claro que a notícia da minha partida o deixaria assim.

— Tenho que cumprir o pedido do rei... — Dei um sorriso contido, ciente de que poderia parecer insensível. No entanto, sabia que era minha responsabilidade neste mundo. — Desculpe...

Eu nunca revelei a Galdric meu verdadeiro propósito na Terra. Talvez fosse um medo irracional, a ideia de que, ao revelá-lo, ele começaria a me tratar de maneira diferente. Pode parecer tolo, e de fato era, mas assim eu encarei e agi. Anos depois, muitos anos mais tarde, ele acabaria morrendo pelas mãos do meu próprio neto, sem que soubesse que eu havia sido um escolhido. Dos muitos arrependimentos que carrego nesta vida, este, talvez, foi um dos maiores.

— Idiota! — Sua resposta agressiva me pegou de surpresa, e o encarei, encontrando apenas seu olhar confiante acompanhado por um amplo sorriso. — Não se desculpe, afinal, é sua obrigação. Além disso, você sempre estará comigo ao longo da minha vida.

— Você é um garoto estranho... — Vi-o me olhar com certa confusão, percebendo que minhas palavras saíram de forma inadequada. — Quero dizer, estranho de um jeito bom... haha!

Ele era um rapaz exemplar. Apesar dos desafios que enfrentou na vida, poderia ter se desviado pelo caminho errado. No entanto, ele escolheu ser uma pessoa boa, alguém que trabalharia em prol do bem de todos. Seus sonhos refletiam esse comprometimento.

— Até você voltar, vou me tornar o maior guarda deste reino! Isso é uma promessa!

Sempre foi o sonho dele ser um guarda, um protetor, aquele que cuida das pessoas do reino, especialmente aqueles em situações difíceis, os que nunca tiveram alguém para estender a mão, assim como ele próprio não teve. Eu não tinha dúvidas: Galdric se tornaria o mais poderoso e dedicado guardião desta cidade, ou de qualquer outra em Aldemere.

Passamos alguns minutos conversando, aguardando o retorno de Nabu, mas ele não apareceu. Então, pedi a Galdric que transmitisse minha despedida a ele. Com isso, deixei o local e me encontrei com Andra. Juntos, partimos de Aldemere, iniciando nossas aventuras no coração de Mythárea. Atravessamos Astot e chegamos às cidades élficas. Durante essa jornada, enfrentamos inúmeros desafios e batalhas que seria impossível mencionar todos.

Enquanto atravessávamos os países élficos, alcançamos a região oriental. Levamos cinco anos para chegar a essas terras, principalmente devido às longas paradas que fizemos em alguns países para estudá-los minuciosamente.

Passamos um tempo no oriente, imersos naquela cultura tão diferente. Num belo dia, enquanto caminhava, deparei-me com um jovem garotinho agachado, aparentemente amedrontado.

— Há algo errado, jovem? — Olhei ao redor, procurando qualquer sinal de perigo ou algo que pudesse assustá-lo, mas não encontrei nada. — Jovem?

Ele apenas tremia, com as mãos agarradas à cabeça. Percebendo que ele talvez estivesse em choque e não fosse responder, me aproximei dele com cautela.

Foi então que percebi um brilho estranho em seu braço: braceletes dourados. Enquanto me aproximava, senti duas presenças entre as árvores que nos cercavam.

— Eles… — O jovem começou a falar, chamando minha atenção. — O lobo e o urso… eles me assustam…

"Urso? Lobo?" Foi então que algo voou em minha direção. Ao me virar para me defender, deparei-me com uma figura de pelagem escura, bloqueando a luz solar acima de mim: um lobo negro.

Ao saltar para escapar de sua investida, deparei-me de frente com um enorme urso vermelho como o fogo.

— Fuja! — O garoto gritava para mim, seu medo parecia ter se dissipado. Seus braceletes brilhavam mais intensamente. — Por favor! Fuja! 

Ao focar melhor meu olhar na sua direção, pude notar que atrás dele havia um corpo. Não sei como não tinha percebido antes; o corpo estava ensanguentado e aparentemente sem vida.

“Estou começando a entender...” Ao sacar minha arma, senti o zumbido das flechas; duas acertaram o lobo, fazendo-o recuar, enquanto o urso permanecia imóvel. Olhei na direção de onde as flechas vieram e vi Andra, engatilhando a terceira.

— Corra na direção do garoto! Tire os braceletes de seus braços! — ordenei, e ele obedeceu sem hesitar, enquanto Andra avançava na direção do jovem. Saquei minha espada e enfrentei o lobo, tentando contê-lo. Sua força era extraordinária; um golpe e fui arremessado vários metros para trás.

Ao voltar minha atenção para o garoto, vi Andra tocando seus braceletes, que brilharam intensamente, saindo de seus braços e prendendo-se aos dela.

Senti o alívio do garoto e as criaturas começaram a desaparecer, como se estivessem se acalmando. Descobrimos que o nome do jovem era Xeiuan, natural do oriente. Ele nos contou que enquanto brincava com seus amigos naquela região, encontraram uns braceletes curiosos, e ao tocá-los, os braceletes brilharam e grudaram em seus braços. Xeiuan ficou apavorado e as criaturas apareceram. Por algum motivo, elas atacaram seus amigos, matando todos, pouco antes de eu chegar.

Mais tarde, descobrimos que esses braceletes eram...

— Ártemis? — perguntou Andra, observando os braceletes.

— Havia uma lenda nesta região, que dizia que durante uma batalha entre Ártemis e um deus local, ela acabou perdendo seus braceletes. Dizem que eles escolhem aqueles que são dignos, conferindo-lhes os poderes de uma divindade como a própria Ártemis. 

— Eu era digno…? — perguntou Xeiuan em um tom triste.

Após a batalha e termos o ajudado, descobrimos que ele não tinha família e vivia pelas florestas. Como acabei me tornando um adulto de coração mole, aceitei levá-lo conosco.

— Talvez, se eles se agarraram aos seus pulsos. — respondi.

— Mas… Quer dizer que eu seria útil para vocês…? — ele questionou, parecendo cada vez mais abatido, seus ombros se encolhiam. 

Após isso, decidi treiná-lo para aprimorar suas habilidades, e ele se revelou um exímio espadachim. Muitos anos se passaram desde então, precisamente dez anos. Finalmente, chegou o dia de enfrentar aquele contra quem nasci para lutar: minha batalha contra o deus reencarnado, Rá…

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— Assim termina a história… — afirmou Dolbrian, exausto após tanto falar.

Os três ouvintes atentos, Alaric, Gideon e Nadine, exibiram expressões de decepção.

— O que aconteceu depois? Como foi sua luta com Rá? E o garoto? — perguntou Gideon, gesticulando ao lado de Nadine.

Dolbrian, encostado na parede, lançou-lhe um olhar de canto, em seguida, baixou os olhos, parecendo triste com algo.

— Acho que já foi o bastante de história, Gideon... — disse Alaric, reclinando-se com os olhos quase fechados, proporcionando um alívio instantâneo para Dolbrian, que não queria contar o resto. — Foram seis horas de falação…

Nadine, que estava absorta na conversa, virou sua face perplexa em direção ao jovem.

— Seis horas!? Sério!? — Nadine mal podia acreditar que tanto tempo havia passado; foi como se estivesse em um lapso temporal. Mas então ela recobrou a consciência, franzindo as sobrancelhas. — Pera, como você sabe?

— Sei lá, foi só um palpite. — Alaric pegou uma pedrinha ao seu lado e jogou; o tédio era tanto que já havia uma pilha delas mais à frente. — Mas finalmente acabou. Graças a lu…

Ele pensou em agradecer a Luna, mas seu recente encontro com ela o deixou com severas dúvidas sobre sua bondade e se deveria realmente depositar toda sua fé nela. Ele olhou para Nadine, que estava absorta, observando seus braceletes.

— Agora que você sabe o que são esses braceletes, vai fazer algo sobre eles? — Perguntou o jovem, levantando-se.

— Não sei… eles parecem perigosos… — Seu olhar voltou-se para Dolbrian. — Eles já saíram do controle alguma vez com ela?

— Não que me lembre... — Ele então inclinou a cabeça, parecendo tentar recordar. — Ah, na verdade, houve apenas uma vez... Foi durante a batalha contra Rá, quando certos eventos fizeram com que suas invocações perdessem completamente o controle.

Nadine pareceu abatida pelas palavras, imaginando esses seres perdendo o controle e atacando alguém importante para ela. Sempre foi habilidosa em controlar alguns de seus sentimentos, mesmo que minimamente, mas e se um dia não conseguisse? O que aconteceria? Com esses pensamentos inundando sua mente, ela se sentiu confusa e com um nó no estômago, deixou a caverna sem mais delongas.

Os três a observaram partir, com uma expressão deprimida. Decidiram não interferir, pois ela precisava de tempo para pensar.

— Vovô… — Gideon estava de cabeça baixa, desalentado, parecia que algo se quebrara dentro dele. — Eu pertenço à realeza…?

Dolbrian desviou o olhar, mas não tinha mais como esconder a verdade. Ele teria que quebrar sua promessa com Santica, mãe de Gideon. Durante a história, ele havia contado sobre as linhagens reais, e o sobrenome de Gideon Stormheart era uma delas. A verdade agora estava revelada.

— Sim, Gideon... Você é filho de Santica Stormheart. Como todos aqueles que descendem diretamente dos primogênitos da linhagem são considerados irmãos. Isso torna Bartolomeu VI seu tio-avô. E você provavelmente é o último Stormheart vivo.

Ao contar tudo isso, desamarrou o coração daquele velho homem. Ele não suportava mais guardar um segredo tão grande de quem mais amava. Talvez seja por isso que não ocultou essa informação durante a história.

Já Gideon não sabia como se sentir. Se por um lado, estava feliz por finalmente conhecer sua origem, por outro, estava tenso com tudo que descobriu.

— Não fique tão animado, Gideon — começou Alaric, aproximando-se de seu irmão. — Aqueles que mataram sua mãe o fizeram por algum motivo que desconhecemos. Mas provavelmente tem a ver com o sangue real. Ou seja, quando descobrirem sobre você, irão voltar para terminar o serviço.

— Eu entendo... — Ele abaixou o olhar, cerrando os punhos. Porém, ergueu a cabeça com determinação, encarando seu irmão. — Mas agora tenho alguma força! Pode não ser muita, mas tenho!

Alaric ouviu as palavras e sorriu, talvez de felicidade ou nervosismo. Mas uma coisa era certa: seu irmão havia se fortalecido durante o tempo em que ele esteve fora. O potencial de evolução que o envolvia ia além do imaginado. Alaric chegou a uma conclusão após ouvir a história de seu avô, que revelou aos dois:

— Você realmente está mais forte, Gideon — afirmou, colocando as mãos nos bolsos e ficando ao lado dele. — No entanto, essa força ainda é insignificante diante de alguns seres que enfrentamos ou ainda vamos enfrentar... Ou você esqueceu como Mani deu trabalho.

— Não precisa ficar relembrando! Eu sei, tá!? — Ele abaixou a cabeça, pressionando os olhos e mordendo os lábios. — Minha força não é suficiente, mas o que você quer que eu faça!? Me diga, Alaric!

Tap!

Gideon sentiu o impacto em seu rosto e recuou, começando a sentir a área de sua bochecha esquerda esquentar.

— Primeiro — Alaric abanava a mão que usou para o tapa e continuou: — Tem que parar de ser chorão... Segundo! — Seu indicador mirou agressivamente o peito de Gideon. — Amanhã, vou te treinar!

Sem mais delongas, Alaric saiu da caverna após suas palavras. Gideon ainda estava processando o tapa. Dolbrian, que observava tudo, sorriu, um sorriso nostálgico.

— Ele ficou igualzinho ao Galdric em algumas partes, hahaha!

— Vovô... ele realmente me deu um tapa? — Gideon pressionou a área onde levou o tapa, sentindo o calor e a dor.

— Parece que sim…

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Fora da caverna, Alaric sentiu um alívio ao respirar finalmente um ar limpo, em contraste com a sensação de ar sujo e rarefeito dentro da caverna. Além disso, ficou contente por poder finalmente esticar as pernas após passar mais de quatro horas sentado.

— Apolo — chamou Alaric, enquanto caminhava entre as árvores, ouvindo o som das folhas balançando.

Alaric, você me chamou?” perguntou Apolo.

— Sim, você pareceu inquieto quando ouviu sobre os braceletes. — Durante a história de Dolbrian, quando ele mencionou a origem dos braceletes e o nome Ártemis, Alaric sentiu uma oscilação na aura do deus dentro dele. — Aconteceu alguma coisa?

Entre as árvores, havia um clima ameno. O sol estava amarelo, quase laranja, pois já era entardecer. Os animais subiam nas árvores em busca de abrigo e os terrestres procuravam lugares para se esconder.

Você está sendo empático? Que deus realizou esse milagre?” Alaric fez uma expressão de profundo desprazer, torcendo a boca e arqueando as sobrancelhas. “Tá, tá. É porque Ártemis é minha irmã gêmea.”

— Entendo. Você não reconheceu aqueles braceletes quando os viu? — Era uma pergunta válida, considerando que Apolo já havia despertado e falado com Alaric por algum tempo, durante o qual Nadine esteve muitas vezes próxima ao jovem com os braceletes à mostra.

Não... Quando eu estava vivo, esses braceletes não existiam. Provavelmente foram feitos após minha morte...” Apolo morreu pouco antes da barreira ser erguida, e considerando que muitos deuses contra a barreira ainda estavam vivos, Ártemis deve ter forjado esses braceletes para lutar depois de sua morte.

Após ouvir, Alaric decidiu continuar sua caminhada em silêncio, havia muitas outras perguntas em sua mente. Entretanto, as manteve para si, por hora. Às vezes até um garoto sarcástico, pode ser empático.

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Em um lugar escaldante, onde a terra assumia tons avermelhados e rios de fogo serpenteavam pela paisagem, dois seres de aspecto demoníaco dominavam a atenção de todos, despertando tanto fascínio quanto medo.

— Noirzinho, será que vai demorar muito? — perguntou Blanc, admirando suas afiadas garras.

Noir, que voava mais alto com suas asas negras batendo ao vento, virou-se na direção dele.

— Se tudo ocorrer conforme o planejado... Não — respondeu o demônio negro, afiando os dentes com a língua. — Olhe, lá vem ele.

Blanc voltou-se na direção para onde Noir estava olhando e avistou a silhueta demoníaca aproximando-se. Ao se aproximar, ajoelhou-se, reverenciando os dois.

— Senhor Noir — Seu olhar então se voltou para Blanc, seus olhos reluziram ao ver seu senhor e, por assim dizer, pai. — Eu Amon, da linhagem branca, e me apresento em reverência ao meu ilustre criador Blanc.

— É... Sua apresentação ao Blanc foi bem mais requintada... — Noir aterrizou ao lado de Blanc e observou Amon de cima, como se fosse superior e de fato o era.

O demônio sentiu seu coração gelar enquanto baixava bruscamente a cabeça. Ouvir aquelas palavras vindas do senhor da linhagem preta era algo que ninguém desejaria.

— Com ciúmes, Noir? — provocou Blanc, passando sua garra no queixo do preto.

Noir deu um tapa na mão de Blanc e o encarou seriamente; provocar era a especialidade do demônio branco. Ao receber o tapa, Blanc recuou e acariciou a mão. Enquanto isso, o demônio preto voltou seu olhar estreito para Amon.

— De qualquer forma, você fez conforme ordenado?

— Si-sim, meu senhor! — Seu olhar se ergueu, encarando Noir, que permanecia com os olhos estreitos. — O humano, ele criou o círculo no ponto de maior concentração mágica do mundo terreno!

— Planos, planos e mais planos. — dizia Blanc com desdém, enquanto revirava os olhos, despertando a curiosidade de Amon, que passou a observá-lo. — Quando teremos a ação?

Noir o fitou e balançou a cabeça, suspirando profundamente. Ele não suportava esse jeito impulsivo de Blanc, nunca precavido.

— Primeiro, Blanc — começou Noir, cruzando os braços atrás das costas. — Não será nós a agir, ou esqueceu que o plano é enviar Bleu ou Rose para lá?

Ahh, que seja! Quando algo interessante acontecer, me chamem...

Ele abriu suas asas de penas brancas e pretas e alçou voo; sua impaciência não permitia continuar a conversa. De certa forma, foi um alívio para Noir.

— Agora que ele saiu, posso ter uma conversa normal com você — Amon observou meio desconfiado de onde essa "conversa normal" iria chegar, mas como não podia negar nada, aceitou. — Esse humano, ele é confiável?

— Senhor... se me permite ser franco — Com a cabeça ainda baixa, Amon elevou apenas seus olhos para Noir, que assentiu com a cabeça, descruzando os braços. — É, bem... humanos nunca são confiáveis, até porque, diferente de demônios, que muitas vezes são movidos pelo desejo de poder ou pela maldade, humanos são voláteis.

— Acho que você não entendeu minha pergunta... Ou está querendo dar voltas... — O olhar de Noir se tornou estreito como o de um tigre. — Está tentando fazer eu perder meu tempo...?

Os olhos de Amon, que estavam elevados na direção dos olhos escuros como o breu de Noir, baixaram em sinal de submissão.

— Nã-não, senhor...

— Você ainda está vivo, Amon, pois você é especial... o único demônio que pertence a duas linhagens... seus olhos negros não negam o fato... — A expressão de Noir tornou-se maléfica, como se deleitasse com o pavor de Amon a cada sílaba que soltava. — Mas ser especial não te isenta da morte... Então, por gentileza, seja direto.

Amon sentiu como se facas pressionassem contra seu pescoço, penetrando cada vez mais em sua pele a cada segundo. Ele estava sem tempo e, então, revelou tudo com urgência:

— Ele é! Ele estava apenas movido pela sede de poder!

— Ora, veja como é bom ser direto — Noir virou-se, abriu suas asas e olhou por cima dos ombros. — Me passe a localização exata de onde o portal irá se abrir aqui no inferno, quando souber. Adeus.

Com isso, Noir partiu e Amon finalmente pôde soltar sua respiração, aliviando seus pulmões. Qualquer ser poderia ter falado mal de alguém como Noir ao vê-lo virar as costas e partir. No entanto, todo demônio tinha pleno conhecimento de que o inferno tinha ouvidos bem aguçados.

— Acho que está na hora de contatar aquele humano... como era o nome mesmo? Ah, sim... Dalian…



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