Volume 1

Capítulo 60: Embate entre irmãos

Com o tempo que o grupo de Alaric levou para invocação de Luna, Erne e seu grupo, composto por Dorni, Mani, Dalian e Delilian, partiram em direção ao reino de Estudenfel. Devido ao ritmo moderado de viagem, levaram cerca de quatro dias para chegar.

Neste momento estavam diante das imponentes portas de madeira escura que precediam a sala do trono, todos se reuniram. Com um suspiro pesado, Erne empurrou as portas, revelando a vasta sala diante dos olhos dos presentes. Era uma sala da corte rústica, com pilastras de pedra cinza já desgastadas, e o chão, as paredes e o teto feitos do mesmo material, todos exibindo resíduos verdes incrustados.

Um imenso trono, esculpido em uma pedra mais escura do que a das paredes, indicava que ali outrora se assentara uma criatura de notável imponência.

O velho general tomou a dianteira, avançando com calma. Apesar dos passos leves, as peças de sua imensa armadura de mythril produziam o ruído característico de aço se chocando, captando a atenção dos nobres presentes, reunidos para ouvir as boas novas.

Logo atrás de Erne estava Dorni, cuja postura diferia da última vez em que caminhara pela sala do trono. Agora, ele avançava com mais confiança, refletindo sua evolução interna.

Logo atrás dos dois, Mani avançava, exibindo arrogância em seu olhar enquanto observava os humanos, a quem considerava nada mais que insetos. Os irmãos magos despertavam olhares curiosos entre todos os presentes.

— Minha majestade. — Erne ajoelhou-se diante de seu rei, gesto repetido por Dorni e os irmãos magos. — Trago notícias sobre Windefel.

O rei, sentado em seu trono e segurando uma taça dourada, observou-os de cima, demonstrando interesse nas notícias que traziam.

Mani não hesitou ao subir os degraus de pedra que conduziam ao trono. Seus passos eram elegantes, porém ameaçadores, enquanto as respirações dos observadores se tornavam pesadas. Os olhos vidrados deixavam claro o medo que ela inspirava em todos ao seu redor.

"Humanos idiotas", um sorriso de canto surgiu em sua face arrogante. Mantendo sua postura altiva, ela avançou até chegar ao lado do trono do rei, parando para encarar todos os presentes de frente. Diante de sua atitude desafiadora, ninguém se atreveu a questioná-la; afinal, ninguém seria tolo o suficiente para isso.

— Erne, por favor, exponha as notícias — solicitou o rei, ignorando a presença de Mani ao seu lado.

— Como desejar... Sobre Windefel, foi conquistada.

Todos sorriram com a notícia, a conquista de Windefel era esperada, porém sempre havia uma dúvida persistente. No entanto, a lógica prevaleceu no final. Mas Erne estava prestes a quebrar o clima festivo com suas próximas palavras.

— No entanto, em relação a Aldebaram... Sofremos uma derrota…

As pessoas ficaram perplexas, incrédulas com o que ouviram. Mil contra um, além de uma deusa. Como poderia isso ter acontecido? A derrota parecia ilógica. No entanto, Erne dissipou as dúvidas ao relatar todos os acontecimentos, sem omitir nenhum detalhe. Mani não apreciou o fato de ele mencionar sua derrota, mas não reagiu. Qualquer tentativa de ridicularizá-la seria rapidamente reprimida.

O rei, por sua vez, estava atônito. Para ele, Aldebaram já representava a maior força do norte, rivalizando até mesmo com os dragonoides. No entanto, agora surgia a informação de que existiam indivíduos ainda mais poderosos...

— Esse jovem de cabelos vermelhos… — O rei ponderou, tocando o queixo e erguendo uma sobrancelha. — Ele é realmente tão poderoso?

— Ele superou a M… — Erne sentiu o olhar penetrante de Mani, quase como se estivesse perfurando seu crânio. — Quero dizer, ele derrotou alguém da magnitude de uma deusa... podemos concluir que é pelo menos três vezes mais poderoso do que Aldebaram.

— Entendo… — Alguém três vezes mais poderoso que Aldebaram era inconcebível, e ainda por cima jovem, o que significava que ele ainda poderia evoluir... Como o rei nunca tinha ouvido falar desse jovem antes? Afinal, para possuir tanto poder, ele provavelmente era filho de alguém influente... Seu nascimento deve ter sido mantido em segredo de todo o continente... E quanto ao outro jovem, o rei mal podia acreditar. — Um escolhido? Por que ele está no norte?

— Não sei, meu rei. Mas posso dizer que ele é poderoso… — Erne baixou a cabeça em descontentamento. — Em uma luta direta, fui derrotado…

Dorni, cerrou o olhar em desalento, ver seus mestres assumir a derrota era triste demais para ele. Mas nada podia fazer, além de apenas observar.

O rei liebe estava confuso sobre isso, afinal, um escolhido não podia se intrometer em assuntos envolvendo reinos. Talvez apenas estivesse no lugar errado na hora errada, como relatado ele ainda era jovem.

— Mani. — Liebe chamou a deusa ao seu lado, dirigindo-lhe um olhar inquisitivo. — Você foi derrotada. Poderia explicar como?

Todos sentiram seus corações acelerarem, antecipando que os próximos segundos seriam marcados por sangue da realeza. No entanto, para surpresa de todos, a deusa sorriu confiantemente, colocando uma mão em sua cintura.

— É simples, ele tem algo dentro de si que o auxiliou.

— Algo dentro dele? — questionou o rei, confuso. — O que poderia ser?

— Um deus — respondeu ela de forma simples, fazendo com que todos prendessem a respiração. — Para ser mais específica, aquele pretensioso do Apolo.

O rei arregalou os olhos brevemente, porém logo controlou suas emoções, dando um gole de vinho em sua taça.

— Entendo. Ele é semelhante a ti? — questionou.

— Não sei, talvez sim — respondeu Mani, notando os olhares curiosos à sua volta, fixando seus olhos em Dalian. — Mas, de toda forma, necessitamos de poder para aniquilar aqueles insetos irritantes. Por isso, trouxemos esses dois.

Liebe desviou o olhar para os dois estranhos ajoelhados atrás de Erne. Nunca os tinha visto antes, mas então recordou certas informações que havia recebido.

— Então os governantes de Reven querem colaborar comigo? — perguntou o rei, com um sorriso confiante.

Dalian e Delilian ergueram as cabeças, dirigindo seus olhares ao monarca.

— Se já sabe quem somos — começou Dalian. — Nos poupa tempo. Vamos direto ao ponto principal.

— Cavalheiros apressados — caçoou o rei, enquanto tomava mais um gole de vinho, dirigindo seu olhar para Erne. — General, presumo que tenha sido você quem permitiu a entrada deles. Com base nisso, também presumo que confie nesses dois. Estou errado?

O rei poderia até considerar trabalhar com os dois, mas dependia da confiança do seu general. Liebe, mais do que qualquer outro, sabia que Erne era o melhor juiz de caráter. O velho general ergueu a cabeça e observou o rosto intrigado do seu rei antes de responder:

— Está correto, minha majestade. Confio neles. — Erne não confiava plenamente, mas também não previa que causariam problemas.

— Se é assim — começou o rei, estendo a mão permitindo a proposta de Dalian.

— Então, meu rei… minha proposta é…

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No meio da floresta, sob o domínio de Fuxi, o sol despontava. Duas figuras se encaravam à distância.

— Está frio aqui… — Gideon tremia, esfregando as mãos. Seu torso estava nu, apenas com calças. — Será que precisávamos mesmo ficar sem camisas?

— Sim, nossos mantos e camisas estão rasgados — respondeu Alaric, na mesma situação que Gideon. — Astrid irá costurá-los. Relaxa, tenho a impressão que logo o frio irá passar…

Observando de longe, Aldebaram estava sentado em uma enorme pedra, seu rosto irradiando determinação. Ao lado dele, Fuxi emergiu, confuso com a situação.

— O que eles…

— Estão planejando? — respondeu Aldebaram, interrompendo Fuxi. — Alaric quer treinar o Gideon.

— Aldebaram? — Fuxi não havia notado Aldebaram, então ergueu o olhar e avistou o giganoide no topo da pedra, com um joelho levantado e um braço acima dele. — Ah, você está aí. Espera, treinar?

— Sim, ele quer deixar Gideon fortinho, haha! — Ele parecia mais feliz do que o normal.

— Por que você está tão animado? — Questionou Fuxi.

— Porque esses garotos... — Aldebaram não conseguiu concluir sua fala, envergonhado. Mas para ele, aqueles dois eram como seus sobrinhos ou algo próximo disso. Vê-los querendo se tornar homens fortes era especial para ele.

Voltando aos dois, que ainda se encaravam com firmeza, seus olhares se encontrando em um duelo silencioso. Era a primeira vez que eles iriam se confrontar. Gideon já estava ciente de que Alaric era mais poderoso, mas ele mesmo não tinha tanta certeza, considerando o recente aumento de poder de seu irmão.

— Pronto? — Alaric começou a invocar suas três espadas de luz.

— Sim! — Gideon sacou a Escolion.

O vento leve agitava as folhas das árvores, fazendo uma delas se soltar e iniciar sua jornada ao solo, dançando pelo ar enquanto descia. A tensão entre os irmãos aumentava a cada momento, até que a folha tocasse o chão. No mesmo instante, eles avançaram.

Alaric segurou uma das lâminas com a mão esquerda e manteve as outras girando ao redor de seu corpo. Por sua vez, Gideon empunhava apenas uma espada, mas não demonstrava intimidar-se. O primeiro choque ocorreu quando a lâmina de luz e prateada se encontraram, fazendo os braços de ambos serem arremessados para trás ao ricochetear.

Alaric saltou recuando. Gideon olhou desconfiado e percebeu que enquanto seu irmão estava no ar, suas duas espadas saíram do seu lado, viajando em sua direção. A primeira passou rente a ele, prendendo-se ao chão ao ser evitada. A segunda, mirando seu peito, foi interceptada por um movimento rápido e horizontal da Escolion, dissipando-a.

— Então a Escolion também é capaz de neutralizar minhas espadas? — questionou Alaric, pousando no chão.

— Aparentemente sim… — respondeu Gideon, antes de sentir uma aproximação por trás. Era a espada que se prendeu ao chão. Antes que pudesse reagir, foi atingido nas costas e arremessado para frente. — Argh... Ei!

— Nunca se distraia em uma batalha — advertiu Alaric, gesticulando com dois dedos, enquanto as espadas começavam a pairar ao seu redor. — Você só está vivo porque essas espadas não cortam…

Antes que Gideon pudesse reagir, Alaric avançou. Ele teve apenas tempo suficiente para se erguer rapidamente e usar sua espada como escudo. Alaric, sem hesitação, desferiu um corte horizontal que, ao colidir com sua lâmina, o lançou para trás, fazendo-o chocar-se contra uma árvore próxima. A força do impacto resultou na vibração do tronco e na queda das folhas ao redor.

Alaric, por sua vez, não diminuiu o ritmo e continuou a avançar. Segurando firmemente uma espada de luz, estendeu-a ao lado, mantendo-a reta. Ao se aproximar de seu irmão, pisou vigorosamente no chão, dando início à trajetória da lâmina. A espada deixava um rastro dourado por onde passava. Quando chegou perto de Gideon, este esquivou habilmente e a lâmina dourada passou rente ao topo de sua cabeça, cortando o tronco da árvore como se fosse manteiga.

— Ei! Isso não era sem corte!? — protestou Gideon enquanto estava sentado no chão, observando seu irmão caminhar lentamente em sua direção, com um sorriso de superioridade nos lábios, enquanto a árvore que acabara de ser fatiada desabava atrás dele. — Sério, você dá medo...

— Medo? — retrucou Alaric, seu sorriso assumindo uma aura sinistra, quase demoníaca, enquanto as espadas de luz começavam a se mover. — Se defenda, Gi, e me ataque... está tão fraco...

As espadas ascenderam aos céus e, em um movimento gracioso, curvaram-se para cair. A primeira chegou perto de Gideon, que a esquivou habilmente antes de a lâmina se prender no chão, seguida pelas outras duas. Levantando-se, Gideon girou a Escolion em sua mão, preparando-se para o embate. Ao se aproximar de seu irmão, saltou e desferiu um golpe de cima para baixo, forçando Alaric a se defender com ambas as mãos.

Gideon então se impulsionou para trás e, antes que Alaric pudesse reagir, avançou novamente, executando uma voadora com os dois pés. Pegando Alaric de surpresa, a investida acertou em cheio seu estômago, lançando-o pelo ar sem chance de defesa.

Cof… Cof… — Alaric tossia, sentado no chão, as mãos sobre o estômago, sentindo uma dor moderada. — Onde aprendeu esse golpe?

— Não sei... Desde minha luta contra aquele Erne, sinto como se meu cérebro estivesse sobrecarregado com informações de combate... — respondeu ele, passando a mão pelos cabelos brancos.

Alaric tocou o solo e em seguida acariciou a barriga uma última vez. Então, impulsionou-se para ficar de pé usando a mão que estava no chão. As espadas de luz voltaram a circular ao seu redor.

— Você já possui alguns fundamentos de luta, só precisa aprimorar seus reflexos... — Este confronto inicial serviu apenas para Alaric identificar as lacunas no treinamento de seu irmão. — Vamos começar a treinar contra magia? Antimagia? Sei lá.

— Começar?! — Para Gideon, tudo aquilo já havia sido parte do treinamento. — Bem, o que faremos...

Alaric dissipou as espadas e, em seu lugar, criou três pequenas faquinhas de arremesso. Apontou a palma da mão na direção de seu irmão, deixando-o confuso. Sem aviso prévio, uma das lâminas voou em direção a Gideon, que a desviou.

— Pare de desviar, use a Escolion para bloqueá-las — orientou Alaric.

Gideon assentiu com a cabeça e outra faquinha foi arremessada, cortando o ar enquanto viajava a curta distância entre os dois. Quando estava a alguns metros de Gideon, ele preparou a Escolion, prontificando-se para o golpe. Com precisão, o jovem desfez instantaneamente a faquinha ao atingi-la com sua lâmina.

Em seguida, Alaric recriou todas as faquinhas e as arremessou novamente. Gideon conseguia cortar todas, apesar da dificuldade de lidar com tantas de uma vez. Percebendo que seu irmão estava lidando bem com as faquinhas, Alaric decidiu aumentar a potência.

"Quanto dessas faquinhas você acha que consigo invocar, Apolo?" questionou Alaric, obtendo a resposta: "Acho que umas dez, são pequenas, não consomem muita mana."

Essa era a confirmação que ele precisava. Ao seu redor, pequenos pontos dourados surgiram, gradualmente tomando forma até se transformarem nas faquinhas.

— No que está pensando, Alaric!? — assustou-se Gideon com a enorme quantidade de faquinhas.

— Precisamos testar seus limites — respondeu Alaric, arremessando todas as faquinhas de uma vez.

Elas voaram em linha reta, com Alaric no meio, girando no ar em formação. Gideon apenas observou enquanto seu irmão cruzava os braços. Quando as primeiras cinco faquinhas chegaram, ele tentou rebatê-las, mas para sua surpresa e desespero, elas desviaram do caminho de sua lâmina, atingindo seu corpo em cheio.

Argh… — ele foi arremessado para trás, sentindo a dor causada pelo impacto das faquinhas em sua pele. — Hahah! Realmente está esquentando!

— Gideon? — Alaric ficou confuso ao ver seu irmão agir daquela maneira. 

Logo, Gideon se levantou do chão, encarando Alaric com um olhar desafiador.

 — De novo! Mande mais faquinhas! 

Alaric havia acabado de despertar o espírito de luta que acompanhava todos que ele conhecia.



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