Volume 1

Capítulo 4: Traumas

Três anos se passaram, desde a aventura pelos esgotos da cidade que Gideon e Alaric realizaram. Agora encontravam-se, dentro da residência de Dolbrian, ambos completaram seus 16 anos. Suas vidas não tiveram grandes mudanças, após os acontecimentos passados. Alaric acabou tendo uma grande evolução interna, talvez um pouco ruim... A rebeldia da adolescência.

Agora ele preparava-se para sair de casa, e ir a algum lugar.

— Onde está indo, Alaric? — perguntou Gideon, que estava sentado em uma cadeira com um livro em mãos.

— Como se você já não soubesse, Gi — caçoou, levantando uma das sobrancelhas. — Embora, que não é, né...

Gideon não gostou da resposta, mas não falou nada. Soltou o livro que estava em sua mão em uma mesa próxima, e fixou seu olhar em Alaric.

— Estou falando sério, Alaric.

— Nhg... Caramba, está parecendo uma mãe. — Qual era daquelas perguntas incessantes? Já estava começando a estressado o jovem.. — Tsc… Ah... Se quer saber, eu digo. Estou indo treinar com o Galdric.

Gideon estranhou, um misto de sentimentos vieram à sua mente, junto, a uma dor em seu peito.

— É Gi, estou indo treinar para ficar for- 

Alaric foi interrompido antes de completar sua fala.

— Desde quando!? — Gideon levantou-se rapidamente da mesa e colocou a mão em seu peito.

— O que? O que você tem?— Alaric não estava entendendo nada. Ele deu alguns passos para trás, pelo pavor de toda situação. 

— Responda! Desde quando você está treinando!? — o jovem parecia bravo, seu coração estava acelerado, quase pulando para fora do peito.

Alaric colocando a mão no queixo e olhando para cima, respondeu: —  Já faz uns dois anos… Eu acho, pensei que você já soubesse, Gi.

Gideon hesitou, recuando um passo. Seu coração pulsava descontroladamente contra a caixa torácica, e a falta de ar fazia seus pulmões parecerem insuficientes.

— O qu...

As palavras foram engolidas por um turbilhão de confusão e medo, e ele desabou, começando a hiperventilar. Sua mente girava em um caos incompreensível, nada focava.

— Gideon! Vou te ajudar!

Alaric, com os olhos arregalados e o rosto pálido como se tivesse visto um fantasma, disparou em direção ao local onde pegava água, seus movimentos apressados revelavam a intensidade de seu pânico. Com as mãos trêmulas, encheu um copo de água e voltou rapidamente ao local onde Gideon estava. O desespero o impeliu a agir sem pensar, e, em um gesto impulsivo, lançou o líquido frio sobre Gideon.

O impacto do frio fez Gideon estremecer, seus olhos se abrindo com um brilho de surpresa e choque. O ato inesperado, embora não fosse o mais apropriado, pareceu ter um efeito surpreendentemente calmante. As gotículas de água resfriaram não apenas sua pele, mas também ajudaram a dissipar um pouco do torpor que o envolvia.

À medida que o jovem no chão começava a se recompor, seu corpo abandonava lentamente as reações agudas e os sentimentos perturbadores que o assaltavam. Sua respiração tornava-se mais regular, e uma leve serenidade começou a tomar o lugar da angústia. O gesto de Alaric, apesar de ter sido impulsivo e nada recomendado, trouxe um alívio inesperado à crise de Gideon.

— O que foi isso, Gi? — Alaric perguntou, sua voz tremendo com a preocupação.

Gideon, ainda abalado, ergueu-se lentamente. Ele inspirava e expirava com calma, tentando acalmar sua mente e recuperar a serenidade.

— Nada, nada. Já estou melhor. Vá treinar — respondeu Gideon, com a voz ainda um pouco trêmula, mas perceptivelmente mais calma.

— Tudo bem...

Alaric estava atônito, tentando entender o que havia ocorrido. Seu olhar se movia freneticamente, passando de um ponto a outro, na esperança de captar algum sinal que explicasse o ocorrido. No entanto, ao ver que Gideon começava a parecer mais estável e com a respiração controlada, ele percebeu que, afinal, a situação parecia estar sob controle. A sensação de alívio, embora ainda envolta em um manto de incerteza, foi suficiente para convencê-lo de que sua presença ali não era mais necessária.

Alaric saiu apressado, seus passos firmes e determinados ecoando nas ruas de terra da favela de Reven. O céu acima estava coberto por nuvens espessas e pesadas, como se o clima tenso daquela manhã estivesse refletido no firmamento. Ele sabia que não podia perder tempo; o campo de treinamento o aguardava e, com ele, a chance de transformar suas emoções inquietas em algo produtivo.

Enquanto Alaric se afastava, Gideon permanecia na casa silenciosa, sentindo a ausência do avô como uma presença palpável no ar. O lar, que geralmente era um refúgio de calor e movimento, agora parecia uma concha vazia. A falta da voz do avô, o ritmo de seus passos conhecidos e até mesmo a presença reconfortante de sua figura haviam desaparecido, tornando o ambiente um eco das preocupações e dúvidas que se acumulavam na mente de Gideon.

— O que foi isso? — Gideon murmurou para si mesmo, a voz trêmula, carregada de uma confusão intensa. — Por que reagi daquela maneira? Por que senti como se estivesse à beira da morte? Algo tão simples como vê-lo treinar, algo que deveria ser rotineiro, provocou em mim um pânico tão profundo?

Enquanto tentava juntar as peças desse enigma que parecia cada vez mais intrincado, os pensamentos de Gideon se atropelavam e se confundiam. Seu olhar vagava entre o vazio da sala, onde as sombras pareciam se alongar, e o som distante dos passos de Alaric. Cada estalo do piso e depois da terra, cada eco ar contribuía para amplificar a sensação de desamparo que o envolvia, criando uma atmosfera de inquietação quase opressiva.

Por outro lado, Alaric prosseguia com sua caminhada, imperturbável diante da opressão do clima e do peso dos próprios pensamentos. A determinação em seu passo contrastava com o turbilhão interno que o consumia. Ele sabia que precisava se concentrar no treino, uma forma de escapar, ainda que temporariamente, das incertezas que o atormentavam.

— Não sei o que está acontecendo com o Gideon... — murmurou para si mesmo, a voz abafada pelo som dos próprios passos. — Mas não importa agora. Preciso me focar no meu treino. Talvez isso ajude a clarear a mente, afinal...

A distância entre os dois aumentava gradualmente enquanto Alaric se dirigia ao campo de treinamento. O caminho de terra se estendia diante dele, serpenteando pela paisagem, enquanto Gideon permanecia na casa, mergulhado em seus pensamentos. O ambiente ao seu redor parecia se esvaziar, preenchido apenas pela sensação de ausência que o envolvia, uma nuvem de inquietação que tornava o espaço ao seu redor ainda mais opressivo.

Após apenas um ano dos eventos no esgoto e do confronto com o temido "Rei dos Ratos", Alaric havia se tornado mais determinado do que nunca. Seu objetivo era claro: fortalecer-se para proteger Gideon. Para alcançar esse propósito, procurou a orientação de Galdric, um antigo amigo de seu avô e respeitado guarda da cidade, que aceitou o desafio de treiná-lo e ensinar-lhe os fundamentos da batalha. Assim, já se passavam dois anos desde que ele iniciara seu treinamento diário.

A rotina de Alaric se tornara tão constante que era difícil compreender como Gideon não tinha ideia do que seu irmão estava fazendo. Parte disso era culpa do próprio Alaric, que nunca compartilhara detalhes sobre seu treinamento e frequentemente saia de fininho para os treinos. Gideon, sempre respeitoso e nunca intrometido nos assuntos do irmão, nunca havia se preocupado em descobrir o que Alaric fazia, até o dia de hoje.

Enquanto caminhava pelas ruas da favela, Alaric notou a pequena vendinha de dona Andra, como sempre, ocupada e vibrante. No entanto, algo chamou sua atenção de maneira inesperada: um homem desconhecido estava conversando com ela. Pelos gestos animados e expressões entusiasmadas, parecia ser uma conversa agradável.

Movido pela curiosidade, Alaric se escondeu sorrateiramente atrás de uma fileira de arbustos verdes e caixotes empilhados perto das barracas. Seus passos eram cuidadosamente silenciosos, e ele se aproximou com o máximo de discrição possível. Com a respiração contida e os olhos fixos na barraca, ele espiou através de uma fresta de um caixote velho. O que viu fez seu coração bater mais rápido.

— Vovô!? — pensou, surpreso e encantado. Seu avô, que sempre fora um homem reservado e de poucas palavras, estava conversando animadamente com Andra.

Era uma visão que ele nunca imaginara, e a alegria estampada no rosto do velho era quase uma revelação.

— Acha que os dois aceitariam? — perguntou Dolbrian, com a voz carregada de expectativa e esperança.

— Claro que sim, senhor Dolbrian — respondeu Andra, segurando a mão do ancião com uma ternura que parecia iluminar o ambiente ao redor. — Eles aceitariam qualquer coisa que te fizesse feliz.

A mente de Alaric girou com a nova revelação. "Vovô, seu danadinho, então ela será nossa avó?"

A ideia de ter Andra como parte de sua família parecia uma mistura de sonho e realidade, e o pensamento de ter alguém tão caloroso e acolhedor como Andra em sua vida trouxe um sentimento de pertencimento profundo e reconfortante.

Com um sentimento de satisfação e um leve sorriso nos lábios, Alaric se afastou silenciosamente. Usando as habilidades adquiridas nas rigorosas sessões de treinamento com Galdric, ele rastejou de volta pelo caminho, cada movimento calculado para evitar qualquer chance de ser notado. Uma vez longe da vendinha, se levantou, sacudindo a poeira do suas vestimentas, ajustando-a com um toque de orgulho. 

— O treinamento está mesmo dando resultado — murmurou para si mesmo, com um sorriso satisfeito. — Ninguém percebeu minha presença.

Assim, com o espírito renovado e a mente cheia de novas esperanças, se dirigiu ao campo de treinamento, mais determinado do que nunca a continuar seu caminho.

Retornando ao seu destino, o Coliseu do reino, o epicentro do treinamento dos guardas reais e dos guardiões encarregados da ordem na cidade. Alaric cruzou a ponte que separava a favela do restante do reino. E... Pelos deuses, a diferença entre os dois lados era nada menos que gritante.

À esquerda, a favela se estendia como um labirinto de becos e barracos, onde o chão, enlameado e irregular, quase não permitia o trânsito dos moradores. O ambiente era um retrato de descaso e desordem. Guardas mal-intencionados patrulhavam as ruas estreitas, com seus olhares desconfiados e atitudes ásperas intensificando a sensação de opressão, que os governantes praticamente impeliam. Os barracos, empilhados uns sobre os outros, pareciam desafiar qualquer tentativa de ordem, e o som constante de conversas ásperas e risos nervosos misturava-se ao cheiro penetrante de lixo e produtos em decomposição, e, claro, esgoto.

Quando se comprava ao outro lado da ponte, a cidade revelava um mundo radicalmente distinto, era literalmente como se tivesse usado um teleporte. As ruas eram pavimentadas com concreto liso e pedras bem assentadas, brilhando sob a luz suave e constante dos postes triangulares movidos por magia, algo raro até mesmo para padrões de capitais. Esses postes iluminavam o ambiente com um brilho acolhedor e seguro, oferecendo um contraste agradável com a escuridão da noite. Flores multicoloridas, cultivadas com esmero, adornavam as calçadas, enquanto o verde exuberante das árvores bem cuidadas criava um ambiente refrescante e revitalizante.

As casas, erguendo-se em fileiras ordenadas, eram construídas com tijolos vermelhos ou concreto, suas fachadas exalando uma paleta de cores vivas que capturavam a luz do sol de maneira encantadora. Os telhados, cobertos por madeira resistente ou telhas de barro, estavam impecáveis, oferecendo uma proteção segura contra qualquer intempérie, uma benção em comparação com a precária proteção oferecida pelas moradias da favela.

O ar estava impregnado com um aroma agradável, fruto dos cuidados constantes com a limpeza e da presença de jardins bem mantidos. Os guardas que patrulhavam essa área superior estavam sempre com sorrisos corteses e tratavam todos com um respeito sincero. Em contraste com a rudeza que Alaric encontrava na favela, aqui, as pessoas se moviam com um senso de ordem e dignidade. As ruas não eram povoadas por simples vendinhas; em vez disso, imponentes lojas e boutiques alinhavam-se ao longo das avenidas, oferecendo produtos refinados e serviços exclusivos.

Para alguém como Alaric, que frequentemente se encontrava imerso na dura realidade da favela, atravessar essa ponte era como entrar em um verdadeiro paraíso. Cada detalhe, desde o brilho das fachadas até o cuidado com os jardins, contribuía para uma sensação de tranquilidade e beleza que parecia um contraste bem-vindo e quase surreal comparado à sua vida cotidiana.

— Nossa! — exclamou, com os olhos arregalados ao observar um cachorro elegante que passava. — Até os cachorros daqui são chiques.

O cachorro, de pelagem impecável e aparência mágica, estava adornado com uma roupinha decorada com bordados reluzentes. Cada detalhe da vestimenta parecia brilhar suavemente à luz do sol, como se tivesse sido tecida com encantos.

— Ei, não sabe que é falta de educação ficar olhando os outros? — uma voz ressoou inesperadamente, cortando a admiração de Alaric.

Ele virou-se para a fonte da voz e ficou boquiaberto. Apesar de ter vivido tantas experiências, nunca imaginara que encontraria algo tão extraordinário. Com o olhar ainda fixo no cachorro, Alaric questionou, atônito:

— Você falou?!?

O cachorro, com um olhar tão expressivo quanto sua roupa, respondeu com um latido sonoro e quase musical:

— Au au!

O jovem esfregou os olhos, achando que o cansaço estava lhe pregando peças. Colocou uma mão atrás da cabeça e soltou uma risadinha nervosa, tentando se recompor.

— Deve ser cansaço. — ele murmurou para si mesmo, voltando-se para o cachorro. — Desculpa, amiguinho.

Alaric decidiu parar de perder tempo e começou a correr em direção ao coliseu. Cada passo que dava nas ruas de concreto fazia ecoar o som seco das solas de suas botas. O contraste entre o seu estado e o ambiente ao seu redor era marcante. Ele observava com uma mistura de cansaço e fascínio as lindas casas que alinhavam a rua, com suas fachadas ornamentadas e jardins bem cuidados, que pareciam convidar à serenidade.

No entanto, o caminho não estava isento de desafios. À medida que avançava, notava olhares curiosos e julgadores lançados sobre ele. Suas roupas, sujas e desgastadas, denunciavam claramente a origem de sua condição e causavam desconforto visível entre os transeuntes. 

— De onde vem esse pobre imundo? — murmurou uma mulher, com a mão cobrindo parcialmente a boca em um gesto de desdém.

— Não sei, deve ser um mendigo órfão. Já falei para colocarem um portão na ponte, para não permitir a entrada da ralé aqui — retrucou um homem, sua expressão marcada pelo repúdio e desaprovação.

Alaric ouviu as palavras, mas o som das vozes críticas já não lhe era mais doloroso. Estava tão acostumado à discriminação que, em vez de se abalar, apenas continuou seu caminho com uma determinação silenciosa. Ele estava até acostumado a desviar o olhar e a ignorar a hostilidade, focando apenas no objetivo à frente, era triste, mas não havia o que fazer.

Quando finalmente chegou ao coliseu, o imponente edifício ergueu-se diante dele como uma fortaleza de pedra, suas colunas e arcos evocando a grandeza de tempos passados. Alaric avistou Galdric à distância, de pé sob a areia dentro do coliseu, esperando com uma postura firme e um olhar atento. O calor do ambiente parecia intensificar o contraste entre sua aparência e a majestade do coliseu, mas a presença de Galdric era um farol de esperança em meio ao tumulto.

— Ei, Galdric! — Acenou Alaric.

Galdric olhou para Alaric com uma expressão inicialmente severa, sua voz hesitante ao não reconhecer o jovem imediatamente. No entanto, ao reconhecer o rapaz, seu semblante impassível se desfez, dando lugar a um sorriso caloroso. Com um gesto fluido, ele lançou uma espada em direção a Alaric. Sem hesitar, o jovem apanhou a arma e se lançou na direção de Galdric.

— Isso, garoto! Venha com tudo e mostre-me que seu treinamento valeu a pena! — Galdric exclamou, sua voz carregada de encorajamento.

Alaric saltou com agilidade, seu corpo se movendo como uma flecha. Em milésimos de segundo, ele estava em cima de Galdric, que, com uma precisão letal, desferiu um ataque forçando o jovem a recuar. O clangor do aço ecoou pelo coliseu, reverberando em cada canto da arena.

— O que foi, garoto? Está com medo? — Galdric provocou, sua voz carregada de um tom desafiador.

— Medo de um cãozinho do reino? — Alaric replicou com uma risada desdenhosa, avançando novamente em direção ao seu oponente.

Com um movimento rápido e certeiro, Alaric balançou sua espada, surpreendendo Galdric e forçando-o a se defender com a própria lâmina. O som do aço colidindo reverberava intensamente pela arena, enquanto a luta se desenrolava em uma coreografia de ataques e defesas. Alaric, percebendo uma oportunidade, fez um salto ágil para trás, ajustando sua postura com destreza, preparando-se para o próximo movimento. O calor da batalha e o cheiro do suor e da poeira preenchiam o ar, intensificando o clima de tensão e expectativa entre os espectadores.

Na nova posição, Alaric segurava a espada com a mão esquerda, a lâmina refletindo a luz intensa do ambiente. Com a mão direita esticada e a postura ligeiramente curvada, ele exalava uma aura de concentração imperturbável. O ar ao redor estava tenso e carregado de expectativa. Cada movimento seu era meticulosamente calculado, e a tensão no ambiente era alta.

O silêncio que envolvia o campo de treino era quase ensurdecedor, quebrado apenas pelos sons baixos e ritmados das respirações de ambos os combatentes. Galdric, observando atentamente, decidiu adotar uma postura defensiva, pronto para enfrentar o desafio que se desenrolava diante dele. Seus olhos fixos em Alaric, não havia dúvidas de que ele estava prestando cada detalhe.

As palavras de Galdric ecoavam na mente de Alaric: “Encontre sua postura de combate, Alaric. Quando você a encontrar, será imbatível.” Essas palavras, carregadas de sabedoria e experiência, guiavam Alaric, e ele estava determinado a não desapontar seu mentor.

Galdric observava com um olhar misto de orgulho e admiração. A lembrança do que havia dito a seu próprio mestre, ainda estava fresca em sua memória: “Em um ano, ele aprendeu o que eu levei 34 anos para dominar. Ele irá me superar rapidamente.” Um leve sorriso surgiu em seu rosto ao pensar no quanto Alaric tinha evoluído.

Com a atmosfera carregada de energia, Galdric rompeu o silêncio com um grito que ressoava na alma:

— VENHA, ALARIC! MOSTRE-ME O SEU MELHOR!

Alaric ouviu o chamado para a batalha e avançou com uma determinação inabalável em direção a Galdric. Sem hesitar, seus passos firmes ecoavam no campo de combate, enquanto uma calma imensa envolvia seu espírito. O vento agitado fazia seus cabelos vermelhos dançarem ao redor de seu rosto, conferindo-lhe uma aparência quase etérea. 

Quando Alaric passou ao lado de Galdric, o guarda, com um olhar fixo e desafiador, virou-se para encará-lo. O foco absoluto de Alaric estava nos olhos do adversário, uma intensidade silenciosa que parecia quase tangível. Contudo, ao reagir, o guarda abriu uma brecha em sua própria defesa.

"Acabou para você, mestre," pensou Alaric, convicto do golpe fatal que se aproximava. Mas algo inesperado aconteceu.

Enquanto sua espada cortava o ar em direção a Galdric, o guarda lançou um sorriso enigmático e pronunciou com precisão:

— Esquiva Veloz.

Num piscar de olhos, Galdric desviou-se com uma agilidade surpreendente. A lâmina do jovem passou rasgando o espaço onde o guarda estava um instante antes. Sem dar tempo para qualquer reação, o guarda contra-atacou com uma velocidade quase sobrenatural.

— Ataque Veloz.

Em um flash, Alaric sentiu um impacto brutal no lado esquerdo de seu corpo, como se um cavalo em alta velocidade o tivesse atropelado. O impacto foi tão forte que ele foi arremessado a três metros de distância, caindo pesadamente sobre os caixotes de equipamentos dos soldados, um tumulto de madeira e metal.

O golpe repentino deixou Alaric atordoado, suas dúvidas ecoando em sua mente enquanto tentava processar o que acabara de acontecer. Ele olhava para Galdric, atônito.

"O que foi isso? Foi magia? Como é possível? Ele é da classe guerreiro, apenas brutamontes com uma técnica básica de luta e muita força," Alaric pensou, sua mente ainda girava com a confusão.

Galdric soltou uma risada alta, quase como se estivesse se divertindo com a surpresa de Alaric. Ele apoiou as mãos nos quadris, a confiança evidente em sua postura.

— Hahaha! Não está entendendo como usei magia? — Galdric perguntou, a provocação clara em sua voz.

— Como você... — Alaric tentou formular uma resposta, mas as palavras falharam.

— Está na sua cara, garoto. — Galdric interrompeu-o com um gesto impaciente, o sorriso ainda no rosto. — Vou te dar uma resposta simples: meus pais. Minha mãe é maga e meu pai é guerreiro.

No mundo em que vivem, as pessoas nascem em uma classe específica, determinada pela herança dos seus ancestrais. Apenas aqueles cujos pais possuem uma classe podem transmiti-la. Como o pai de Galdric era um guerreiro e sua mãe uma maga, ele herdou o melhor dos dois mundos, resultando em uma classe única: Guerreiro-mago. Isso lhe permitia conjurar magias enquanto mantinha uma habilidade formidável em combate físico.

— Eu... Sempre vou perder para pessoas como você, então? — O jovem perguntou, a tristeza evidente em sua voz. — Tsc... isso é injusto... — murmurou, batendo com frustração no chão.

— Relaxa, amiguinho. Haha… Ainda há esperança para você. — Galdric soltou um riso leve, tentando aliviar a tensão. — É possível vencer alguém com uma classe e, quem sabe, você também pode adquirir uma classe própria algum dia.

Ele explicou a Alaric que era possível adquirir uma classe, uma habilidade que se tornava acessível apenas quando se atraía a atenção de uma entidade capaz de concedê-la. Esses seres eram extremamente raros; deuses, por exemplo, possuíam tal poder, mas raramente interagiam com os mortais devido à barreira que os separava da terra.

Essa revelação desanimou Alaric. Quem, afinal, daria uma classe a um órfão? O que uma pessoa ganharia com isso?

"Eu só queria ser útil para Gideon… Treino há tanto tempo por isso, mas se alguém com uma classe aparecer, serei mais do que inútil. Droga, droga!" pensava o jovem, a frustração se acumulando.

— DROGA!!!

— Calma, amiguinho!

O ódio consumia Alaric, uma sensação avassaladora que parecia arrastar algo profundo dentro dele. Algo vinha junto com essa raiva, uma coisa dentro dele e um sopro silabante passou por seus ouvidos. Então, de repente, levantou-se, entre os escombros dos caixotes quebrados, com uma expressão ameaçadora. Olhou diretamente para Galdric e, com a voz tremendo de fúria e determinação, disse:

— Espadas de luz, apareçam!

Ao pronunciar essas palavras, três esferas de luz começaram a surgir ao seu redor. As esferas, inicialmente flutuantes e vacilantes, começaram a ganhar forma e substância...

Todos ao redor ficaram petrificados; nunca haviam testemunhado algo semelhante. Galdric estava atônito, sem compreender o que estava acontecendo. As esferas se alongaram, formando cabos finos e cortantes, que se transformaram em espadas de uma beleza sinistra. Essas lâminas, raras e vistas apenas nas regiões orientais daquele mundo, tinham um fio tão afiado que era capaz de cortar ossos humanos com um simples movimento.

— Assuma guarda, demônio — falou aquele que aparentava ser Alaric. Sua expressão tornou-se neutra, não esboçava nada. As espadas giravam no ar à sua volta.

Galdric, sem entender a totalidade da situação, assumiu a posição de guarda. Em um piscar de olhos, duas espadas de luz dispararam na sua direção. Elas cruzaram os três metros que as separavam com uma velocidade devastadora, cortando tudo o que encontravam pelo caminho, incluindo alguns soldados infelizes.

— Esquiva Veloz! — ao ativar sua magia ele desviou, pulando entre as duas espadas que passaram reto. Assim que olhou para o suposto lugar que estaria Alaric, não tinha ninguém.

O tal, tinha aparecido por baixo de Galdric, ainda no ar depois de seu salto. Em um movimento com a espada em sua mão, Alaric cortou até o ar que estava em sua frente gerando um pequeno vácuo. A armadura de Galdric, que era capaz de resistir até à lâmina mais afiada do reino, foi cortada como se fosse de alumínio fino. A pele na trajetória do corte foi dilacerada, os ossos foram rompidos e a lâmina finalmente atingiu seu coração. 

Galdric foi arremessado longe, acertando as paredes do coliseu. olhou para Alaric e piscou, assim que abriu os olhos… O garoto já estava bem a sua frente. Seus olhos, antes claros, haviam mudado sutilmente para um tom branco pálido, adquirindo um brilho quase divino. A mera presença de Alaric, com seus olhos cintilantes, exalava uma aura celestial.

— Alaric… você… tinha uma classe… cof, cof… afinal. — As palavras de Galdric eram entrecortadas, sendo engolidas pelo sangue que insistia em escorregar pela boca.

Havia um buraco profundo que se estendia do lado esquerdo do tórax até o coração, uma ferida fatal que gotejava a vida de Galdric lentamente.

"Espadachim, mago, rei, divino? Qual é a sua classe, garoto… Bom, eu não vou descobrir", refletia Galdric, com a já mente turva e os olhos quase opacos.

Os soldados ao redor estavam paralisados, o medo estampado em seus rostos enquanto observavam a cena. Temiam que qualquer movimento brusco pudesse incitar a fúria do monstro à sua frente. Alaric começava a recobrar a consciência lentamente, os olhos piscando com uma confusão crescente.

— Como!? Como isso aconteceu!? O que houve… urgh. — O jovem lutava para entender o caos que havia tomado conta de sua mente. As memórias dos últimos minutos se amontoavam como ondas de um mar tempestuoso, e ele não conseguia controlar o vômito que escapava de sua boca. Seus olhos, antes frenéticos, haviam retornado à cor normal, mas a dor e o choque eram evidentes. — Não, não! Eu não fiz isso! Eu não fiz isso! Eu não… 

Ele repetia a mesma frase, a voz quebrada pelo desespero, enquanto se agarrava à própria cabeça e se encolhia no chão, os soluços se transformando em lágrimas agonizantes.

— Garoto… — Galdric tentou falar, sua voz fraca e quase inaudível, mas ainda continha a força de quem foi um dia.

— Galdric! Me perdoe, desculpe… — o jovem chorava sem cessar, sua voz carregada de arrependimento e desamparo.

— Ei… cof, cof… não se preocupe… Você… não tem culpa, está bem? Eu já era velho, minha hora estava chegando… mas Alaric, lembre-se… cof, cof… torne-se cada vez mais forte e… no fim, descubra suas origens. Seu papel nesse mundo será mais importante do que o de um… “Escolhido”. — Essas foram as últimas palavras de Galdric, um honrado guarda que havia saído das favelas e alcançado o mais alto que podia neste reino decadente.

— NÃOOOOOOOOO!!!!!! — gritou... Um grito que tentava aliviar a dor que se apossava de sua alma, mas parecia inútil, pois mesmo que suas cordas vocais estourassem... Mesmo que o voz acabasse, a dor não iria simplesmente se dissipar. 

Com ele indefeso e chorando em cima de seu mestre e amigo morto. Soldados do reino se aproximaram, acertando um golpe em sua nuca o fazendo desmaiar no chão de areia do coliseu. O amarraram, e jogaram nos calabouços do reino. Alaric, o garoto que tinha sido resgatado dos esgotos pelo "Escolhido", agora era um assassino, aprisionado.

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Notas:

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações presentes na novel foram geradas por IA — já que atualmente não possuo recursos para contratar um ilustrador. —  Reconhecemos que a IA não é perfeita, portanto, a ocorrência de erros é inevitável. O objetivo é simplesmente proporcionar uma representação visual do que o autor imaginou inicialmente. Lembre-se de que as ilustrações são apenas uma interpretação básica e, por vezes, podem não estar totalmente em conformidade com a descrição fornecida. Recomendamos que considere sempre a descrição como a verdade principal, utilizando as imagens como um guia básico. Pedimos desculpas antecipadamente caso algo cause desconforto visual.

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