Volume 17
Capítulo 1: Várias Formas de Paz
— A Novem estava realmente zangada.
『Honestamente, a raiva dela me fez querer guinchar. Ou melhor, essa atitude da Novem-chan... Hmm, parece que as Novems passadas passaram por bastante coisa, ou talvez seja por causa de alguma memória antiga? Bem, nada que possamos entender aqui e agora.』
A relação de deusas e deusas malignas ainda era vaga, e era difícil dizer que eu a entendia. Mas era fato que Septem e Celes pareciam ter medo da Novem.
E Novem parecia chateada quando disse que almejaria paz.
— ... Então existem pessoas que odeiam paz. Mas nunca pensei que a Novem odiaria a tal ponto.
Me deitei na cama do meu quarto, olhando para o teto. O topo daquela cama de dossel era de feitura complicada, e eu traçava suas linhas com os meus olhos.
『Comerciantes de armas detestam paz. Precisa-se ter conflitos moderados para que as pessoas comprem seus produtos. Mas a Novem-chan não é nenhuma mercadora. E “uma gentil morte”, esse fraseamento dela incomoda.』
Novem disse que uma morte gentil aguardava no fim da paz.
— Uma morte gentil, não é? É realmente tão ruim assim? Ao invés de morrer em guerras, ou morrer sendo arrastado para conflitos, soa bem mais saudável.
『Eu tenho que concordar com isso. Digo, afinal eu queria ter envelhecido normalmente, dando meu último suspiro em uma cama pacífica. Por que eu tive que me despedir tristemente em batalha?』
Conforme eu tinha uma conversa séria com o Terceiro, ouvi alguns passos barulhentos. Ainda assim pude ouvir apenas ouvir uma voz barulhenta:
— E-espere um segundo! Eu...
Os passos pararam na frente da porta, então usei minhas Skills para confirmar meus visitantes. Parecia que três Valquírias estavam carregando a Clara. As Valquírias se puseram de guarda na frente do quarto e abriram a porta.
— Agora, aqui sua chance. Subornamos os guardas por este exato momento.
— Clara-san, esperamos grandes coisas de vocês.
— Se por acaso conseguir um pintinho com esse caso, cuidaremos dele por você, então fique tranquila.
Com essas palavras, a porta se fechou, e pude ouvir o som de tranca do lado de fora.
Clara tinha sido depositada no chão em seus pijamas, com um enorme livro agarrado em suas mãos. Seus óculos estavam desalinhados, e seus cabelos, bagunçados.
O Terceiro soava um pouco animado.
『Então finalmente chegou a hora do Lyle saber o que é uma mulher. Se for a Clara, então não tenho objeção nenhuma.』
O Terceiro, depois de me sobrecarregar com um harém, e recentemente vendo que nada além de carnificina me aguardava, tinha começado a se arrepender. Isso me irritava, mas descontar isso na Clara não me ajudaria em nada.
Deixei a cama e me aproximei dela.
— Você está bem?
— Sim. Estou bem. Ou melhor, quem é que vai tão longe? Eu tenho que me preparar emocionalmente, mas essas autômatos não levaram nada disso em consideração.
Clara se levantou e começou a arrumar seus cabelos azuis escuros com um pente de mão. Ela corrigiu seus óculos e soltou um suspiro.
— ... Bem, quer se sentar? Posso preparar algum chá.
Quando comecei a usar os equipamentos na sala para preparar chá, a Clara agradeceu:
— Obrigada.
E quando nos sentamos frente a frente, Clara abriu seu livro e começou a ler.
Olhei para ela.
— Ei... Clara, o que você acha que paz significa para você?
Clara parou sua mão em meio ao folhear, levantou seu rosto e olhou para mim.
— Minha paz? Uma vida onde ninguém me incomoda quando estou lendo, e não tenho que me preocupar com comida.
Quando ela disse isso claramente, o Terceiro ofereceu intensa aprovação:
『É Isso! Isso mesmo! Esse é o tipo de vida que eu queria!』
Ignorei a voz dele por um tempo e perguntei a ela:
— ... Hoje, a Novem teve um ataque de raiva sobre paz. Paz é uma coisa tão ruim assim?
Clara voltou seus olhos para a página, folheando enquanto respondia minha pergunta.
— Quando ganho novos conhecimentos de um livro, fico preenchida com uma felicidade extrema. Mas sei que há pessoas que não se sentem da mesma maneira. Como a Aria-san que odeia ler. E a Shannon-chan que não pode ler livros mesmo se quisesse. Concluindo, minha própria paz seria um inferno de tédio para as duas. Eu não sei de que tipo de paz a Novem-san fala, então não tenho ideia nenhuma do que dizer.
Mesmo se paz fosse algo composto de uma palavra, era algo bem difícil de se definir. Se paz apontasse para um estado sem batalhas, no pior dos casos... seria mantida sob o controle de alguém, ou talvez fosse uma paz similar à escravidão.
Clara falou para mim.
— Ouvi que o negócio de um mercador é praticamente o mesmo que guerra. Há pessoas que não fazem acordos com vidas em jogo, mas... é verdade que há muitos que matariam por ouro.
Que situação eu chamaria de paz.
Devo oferecer uma definição minuciosa.
O Terceiro leu meus pensamentos.
『Lyle, está tentando definir com mais precisão? Se for isso é melhor você parar aí mesmo. O mundo é mutável. Quando mais você especificar, menos será capaz de lidar com os tempos. Para início do conversa, como a Novem-chan disse, paz é algo próximo a uma ilusão.』
Tenho certeza que do ponto de vista de um Chefe de Casa que vivera por uma era de constante guerra, paz era um sonho dentro de outro sonho.
Nisso, Clara virou seus olhos para mim.
— ... Não irei rejeitar seu sonho ou coisa parecida. Eu fico mais satisfeita com um dia-a-dia cheio preenchido de mediocridade ao invés de conflito. Por que não aproveita enquanto está nessa linha de pensamento, e pergunta a outras pessoas?
Inclinando minha cabeça, olhei para Clara. Ela desviou seus olhos.
— Clara, está escondendo alguma coisa.
— ... Não, bem, veja. Quando descobrirem que fiquei sozinha com você assim, o status quo vai desmoronar um pouco. Além disso, a pessoa moderando a paz, a Novem-san, atualmente não está funcionando bem, então a situação pode acabar se tornando pavorosa.
Da Joia, pude ouvir o bater de palmas. O Terceiro soava deleitado:
『É carnificina, então!』
Em contraste a ele, eu não estava sorrindo nenhum pouco.
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O dia seguinte.
Avistei a Vera e o Fidel-san que estavam visitando o Castelo Rhuvenns, convidei eles para o chá, e lhes perguntei sobre paz.
Fidel-san tomou um gole elegante de chá enquanto falava:
— Hmm. O que é paz para mim? Vejamos. Primeiro, ambas, Vera e Gina, tendo filhos. Meninos e meninas, de dois a três cada. Então o marido morre, e tanto minhas filhas quanto meus netos começam a depender de mim. Que futuro esplêndido!¹
Isso foi uma maneira indireta de me mandar cair morto? Vera enfiou seu salto no pé do Fidel-san para silenciá-lo.
— V-Vera... não é como se seu pai tivesse dito pra esse moleque morrer ou coisa assim.
Parecendo irritada, Vera sacudiu sua cabeça.
— Você praticamente disse. Ou melhor, nem brinca com isso. Na próxima vez que falar isso, eu definitivamente não vou deixar você conhecer seus netos.
Com uma expressão vexada, Fidel-san me encarou.
— ... Todos os maridos das minhas filhas deveriam simplesmente desaparecer.
Dessa vez ele não falou de morrer, mas isso não mudou sua intenção. O Terceiro riu enquanto olhava para o Fidel-san.
『Boa. O Fidel-kun é tão relaxante quanto sempre. Pois bem, que tal perguntar sobre a paz da Vera-chan também?』
Vera tomou um gole de chá antes de me olhar.
— Minha paz... Onde não há nenhum pirata, e toda a carga pode ser entregue em segurança? Honestamente, quando alguém como você fala sobre o continente como um todo, eu realmente não consigo imaginar. É meio diferente de paz no sentido econômico. Tome Beim como exemplo disso.
Me lembrei que a paz de Beim se baseava no sangue derramado nos campos de batalhas de outras terras. É verdade que era algo diferente.
Apesar do Fidel geralmente brincar, ele me olhava com seriedade.
— Você realmente gosta dos seus devaneios, garoto. Neste mundo, há algumas pessoas que não conseguem fazer nada senão guerra. Aqueles que não conseguiriam realizar trabalho honesto mesmo se tentassem... Moleque, você deveria entender se nasceu em uma casa de senhores feudais.
O Terceiro me informou.
『Eles existem. Aqueles que não se encaixam nos moldes preparados por outros. Não são só flores. Definitivamente existem pessoas capazes de matar e roubar e não entenderem que isso é algo errado.』
Vera tocou seus cabelos negros com as pontas de seus dedos e seu rosto ficou um pouco vermelho.
— Bem, ter um marido, e algumas crianças... e um velhote meio irritante, acho que seria bom se pudéssemos passar dias quietos assim.
Fidel-san olhou para a Vera.
— ... Vera, eu sou realmente tão irritante assim?
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— Paz? ... Para ser honesta já tenho material o bastante que ficarei bem se nada acontecer pelas próximas décadas, sabe.
No pátio do palácio, havia um palco preparado. Nele, os elfos praticavam suas peças e atuações, os soldados ocasionalmente paravam para dar uma olhada.
Eva estava ali, com seus cabelos loiros-rosados amarrados em um rabo de cavalo, e com seus trajes externos removidos, revelando uma roupa altamente reveladora.
Eu estava acostumado, mas mesmo assim, ela estava suada, e parecia ainda mais sensual que o normal.
— Não, sou só eu ou parece que você gosta de guerras?
Quando falei isso, Eva riu com o nariz:
— Hã!? Nós tivemos que rechaçar vários ataques de bandidos desde o tempo em que viajava com minhas tribos. E não havendo nenhum grande estímulo como alguma enorme batalha, meus rendimentos cairiam!
Que opinião pragmática. Acho que para a Eva, batalhas eram as sementes que cresciam para virarem seu alimento. Quando pareceu perturbado, Eva virou seu cabelo.
— Para ser honesta, há algumas coisas que passei a entender em nossas viagens. Estórias de heróis de outrora realmente são populares. Os mais velhos gostam de ouvir contos de sua própria era. Mas crianças mais jovens querem ouvir sobre as guerras acontecendo no presente. E algum dia, sabe. Acho que terei a alegria do nascimento de um novo herói também.
Deixei meus ombros caírem.
— Então o que estou fazendo é desnecessário?
— Não realmente. Não está tudo bem? Se as viagens ficarem mais seguras, e o dinheiro circular melhor, vai ajudar bastante. Mas se não houver nenhum estímulo, as pessoas ficarão sedentas por estórias. Veja, a execução de pecadores é, de certo modo, por entretenimento, não é? Há uma antiga canção sobre isso. Um rei antigo disse que o que precisava dar ao seu povo era comida e entretenimento, então todo dia, ele fazia seus guerreiros lutarem pela vida e morte, e fez um esporte disso.²
O Terceiro me falou:
『A Eva tem um ponto. As pessoas têm fome de entretenimento.』
Quando fiz uma expressão indescritível, Eva me deu um sorriso.
— Bem, eu quero ser capaz de ser honrada em algum lugar sem ter que ficar viajando algum dia. Eu não esqueci da sua promessa de construir um palco especial para mim.
Quando ela me ameaçou com um sorriso, eu assenti e afirmei.
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— ... Paz? Perdão, não consigo entender.
— Isso é coisa pra gente esperta que nem você pensar, garoto. Ou melhor, eu sou contra.
Devorando carne ainda nos ossos, May e Marina-san assavam a presa inteira que tinham caçado, no pátio do palácio. Pelo visto, do ponto de vista delas, minhas palavras eram incompreensíveis.
Marina-san retornou à sua refeição.
E quando brilhantemente arrancou um pouco de carne com uma mordida, May usou sua mão para esfregar sua boca.
— Ou melhor, na selva, todo dia geralmente se trata de lutar. Não é como se a presa pensasse que quer ser devorada. Você persegue, elas correm, mas se a gente não comer, nós que caímos mortas. Paz é uma palavra para vocês humanos, de barriga cheia.
— E-entendo.
O Terceiro parecia impressionado.
『Algumas palavras do lado selvagem, sem qualquer enfeite.』
May olhou para a carne que Marina estava comendo.
— Ei, essa carne é minha!
— Culpa sua por ser lerda! E eu ajudei na caça também; pode desistir!
A qilin May, e a humana Marina-san... pra mim, as duas pareciam crianças selvagens.
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— Paz? Pff, quanta estupidez... a resposta é óbvia. Um mundo onde eu possa encher a barriga de pudim.
Shannon riu de mim, mas atualmente ela estava sendo forçada a se ajoelhar no chão do refeitório. Miranda estava forçando ela a se ajoelhar.
— Shannon, se realmente está se arrependendo, não deveria conseguir rir do Lyle.
Enquanto Miranda comia, petelecou um prato vazio com seu dedo. Shannon abaixou sua cabeça.
— Minhas pernas estão dormentes! Eu não quero mais isso! Poxa, eu só comi porque achei que fossem sobras! E a Mônica me disse que teria sobras hoje! Hmph!
Que hmph é esse? Ela não aprendeu nada e foi atrás do pudim de novo?
— Você nunca aprende, não é? Bem, já que estou aqui, acho que vou comer meu próprio pudim na sua frente para...
Miranda me interrompeu.
— Lyle, ela comeu três pudins no total. Não tem nada sobrando pra você ou pra mim.
Me inclinei até a Shannon e belisquei suas bochechas.
— Você. Por acaso. Sabe... o que fez, pirralha?
— Tá doendo! Disculpa!
Tirando minhas mãos da lacrimejante Shannon, olhei para a Miranda. Vendo meus olhos, parece que ela entendeu o que eu queria perguntar.
— Paz, eh. Se me permite dizer, apesar de ser irritante, eu concordo com a Novem. É basicamente uma ilusão. Beim era pacífica, mas estava espremendo dinheiro dos seus arredores, fazendo deles campos de batalha sangrentos, não é? Mas Beim era pacífica. Mas se é isso o que está querendo, não vou reclamar.
Miranda terminou sua refeição e estendeu a mão para uma bebida. Reclinando sua cadeira, ela cruzou as pernas, olhando para mim.
— Lyle, sabia? Até um continente tem um número limitado de pessoas que pode sustentar.
Me virei para Miranda.
— Isso é, bem...
Todo território tem um limite de população que pode manter. Não é como se comida fosse infinita, e em tempos de fome, reduzir o número de pessoas era exigido.
— Nem todo mundo pode encher a barriga como a Shannon. Bem, se pôr as mãos em agricultura e similares, talvez as coisas funcionem. Mas mesmo assim, se as coisas continuam a crescer, algum lugar tem que encolher, não é? Ou sua paz é ter todo mundo passando fome igualmente?
— Não é isso!
Talvez ela já soubesse disso, já que assentiu:
— Bem, você disse que era em uma escala de centenas ou milhares de anos, então pode deixar os detalhes para as pessoas da época. E espera, você realmente não precisa carregar qualquer responsabilidade.
Ela tem um ponto. Ela tem, mas... Miranda parecia um pouco perplexa.
— Mas as palavras da Novem estão me incomodando. O que há no fim da paz é uma morte gentil... isso é uma história do futuro distante. O que impeliu ela a pensar tão longe? No momento, estamos até com problemas de perda de população, não é?
Talvez os sacrifícios a este conflito já tenham excedido um milhão. Não, tenho certeza que já. O continente distorcido pela Celes, em apenas dois anos, ela havia causado tamanhas perdas.
Ao ponto em que não teríamos que nos preocupar com superpopulação por um bom tempo.
... Enquanto eu pensava em tal coisa, a Shannon:
— Eu já perdi a sensação nas minhas pernas. Por favor, me perdoa logo.
Ela chorava e implorava por perdão.
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