Volume 17
Epílogo
— Hah, o sonho que tive noite passada foi horrível. Acho que vou desistir do discurso de hoje. Olha, eu tenho certeza que foi um mau pressentimento.
Quando falei tal coisa no café da manhã, as pessoas em volta não pareceram se importar muito. Mônica estava carregando a comida, e as autômatos do Damien pareciam meio animadas ao verem que uma grande porção da refeição tinha sido comida.
— É disso que estou falando, disso! Ah, é nesse momento que estamos brilhando fortemente.
Tendo nascido para servir aos humanos, elas pareciam deleitadas em terem cumprido esse dever. Aos meus olhos, May que comia tanta carne tão cedo estava...
— Essa carne é minha!
Mas a Shannon beliscou uma porção e comeu.
— Não está tudo bem? Eu ainda sou uma menina em fase de crescimento!
Olhei para o peito da Shannon e dei um risinho com o nariz. Nisso, um osso limpo de comido acertou meu rosto. — Pro que é que você tá olhando!? — disse a Shannon, então lancei um olhar de pena ao seu peito.
— Estou olhando pro seu peito que não mostrou absolutamente nenhum sinal de crescimento.
Miranda mastigava a torrada enquanto falava:
— Shannon, fica quieta. Que tipo de sonho que foi, Lyle?
Normalmente, era a Novem quem reagia a mim, mas a Novem atualmente só comia e não fazia mais nada. Miranda me chamou, então levantei meu rosto.
Esfreguei minha boca com a toalha que a Mônica havia trazido.
— Escuta isso, o sonho da noite passada na verdade foi horrível. Quando acordei de manhã, tinha uma mulher dormindo pelada do meu lado, e... não, isso foi tudo parte do sonho, tá bom? Não foi de verdade.
Quando falei sobre mulher pelada, a sala de jantar levemente animada da fortaleza ambulante ficou em silêncio. Quando expliquei direito que foi um sonho, o general Blois falou de modo desinteressado:
— Estamos às vésperas da batalha decisiva, então quando penso em quem poderia estar dormindo ao seu lado... teremos que fazer as apostas para o pós-guerra.
Baldoir parecia sentir o mesmo.
— Não usem o Lyle-sama para apostas. Mas a este ponto, honestamente, não sei o que pensar de vós dormindo sozinho.
Um pouco mais baixo, Maksim-san perfurou sua comida com o garfo.
— ... Não pode simplesmente ir com a Novem-dono? Eu já apostei uma boa quantia nela, então se decida logo.
Por favor, não diga isso tão despreocupadamente. Damien tomou a bebida posta por uma de suas autômatos.
— Ainda não ter decidido uma parceira combina bem com o Lyle, ou como devo dizer... qual sua opinião, velho Letarta?
O velho Letarta que esteve comendo alegremente, estufava suas bochechas com carne.
— Posso fazer minhas apostas também?
Damien chamou uma autômato e começou a passar as probabilidades atuais e as competidoras ao anão. Pigarreei.
— ... De todo modo, tinha a mulher então pulei de pé. Eu não conseguia ver o rosto, mas ela tava pelada então entrei em pânico, e a Miranda abriu a porta.
Miranda pareceu um pouco feliz.
— Minha nossa, então gosta tanto de mim que apareço nos seus sonhos?
Mas eu, instantaneamente:
— ... Ela estava segurando uma faca com uma cara assustadora. Eu berrei que ainda estava com todas as minhas roupas, então era provavelmente um mal-entendido, e saí correndo. Um olhar nos olhos dela e eu sabia. Naquele ritmo, eu seria morto.
Nisso, olhando a expressão congelada da Miranda, Aria e Gracia cobriram sua boca enquanto seguravam a risada.
— É-é possível. Com a Miranda realmente é possível.
— É, eu posso imaginar.
Ambas sendo brutamontes, tinham muito o que conversar, e recentemente estavam se dando bem. Os olhos da Miranda estavam as gravava. Mas por enquanto estava tudo bem.
— Então quando corri para fora, acabou que eu estava dentro desta fortaleza. Depois de correr pelos corredores estreitos, encontrei a Elza.
Elza mostrou um estremecimento, mas não foi nada muito grande.
— Ela estava correndo procurando pela Gracia, então apontei para a Miranda. “Ei, ela tá me assustando, poder segurar a Miranda um pouco?”, pedi.
Senti pena da Elza enquanto ela fazia uma expressão cabisbaixa, e continuei contando o sonho.
— Corri pra fora e olha só, tinha soldados armados esperando por mim. Quando olhei em volta, vi a Aria num cavalo olhando pra mim. Aqueles olhos dela estava definitivamente cheios de ódio. Talvez tenha sido por ser um sonho, mas eu estava sendo perseguido como se fosse um traidor.
Eu estava sendo perseguido depois de ter dormido com alguém... mas o pior ainda estava por vir.
— A Gracia estava lá também. Então corri pra escapar só pra achar a Ludmila no caminho.
Ludmila tomou um pouco de chá, elegantemente:
— Então eu virei o jogo contra você. Parece que meu eu dos sonhos é bastante competente.
— Por alguma razão você estava numa cama e em roupas de dormir, então fui pra outra direção.
Quando Ludmila congelou, Gracia e Elza apontaram para ela e riram.
— Trazendo uma cama pra fora, que competente... pff!
— É, que competente. Nunca conseguiríamos pensar em um plano desses.
Ludmila olhou para as duas e falou em uma voz ameaçadora “vocês sabem que é um sonho”, então continuei com o sonho.
— Quando finalmente escapei e me escondi, encontrei a May.
May estava comendo sua carne e continuou mastigando.
— A Eva estava nas costas dela e estava em posição com um arco. “Ah, elas são inimigas também”, pensei e corri, quando uma flecha voou por trás de mim.
Eva e May esfregaram suas bocas.
— Arco e flecha a cavalo... é meio difícil. Mas não vou dizer que não consigo.
— Eu tento correr sem sacudir um pouco. Mas não perseguiria o Lyle por uma coisa dessas.
Eu sei. Essas duas entendiam que não estavam altas na ordem de precedência.
— Eu sabia que os céus seriam perigosos, então fugi para uma caverna. Quando fiz isso, encontrei a Clara lendo um livro em uma sala escura. “Já selei todas as saídas”, disse ela. E quando disse isso, a Vera veio caminhando do lugar de onde vim com um sorriso.
Vera suspirou:
— O que, está dizendo que eu cooperei com a Clara pra encurralar você? Não, isso é meio demais...
Esperando que declarassem que ela não faria isso, Clara olhou para os olhos de todas em volta em confusão.
— Espera um segundo. Ele tá falando de um sonho, sabem.
Mas a Ludmila levou uma mão ao queixo.
— Uma competidora surpresa... não, é possível.
Eu continuei:
— Então eu fiquei assustado e consegui escapar de algum jeito. No final, eu não sei com quem eu tinha dormido, eu só continuei sendo perseguido, e quando acordei estava coberto de suor. A Shannon entrou e me mandou acordar. Bem, isso provavelmente foi porque ela tinha vindo me acordar e estava me chamando na realidade. Mas fiquei tão surpreso que berrei.
Shannon olhou para mim.
— Então foi por isso que você estava gritando tão cedo? Que idiotice.
Em contraste ao sorriso da Shannon, havia alguém descaradamente deixando seus ombros caírem. Era a Mônica.
— P-para mim sequer aparecer no sonho do frangote...
As autômatos Nº 1, 2 e 3 do Damien tocaram suas bocas e riram dela.
— Eu estava sendo perseguido a sério, e as caras de todas estavam assustadoras, sabe. Hah, no final, quem era... ou melhor, um sonho de ser perseguido por aliadas é definitivamente algo ruim. Acho que vou desistir de hoje.
Nisso, tendo escutado a história, o general Blois esfregou seu queixo.
— Isso não significa que era a Novem-dono? Não, digo, a pessoa dormindo do seu lado. Por processo de eliminação.
Mônica olhou para o general Blois.
— Então você casualmente me tirou da competição? Só o Frangote pode me tratar mal. Não vou ficar nenhum pouco excitada se outra pessoa me tratar com frieza.
Como imaginei, era realmente melhor ignorar ela.
Os olhos de todos se reuniram na Novem. Mas a Novem estava um pouco distraída.
— Eh? .. H-hm, algum problema?
Ela enrijeceu a meio caminho de levar sua torrada à boca. Nisso, o Baldoir pigarreou, e atraiu os olhares de todos.
— Seria problemático se evitasse dar um discurso somente porque teve um sonho ruim. Hoje é o dia que invadirá Centralle, pelo amor da deusa.
Isso, o exército aliado havia se reunido em torno de Centralle. Eu deveria dar o discurso final diante da cidade que não mostrava a menor reação.
— Eh~? Bora fazer isso em outro dia. Eu tô falando, é um mau sinal.
As sobrancelhas de Baldoir tremeram ante minha falta de motivação.
— De jeito nenhum. Já estamos com todas as preparações prontas.
Bem, eu não estava realmente pretendendo parar. Era só uma conversa de café da manhã. Eu estava bastante tenso, então queria relaxar um pouco.
No entanto, eu conseguia entender que a Novem estava pensando nisso muito mais do que eu havia antecipado.
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Há muito tempo, meu ancestral... o antigo Lyle havia atacado Centralle.
Tinha sido para eliminar a bela megera, a fonte do declínio que tomava o país.
Em termos de resultado, ele teve sucesso em derrotar Agrissa.
Mas a Casa Bahnseim... nobres feudais na época, tinham saído com toda a glória. Empurrando ele para fora do palco da história, a Casa Bahnseim saiu de salvadora do continente, fundando o Reino de Bahnseim.
Talvez por desespero, eles parecem ter apagado os registros muito minuciosamente.
Do começo, meu ancestral tinha se focado apenas na derrota da Agrissa, e não fez muita propaganda de si próprio para o público.
Na época, ele tinha uma mulher com quem estava namorando, ou talvez fosse casado, e já tinha um filho com ela. A tentativa da Novem da Casa Forxuz da época em derrubar o que quer que Bahnseim já tivesse construído com a criança tinha sido perdida ao tempo. A mulher, desejando paz, foi para Centralle e entrou sob proteção da Monarquia de Bahnseim.
Talvez não fosse uma decisão errada.
— Bem, com base em como ela tivesse prosseguido, poderia ter destruído Bahnseim.
Ao lado do palco da fortaleza ambulante, eu murmurei isso enquanto agarrava a Joia na minha mão. Ao meu lado estava a Novem.
— ... Ela tinha desistido de lutar. Ao invés de pensar em toda a dor que o marido dela sofreu através de tudo, ela priorizou a si própria.
Acho que isso era ir longe demais.
— Se você tivesse uma criança na barriga, não iria querer protegê-lo?
Quem respondeu a Novem, em um tom irritado, foi a Aria. Segurando sua lança sobre o ombro, estava aguardando sua hora chegar.
Talvez Novem entendesse isso, já que não insistiu.
— Por causa disso, o Reino de Bahnseim foi formado, e o continente foi dividido. Depois disso, eles tiveram alguns líderes virtuosos, mas a Casa Walt foi atormentada pela Casa Bahnseim repetidamente. Não foi só a Casa Walt também.
O Primeiro pelo visto era o neto do ancestral que havia derrotado a Agrissa.
Nosso fundador, Basil Walt partiu para ser independente com seu primeiro amor como estopim, e do ponto que ele se tornou um Senhor Feudal, quase duzentos e cinquenta anos tinham se passado.
As preparações deveriam estar terminadas, já que a Clara veio até mim. E nos fundos, Eva se preparou para usar sua Skill.
— Lyle-san, estamos prontos. Eva estava preparada para ativar sua Skill. O que faremos quanto a música?
Ponderei um pouco.
— Bem, sejamos seguros e toquemos uma melodia dignificada, com um movimento para esquentá-los no final, talvez? Ou melhor, sua Skill realmente é conveniente. Ela deixa sua voz chegar às pessoas, e pode até criar música à vontade.
Nisso, Eva colocou sua cabeça para fora.
— É conveniente. Mas pessoalmente, acho que performances ao vivo são melhores. E realmente não gosto se minha voz só alcança por meio da Skill. Então não me faça usar demais, tá bom?
Ela acenou as mãos enquanto retornava ao seu posto. Eu apertei a Joia.
Miranda e Aria que estavam por perto me chamaram.
— Anda, vem logo.
— Mostra firmeza. Você é o supremo comandante, afinal.
Sorri para as duas. Clara partiu para mover os mecanismos. E quando o palco começou a subir, Novem olhou para mim e abaixou sua cabeça.
— Lyle-sama, tenho certeza que tem muito em que pensar, mas esta Novem Forxuz... irá acompanhá-lo até o final.
Eu assenti.
— Espero que esse fim seja o mesmo fim que estou pensando. Estou indo.
Antes do palco chegar ao seu pico, pude ouvir a música da Eva começar através de sua Skill. Era como se uma orquestra estivesse tocando por perto.
E respirei fundo.
Lentamente, o palco subiu, e me posicionei de modo a poder olhar para todos. Quando parou, pude sentir os olhos de todos se concentrando.
Era hora da Skill do Terceiro, 【Sonho】. Eu pude ver as muralhas de Centralle diante dos meus próprios olhos, e os exércitos aliados que a cercavam.
Bem acima de mim, criei uma ilusão minha para que todos pudessem ver. Fiz seus movimentos espelharem os meus, reproduzindo tudo o que eu fizesse.
Minha voz alcançaria, e minha forma estava visível. Com isso, tenho certeza que teria um leve efeito. Quando ouvi o clamor, abri minha boca.
— Heróis e heroínas que se reuniram aqui neste dia, emprestem-me vossos ouvidos.
Chamando os Cavaleiros e soldados de heróis, eu os louvava. Eles eram heróis, sem dúvida. Se levantando contra os atos hediondos da Celes, eles salvariam o continente.
E entre eles, quantos retornariam vivos...
— Estou certo que há muitos de vocês que ouviram as atrocidades que a Casa Bahnseim cometeu. Talvez alguns dentre vós tenham tremido com tal brutalidade. Mas a despeito de tudo, estão de pé! Sois todos, sem qualquer dúvida, heróis... e pessoas de valor. Nesta enorme batalha de proporções históricas, irão definitivamente gravar seus nomes em seus livros!
Não era exatamente mentira, pelo menos o fato deles terem participado nesta batalha permaneceria.
Uma canção de dignidade majestosa tocava, e tal atmosfera também vinha de minhas palavras.
— Caso não vençamos esta batalha, nuvens negras pairarão sobre o futuro do continente. E em realidade, muitos tristes eventos já transpiraram. Beim sofreu enormes perdas pelo exército despachado por Bahnseim. Tal como o interior deste país. Estou certo de que todos viram a caminho daqui.
As vilas e vilarejos sem vigor, os senhores e soldados de sanidade questionável. Mesmo quando liberados e com sua sanidade recuperada, eles olhariam para o que tinham feito e se preencheriam de culpa e arrependimento.
— Eventualmente, esse inferno se espalhará para todo o continente através de Bahnseim. Se não prevenirmos isso agora, as terras do continente se mancharão de morte e horror! Agora, aqui está o campo de batalha. Aqui, agora é a hora de decidir nosso futuro!
Para muitos dos participantes, se pudessem clamar-se justos, seria mais fácil lutar. Se pensassem que estávamos fazendo algo errado, inevitavelmente abririam folga para hesitação.
Quando se tratava de vida ou morte, dúvida nasceria.
Especialmente quando muitos deles eram soldados estrangeiros sem qualquer relação com Bahnseim. Justiça, ou algo parecido... Sem ter uma razão, eles nunca ficariam sérios com esta batalha.
Havia sentido no que estavam fazendo. Eu tinha que ensinar isso a eles. Mesmo que fosse em meu benefício.
— Bravos Senhoras e Senhores, esta enorme batalha requer seu poder. Para derrotar a vil linhagem de Bahnseim, e mostrar o que é justiça ao continente.
Usando figurantes plantados desde o começo e comunicação mental, os vivas começaram a se espalhar.
Ah, então é assim que irei enviar tantos para suas mortes. Enquanto pensava sobre quantos iriam morrer, levantei meu punho.
Mas alguém tinha que fazer isso. E eu não podia ficar sentado e esperando alguém.
Se houvesse alguém, eu ofereceria meu poder à pessoa obedientemente, e talvez fosse cultivar algum campo ou coisa parecida em alguma terra remota depois da guerra. Quantas vezes mais fácil seria isso?
Se eu ficasse quieto, as pessoas reunidas aqui não estariam em perigo. Mas eventualmente a Celes se moveria, e talvez eles caíssem mortos sem resistência ou razão.
Eu tinha que impedir a Celes a todo custo enquanto os países em volta ainda tinham poder.
Todavia, eu não me acreditava “correto”. No fim das contas, o que eu estava fazendo era exatamente o mesmo que a Celes.
O que os ancestrais diriam ao me ver assim? Mais de uma vez me disseram para fugir para alguma terra distante além do alcance da Celes.
Mas ainda assim, fui eu quem escolheu seguir esse caminho de sangue. Se eu fosse me preocupar com isso agora, eles provavelmente gritariam comigo.
A Milleia-san tinha me falado.
Para sentar em um trono feito sobre uma montanha de corpos. E para agarrar o futuro.
— Bravos heróis, agarrem o futuro em suas mãos!
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