Volume 10
Capítulo 9: Assalto Sahuagin
O segundo dia no mar.
Abri meus olhos no quarto que me fora dado no navio balançante.
Enquanto esticava meu corpo, ouvia algumas vozes vindas do corredor.
As vozes da Eva e da Clara:
— Eu... não vou durar se isso continuar por muito mais tempo.
— E-estou me sentindo mal.
Cocei minha cabeça. Desacostumadas a viajar pelo mar, as duas haviam estado enjoadas desde ontem. Quando me levantei, Mônica me chamou.
— Bom dia, Frangote.
Esfreguei meus olhos sonolentos, e olhei para ela. Sem dúvidas, ela estava no meu quarto, preparando minha muda de roupas.
— ... Eu tranquei a porta, não foi?
Olhando para a porta, a chave da maçaneta definitivamente estava na posição trancada.
— Diante de mim, Mônica, uma tranca desse nível é praticamente nada. Diante da grandiosa tarefa de cuidar do meu frango maldito, uma tranca desse nível não é sequer um obstáculo. Ah, já que estamos oscilando, preparei uma toalha molhada hoje.
Aceitei a toalha encharcada em água fria, esfreguei meu rosto, e decidi não pensar demais sobre a Mônica. Eu tive a sensação de que uma tranca dessas realmente não era muito difícil de se abrir.
Então perguntei sobre minhas outras companheiras.
— Parece que a Eva e a Clara estão tendo problemas, mas e as outras?
Mônica recebeu a toalha de volta, antes de pegar um conjunto de trajes matinais do espaço entre sua saia e avental, e me dirigir até uma cadeira. Me sentei, e ela começou a arrumar meu cabelo.
— Aquela vadia da Novem está cuidando da Aria e May. Já que aquela garotinha da Shannon está em um estado bastante terrível, a Miranda está lidando com ela. Muita coisa aconteceu pela noite. Até enquanto você fala, Frangote, sua compleição também não está a das melhores.
Como esperado de uma viagem de navio com a qual não estávamos acostumados. Ainda mais, com esse sendo o segundo dia, eu estava começando a mostrar sinais de fadiga. Suspirei, e perguntei sobre a Shannon, que parecia estar no pior estado.
— Então a pior é a Shannon. Deve ser um trabalho enorme limpar o quarto dela.
Mônica terminou de arrumar meu cabelo, e pegou um copo com um sorriso. Ela não me disse para beber, mas para usar o líquido semitransparente dentro dele para limpar minha boca.
— Sem problemas. Eu, Mônica: Versão de Opções Completas, não sou só para enfeitar. Há muito completei a limpeza dos quartos e lavagem de roupas.
De dentro da Joia, ouvi a voz do Sétimo.
『Essa autômato. Será que ela na verdade é bastante habilidosa? A conduta normal dela é totalmente inacreditável, mas pode ser verdade que ela é a concentração da sabedoria dos antigos.』
Eu quase tinha esquecido devido ao seu comportamento normal, mas a Mônica me servia fielmente. E houveram muitas vezes onde fui salvo por suas altas especificações.
O Quarto não parecia muito satisfeito com isso.
『Melhor dizendo, me pergunto por que os antigos criaram uma autômato dessas? Tenho a sensação que é um desperdício de tecnologia, ou algo do tipo... Oh, é mesmo, Lyle, você está bem? Ainda nem chegamos no pedaço do mar em questão, mas você já foi imobilizado, não foi?』
A razão de termos sido recebidos como guardas para o Vera Trēs, foi por que o navio passaria por uma extensão de mar com elevados ataques de monstros recentes. Não havia outra escolha senão passar por lá, e com o conhecimento de que uma porção de navios já fora destruída e afundada, eles não tiveram escolha senão contratar guardas.
É claro, pela reação da Casa Trēs, eles não achavam que nada aconteceria com sua deusa da fortuna, mas só por precaução, eles contrataram uma escolta.
Me sentia um pouco fraco enquanto apertava a Joia para informar ao Quarto que eu estava bem. Então me levantei, e a Mônica me apresentou uma muda de roupas.
— Você... deixa pra lá.
Quando as peguei, Mônica fez uma expressão triunfante.
— Hmm, se prosseguirmos assim, você se tornará um ser humano inútil incapaz de viver sem mim ao seu lado. Está tudo bem. Eu cuidarei de você até que morra.
Essas palavras não me faziam nem um pouco feliz. Mas me despi, e joguei meus trajes externos de lado.
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Do lado de fora... eu havia ido até o deque. Após uma refeição leve, saí para aspirar o ar externo.
A pálida Eva viera comigo. Ela também veio para apreciar o ótimo lado de fora, mas as coisas acabaram comigo tendo que lhe oferecer um ombro.
— Oy, você está realmente bem?
A respiração da Eva estava desordenada, e sua compleição estava terrível.
— E-Estou bem. Eles me disseram para apenas vomitar no mar se precisar.
Essa garota não está nada bem. Enquanto pensava isso, suspirei, e fui até uma área no deque onde não seríamos um incômodo.
Agarrando o parapeito, ela fitava o longe. Parecia que ela estava testando a contramedida para enjoo marítimo que ouvira dos marinheiros.
— ... Eu deveria ter ficado na mansão.
Seus olhos agora estavam lacrimejantes, mas eu, de fato, havia recomendado que ela ficasse para trás. Tanto ela quanto a Clara mostravam interesse em visitar terras estrangeiras, e vieram junto por conta própria.
Esfreguei suas costas, enquanto falava de modo cansado:
— Você já está aqui, então apenas desista. Por volta do terceiro dia, você já deve estar acostumada. Mesmo assim, para a terra estar tão longe.
No lado esquerdo de nosso curso, eu podia ver um pouco de terra ao longe.
Eva olhava para a terra.
— Eu quero voltar para a terra.
E reclamou.
Quando apoiei suas costas enfraquecidas, uma voz nos chamou de trás. Me virei, encontrando a Vera, com sua sombrinha vermelha aberta, e suas longas partes de cabelo balançando na brisa salgada.
— Você estão muito mal. É sua primeira viagem em um navio?
— Tanto para mim quanto minhas companheiras, é a primeira vez para quase todos nós. Somos oriundos de Bahnseim, sabe, então nunca tivemos muitas chances com o mar.
Bahnseim muito mal tinha uma costa. Mesmo se tivesse lagos, não era um lugar com muita relação com o oceano.
Segurando sua sombrinha na mão direita, e esfregando seus cabelos com a esquerda, Vera-san se aproximou de mim.
— Em contraste, eu mal já vi um cenário além do oceano. Nunca escalei uma montanha antes. É divertido?
Tentei me lembrar de subir uma montanha, e as memórias de quando fui em um piquenique com minha família acabaram voltando para mim. Nós tínhamos guardas em volta, e eles observavam nossa família com um sorriso.
E minha mãe e pai sorriam gentilmente, e a Celes...
Quando tentei me lembrar, acabei segurando minha mão esquerda contra metade do meu rosto.
(A Celes... huh? Que tipo de cara ela estava fazendo mesmo?)
Não importava o quanto eu tentasse lembrar, não podia recordar. Vera-san se aproximou de mim.
— Você está bem? Não se force, e descanse um pouco. A extensão de mar para o qual contratamos vocês ainda está a alguns dias de distância, então podem usar seu tempo até lá para se acostumarem com o barco.
Eu sacudi minha cabeça.
— Não, estou bem. E a Eva es...
Olhando para a Eva, seu rosto pálido estava inchando, e ela segurava sua boca.
— EVVVAAAAAAA!!
— ... Não dá mais...
Enquanto a Vera-san dava um sorriso torto, girou sua sombrinha e ofereceu um conselho.
— Quando você quiser botar para fora, vai ser doloroso se não houver nada na sua barriga. Coma um pouco, e beba alguma água. Álcool está fora de questão.
Ela pegou um lenço, e quando o entregou a mim, acabei ficando perplexo. Porque era um lenço que parecia ser bem caro.
— Use. Esfregue a boca dela. É um desperdício da bela aparência dela.
Enquanto esfregava a boca da Eva, os marinheiros apressadamente emergiram no deque.
E aquele de vigia soou o sino, e berrou em voz alta.
— Ataque inimigo! Ataque inimiiiigo!!
Vera dobrou sua sombrinha, e o jogou para mim.
Após levar a mão ao coldre atrás de seu quadril, ela puxou uma arma dourada. Seu cabo tinha uma gema negra embutida.
— Essa é minha sombrinha favorita, então não perca, tá?
Vendo a arma dourada, o Sétimo ficou preenchido com intriga.
『Então é do tipo revólver! Na minha época, eles eram muito maiores, e só tinham quatro câmaras... hmm, esse até têm seis! O cano ainda é longo, mas é mais quadrado que redondo, huh? A porção do cão foi compactada... boa! Eu quero um, Lyle!』
Eu pessoalmente não queria. Mas honestamente pensava que a aparência era legal. E quando a Vera-san o segurava, senti que a imagem faria uma bela pintura.
Empurrando seu cabelo para trás, ela conferiu o cilindro, e olhou em volta.
— Ajam como o normal. Certifiquem-se de não se acertarem! Se danificarem o barco vão virar comida pra peixe, entenderam!?
— Sim!
— Deixa com a gente, milady!
— Vamos transformar eles em colmeia!
Todos eles pegaram suas armas, e se reuniram no deque. Com sabres em mãos. E entre eles, também havia alguns marinheiros com armas de fogo. Elas não eram de mão, mas de duas mãos com canos mais longos que um metro.
O Quinto falou:
『Estão todos equipados com facas nas pontas?』
O Quarto havia acabado de notar.
『Então se você ficar sem balas, se torna uma lança... de certo modo, talvez armas de fogo não sejam ruins?』
O Sétimo berrou em alto astral:
『Não é!? Não é!? Tenho certeza que armas de fogo irão mudar o mundo!』
Mar o Terceiro estava um pouco negativo.
『... Se você lutar com aquilo, sabe, a parte de ferro da arma de fogo? A área que lança as balas não vai dobrar e ficar fora de lugar?』
O Sétimo ofereceu uma desculpa.
『... É bastante delicado, então é possível que fique inutilizável. Mas mesmo assim! Vai ficar tão bom quanto novo depois de alguma manutenção! E é uma arma incrível que se pode usar para lutar mesmo se você ficar sem balas, não é mesmo!?』
Enquanto escutava as vozes dos meus ancestrais, estalei meus dedos, e um baú de tesouro se manifestou no deque. Retirei dois sabres dele.
E enquanto fazia isso, entreguei a sombrinha para a Eva.
— Aparentemente é precioso, então não suje. Bem, sinto que isso vai acabar num instante.
Após puxar os sabres, deixei as bainhas com ela também.
— Não vou. Mas eles claramente sabem o que estão fazendo. Nós ao menos somos necessários?
Eu achava que a Eva estava certa. Nisso, a Skill do Segundo... Todos... detectou a presença de monstros em volta. Carregando hostilidade contra nós, eles saltaram ao deque.
Suas formas... nós tínhamos visto eles no Labirinto antes. Eram Sahuagins.
Mas comparados aos Sahuagins passados, a cor de suas escamas e pele era mais ominosa, e uma porção deles tinha cicatrizes aqui e ali.
Seus movimentos tinham um senso de agudeza que não havíamos testemunhado no Labirinto.
Vera levantou sua arma dourada com uma mão, e a descarregou.
Fumaça irrompeu da boca do cano, e um dos Sahuagin que havia pisado no navio teve sua cabeça explodida.
O deque foi salpicado com um arrepiante sangue azul-esverdeado, e com isso como sinal, os Sahuagins começaram a saltar da superfície da água um atrás do outro com arpões em suas mãos.
Eu me posicionei para proteger a Eva atrás de mim. Um deles rolou pelo deque, levantou seu corpo na minha frente, e assumiu uma postura.
Mas após eu ter ouvido um tiro, o Sahuagin foi explodido para o lado.
Quando olhei na direção oposta de sua trajetória, vi a Vera apontando sua arma inexpressivamente.
O ânimo do Sétimo se elevou ainda mais.
『Ela modificou sua arma em uma Ferramenta Mágica! Eles chegaram tão longe... além do mais, com esse calibre, para ela ser capaz de lidar com a arma em uma mão!』
Eu estava feliz por ele estar se divertindo, mas eu mesmo estava suando.
— Por favor não nos acerte.
Vera-san atirou em outro Sahuagin que se aproximou dela, abriu o cilindro de seu revólver, e começou a trocar balas.
Os invólucros queimados caíram ao chão, e pude ouvir uma porção de sons metálicos. Em volta, os marinheiros estavam no meio da batalha, e pude ouvir tiros, e xingamentos.
Após carregar todas as suas balas, Vera-san falou:
— Então por favor não se mova. E os próximos estão vindo.
Parece que o alcance que ela podia sentir era maior que o do primeiro estágio do Segundo, Todos, já que os Sahuagins começavam a saltar da parte da água que ela fitava.
Mesmo o deque do navio tendo uma elevação e tanto, que poder de salto esses monstros devem ter. Pensei isso, enquanto cortava um Sahuagin vindo até mim com seu arpão de baixo a cima, e o parti em dois de modo limpo.
Abatendo monstros atrás de monstros, Vera-san expressou sua admiração.
— Você não é famoso a toa. Aquele foi um corte bem limpo.
Ela falou isso enquanto descarregava sua arma no inimigo seguinte. Seu rosto relaxado enquanto continuava a abater Sahuagins me fez começar a suar frio.
Seu vestido não estava manchado por uma única gota de sangue. Mas para mim ele parecia estar tingido de vermelho com ele.
— Eles só continuam vindo. Tem realmente um monte.
Ela falou irritada, enquanto consecutivamente dava três tiros na água, e um dos Sahuagins que saltou caiu imediatamente de volta.
O marujo de vigia exclamou:
— Grandão vindo! O sem cabeça apareceu!
Vera acenou sua mão esquerda para o lado, e levantou sua voz.
— Preparem os canhões! O inimigo é lerdo. Tenham calma, e façam mira!
Quando olhei para a água, vi o que parecia ser uma carapaça de tartaruga emergindo. Algumas centenas de tentáculos brotavam dele, e se aproximava do navio.
— Uma Alforreca Encouraçada, não é? Ouvi que são chamadas de coisas como sem-cabeças, ou monoculares.
Movi-me para perto do parapeito, e a Eva também se levantou para olhar para o monstro com cerca de metade do tamanho do próprio navio.
— Se uma coisa dessas atacar... Lyle, olha pra baixo!
Ouvindo isso, olhei para o casco. Uma escotilha havia se aberto, e de lá um enorme canhão se salientava. Mas não era o tipo de canhão que eu conhecia.
— É longo de mais e estreito.
Ao sahuagin que se aproximava de mim por trás atirei o sabre em minha mão esquerda. Ele girou no ar antes de se enfiar em sua cabeça. E o monstro lentamente caiu morto de costas.
Quando virei meus olhos para a água, Vera-san deu ordens:
— Como estão os preparativos?
— Pronto a qualquer hora!
O marinheiro ouviu algo do cano salientando-se da parede, e levantou seu polegar para a Vera-san a fim de informá-la que os preparativos estavam prontos.
Vera-san deu um esgar.
— Não ache que será capaz de perfurar nosso casco tão facilmente... Fogo!!
Os cinco canhões salientes soltaram fogo, e o navio balançou bastante. E Novem e Miranda irromperam ao deque.
— Lyle-sama!
— Céus! Se eles não tivessem nos dito para não sair... espera, o que é aquilo...
Novem olhava para mim com preocupação, enquanto a Miranda observava a enorme couraça do monstro estourar, e afundar.
Olhando em volta, os sahuagins estavam começando a fugir. E a batalha se aproximava de seu fim.
O bombardeio dos canhões havia destruído a couraça, e com sangue escorrendo, o monstro afundou de volta às profundezas do oceano. Assistindo a cena, Vera-san retornou seu revólver de volta ao seu coldre.
— Esse é nosso poder de fogo. O que acha? Ainda acha que precisamos de guardas?
Aos seus olhos de provocação, acabei dando um sorriso sarcástico.
— Você tem um bom ponto. Mas se vocês têm tanto poder de fogo assim, tenho que me perguntar o porquê de termos sido contratados. Eles devem se preocupar bastante com você.
Vendo que eles definitivamente não precisavam da nossa ajuda, dei uma risada em desdém próprio. Mas a Vera-san esfregou seu cabelo um pouco triste.
— ... Aquilo foi só uma desculpa. Ele só quer que as pessoas pensem que ele está fazendo o que pode. É sempre assim. Me prendendo nesse navio. O que é aquilo de deusa da sorte?
Enquanto olhava para o céu, seu perfil parece estar aguentando algo.
... Ao mesmo tempo.
(H-huh…? Por que minha visão está trêmula... e meu corpo de repente parece pesado...)
Eu estava vacilante, e Novem e Miranda correram até mim.
— Lyle-sama!
— Isso não está acontecendo. Eu nunca pensei que iria...
As anormalidades do meu corpo me fizeram começar a suar frio.
— ... Por que... numa hora dessas...
De dentro da Joia, os Ancestrais estavam...
『Hmhmm. Finalmente chegou, não foi? Essa sorte dele, mas que péssima hora.』
『Não, tenho certeza que você quer dizer hora perfeita.』
『Nós temos algum tempo. Espero que ele se recupere antes de chegar naquele pedaço do oceano, mas...』
『Bem, qualquer que seja o caso... como pensei, o Lyle realmente tem isso. Para passar por um Crescimento numa hora dessas.』
Na minha cabeça.
(É uma mentira. Isso não pode ser... alguém me diga que é uma mentira!!)
Enquanto estava a caminho de um Crescimento, meu interior se enchia de pavor.