Volume 1
Capitulo 41: Freya
Gideon conseguiu se libertar da lâmina de Dorni em seu pescoço. Sua mente estava perturbada pelo ódio, ao testemunhar Erne tentar encerrar a vida de Astrid e acertar Dolbrian, que saltou na frente da garota para protegê-la.
Ele havia aparecido por trás de Erne, segurando sua Escolion, pronto para confrontar o velho general.
Executando um golpe diagonal preciso, Gideon mirou o ombro de Erne, sua lâmina reluzente cortou o ar a uma incrível velocidade. Contudo, o general reagiu com uma agilidade ainda maior, saltando para frente. Em meio ao salto, girou seu corpo habilmente, arremessando sua lança.
— Lança Veloz! — A lança foi envolvida por uma aura amarelada, aumentando ainda mais sua velocidade enquanto percorria a já curta distância. — O que é esse garoto!?
Gideon fixou os olhos na lança, sua ponta, aproximou-se de forma perigosa. Contudo, seu tempo de reação parecia amplificado, pois virou o corpo de lado com habilidade, deixando a lança passar rente. Erne desabou ao solo, já levantando-se para continuar a batalha.
— Você é realmente uma ameaça. — A lança desapareceu do solo, e, em um tempo acima do comum, materializou-se outra vez na mão de Erne. — Invocar uma arma da alma tem seu custo.
— Astrid — disse Gideon, assumindo posição de batalha. — Pegue meu avô e saí daqui.
— Mas eu-
— Saia, não vou repetir. — Gideon falou com seriedade, longe do garoto gentil que Astrid conhecia.
Com escassas opções, Astrid ergueu-se com certa dificuldade, suas vestes brancas agora manchadas de vermelho pelo sangue de Dolbrian. Ainda hesitante, completou o movimento de se levantar. Com o ancião Dolbrian nos braços, começou a afastar-se dali.
— Ei! — Dorni, ao ver Astrid fugindo, avançou em sua direção com a espada em punho. — Não vai fugir!
No entanto, Gideon não permitiria. Ao tentar cruzar pelo jovem, Dorni sentiu um arrependimento instantâneo. Gideon desferiu um chute na boca de seu estômago o impacto estalou como um chicote, arremessando-o de volta para próximo de Erne.
— Você fica aí. — Gideon apontou para Dorni, dirigindo o indicador para o local onde deveria ficar. — Saia e sentirá uma dor impossível de mensurar.
Erne posicionou-se à frente de Dorni, sua mão baixa com a palma voltada na direção do jovem, como se estivesse protegendo ou ordenando que ficasse seguro.
— Por que não foge também, garoto? — indagou Erne.
— Você não permitiria. — Gideon avançou, ansioso por desmembrar Erne. — Por isso, terei que te derrotar.
— Entendo, você tem razão. — Erne girou sua lança com ambas as mãos acima de sua cabeça, baixando-a ao lado do corpo em posição de combate. — No entanto, não trazer minha derrota.
Gideon corria, pronto para antecipar o arremesso da lança, pois era o movimento habitual de Erne. No entanto, o astuto general compreendia que o jovem já havia percebido esse padrão. E, também consciente de que reinvocar a lança constantemente consumia muita energia, optou por mantê-la próxima ao corpo.
Gideon permanecia fixo, seu olhar inabalável e centrado. Sua mente, um estranho vácuo, enquanto um ódio corrosivo o consumia; dúvidas persistiam, e algo parecia prender-se à sua alma, como se o rancor estivesse assumindo o controle. Apesar do turbilhão, uma calmaria parcial persistia.
Ao se aproximar e perceber que Erne não arremessaria a lança, girou sua lâmina, apontando a ponta da Escolion para trás. Com um pisão vigoroso no solo, lançou o golpe ascendente, a espada viajou veloz. Erne, percebendo a investida, colocou a lança à frente de seu corpo, segurando-a firme com ambas as mãos. A lâmina atingiu o cabo da lança, arrebatando-a das mãos dele e enviando-a aos ares, junto aos braços do velho general, deixando-o vulnerável.
Gideon, rápido como um relâmpago, ergueu uma perna e desferiu uma solada no estômago de Erne, uma onda de choque emanou. No entanto, surpreendendo o jovem, o corpo do general permaneceu imóvel. Gideon, perplexo, ao olhar para onde seu pé estava, viu a mão do velho general o agarrando. O jovem se desvencilhou rapidamente, saltando para trás.
— Golpe forte, jovem. — Erne balançava a mão que havia usado para aparar o golpe. — Então, por que está ajudando Aldebaram?
— Não me venha com perguntas. — Gideon de novo avançou, aproximando-se de Erne, que ainda não havia invocado sua lança. Em um golpe da esquerda para a direita buscava o atingir — O q-
— Não irei permitir! — Dorni tomou a frente de Erne, e com sua espada, desviou o ataque de Gideon; faíscas saltaram e o eco das lâminas se encontrando fez o jovem recuar. — Não irá tocar em meu mestre!
— Vocês... Acham que têm o direito de ter uma relação assim, destruindo tantas vidas!?
Ouvir aquilo, uma demonstração de amizade ou sentimentos profundos de duas pessoas que só buscavam a destruição, era ultrajante para Gideon; eles não mereciam sentir aquilo. Erne pôs a mão no ombro de Dorni, fazendo o jovem dirigir o olhar para ele. O velho general portava um sorriso singelo e assumiu a frente de Dorni.
— Sei que não tem motivos para gostar de nós. — Começou a sacar uma espada de sua bainha. — Mas, no fim, cada um aqui luta apenas por seus ideais.
— Ideais!? Que maldição de ideal é esse que precisa para se firmar precisa matar? — Batendo com a mão no peito, bradava, seu semblante estava confuso. — Seus ideais estão errados!
Em instantes, Erne apareceu do lado dele, o encarando. O jovem tentou reagir e recuar, mas o general desferiu um golpe rápido. Como o jovem já havia saltado para trás, o golpe o deslocou no ar, fazendo-o chocar-se com uma árvore.
— Não existem ideais errados. — Apontou a espada para Gideon. — No fim, o vencedor sempre estará correto.
Gideon estava apoiado na árvore, sua consciência vacilante, sentindo um calor abrasador no estômago. Ao passar a mão e examiná-la, notou o sangue. Mesmo com o salto para trás, a espada de Erne havia tocado minimamente, causando um corte.
— Isso está errado... — Uma aura estranha começou a emanar de Gideon, seu rosto obscurecendo. Um vento suave agitava seus cabelos brancos. — No fim... Astrid, vovô, Aldebaram... seriam apenas sacrifícios para esses ideais... Isso está errado. — A Escolion, antes imaculadamente prateada e reluzente, começou a adquirir leves manchas negras gradualmente. — Eu sou o escolhido, mas isso não tem a ver com isso... Esse ato não será crucial para o mundo... — Seu rosto obscurecido, abruptamente adquiriu duas esferas azuis, suas íris fixando-se em Erne. — Mas eu irei destruir até o último resquício de seu ser.
O jovem, antes caído e apoiado na árvore desapareceu num piscar de olhos, surgindo por detrás de Erne. Este, instintivamente, lançou sua espada para trás, conseguindo aparar o golpe. Contudo, a força do impacto o arremessou para frente. Ao cair, levantou-se rapido, girando o corpo em direção a Gideon. No entanto, o jovem já estava muito próximo a sua frente. Correndo, lançou o joelho no estômago do velho general, curvando seu corpo para frente e causando uma onda de ar que escapou de suas costas. Assim, Erne foi projetado aos ares.
Ao chegar aos céus, Erne virou seu corpo para baixo, observando Gideon preparar outro golpe. Aproveitando a queda com sua espada em mãos, girou no ar e, ao fim do giro, lançou sua lâmina em direção do jovem.
— Multiplique-se — ao falar a espada se multiplicou em quatro espadas. — Adquira propriedades.
As espadas adquiriram as propriedades de fogo, gelo, ar e, por fim, eletricidade. Todos esses poderes viajaram a uma velocidade exorbitante em direção ao garoto
— Não conheço todos os meus poderes, mas um eu tenho certeza de possuir — disse Gideon, observando as espadas emitindo ondas de poder em sua direção, enquanto Erne ainda caía perplexo.
Ao se deparar com a lâmina flamejante, Gideon desferiu um golpe com a Escolion, fazendo com que o fogo na espada se apagasse imediatamente. Logo após, a lâmina eletrificada veio, e o mesmo ocorreu. A espada de ar se aproximava, mas ele apenas ergueu a Escolion até o céu, irradiando um brilho que dissipou a propriedade da espada.
A de gelo deslocava-se por último aproximando-se de Gideon, e ele então saltou para a aparar, mas ao toque de sua lâmina com ela, sentiu uma sensação estranha como se sua alma estivesse congelando. Pressentindo o perigo bateu na espada e voltou ao solo.
— Hmmmm… — A Escolion começou a brilhar em azul, e sua lâmina adquiriu uma fina camada de gelo que a cobriu por completo. Gideon a balançou com firmeza para a direita, e no local onde ela se moveu, formou-se um caminho congelado que se estendia por quilômetros. — Será que…?
Erne arregalou os olhos, próximo ao solo, já formulando maneiras de neutralizar aquele jovem formidável. No entanto, seus pensamentos foram interrompidos por Gideon. Virando a ponta da espada para o solo, seus joelhos dobraram e, a ponta foi fincada com vigor na terra, rapidamente seu entorno foi tingido por um azul cristalino. Suas roupas começaram a congelar, sua respiração soltava fumaça branca, e uma brisa gélida soprava. Do solo, um pico de gelo irrompeu, elevando-se em direção a Erne.
— Merda! — O pico de gelo subiu em alta velocidade, não dando tempo para uma pessoa comum reagir. No entanto, ao sentir o frio tocar seu corpo, Erne girou bruscamente, e o gelo passou rente ao seu peito, triscando sua armadura e erguendo-se até as alturas das nuvens. Subitamente, aquela enorme estrutura começou a despencar sobre Erne, ameaçando esmagá-lo. O velho general, porém, demonstrando sua sagacidade, virou os pés na direção do gelo e o utilizou como impulsionador para escapar do impacto iminente.. — Ufa…
Gideon acariciou o corte em seu estômago, congelando-o, pronto para retomar o ataque contra Erne. Este, caiu próximo a Dorni, deslizou um pouco para se firmar. O enorme pico de gelo dissipou-se em pleno ar.
— Esse poder... essa espada... — Erne já não possuía espadas ou qualquer tipo de arma, e parecia que invocar sua lança também era inviável. No meio de tantos problemas, algo chamava sua atenção. — Ele mencionou "escolhido", não é?
— Mestre! — Dorni notou seu mestre debilitado e preocupou-se, mas o termo "escolhido" chamou bastante sua atenção. — Escolhido, não são aqueles que nascem a cada década para enfrentar um perigo imenso?
— Sim... O último foi aquele Dolbrian... — Ela observava Gideon avançar com uma expressão que lembrava tudo, menos a de um escolhido. — Ele já perdeu esse título... Um escolhido não porta aquela aura.
— Mas... Esse poder, capaz de enfrentá-lo, seria a explicação...
— Tem razão. — Erne entrou em posição de combate, suas mãos começaram a emanar fogo e a outra gelo. — Odeio usar magias assim; não sou um bom mago.
Erne, embora fosse um cavaleiro-mago, não era habilidoso com magias. Tinha pouca prática nessa área, pois normalmente uma classe híbrida, entre habilidades físicas e mágicas, diminui a eficiência desta última.
"Ele parece possuir mais de uma especialidade, mas como?" Se questionava Gideon, aproximando-se cada vez mais. Pelo que ele havia estudado, as pessoas nascem com uma especialidade, e era apenas isso. No entanto, Erne parecia possuir mais de uma.
Erne jogou bruscamente as mãos ao solo; ao redor de sua mão esquerda, o solo avermelhou, e ao redor da sua mão direita, o solo azulou. Dois rastros instantâneos se formaram e viajaram até Gideon. O rastro de fogo incinerava tudo em seu caminho, enquanto o de gelo criava estacas congeladas ao longo do percurso. Ambos se dirigiam em direção ao jovem, que sorriu confiante e levantou sua espada. Um brilho intenso foi emitido subitamente, dissolvendo os dois rastros.
— O quê... — Erne não teve tempo de surpreender-se, pois Gideon acelerou seus passos e já estava colado nele. Erne levantou a palma abruptamente na direção do jovem, e estacas de gelo surgiram. No entanto, Gideon as rebatia com sua espada. — Mer-
Gideon então rebateu a última estaca, e da lâmina da Escolion um espeto de gelo se projetou na direção do rosto de Erne, que o desviou agilmente por pouco, pois sua bochecha foi marcada por um corte. Mas ele apenas havia adiado sua morte, pois Gideon, já havia desferido um golpe mortal. Contudo…
— Oh, Freya, deusa da beleza e amor, senhora dos campos dourados, regente da fertilidade próspera. Na luz do dia e no silêncio da noite, eu te invoco! — Dorni acabava de… recitar..
Dos céus, uma luz dourada iluminou a cena, revelando a descida de uma figura celestial. Freya, a deusa de beleza extraordinária, emergia com uma aura que irradiava elegância e majestade. Seus cabelos dourados fluíam como raios de sol, caindo em cascata sobre os ombros. Olhos profundos e expressivos variavam entre tons de verde e azul, enquanto sua pele emanava uma luz sutil, suave como a própria divindade.
Vestida em um manto de seda dourada, habilmente bordado com símbolos rúnicos e motivos florais representando a natureza, Freya descia com graciosidade. O manto movia-se fluidamente, dançando em harmonia com a presença divina. Ao redor de seu pescoço, o Brisingamen, um colar mágico de ouro, simbolizando sua profunda conexão com a magia, adornava-a com um toque celestial.
Ao tocar o solo, a energia radiante de Freya transformava a paisagem ao seu redor. Flores desabrochavam instantaneamente, uma brisa suave carregava o aroma doce da primavera, e pássaros entoavam melodias em saudação à deusa da renovação e da beleza.
— Escutei o clamor verdadeiro de um filho do norte — declarou Freya, dirigindo seu olhar para Dorni. — Foi você?
— S-sim — murmurou Dorni, sentindo a aura divina tornar-se quase avassaladora.
Gideon, quase acertando Erne, sentiu-se paralisado, seu corpo parecendo não responder. Freya, virou seu olhar para ele e, compreendeu a situação.
— Esse é o motivo de seu clamor? — questionou a deusa, analisando Gideon . — Um escolhido... Quase corrompido.
Em instantes, outra presença avançou sobre o local onde eles se encontravam. Uma aura também divina, um pouco mais fraca.
— Freya! — Era Mani, que vinha voando, pois havia sentido a presença de deusa. — Quanto tempo!
Gideon olhou para o céu, observando a silhueta de Mani, e conseguiu enxergar uma outra silhueta em suas mãos. Ao forçar o olhar, conseguiu focar e com nitidez viu perfeitamente.
— Aldebaram! — Nas mãos de Mani estava Aldebaram, desacordado e com seu corpo todo ensanguentado.
Freya voltou o olhar rapidamente para Gideon, e sua expressão ficou perplexa. "Ele falou, sem eu permitir... Ele suportou minha aura."
Divindades eram seres extraordinários; a simples presença de um em sua forma normal perto de um mortal causava desmaios, e os mais fortes aguentavam ficar conscientes. Mas outra história era falar; deuses comumente suprimiam suas auras para permitir que aqueles com quem desejavam falar pudessem silabar.
— Mani... — Freya decidiu ignorar isso, voltando sua atenção para a deusa.
— Nossa, nem parece feliz em me ver... — A deusa pousou próxima a Freya, soltando Aldebaram no solo.
— Não posso manter conversas paralelas; a barreira logo irá fechar. Preciso atender o pedido do clamor verdadeiro.
— Por isso lutei contra essa porcaria de barreira.
Freya suspirou, baixou o olhar, mas logo se recompôs e fitou Dorni.
— Então, deseja que eu proteja aquele homem?
Gideon observava tudo em silêncio, impotente diante de uma deusa que parecia apoiar aqueles ideais. No entanto, não suportou a silentude e sua voz cortou o ar.
— Por isso, Luna é a melhor deusa. — Gideon proclamou, instantaneamente sentindo uma aura expandir-se atrás dele.
— Não cite o nome daquela deusa... — O semblante de Mani fechou-se ao ouvir o nome de Luna.
— Que seja, vocês resolvam isso depois... — começou Freya. — Desculpe, jovem, mas deuses atendem pedidos que consideram verdadeiros, e deuses nórdicos sempre apoiarão o povo do norte.
Ela ergueu as mãos, e dois círculos surgiram, trazendo à existência dois homens enormes vestidos em armaduras características de guerreiros vikings, claramente retirados de Valhalla.
— Meus filhos, retirei vocês do seu descanso em Valhalla, pois preciso que lutem em meu nome, mais uma vez. — Apontou para Dorni. — Auxiliem aquele garoto. E você. — O colar Brisingamen, em seu pescoço, começou a piscar e desapareceu, reaparecendo no pescoço de Dorni. — Use isso sabiamente, eu voltarei para buscar.
A situação para o jovem Gideon acabava de ficar extremamente complicada. Dois guerreiros antigos de Valhalla estavam prontos para destruí-lo. Além disso, havia Mani, que, diferente de Freya, iria lutar diretamente. Dorni, por sua vez, havia recebido aquele estranho colar. Levando em conta que o arco que Luna fornecia era extremamente poderoso, era de se imaginar que aquele colar fosse do mesmo nível, ou até mais forte.
— Minha deusa, me proteja…
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Notas:
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