Volume 1
Capítulo 20: Primordial Branco
O demônio, ainda ocupado rebatendo as espadas que chegavam até ele, não percebeu que estava sob a mira do arco de Apolo.
— No final, você realmente me ensinou. — A medida que falava, o arco irradiava mais brilho. — Adeus, demônio.
Ao terminar a fala, Apolo soltou a flecha, que viajou a uma enorme velocidade em direção ao demônio ainda distraído. Assim que percebeu a flecha, parecia tarde demais.
— Eu… eu não vou perder para um deus!!!!! — O ódio do demônio invocou algo que nem mesmo Apolo esperava… O senhor da linhagem Branca, Blanc.
Os olhos de Apolo, antes inexpressivos para questões demoníacas, demonstraram perplexidade, arregalando-se.
O clima mudou radicalmente, ficou mais pesado e difícil de suportar. Um vento forte começou a bater, agitando os cabelos vermelhos de Apolo. Que voava acima de Blanc.
— Ei, Apolo. — Acenou Blanc. — Como vai?
Recompondo-se, afinal não podia demonstrar sua surpresa perante tal criatura. Fixou o olhar firme e confiante no demônio.
— O que faz aqui Blanc? — Seu semblante estava sério. Seu olhar perfurante e julgador. — Volte para o inferno.
Blanc era o primordial branco, um dos primeiros demônios criados por Pandora, após ser condenada ao inferno e amaldiçoar os deuses, se tornou a primeira demônia. Com seu poder, dominou o inferno e criou os primordiais artificial ou naturalmente: Blanc, Noir, Rose, Jaune e Bleu.
Os primordiais eram os demônios mais poderosos, capazes de rivalizar com deuses. Cada primordial criou sua própria linhagem: Blanc a Linhagem Branca, Noir a Linhagem Preta, Rose a Linhagem Rosa, Jaune a Linhagem Amarela e Bleu a Linhagem Azul.
Cada linhagem tinha hierarquias de demônios maiores ou menores.
— Isso é jeito de receber um antigo conhecido, Apolo? — indagou, colocando a mão nos olhos e balançando a cabeça em negação — Isso me entristece sabe…
Apolo conhecia bem Blanc, para saber que não passava de um blefe ou sarcasmo. Seu olhar reforçou estridentemente quase empurrando o demônio branco para trás.
— Pare de piada e volte para o inferno demônio branco. — Uma espada de luz começou a materializar-se em sua mão. — Ou quer que eu mesmo te envie?
Blanc, também conhecido como o demônio branco, sempre foi considerado o primordial mais forte do inferno, ao lado de Noir. Responsáveis por matar inúmeros deuses e semi-deuses, eram temidos e até considerados Diabos.
A alcunha "Diabo" era dada a seres capazes de causar o caos no mundo ou até mesmo destruí-lo facilmente. Blanc era chamado até de ameaça nível Diabo.
Com sua pele vermelha, com marcas e símbolos brancos, Blanc tinha íris irradiando um branco forte, e cabelos curtos da mesma cor. Possuía chifres médios curvados e vestia um kimono branco.
Por alguns primordiais usarem kimonos, muitas pessoas falavam que, na verdade, os primordiais eram os primeiros humanos na Terra que morreram e não aceitaram, e os primeiros humanos criados na Terra foram o povo conhecido como japonês, agora no continente de Mythárea, Orientais.
— Ui ui, calma lá. — O sarcasmo de Blanc era o mais irritante entre os demônios primordiais, e Apolo sabia bem disso. — Tô morrendo de medo…
— Não diga que não avisei, Blanc — à medida que falou, Apolo desapareceu. — Receberá sua punição. — Reapareceu por detrás do demônio.
Desferindo um golpe à altura do pescoço de Blanc, a intenção era óbvia, fazer a cabeça do demônio irritante voar pelos ares.
— Apolo, Apolo. — Quando a lâmina ia encontrar sua pele vermelha, Blanc sumiu. — Esqueceu de quem eu sou!? — Reapareceu por cima de Apolo e, em um mortal no ar, acertou uma bicuda no deus.
Apolo foi arremessado a alguns metros de distância, mas permaneceu sobrevoando as copas das árvores. Sentindo um gosto amargo na boca, passou a mão na região e ao conferi-la, notou sangue.
— A quanto tempo não via seu próprio sangue, Apolinho? — provocava, flutuando no ar, deitado. — 5… Milênios? 4? 3? — Disse, e colocou a mão no queixo, refletindo ou relembrando. — Foi na nossa última batalha, né? Lembra?
Limpando o sangue de seu nariz e boca, respondeu: — Lembro, última guerra entre céu e inferno. — Um sorriso maldoso tomou seu rosto. — Matei muitos de sua linhagem.
Blanc sabia qual a intenção de Apolo, e não ia entregar de bandeja facilmente, não era de seu feitio.
— Tentando me irritar, Apolo? — Colocou a mão nos olhos e: — Hahaha! Você já foi melhor, sabia? — Não podia conter as gargalhadas, ao ver logo Apolo tentar irritá-lo.
O deus já estava ficando bem impaciente com a displicência do demônio insolente, afinal, aquele ser não parecia estar em uma batalha.
— O que veio fazer aqui!? — questionou, com uma expressão de dúvida, esticando a mão à frente do corpo.
O demônio ainda apenas flutuando de um lado ao outro, deitado em pleno ar, começou a bater os pés e cruzou os braços.
— Hmmmm! Ah! Lembrei, o demônio aí. — Apontou para o pobre demônio, que, assim que Blanc apareceu, ficou paralisado, talvez por um feitiço do próprio demônio branco. E continuou: — Ficou tão irritado que abriu um portal para a Terra... E assim que senti sua aura, quis fazer uma surpresa para você. — Virou de barriga para baixo e colocou seu rosto na direção de Apolo, com as mãos nas bochechas. — Então gostou... Da visitinha?
Obviamente, Blanc apareceu só porque sim. Esse demônio sempre foi assim, agindo como queria, sem se importar. Entretanto, uma dúvida atazanava Apolo.
— Como sentiu minha aura, se tô no corpo desse garoto?
— Você é um deusinho, Apolo, obviamente sua aura se sobrepõe a dele.
Fazia sentido, mas o deus nem havia considerado essa possibilidade. No entanto, era inegável que a aura de um deus era mil vezes mais poderosa e imponente do que a de um humano, propagando-se por quilômetros de distância.
— Faz sentido. — falou, e então decidiu verificar as auras no local, ao ativar sua habilidade. Observou a aura dos demônios e a terceira proveniente de Fuxi. — Lycaion? Fica aí, Blanc.
— Claro, não tenho nada para fazer mesmo.
Ao observar o Lycaion, voou até ele rapidamente e parou a sua frente.
— Lycaion, vejo que conhece o dono deste corpo. — afirmou, olhando o lobo de cima. — Então, quero que proteja-o e cuide dos seus ferimentos após a batalha.
— Sempre foi minha intenção. — O lobo falava, olhando para baixo, em forma de reverência. — Só tente não o ferir demais.
Fuxi, embora não demonstrasse tanto, estava preocupado com Alaric. A extensão até onde a batalha poderia se intensificar era incerta, e mesmo possuindo a capacidade de congelar o tempo dentro do domínio inerte, o poder de um demônio primordial e de um deus superava consideravelmente o de Fuxi, certamente não sendo afetados por suas habilidades.
— Tudo bem. — O deus preparava-se para voltar a Blanc, mas parou no meio da ação, pois tinha-se lembrado de algo. — Assim que o dono deste corpo estiver bem, conte para ele tudo que sabe. Ele precisa saber, pois um perigo imenso irá assolar este mundo; eu posso sentir.
Os deuses sempre possuíram a habilidade de sentir o perigo, mesmo na ausência de indícios evidentes. As divindades eram capazes de antecipar catástrofes, e com base nesses poderes, os "Escolhidos" eram criados.
— Tudo bem, contarei.
— Ah, uma última coisa — O deus deu um sorriso confiante. — Posso sobrepujar seu domínio inerte?
O lobo ficou surpreso. Um deus pedindo permissão para isso? Era impensável seres dessa magnitude solicitarem permissão para algo. Afinal, eram deuses.
Apesar de não compreender completamente, o lobo queria experimentar, mesmo que minimamente, a sensação de conceder permissão a um deus. Afinal, negar provavelmente seria uma sentença de morte.
— Pode — falou, sentindo-se importante e respeitado.
Apolo retornou até Blanc, que permanecia no mesmo lugar. Bom, ao menos era um demônio que mantinha a palavra.
— Blanc! — Materializou sua espada novamente. — Pronto para voltar ao inferno.
O demônio antes deitado, flutuando, decidiu sentar-se no ar, de pernas cruzadas e apoiou os cotovelos nelas para sustentar o queixo com as mãos.
— Pufff… Que chatice. — Blanc não parecia afim de lutar.
O deus não podia deixar de perceber que, por vezes, o demônio branco agia como uma criança ou adolescente, o que fazia sentido. Afinal, um deus permanecia na adolescência até atingir os 500 mil anos e só se tornava um adulto após esse período. Apolo foi morto ainda adolescente, aos seus 450 mil anos. Provavelmente, os demônios seguiam padrões semelhantes, dado que eram imortais.
Apesar de questões relacionadas à idade e fases terem sido feitas em vão, nenhum deus realmente se importava. Afinal, depois do primeiro século, contar anos tornava-se monótono.
— Quantos anos você tem Blanc?
— Hmmmm… Não me lembro. — O demônio finalmente ficou em pé. — Quer saber, vamos lutar.
A súbita mudança surpreendeu até Apolo, no entanto, como o deus bem conhecia, aquele demônio sempre agiu à sua própria vontade, mantendo-se tão imprevisível quanto possível.
— Sabe Apolinho. — À medida que falava, suas unhas cresciam, transformando-se em enormes garras brancas. — Hoje você irá morrer pela segunda vez.
Apolo conhecia muito bem o poder devastador daquelas garras. Seu corpo anterior era uma tapeçaria de cicatrizes, cada uma testemunha das marcas deixadas por essas lâminas afiadas. Sabia que, se não fosse cauteloso, seus membros poderiam ser facilmente decepados em movimentos aparentemente simples.
Entretanto, as garras não eram as armas principais do primordial. Por que aquele ser não as invocou? Realmente, era um serzinho imprevisível e desprezível.
— Ameaças infundadas, Demônio — Ao falar sua presença começou a cintilar.
O demônio branco já sabia o que ia acontecer; em um piscar, Apolo havia desaparecido e reaparecido atrás de Blanc.
Um sorriso sádico tomou sua feição ao sentir a presença divina atrás de si.
Apolo desferiu o ataque, a espada feita em luz viajou o caminho com o destino sendo: rim demoníaco.
— Apolo…
Um giro veloz, jogando as garras primeiro, foi o suficiente. Pois, ao final do movimento, a espada de Apolo havia sido freada entre as brancas e enormes garras.
— Apolo… — Virou o olhar mórbido para o deus. — Lento demais.
Apolo rapidamente soltou a espada e recuou, temendo ser acertado por aquelas garras. Um acerto e sua vida poderia encerrar-se.
— Desculpa. — Começou a invocar outra espada de luz. — É que estou enferrujado, afim de recomeçar?
Dessa vez, foi Blanc que tomou a iniciativa. Diferente do deus, o demônio não apareceu por detrás; na realidade começou a percorrer todo o caminho com uma expressão doentia em seu rosto.
“Essa expressão… Esse demônio já enlouqueceu?” Apolo se lembra bem, durante as batalhas, Blanc costumava perder o controle e enlouquecer.
— Merda. — Não estando afim de enfrentar as garras de um demônio louco, Apolo começou a balançar suas espadas de um lado para o outro, gerando feixes de luz em forma de lâminas que viajavam até o demônio.
Que por sua vez refletia todas com suas garras. Ao ver a rajada se aproximando, apenas balançava a garra, e isso era o suficiente para dissipar a luz.
“Odeio enfrentar essas garras”. Esse ódio se dava pelas propriedades presentes nas garras, capazes de dissipar, mais precisamente rasgar energia, e mana era puramente uma forma de energia.
Apolo percebendo, que só os feixes de luz não iriam causar qualquer efeito. decidiu mudar a estratégia. Transmutando a mana de espada para arco.
O arco dourado em todo seu resplendor agraciou as mãos de Apolo que, não pensou duas vezes e mirou no demônio. Entretanto, por ter parado sua chuva de feixes, Blanc não precisa mais preocupar-se em defletir ou dissipá-los.
Apolo… Com esse arco. — começou, e lambeu uma garra vagarosamente. — Me lembra sua irmã… Ah, Ártemis.
A expressão amena e até mesmo amistosa no rosto do deus, transformou-se ao ouvir isso, quem ousa citar o nome de sua irmã? Uma criatura vil, com uma expressão tão nojenta, citando o nome dela assim?
Isso não poderia ficar por isso mesmo, e Apolo não ia deixar. Uma enorme quantidade de mana começou a fluir do deus para o arco, formando uma flecha. O brilho intenso emanava descontrolado.
Uma ventania imensurável tomava o domínio inerte, nuvens escuras surgiam acima de Apolo, raios estridentes ricocheteiam no chão. As árvores aos poucos iam desabando devido ao castigo aplicado pelo vendaval. Apolo em meio a raio e trovões fitou Blanc.
Blanc fitou Apolo, o cruzar de olhares foi intenso e rápido.
— Nunca mais cite o nome de Ártemis — Ao falar a flecha alçou vôo. — Demônio imundo.
Cruzando toda extensão até chegar a centímetros de Blanc, um trovão ressoou e….
— Atrás de você, Apolinho — De um instante pro outro o demônio branco, apareceu por detrás de Apolo. — Realmente Apolo, você esqueceu de quem eu sou…
Acabou, estava tudo acabado, Apolo ia morrer novamente… Ou será que não.
— Domínio Inerte, Solactes Apolun.
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Notas:
O nomes dos demônios primordias, são as cores em francês:
- Blanc, branco
- Noir, preto
- Rose, Rosa
- Jaune, Amarela
- Bleu, Azul
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