Volume 10
Capítulo 10: Tridente
O quarto que eu usava para dormir.
Nele, eu me deitava, morto de cansado desde o alvorecer. Estava certo que meu rosto estava bastante pálido. Era doloroso me mover, e eu me sentia terrível
Um balde foi deixado por perto, e a Novem estava no quarto cuidando de mim.
— Lyle-sama, você está bem? Precisa de um pouco de água?
A deterioração do estado físico antes de um Crescimento.
Isso estava vindo a mim de modo bastante evidente, e eu também estava prestes a tomar uma surra do enjoo do mar. Desde o anoitecer de ontem, eu já havia vomitado uma porção de vezes, e causado problemas para a Novem e para a Mônica.
Shannon deu uma passada no quarto para observar meu estado.
— Nossa, que terrível...
Ela olhava minha forma enfraquecida com um rosto alegre. Atrás dela, estava a Mônica com roupas lavadas em mãos.
— Garotinha. O momento febril do Frangote está vindo. Por favor fique quieta.
Ela desprezava Shannon com uma expressão desagradável, mas quando olhou para mim, estava sorrindo...
— Frangote, eu lavei seus lençóis, e suas roupas estão em condição perfeita! Agora que tal uma mudança? Você não pode receber seu momento febril com roupas tão molhadas e grudentas.
Ela estava realmente alegre enquanto recomendava que eu trocasse de roupa. Novel lhe deu um sorriso amargo, enquanto se levantava, e estendia uma mão para me ajudar a levantar.
Mas pegar sua mão era doloroso.
— Apenas me deixe em paz. E eu definitivamente não irei falhar desta vez. Está ouvindo? Não vai rolar! Eu já falhei quatro vezes. A quinta... da quinta vez em diante será diferente.
Quando puxei meu cobertor sobre minha cabeça, a Shannon riu.
— É impossível. Definitivamente impossível. Agora, passe mais vergonha.
Nisso, a Novem me abraçou, e cuidadosamente levantou meu corpo. Eu provavelmente fazia uma cara terrível, mas ela sorria enquanto me colocava sentado, e começou a despir minhas roupas.
— Se você esfregar seu corpo, se sentirá aliviado. Okay, Lyle-sama?
Vendo ela cuidar de mim tão bondosamente, ouvi uma voz da Joia. Era a do Quarto.
『Ele não amadureceu nada desde o começo. Você está trazendo algumas memórias de volta. Na primeira pousada, ela lavou seu cabelo, enquanto você nem se importava, e tratava como se fosse natural.』
Foi o Sétimo quem me deu cobertura.
『Ei, a saúde dele vai ser derrubada até ele terminar seu Crescimento. É inevitável por enquanto. Mas recordando o começo, você realmente cresceu bastante, Lyle.』
A voz do Quinto era só um pouco mais baixa que o normal.
『... As coisas ficaram mais solitárias aqui do que eram no começo, porém.』
O Terceiro soava indiferente como sempre.
『Mas ficou animado em volta do Lyle, então não está tudo bem? Olha, nós nem deveríamos estar aqui para começar. Pense nisso como um momento de sorte que conseguimos testemunhar o Crescimento do Lyle.』
Eles estavam agindo como se fosse uma coisa boa, mas eu não podia sentir nada além de malícia da parte em que ele falou “Crescimento”.
(Eles estão falando sobre aquele sr. lyle de novo? Merda, é definitivamente culpa desses caras que eu nunca consegui me segurar antes.)
E desde que deixei a Casa, tenho a sensação de que minha personalidade têm ficado cada vez pior.
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... Aria chamou a Miranda, que lia um livro em seu quarto.
Clara havia se acostumado bastante com o barco, mas sua condição piorava sempre que tentava ler, então ela estava do lado de fora respirando ar fresco por enquanto.
Aria havia terminado seu treinamento diário no convés, então havia retornado ao quarto com uma toalha em volta de seus ombros.
— Cadê a Shannon?
Miranda não tirou os olhos do seu livro, sentando-se sobre a mesa, e passando as páginas.
— No Lyle. Aquela garota é curiosa demais para se conter.
O rosto da Aria ficou um pouco vermelho, e ela o tocou com sua mão para esconder seu embaraço.
— É, ele tem ficado naquele estado já há alguns dias. Ele certamente vai estar em alta-tensão quando se pôr de pé.
Miranda continuou a ler o livro enquanto conversava com a Aria.
— De certo modo, aquilo é ele em seu melhor. Ele não sente o mínimo de vergonha ou embaraço, então é por volta da única hora que ele pode exibir suas habilidades ao seu máximo. Ele nunca entrou em batalha naquele estado antes, mas realmente me pergunto se ele é mais forte que o Lyle de sempre.
Aria pendurou sua toalha sobre a grade do beliche, e retirou suas roupas. Após tirar os trajes que se grudavam em sua pele por conta de seu suor, ela começou a olhar suas bolsas em busca de uma muda.
— É comum cometer erros em um estado de pós-Crescimento, então não é uma regra geral evitar batalhas?
— ... Isso mesmo, mas não posso deixar de me perguntar. Sinceramente, quão forte exatamente é um Lyle sério? Não está curiosa?
Após esfregar seu corpo e se trocar, Aria sentou-se na cama.
— Sério? Ele ainda está se contendo?
Talvez a Miranda houvesse terminado, já que o fechou, e colocou na cama.
— Não está. Mas o que aconteceria se ele usasse todas as suas Skills ao máximo. O Lyle tem oito Skills inteiras, não tem? Mesmo que sejam da Classe Suporte, esse número não deveria ser formidável? Aquela gema azul dele tem sido passada por gerações, então não há Skills duplicadas nela; é desnecessariamente incrível.
Incapaz de compreender o significado por trás de suas palavras, Aria inclinou sua cabeça. Então Miranda suspirou, e ofereceu explicações.
— Está escutando? Quando você está em um momento de crise, e não tem escolha senão manifestar uma Skill, é comum que fortalecimento corporal, ou alguma outra Skill simples se manifeste. Mas se você tem essas Skills simples desde o começo, você vai receber algo diferente, não é?
Aria assentiu.
— Eu meio que entendo. Minha gema vermelha também tem uma Skill de fortalecimento corporal. E espera, eu ainda não sei como ela é diferente daquela do Lyle.
Skills similares de fortalecimento.
A gema vermelha continha uma Skill de fortalecimento da Classe Vanguarda.
A azul, uma Skill de fortalecimento da Classe Suporte.
Porém, mesmo se houvessem algumas diferenças aqui e ali, elas demonstravam efeitos similares. Miranda levantou suas mãos no ar, e assumiu uma pose de rendição.
— Não tem como uma leiga como eu saber explicar isso. Mas você pode dizer que há algumas diferenças sutis, não é? Mais importante, eu vou alternar com a Novem, e cuidar do Lyle hoje à noite. Vou dormir um pouco agora, então, por favor, não me acorde.
Miranda levou o livro para uma pequena mesa na sala, deitou-se, cobriu-se, e fechou seus olhos.
Aria falou:
— Eh? Não ouvi nada sobre isso... e ela já dormiu!
Vendo a Miranda cair no sono instantaneamente, Aria começou a pensar sobre como gastaria o resto do seu dia...
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… Beim; Mansão do Lyle.
Na larga propriedade, Maksim balançava sua lança no quintal para polir suas habilidades.
A Autômato Nº 2 estava cuidando do quintal, e os dois eram os únicos visíveis em toda a vasta mansão.
Maksim repetia os movimentos básicos sem parar, esfregou seu suor, e estava prestes a fazer uma pausa, quando ouviu um berro da mansão.
Era a Adele.
— QUAL É O SIGNIFICADO DIIIIIISSO!?
— Lady Adele!!
Maksim jogou sua toalha de lado, pegou sua lança, e saltou para a mansão, indo diretamente ao quarto da Adele.
Autômato Nº 2 pegou a toalha do Maksim, e falou:
— Se isso fosse do mestre, eu preservaria e veneraria... hah, vamos voltar ao trabalho.
Ela murmurou isso.
Irrompendo no quarto da Adele, Maksim viu a garota caída prostrada sobre sua mesa, e chamou.
— Você está bem, milady!?”
Lentamente levantando seu rosto, Adele buscou salvação do Maksim com olhos lacrimejantes.
— Não está tudo bem. O que exatamente é essa montanha de documentos? Por que tem papelada de Zayin e Lorphys sendo entregue diretamente para a mansão do Sr. Lyle em Beim!?
Maksim olhou para a montanha de documentos.
— ... Ele é um herói que realizou magnífico serviço para ambos os países, então não acredito que seja estranho esses tipos de documentos virem. É-é estranho?
Nisso, Adele bateu suas palmas contra a mesa várias vezes.
— É claro que é! Por que os relatórios estão vindo para cá!? Por que há propostas pedindo autorização dele? O que exatamente aquele homem fez!? Além do mais, esta carta da Princesa de Lorphys... é a merda de um poema de amor! Mas o que é isso!? O que é que você fez, Sr. Lyle!?
Maksim abaixou sua cabeça, frustrado.
— Peço desculpas milady. Não há muito que eu possa fazer para...
Adele soltou um suspiro.
— Então pode arrumar um refil para minha bebida, Maksim? Eles aparentemente serão pegos hoje à noite, então os terminarei até lá.
Ele pegou um copo de uma cansada Adele. Maksim colocou sua lança sob a axila, e segurou o copo com bastante cuidado, enquanto deixava o cômodo.
— Prepararei imediatamente!
Enquanto Maksim corria pelo corredor, a empregada autômato Nº 1...
— Não corra nos corredores.
O advertiu...
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... Por volta de quando a viagem entrando em seu sexto dia.
Lyle ainda estava de cama.
A esse ponto, era agonizante para ele até mesmo soltar palavras, e se alguém falasse com ele, apenas receberiam um “meh...” ou “tá...” em resposta.
A ponte estava prestes a entrar em águas perigosas, então Vera havia checado seu quarto para conferir se ele ainda estava em um estado horrível
O capitão perguntou a Vera sobre o estado de seus guarda-costas, o grupo do Lyle.
— Milady, como estão os aventureiros? Alguns deles estão se movendo muito calmamente, mas o homem ainda não se mostrou, então os marinheiros estão ficando preocupados.
Ao invés de estarem preocupados, eles estavam começando a se perguntar se ele realmente seria de alguma utilidade.
Vera reportou o que havia visto sem nenhuma mentira.
— Ele ainda está em um pré-Crescimento, e absolutamente inútil. O momento foi péssimo. Realmente existem desses por aí, esses caras sem sorte. Imaginei que qualquer aventureiro, os que chegaram ao nível de primeira classe, seriam os sortudos, mas parece que esse homem é diferente.
O capitão abaixou seu chapéu, e ofereceu um sorriso seco.
— Bem isso é be... de qualquer jeito, temos você conosco, milady, então não há nada com o que se preocupar.
A expressão da Vera se enrijeceu um pouco, mas ela imediatamente sorriu:
— Aqueles rumores de deusa da sorte de novo? Não comece com isso. Eles afastam todos os homens, e está me causando muitos problemas.
O capitão soltou uma alta risada.
— Então são os homens que não têm olhos para mulheres. Você é uma bela mulher, milady, então eles irão atrás de você aos montes quer você queira ou não algum dia.
Vera ofereceu uma leve resposta de “e como isso seria bom”, mas por dentro, ela não se sentia tão bem assim.
(Aqueles que se aproximam estão todos atrás de dinheiro. E quando estou aqui no oceano, como você espera que eu conheça alguém? Puxa vida...)
Vera recordou sua irmã mais nova, e o jovem servo que trabalhava na mansão. Suas idades eram próximas, e o garoto que ajudava no trabalho em volta da mansão... ele tinha sido o primeiro amor da Vera.
Ela não estava mais arrastando o sentimento. Mas quando aquele garoto cresceu à idade onde podia levar um navio ao mar, foi a irmã dela que ele começou a cortejar. As irmãs não estavam em conflito, e Vera até disse que a apoiaria.
(... Antes que eu notasse, ele começou a falar com ela normalmente, e mesmo assim eu sempre fui milady, não fui? Eu sempre fui chamada de fria, mas isso honestamente, isso dói.)
Ela sabia que a sombrinha vermelha que o garoto lhe dera como presente havia sido algo que sua irmã havia dado o dinheiro, e pedido para ele comprar.
Sua irmã provavelmente estava tentando ser atenciosa, mas Vera achou-se patética.
(Se o pai reconhecer isso, ele certamente será o sucessor. E eu ficarei presa nesse navio pra sempre, não vou...?)
O relacionamento deles ainda não havia sido reconhecido. Porém Vera estava sob a impressão de que isso era uma questão de tempo. O jovem empregado era talentoso, e abençoado com uma personalidade diligente.
E essa fora a parte que também havia lhe atraído.
(Hah, eu realmente deveria ter falado um pouco mais com ele... quando eu voltar, nós três poderemos nos sentar para uma boa e longa...)
Enquanto ela pensava, uma voz veio de um dos numerosos tubos de metal na ponte. Era aquele conectado ao posto de vigia.
『C-consigo ver se aproximando! E o céu está ficando nublado...』
O capitão berrou por informações mais concretas do marinheiro em pânico.
Vera olhou da janela da ponte, antes de correr para fora.
— O que foi tudo isso? Não estava ventando tanto assim antes... e isso é...
O clima havia estado esplêndido até aquele momento. Aves marinhas estavam voando em torno da embarcação, mas agora haviam desaparecido completamente. Nuvens de chuva rodopiantes espiralavam na direção deles no céu, e enquanto a chuva começava a cair, Vera colocou seus cabelos negros para trás, e olhou adiante.
Quando agarrou o parapeito próximo, o barco começou a sacudir violentamente.
Um marinheiro a seguiu, e disse para ela retornar.
— Milady, rápido vá para dentro! Você vai se molhar!
Vera estava olhando diretamente na direção da trajetória do barco. E após apontar sua mão para o marinheiro, ela imediatamente deu ordens.
— Dê meia-volta neste barco! Bordo ou estibordo, eu não ligo! Mude o curso imediatamente!
Mas empurrando o marinheiro de lado, o Capitão emergiu.
— Milady! O leme não está funcionando! É como se estivéssemos sendo atraídos, e puxados para frente!
Vera olhou mortificada diretamente para frente.
Lá, mostrando sua face da superfície da água, estava um monstro enorme... não, um conhecido como deus dos mares, uma 【Serpente Tridente】 olhava para eles.
Possuindo três cabeças, e a do meio parecia-se exatamente com seu nome... dos lados de sua mandíbula, cresciam protusões afiadas não identificáveis como chifres ou presas; elas eram feitas de uma substância metálica desconhecida.
Tais protusões não estavam nas outras cabeças, mas ela notou que os seis olhos das três cabeças olhavam na direção deles.
Ela pôde apenas se desesperar. Ela era várias vezes maior que o Vera Trēs, e de acordo com os olhos dos marinheiros, um monstro difícil de até mesmo tentar sobreviver. Sim, era um monstro, mesmo se fosse chamado de deus dos mares, e estava olhando para eles como presas.
Um pouco abaixo de onde suas cabeças se separavam, ela podia ver uma enorme barbatana. Ela flutuava na superfície, esperando eles se aproximarem mais.
E no convés, os marinheiros, sentaram-se, e seguraram suas cabeças.
Vendo a serpente tridente, o capitão desceu seu chapéu tanto quanto possível.
— ... Saia do navio, milady. Com um barco pequeno, ainda há a chance de você sair viva.
Vera lentamente virou-se para olhar o capitão.
— Não tem como eu conseguir fugir. São as correntes puxando o navio.
Olhando para a rodopiante superfície da água centrada na serpente tridente, Vera desceu seu punho no corrimão.
— ... Pros infernos com deusa da sorte. Olha só essa situação.
Ela sabia que não seria capaz de ver sua família de novo, mas mesmo assim, talvez houvesse um meio de escapar seu atual impasse.
E ela sacudiu sua cabeça.
(Mas o que é que estou pensando? Se afundarmos aqui, eu realmente vou afundar às profundezas do oceano... profundezas do oceano? Isso quer dizer que aquilo foi um sonho profético?)
Levantando sua face espantada, Vera cerrou seus dentes frustrada.
— ... Preparar para a batalha. Ponham os canhões para fora. Não podemos simplesmente deixar esse deus dos mares fazer como bem entende para sempre.
Mas os marinheiros faziam expressões de desespero.
— Mas milady... é um deus que estamos enfrentando.
— Nada de bom virá disso. Apontar uma arma para o deus dos mares.
— Não tem como um canhão derrubar um deus...
O capitão também parecia ter desistido. Afinal, esse era o quão opressivo o oponente era. A cabeça central parecia estar usando uma coroa. Uma coroa dourada, e aquelas afiadas lâminas douradas nos lados de sua boca.
Junto com sua mandíbula, uma lança de três pontas.
Relâmpagos caíam das nuvens, e iluminavam a sombra negra da Serpente Tridente em uma pálida luz azul. Suas escamas azuis refletiam belamente as sete cores do arco-íris, enquanto ansiosamente aguardava a chegada de sua presa.
Vera espremeu sua voz mais uma vez.
— Preparar para a batalha! Não vamos nos permitir cair tão facilmente! Esse é um navio de última geração, não é!?
E um marinheiro...
— ... Mesmo assim, é um deus dos mares lá.
Eles estavam em desespero, e nenhum dos marujos sequer tentava se mexer. Então Vera bateu seu punho contra o parapeito de novo.
Enquanto a chuva se fortalecia, Vera fitava a Serpente Tridente diante de seus olhos... e nisso, ela notou.
Sobre o convés, a forma do jovem rapaz de cabelos azuis.
O garoto que deveria ter estado doente e adormecido ignorou descaradamente os marinheiros encolhidos, e foi até a frente do navio.
Ele estava encharcado pela chuva, e mesmo assim continuou através da embarcação trêmula, olhou para o inimigo, e...
— Peeerfeito!! Maravilhoso!! Essa imensidão, essa silhueta heroica, essa majestade!! Tu deves ser um oponente digno à minha magnificência!
Vera se inclinou para frente quando ouviu aquela voz exultante.
— O que ele pretende fazer ali...
Lyle abria seus braços em meio a chuva, e berrou em voz alta:
— Um esplêndido oponente para comemorar este Crescimento! Tu irás se tornar... o combustível para meus esquemas de angariar dinheiro! Fwahaha, FWAHAHAHA… *cof*! Engoli um pouco de água salgada. O espirro da água aqui é terrível
Diante do gigante inimigo, Lyle soltava uma alta risada. E quando as ondas colidiram no barco, e lançaram água salgada no ar, ele engoliu, e teve um ataque de tosse...