Volume 1
Capítulo 1: O Melhor Jogo de Todos e a Péssima Pessoa que Sou
— Poxa, filho. Quando que você vai arrumar um emprego? Você sabe que eu não falo pro seu mal, né? Seu pai tá ficando velho, ele não pode trabalhar pra sempre. Estamos conseguindo nos manter de alguma forma agora, mas e quando a gente não estiver mais aqui pra te ajudar?
— Tá bom, mãe! eu já entendi, me deixa em paz!
De novo isso. Deixa eu comer quieto pelo menos… Logo cedo e já tão enchendo meu saco.
Incapaz de refutar os argumentos da minha mãe, a única coisa que eu conseguia fazer era gritar com ela.
Sei que o errado na história sou eu. Depois de me formar do ensino médio, eu até consegui entrar em uma universidade mediana e me graduar sem muito esforço. Minha vida não era tão ruim assim na época, mas… o verdadeiro problema veio depois.
Por mais que eu tenha tentado arranjar um emprego antes de terminar a faculdade, meus esforços de encontrar um, em uma empresa boa, acabaram sendo em vão. Quando fui ver um ano já tinha se passado, depois mais um… depois mais outro, e nesse ritmo dez anos se passaram sem eu conseguir um trabalho.
— Você já passou dos trinta… O filho do vizinho, o Masatsugu, conseguiu um emprego maravilhoso e está criando um filhinho lindo.
Mãe, eu já sei disso. Você não precisa me dizer. Sei que todos meus colegas de sala já estão trabalhando formalmente, que alguns deles até mesmo já se casaram e começaram uma família. Mas eu…
— Ah, agora pronto. Você fez eu perder a fome.
Logo em seguida me levantei abruptamente da minha cadeira e saí.
Pode até parecer que eu fiquei irritado de verdade, mas esse não é o caso. Na verdade, eu só agi desse jeito pra encerrar o assunto logo. Não é como se eu tivesse surtado ou alguma coisa do tipo.
A essa altura do campeonato eu já me acostumei a fugir das discussões assim. Sendo sincero, já fazem anos desde que eu desisti de discutir. E como resultado, eu acabei ficando melhor em fugir dessas situações.
Eu só quero sair daqui logo.
Bem quando eu estava prestes a voltar pro meu quarto, o único lugar que eu posso ficar em paz nessa casa, tocaram a campainha.
Olhando pelo monitor do interfone, descobri que tinha um entregador parado do lado de fora de casa.
— Sua encomenda chegou!
Eu estava prestes a ignorá-lo, mas notei uma logo familiar na caixa da entrega.
— Só um minuto, já estou indo!
— Nossa, é raro você querer receber algo pessoalmente. Tomara que você não tenha comprado nada com o dinheiro dos outros!
— Eu não fiz isso, ainda tenho dinheiro sobrando do prêmio que recebi no sorteio.
À fim de aliviar a culpa que eu sentia por não trabalhar, eu me registrava em tudo quanto é tipo de sorteio, site, qualquer coisa que eu pudesse ganhar algo e vender depois.
Só que, às vezes, os prêmios que eu recebia vinham de sites adultos. Quando isso acontecia eu fazia questão de receber a encomenda pessoalmente para que meus pais não vissem o que era.
Quando abri a porta e o entregador me viu, ele ficou um pouco chocado.
As pessoas sempre reagem assim quando veem um homem barbado da minha idade em casa, nesse horário, em um dia útil da semana.
Sendo sincero eu já estou acostumado com esse tipo de reação, os vizinhos me olham de um jeito ainda pior e nem sequer disfarçam…
— Pode assinar ou carimbar aqui, por favor?
— Tudo bem, eu assino.
Por causa de como a caixa era e da logo que eu tinha visto antes, eu sabia que não era o marmitex que a minha mãe tinha pedido.
— Ah, não é do restaurante?
Depois de perceber que a entrega não se tratava de comida, minha mãe saiu de trás de mim e voltou à cozinha.
Fui subindo as escadas em direção ao meu quarto com o pacote na mão, chegando lá tranquei a porta, abri a caixa da encomenda e dei uma olhada no que tinha dentro.
— Uma cópia física de um jogo de computador?
Dentro da caixa tinha o jogo e um papel.
Eu estava participando de vários sorteios de jogos, então pensei que tinha ganhado algum deles. Olhando mais de perto notei que só havia o título do jogo escrito no disco, mais nada. Não havia sinopse, capturas de tela, classificação indicativa e nem mesmo qual era a produtora do jogo.
— O título é… “Village of Fate”. Nunca ouvi falar de um jogo com esse nome, será que não foi lançado ainda?
Me lembro vagamente de ter feito a inscrição para fazer parte dos testes de alguns jogos, talvez eu tenha recebido isso para participar de um beta fechado e dar meu feedback depois. Enfim, por enquanto vou deixar o disco de lado e dar uma olhada no papel que veio junto.
— Prezado Sr. Yoshi, você foi selecionado para participar dos testes fechados da versão alfa de Village of Fate! Nosso jogo é o primeiro no mundo a implementar uma inteligência artificial tão desenvolvida e avançada a ponto de conseguir, com grande sucesso, criar personagens capazes de pensar e agir de uma forma extremamente humana.
Primeiro jogo no mundo a implementar uma IA que se assemelha aos humanos… que exagero. Tudo bem que gerar hype é importante na indústria dos games, mas isso aqui é praticamente sensacionalismo…
Resmungando sozinho na minha cabeça, eu continuei lendo.
— No jogo, você será o Deus que controla o destino, um ser responsável por dar profecias aos aldeões de um certo vilarejo. Seu objetivo é ajudar o vilarejo a se desenvolver, dando instruções uma vez por dia aos personagens! Por favor descubra os demais detalhes enquanto joga.
Que bando de irresponsáveis, talvez o jogo seja de alguma empresa amadora. Se bem que ultimamente está cada vez mais comum os jogos virem sem manual, mas com um um tutorial dentro do jogo em si, talvez esse seja o caso aqui.
Baseado no conteúdo dessa carta, o jogo provavelmente é algum tipo de simulador de cidade medieval. Eu já joguei alguns jogos de construção de cidade antes, mas nenhum deles era medieval.
O conteúdo da carta ainda não havia acabado, então prossegui com a leitura.
— Pedimos encarecidamente que o usuário não conte à ninguém sobre o jogo. Por favor, não divulgue e nem compartilhe absolutamente nada sobre o jogo na internet ou em qualquer outro ambiente. Caso essa promessa seja quebrada, você será privado do direito de jogar e o jogo será recuperado pela empresa.
Osh, promessa…? Normalmente é um acordo, contrato ou alguma coisa assim. Aliás, como eles vão saber se alguém vazou informações do jogo e quem foi o culpado? Tipo, eu com certeza não sou o único que tá participando do teste fechado, né?
— Existem mais dois pontos importantes a serem levados em consideração pelo usuário. Primeiro, certifique-se de estar conectado à internet para jogar. E por fim, tenha em mente que caso todos os aldeões sejam mortos, você receberá um game-over, e não poderá jogar novamente. O jogo usa um sistema de salvamento automático de um único slot, que é deletado automaticamente caso não haja mais nenhum aldeão vivo, então é impossível iniciar outra vez após um game-over ou tentar trapacear utilizando outros saves.
Caramba, que zuado. Qual é o sentido de restringir o testador de jogos se ele for derrotado no jogo? Ainda que eles tenham confiança que a dificuldade esteja bem balanceada, esse tipo de atitude continua sendo extremamente antidemocrática para uma desenvolvedora de jogos. Vou fazer questão de deixar uma nota reclamando sobre isso na minha avaliação final.
Tem vários pontos negativos, mas enfim, a questão é: será que eu instalo esse jogo ou não? Eu tentei pesquisar o título dele na internet, mas não encontrei absolutamente nada. Uma empresa desconhecida, um jogo desconhecido. Um verdadeiro dilema.
Aquela carta suspeita, que veio junto na caixa, já tinha me deixado com uma pulga atrás da orelha. Talvez no fim das contas eu realmente tenha recebido algo de uma empresa maliciosa.
— Talvez tenha algum tipo de malware nele. É melhor eu testar usando meu PC antigo.
Eu tive a sorte de ganhar o computador que estou usando agora em um sorteio, até mais ou menos um ano atrás eu usava um de entrada.
Sendo assim, não tem problema se tiver vírus ou não se eu testar o jogo no meu PC velho.
Talvez os gráficos sejam bem ruins, ou então é só uma piada de mau gosto de alguém. Mesmo se esse for o caso, não tem problema, é só eu postar sobre o ocorrido em um fórum na internet. Como não faço muita praticamente nada além de jogar e navegar pela web, já estou acostumado com esse tipo de coisa.
Depois de terminar de instalar o meu PC antigo, eu inseri o jogo no leitor de discos do computador. Como não estava escrito em lugar nenhum os requisitos mínimos, eu não tenho como saber se o jogo vai rodar e se vai dar para usufruir bem daquela história de “inteligência artificial quase humana” ou não.
O jogo abriu. No monitor a única coisa que estava aparecendo agora era o título Village of Fate, bem grande.
— Não dá pra saber se eles queriam ser minimalistas, ou se só queriam economizar com a tela inicial.
Pouco tempo depois as palavras “pressione a tecla enter para iniciar” apareceram logo abaixo do nome do jogo, então eu fiz o que estava sendo pedido.
— Caramba, isso aqui só pode ser uma cutscene pré-renderizada, não é possível que os gráficos do jogo realmente sejam assim!
O jogo começou com uma cutscene que faria qualquer um pensar que se tratava de uma cena de filme, ou até mesmo uma gravação real.
Uma carruagem estava sendo puxada por dois cavalos marrons, o gráfico era tão bom que dava pra ver até mesmo os pelos e o suor dos animais.
— Nos dias de hoje, está cada vez mais difícil diferenciar o que é computação gráfica do que é real, mas ainda assim, isso aqui é incrível.
O vídeo de introdução avança enquanto assisto com grande admiração.
Ainda não tem como saber o porquê, mas a carruagem está correndo o mais rápido possível atravessando uma floresta.
Um homem forte com uma expressão tensa está sentado no banco do cocheiro, pilotando a carruagem ferozmente, extremamente preocupado com algo ele vira a cabeça e olha para trás diversas vezes, como se estivesse verificando se há alguém ou alguma coisa o seguindo.
Em seu rosto, uma cicatriz em forma de corte chama bastante atenção. Por mais que o homem pareça ser estrangeiro, é nítido que a sua beleza está acima da média.
Mas a sua aparência geral é o que realmente chama mais atenção.
À primeira vista pode parecer que o homem está vestindo roupas simples de tonalidade marrom, no entanto… prestando mais atenção é possível notar que ele está usando uma armadura de couro. Além disso, o homem também está levando consigo uma espada de ferro nas costas e uma adaga num coldre localizado em sua cintura.
— Pensei que pilotar uma carruagem usando armadura fosse coisa de jogos de fantasia, não de simulador de cidades, né? Tá aí uma coisa que não se vê todos os dias.
Esse tipo de clichê normalmente é usado em jogos de aventura, fantasia e RPGs no geral, mas em um simulador de construção de cidades? Nunca vi nada parecido com isso antes.
O ângulo da cena troca, indo em direção ao céu, fazendo com que seja possível ver um grupo, do que eu acredito que sejam monstros, se aproximando da carruagem por trás.
Conforme os bichos se aproximam, é possível ver uma criatura humanoide de pele verde montada numa espécie de animal semelhante a um javali.
O humanoide verde, além da estranha cor de pele, possui os dentes caninos inferiores extremamente protuberantes e seus olhos são vermelhos. Deixando claro que a criatura não é humana.
Imagino que seja algum tipo de inimigo que vou ter que enfrentar ao longo do jogo.
Pelo visto a carruagem estava tentando fugir desses monstros esse tempo todo.
A câmera se distancia dos monstros e se aproxima da carruagem, revelando o que há no interior dela.
A primeira coisa que vi foi um homem de meia idade, assustado, segurando uma mulher e uma criança em seus braços, aparentemente são sua esposa e sua filha.
Além desses três, havia uma garota parecida com uma sacerdotisa repetindo as palavras “Ó Deus do Destino, Ó Deus do Destino…” várias vezes enquanto segurava um livro à frente de seu peito.
E então a imagem recuou em direção ao céu novamente.
Sempre que os monstros se aproximam da carruagem o suficiente para atingi-la com suas espadas e machados enferrujados, a câmera treme e os gritos ficam cada vez mais intensos.
Por mais que eu saiba que seja computação gráfica, as expressões de terror e medo dos personagens são surpreendentemente realistas, tão realistas que eu fiquei tenso a ponto de roer minhas unhas sem nem mesmo perceber.
Bem quando eles estavam prestes a serem pegos, de repente, a carruagem foi coberta por uma forte luz dourada.
O fulgor estava sendo emitido pelo livro que a jovem clériga segurava em suas mãos enquanto fazia uma oração.
Os monstros ficaram atordoados ao ver o clarão surgir do nada e acabaram caindo rolando pelo chão.
As pessoas da carruagem aproveitaram a oportunidade e aceleraram, aumentando muito a distância entre eles e seus perseguidores. De algum jeito, eles haviam conseguido escapar vivos.
O veículo, visivelmente danificado, desacelerou e então estacionou em um campo aberto da floresta.
Logo, as pessoas de dentro da carroça começaram a descer uma por uma.
O homem que estava pilotando a carruagem deixa escapar um pequeno suspiro e vai checar os arredores do local, após terminar o que estava fazendo ele se espreguiçou até ficar satisfeito.
Os três que pareciam ser uma família estão se abraçando de felicidade por terem sobrevivido.
A garota parecida com uma clériga foi conversar com o homem que estava conduzindo a carruagem, mas eu não consigo escutar o diálogo deles.
A câmera do jogo, que estava mostrando eles de lado até pouco tempo atrás, mudou para uma perspectiva isométrica.
— Hmm, então o jogo começou de verdade? O que será que eu tenho que fazer agora?
Assim que eu movi meu mouse um cursor em formato de flecha apareceu na tela.
Já que não apareceu nenhuma caixa de texto me dizendo o que fazer, eu movi o cursor para o personagem que estava dirigindo a carruagem e cliquei com o botão esquerdo nele.
«Gamz, 26 anos de idade, irmão mais velho de Chem, a garota que atualmente está agindo como uma sacerdotisa para o grupo. Gamz é um espadachim que já acumulou diversas cicatrizes em seu corpo e face ao decorrer de sua vida.»
— Ah, então se eu clicar em cima de algum personagem mostra algumas informações sobre ele.
Após fechar a janela de informações do Gamz eu cliquei na clériga.
«Chem, 19 anos de idade, irmã mais nova de Gamz. Clériga devota ao Deus do Destino.»
— Então ela era uma clériga mesmo? Caramba, que legal, um espadachim e uma clériga na mesma família, hein.
Os olhos do Gamz são escuros e o cabelo dele é preto, já a sua irmã Chem, possui olhos azuis e cabelos castanhos. Eles não se parecem muito um com o outro, o que não tem problema nenhum, já que não é como se eu fosse levar uma coisa tão trivial dessas como um ponto negativo.
Como eu já imaginava, os três que estavam faltando realmente eram uma família. O pai medroso se chama Rodis e tem 33 anos.
A mãe tem uma aparência saudável e parece ser uma pessoa confiável, o nome dela é Layla, sua idade é de 30 anos.
E por último, a menininha de cabelos loiros e ondulados com olhos grandes, que agora estava alegre e sorrindo. Ela se chama Carol, e é a filha de 7 anos de idade de Rodis e Layla.
— Hmm, então esses cinco são os protagonistas? E tudo que eu preciso fazer é dar ordens para eles construírem um vilarejo?
Por enquanto eles tão andando e fazendo algumas coisas sozinhos, como será que eu faço para dar as ordens?
Embora ver os personagens andando e as diferentes animações que eles fazem seja divertido, fica chato se eu não conseguir jogar.
— Falando nisso, tinha alguma coisa sobre enviar profecias escrito na carta que veio junto com o jogo, não tinha?
Quando eu ia me levantar para procurar onde eu tinha deixado o papelzinho do jogo, eu escutei um tec-tec-tec-tec parecido com o som de uma máquina de escrever digitando.
No monitor do computador, a conversa dos personagens estava sendo exibida em uma caixa de texto.
— Sinto muito. Por mais que eu estivesse encarregado de proteger o vilarejo, o máximo que consegui fazer foi arrumar uma abertura para que vocês fugissem.
Gamz disse isso enquanto se curvava para a família de Rodis.
Na abertura do jogo dava para ouvir as vozes dos personagens, mas pelo visto o jogo ainda não está cem por cento dublado.
— Por favor, levante a sua cabeça. Mesmo que sejamos os únicos sobreviventes, ainda é um milagre termos sobrevivido após a vila ser atacada por tantos monstros. Nós somos gratos à você Gamz, do fundo do coração.
Rodis se curvou tanto quanto o Gamz tinha feito antes, seguindo o exemplo, sua filha e sua esposa também agradeceram.
— Titio Gams, Titio Gams! O que foi aquela luz mais cedo? Foi você que fez ela aparecer?
— Carolzinha, quantas vezes eu vou ter que te explicar que ele não é seu titio. Ele é da minha família, não da sua.
Chem diz isso e interrompe Carol, que estava segurando um dos braços de Gamz.
A Chem aparentava ser mais reservada mas, depois de ver a Carol com seu irmão, um ícone indicando que ela estava brava apareceu acima de sua cabeça. Quando eu dei zoom na tela ficou mais fácil de ver sua expressão, ela estava sorrindo de olhos fechados, entretanto suas sobrancelhas estavam levemente franzidas.
Será que essa personagem tem algum tipo de complexo amoroso pelo irmão?
A irmã mais nova do Gamz, além de linda, tem um complexo por ele. Sem sombra de dúvidas o guerreiro está na posição de personagem principal da história.
— Chem, por favor pare de ser infantil, não precisava ter falado com ela desse jeito. Ela é só uma criança.
— Irmão, eu… sinto muito.
— Ele te deu uma bronca! Ele tá bravo com vocêê e comigo nãão lero, lero–
Gamz suspirou vendo as duas continuarem discutindo.
A personalidade dos personagens é muito bem feita, o jeito que eles interagem entre si também. Esse jogo tem potencial para ser um dos melhores do mundo nesse quesito.
Os gráficos são impecáveis, as animações são fluidas e realistas. Eu tenho o pressentimento de que vou adorar passar meu tempo jogando isso.
— Crianças, parem com essa brincadeira besta. Mais importante, o que aquela luz era de fato?
— Srta. Layla, a gente não tava brincan… Ahem– sobre a questão da luz misteriosa, por mais incrível que pareça, ela saiu da minha bíblia.
Após terminar de falar, Chem trouxe a bíblia à sua frente onde todos pudessem ver.
Assim que ela fez isso, um plim saiu da caixinha de som e um texto apareceu na tela.
— “Seu dever como Deus é guiá-los para que seu vilarejo prospere. Você não pode controlar os personagens diretamente, mas é possível conversar com eles através de oráculos. Oráculos são mensagens que você pode escrever para os aldeões na bíblia uma vez por dia. Agora que você já sabe disso, experimente escrever uma mensagem para eles, pode ser qualquer coisa!”
— Hã? Como assim, o jogo não vai me dar escolhas para eu decidir entre uma e outra? Eu mesmo tenho que escrever as profecias?
Como isso é possível? Normalmente, fazem o jogador escolher entre uma opção de diálogo ou outra. Será que aquele papo da I.A dos personagens ser extremamente avançada era verdade? Se esse for o caso, então talvez o jogo realmente seja capaz de entender e cumprir qualquer coisa que eu digitar para os aldeões.
— Não, nada a ver… isso seria praticamente impossível.
Provavelmente a inteligência artificial do jogo só vai entender algumas palavras chave do que eu digitar e ignorar as outras.
Ainda assim, eu nunca vi nada parecido com isso antes. Sei que hoje em dia já existem inteligências artificiais capazes de aprender de maneira autodidata, mas eu não fiquei sabendo de nenhuma desenvolvedora investindo verba o suficiente nessa área para implementar isso direito em um jogo.
— Enfim, depois eu penso mais sobre isso. De qualquer jeito, a I.A do jogo deve entender somente comandos simples mesmo.
Enquanto isso, eu começo a digitar um texto longo e complexo do jeito que eu imagino que uma divindade falaria.
E aí, que tipo de resposta a suposta “super inteligência artificial” vai dar?