Volume 9
Capítulo 1: Carta
A pessoa me aguardando quando retornei à pousada era a Alette-san.
Ela pertencia à brigada de Cavaleiros de um pequeno país conhecido como Lorphys, mas era a capitã de uma força realizando uma estranha tradição em Beim.
Eu até ouvi rumores que lhe foi prometida a posição de vice-comandante quando retornasse para casa.
E tal pessoa havia parado para me visitar.
— ... Nunca pensei que nos encontraríamos de novo tão cedo.
Quando falei isso com uma expressão dúbia, ela deu um sorriso que parecia ter sombras extras pairando sobre o mesmo, e deixou seus ombros caírem.
— O mesmo vale para mim. Eu sei que ambos precisamos de um pouco mais de tempo entre nós. Mas tenho que falar com você, não importando o quê.
Alette-san viera à pousada com seu fiel ajudante.
Quando tentei confirmar os detalhes, ela nos convidou para uma refeição.
— ... Enfim. Você tem como abrir algum tempo agora? Eu sinto muito por isso, estou em uma situação difícil então estou bem ocupada no momento. Eu pago o jantar para vocês.
A pessoa lidando com ela era a Miranda.
Ela sentou-se em uma cadeira, cruzou suas pernas, olhou para mim, e assentiu.
(Então minha decisão no assunto será suficiente. Melhor eu contar a ela sobre o quanto a May come.)
Se fôssemos apenas escutar o que ela tinha a dizer, não deve realmente haver um problema.
— Nós aceitaremos a refeição alegremente. Mas uma de nossas membras tem um apetite e tanto. Recomendo que faça suas preparações para a conta.
Enquanto falava que a escutaria, Alette-san pareceu aliviada.
— Isso será uma ajuda enorme. Bem, todos nós temos nossos apetites, sejamos aventureiros ou Cavaleiros. Tem um restaurante que por acaso eu gosto, então levarei vocês lá. O assunto em questão é sobre as mesmas congratulações que ofereci antes. Mas não estamos com tanta pressa quanto àquele. Nosso objetivo principal é sobre uma carta de introdução. Pois bem, nós enviaremos alguém para pegá-los à noite.
Uma carta de introdução? Para quem? Pensei, mas havia uma pessoa que parecia se encaixar.
Alette-san deixou a pousada, e Miranda se levantou de seu assento para vir até mim.
Eu tinha ido até a guilda com a Aria, mas ela notou que eu havia retornado sozinho.
— Eu notificarei as outras membras sobre a questão do jantar. Mais importante, você não estava com a Aria?
Eu tinha levado a Aria até a guilda para ensiná-la a respeito, mas no caminho de volta, ela havia partido para pegar algum equipamento, então estaria retornando um pouco mais tarde.
— O equipamento deveria estar pronto hoje, então ela foi pegar. Se ela viesse comigo de volta para a pousada, ela teria que sair de novo.
Após ouvir isso, Miranda olhou na direção da porta que Alette havia saído.
— Eu acho que isso provavelmente é sobre o professor Damien. Se for uma carta de introdução sua, Lyle, então talvez ele possa mostrar algum interesse. Você vai escrever uma?
Meu conhecido que Alette-san parecia ter interesse era um professor na academia de Arumsaas, conhecido como Damien Valle.
Ele era um cara estranho conhecido como um dos sete grandes da academia.
Na verdade, foi ele quem deixou a Mônica operacional após escavá-la do Labirinto.
Atualmente, era conhecimento comum que ele havia usado sua magia golem para desenvolver o golem carregador de bagagens,【Portador】.
Para ser mais preciso, eu fui o desenvolvedor principal, mas Damien foi quem me ensinou a magia, e consultou comigo sobre o assunto, então era algo como um empreendimento conjunto.
— O Portador é conveniente, afinal. Já que ela está ligado a uma brigada de Cavaleiros, imagino que ela não possa deixar de querer uma unidade. Eu me recusei a ensiná-la, então...
Vendo minha disposição ficar melancólica, Miranda deu um sorriso amargo. Ela cruzou seus braços, e reclinou um pouco de seu peso na mesa em sua frente.
— Ei, foi a decisão correta, não foi? Espalhar a informação para ficar rico seria bom, mas eu honestamente duvido da viabilidade disso para o nosso objetivo. Então você vai escrever uma carta?
De dentro da Joia pendurada em meu pescoço, ouvi a voz exaltada do Chefe de Terceira Geração.
『Que tal escrever uma para fazer ela ficar em dívida com você? E faça ela informá-lo sobre aquele assunto ligado à Mônica e o que aconteceu até agora... é imaginável que a Celes possa ficar interessada no Damien, então é melhor colocá-lo em guarda enquanto você pode.』
A segunda metade disso foi dita em uma voz sincera.
Agarrei a Joia para sinalizar minha concordância.
— Escreverei uma. Eu quero informá-lo sobre certas coisas. Como ex-estudante dele, há alguma coisa que você queira transmitir?
Miranda riu:
— Eu duvido que ele sequer lembre meu nome. Esse é o tipo de professor que ele é. Bem, estou indo notificar as outras para deixar suas noites em aberto.
Me despedi enquanto ela subia as escadas, e comecei a pensar sobre o que contar ao Damien.
(Escrever uma carta de introdução, e... é, não posso deixar a Celes de fora disso. E o que aprendi no Labirinto. Talvez ele seja capaz de oferecer alguma luz?)
Relembrando as palavras da autômato que se chamou de irmã da Mônica, comecei a escrever para o Damien.
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O jantar que Alette-san nos pagou foi bom tanto em quantidade, quanto em qualidade.
Ela reservou um espaço, e talvez para agradecer a todos pelo sucesso da Subjugação de Labirinto, seus subordinados também estavam lá.
Com o lugar alugado, nós fomos capazes de conversar sobre muitas coisas.
Eu também me encontrei com os Cavaleiros que estariam partindo para Arumsaas.
Enquanto retornávamos de volta para a pousada, Mônica carregava uma Shannon adormecida em suas costas. Ela caminhou até o meu lado, e fez um raro pedido.
— Frangote, quando voltarmos, eu lhe implorarei algo de olhos revirados, então por favor escute o meu pedido.
Enquanto ela dizia isso, ela parecia bastante relutante. Eu dei uma olhada em volta.
May parecia satisfeita enquanto conversava com a Aria sobre a refeição. Qual que era bom? Ah, eu não consegui experimentar aquele! Escutei esse tipo de conversa.
Eva questionava Miranda sobre os eventos em Arumsaas, e tomava notas.
Clara conversava com a Novem.
A estrada de volta ainda estava fria quando a noite caiu, e eu olhava para elas, e pensava:
(Elas estão se dando melhor que antes?)
Retornei meus olhos para Mônica, e decidi ver o que podia fazer.
— Se estiver no alcance do possível. Pois bem, qual o seu pedido?
Mônica suportava o corpo da Shannon com uma mão, e usou a outra para produzir uma placa negra, pequena e fina dos bolsos de seu avental.
— ... O que é isso?
— Um cartão de memória. Está carregado com informações legíveis para autômatos. Pode colocar isso na carta, de um modo que ele certamente note?
Quando o recebi, ela ajeitou Shannon de volta para carregá-la com ambas as mãos.
A coisa que peguei em minha mão se parecia uma tábua lisa e pequenina.
— Provavelmente é melhor eu entregar isso através de uma rota diferente. É do Damien que estamos falando aqui. Talvez ele nem cheque o conteúdo da carta de introdução. Eu escreverei outra carta, e colocarei isso lá.
A deixarei com os Cavaleiros partindo para Arumsaas, e pedirei a eles para entregá-la também.
Mas havia algo que eu achava um pouco curioso.
— Conteúdos que autômatos podem ler... você não estava em conflito com as três unidades do Damien?
Havia alguma coisa que ela quisesse dizer tão tarde assim? Quando pensei isso, ela fez uma expressão séria em muito distante de sua normal.
— ... Sobre como eu encontrei nossas irmãs, e como eu, Mônica, estou alcançando minha forma perfeita final, eu só quero me gabar disso com elas. Ops, isso não é só qualquer vanglória, tá bom. Eu gravei o que aconteceu anteriormente em detalhes, então isso se justapõe com suas intenções.
— Você tem isso especialmente desagradável ultimamente. Mas tudo bem, colocarei isso na carta.
Mesmo que seja apenas as vanglórias de uma autômato, não havia nada a se perder em enviar. E espera, eu pensei:
(Mônica... aquelas três lá no Damien são as únicas do tipo dela que temos conhecimento de ainda estarem operando neste mundo, não são? Me perguntou se ela se sente solitária.)
Eu cuidadosamente coloquei a placa negra de volta em meu bolso, e continuei a seguir pela estrada de retorno.
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O dia seguinte.
Reuni todas, e revisamos os pedidos que estaríamos aceitando. E quando todos dispersaram, a Clara permaneceu no meu quarto.
Clara Bulmer fora uma funcionária temporária na biblioteca de Arumsaas. Além do mais, ela tinha Skills benéficas para esse trabalho.
Ambas, Novem e Miranda estavam presentes, e Mônica trouxe um pouco de chá.
Com seus cabelos de azul profundo, Clara segurava seu cajado como se para abraçá-lo. Seus olhos sonolentos geralmente estavam semifechados, mas ela estava dando um olhar afiado, cerrando-os ainda mais.
Seus olhos vermelhos pareciam estar brilhando, e parecia como se todo o seu corpo estivesse brilhando enquanto ela se colocava no centro do quarto.
Para a Skill de estágio final da Clara, 【Biblioteca Ambulante】, eu apresentei uma questão.
— Uma questão ligada à vil cortesã que levou o reino de Sentras à sua ruína trezentos anos atrás.
— Sim. Há numerosas teorias, mas ela foi uma mulher que fez sua aparição nos anos finais do Reino de Sentras, e foi gravada como tendo sido amada por muitos homens. No presente, ela é pensada como um único produto da decadência interna do reino antes de seu colapso.
Mais indiferente que o normal, Clara respondia em uma voz sem um indício de emoção. E sua própria vontade não estava nela.
Mesmo sendo sua própria Skill, ela era incapaz de fazer uso efetivo dela por conta própria.
E era isso que Clara pensava como sendo seu defeito.
— A pessoa que a derrotou foi o primeiro rei de Bahnseim, correto?
Diante da minha questão, a Clara, indiferentemente...
— De acordo com os documentos gravados, e as estórias, assim foi registrado. Mas uma porção delas sugere a existência de outro grupo tenha uma relação a esse assunto.
... Sim, esse tanto era conhecimento comum. O problema era o que estava por vir.
— Como o primeiro Rei de Bahnseim derrotou a bela cortesã? Como ele enfrentou o reino de Sentras?
Quando fiz essas duas perguntas, Clara fechou seus olhos. E os abriu novamente.
— A decadência interna havia piorado, e o futuro rei, que era apenas um nobre provincial na época buscou ajuda daqueles em sua volta, ou assim dizem os registros deixados. Mesmo agora, muitos daqueles no poder são os descendentes daqueles que emprestaram seu poder ao Rei. Entretanto, apesar do resultado de tal cortesã ter sido derrotada permanecer, nenhum dado foi gravado quanto aos meios.
Tendo lido tudo que podia encontrar que se parecesse remotamente com um livro, Clara lera quase todos os livros na gigantesca biblioteca de Arumsaas.
E cada vez que encontrava um livro novo, o leria sem erros.
Havia alguns livros que ela foi prevenida de ler, mas esses eram aqueles proibidos para qualquer um.
Novem, sentando-se no sofá, parecia um pouco cabisbaixa, e levou sua mão ao queixo. Ela parecia estar pensando em algo.
Por outro lado, Miranda estava sentada na minha cama, e fez uma pergunto à Clara.
— É o caso que nunca foi gravado como ela foi derrotada? Ou a Clara simplesmente nunca leu uma coisa dessas?
Diante dessa interrogação, a Clara desinteressadamente...
— A possibilidade existe. Mas Clara Bulmer usou sua Skill para ler entre oitenta e noventa por cento da grande biblioteca de Arumsaas. Conclusão: ao ponto em que um civil pode ler, não há mais registros a se encontrar.
Após falar tal, Clara começou a agir estranha.
Me levantei do meu assento, caminhei até o lado dela, e apoiei seus ombros.
— Esse é o fim. Deixe a Clara deitar e dormir.
Mônica colocou um travesseiro no sofá do quarto, e eu deitei a Clara. Ela era pequena, e levantá-la não era problema nenhum.
— Agora, vocês acham que não há registros da derrota da cortesã, ou talvez não haja uma necessidade de registrá-lo para início de conversa... qual a opinião de vocês?
Diante da minha questão, Miranda cruzou suas pernas.
— Quem sabe? Bem, mesmo que ela tenha seduzido homens do mesmo modo que a Celes, não posso dizer se o nível de habilidade dela é maior ou menor que a mulher daquela época. Pessoalmente, não consigo decidir.
Novem olhou para mim.
— Acredito que a rainha que realizou seus atos hediondos também deve ter sido habilidosa. Nós confirmamos a extensão de suas ações na última vez que usamos a Skill da Clara. Para realizar tudo isso, é certo que ela tinha um nível de habilidade própria.
Cruel e extrema. Era como se a bela cortesã muito literalmente traçasse seu caminho por uma estrada de sangue.
Nós confirmamos isso com a Biblioteca Ambulante da Clara, mas suas ações eram as mesmas que as da Celes... não, ainda maiores.
As histórias perturbadores que vieram da boca da Clara me fizeram querer interrompê-la no meio da recontagem.
Mas havia muitos pontos desconhecidos quanto às habilidades dela.
Seja sobre ela ter uma tecnologia para deixar a mente das pessoas estranha, ou estava fazendo isso sozinha, ou se ela fez seus subordinados realizar isso... os detalhes de tudo mudariam de acordo com o livro, e a Skill da Clara era incapaz de afirmar qualquer coisa.
O que era certo...
— O método de derrotá-la nunca foi transmitido. Se fosse por uma falta de necessidade, então tudo bem, mas isso parece bastante artificial.
Eu sentia vontade de reclamar com o Rei de Bahnseim que não deixou para trás tal informação.
Mas de dentro da Joia, os ancestrais também estavam banhando ele com vaias.
『Inútil, não é? É por isso que você não pode confiar em pessoas da linhagem real.』
『Isso realmente é suspeito. No mínimo, o fim da mulher que fez tantos passarem por um inferno... não seria estranho todas essas coisas permanecerem. Sobre como ela foi derrotada, ou talvez ela pudesse ter sido torturada por tudo. Ou poderia ser que a pessoa que realizou o ato pagou com sua própria vida, então nada pôde ser...』
『Não podia ser gravado, ou eles simplesmente não o fizeram. Qualquer que seja o caso, talvez houvesse algo que eles quisessem enterrar. A maioria dos nobres têm algo assim, mais ou menos. Quando se vai até a linhagem real, tudo é possível.』
『O Rei de Bahnseim da época a derrotou, como um representante dos lordes que participaram na conquista, ou assim eu aprendi... Bem, nenhum daqueles envolvidos ainda está vivo, então a verdade está enterrada nas trevas?』
『Que inútil.』
À declaração de inutilidade do Sétimo, o Terceiro ofereceu uma revisão:
『Você não está falando da Clara-chan, não é? Os inúteis são a realeza, não é? Não é?』
O Sétimo soava um pouco perturbado:
『É-é claro.』
E respondeu de tal modo.
(Eu pensei em usar algum precedente como um modelo para derrubar a Celes, mas acho que não será tão fácil.)
Vendo a Clara cochilando por ter usado sua Skill, levei minha mão à cabeça, e comecei a pensar sobre diferentes meios.