Volume 10
Capítulo 7: A Companhia Comercial Trēs
... Ela via o oceano.
Lentamente afundando nas abismais e escuras profundezas das águas, ela via as luzes se afastando mais e mais.
Cintilantes luzes pequenas e vermelhas flutuavam através do mar em massas, mas não havia sinais de nenhuma forma de vida em volta.
E após ter alcançado o fundo, as pequenas luzes começaram a se reunir em seu entorno.
Elas não tiveram pressa, e quando essas luzes também começaram a desaparecer também, ela se encontrou reemergindo.
Uma voz a chamou:
『Seu papel acabou, ...』
Uma sombra contra a luz do sol chamou em uma voz feminina. Ela tinha a impressão de que a figura chamara um nome, mas ela não pôde captá-lo.
E ela própria se encontrou dizendo alguma coisa.
『Na próxima vez...』
Nisso, a sombra estendeu uma mão. O braço que ela própria estendeu para pegá-lo, estava horrivelmente manchado. Surrado, e tendo saído do mar, seu braço estava coberto em variantes de algas e conchas; até corais se grudavam a ela.
Seu coração começou a bater mais rápido. Ela olhou para a face da água, encontrando a imagem de um monstro sendo refletida de volta.
E sua parceira de conversação sorriu.
『Bom trabalho, ...』
Após seu nome esquecido ser chamado de novo, seu braço desmoronou, seu corpo decaiu, e ela afundou às profundezas do oceano mais uma vez. Quebrando-se em pequenos pedaços, sua forma hedionda juntou-se ao solo do oceano...
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... Quando ela abriu seus olhos, ainda estava escuro do lado de fora.
Fora da janela, ela via algumas luzes aqui e ali pela cidade.
A garota com sua respiração bagunçada moveu sua cabeça, e estendeu uma mão ao seu relógio de bolso em sua mesa de cabeceira. Quando pegou o relógio dourado em mãos, ela abriu sua tampa para checar a hora.
Uma vez aberto, a tampa emitia luz por conta própria, deixando-a ler a face.
Ela levantou seu torso, e estabilizou sua respiração caótica antes de afastar o cabelo grudado em seu rosto devido ao suor.
— Hah, hah... são quatro horas. Ir dormir agora não acabará muito bem.
Tocando sua mão esquerda na testa, 【Vera Trēs】 olhou para o seu quarto. Não era o quarto no barco com o qual ela estava acostumada, mas seu próprio quarto em sua mansão.
Ele era limpo, mas estava mobiliado como se ninguém realmente morasse nele.
Após se levantar, ela beliscou seus trajes de dormir. Ela havia suado muito severamente.
— Está acontecendo bastante ultimamente. Eu estou acostumada com eles uma vez por ano, ou nunca.
Aquele pesadelo era um que Vera tinha visto um certo número de vezes. Toda vez, ela acordaria em choque.
(Me pergunto quando foi o primeiro.)
Sacudindo sua cabeça de lado, ela despiu seus pijamas, e foi para o banheiro do seu quarto em seus trajes íntimos para tomar um banho.
Seus cabelos negros cresciam da área trançada em asas de anjo, e essa parte chegava até sua região lombar. Mas o resto dele mal era longo o bastante para tocar seus ombros. Seu corpo bem torneado continha esplêndidas curvas.
Mesmo com um corpo desses, a garota tinha suas próprias reclamações. Entre elas, sua maior queixa eram seus seios modestos que a diferenciavam de sua irmã mais nova.
(Hah, se eles fossem um pouco maiores, as pessoas também olhariam para mim...?)
Ela olhou para o espelho do banheiro, encontrando seus próprios olhos violetas fitando-a de volta. Ela traçou sua pele pálida com um dedo.
Mesmo após gastar a maior parte de seu ano em alto mar, sua pele não mostrava sinal nenhum de bronzeamento. Outras pessoas haviam lhe dito que ela era diferente de outros algumas vezes.
Mas ela não era tratada pior de qualquer forma.
Mais que isso, os marinheiros até a chamavam de deusa da fortuna. Porque não importava quanto perigo os afligisse, desde que ela estivesse a bordo — tão estranho quanto isso fosse — o barco nunca afundaria.
Nos oceanos habitados por perigosos monstros, eles não atacariam quando ela estivesse lá. A própria pensava nisso como nada mais que uma coincidência, mas outros não viam como tal.
E nesse ponto, ela havia recebido um precioso barco de seu pai, e estava trabalhando pelo bem de sua família... Vera Trēs era uma proeminente mercadora, mesmo em Beim...
— Terei que fazer compras hoje. Zarparemos semana que vem... parece que temos alguma carga valiosa dessa vez, e eles nos disseram para atravessá-la a todo custo.
Murmurando isso, ela retirou suas roupas íntimas, e entrou no chuveiro...
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— Vera Trēs?
Tendo passado no escritório do Rauno-san com a Miranda, aceitei o relatório, e li o nome em voz alta.
Eu havia ganhado alguma fama, e um nome como Cavaleiro Sagrado, mas em troca, passei por uma drástica queda em capital.
Mesmo assim, havia valido a pena, e meu tratamento com a Guilda havia mudado. Mas ainda era problemático não ter dinheiro nenhum. Isso colocaria uma enorme restrição em minhas ações daqui em diante.
É claro, não tínhamos problemas com custos de vida, mas como eu estava em uma posição onde necessitava de orçamento a nível nacional, não tinha escolha senão buscar suporte.
E havia pedido a investigação relacionada a isso ao Rauno-san.
Miranda silenciosamente verificava outros documentos.
Rauno-san coçava sua testa com uma expressão sonolenta enquanto me explicava.
— Aqueles que podem atender suas esperanças são provavelmente a Casa Trēs. Eles atualmente não têm nenhum aventureiro que apoiam, mas como mercadores de Beim... bem, eles são um dos mercadores controlando esta cidade. Eles lucram principalmente de comércio.
Uma enorme empresa comercial que possuía uma porção de navios de transporte em larga escala, e bastante famosos em Beim.
Se havia qualquer coisa estranha sobre eles, talvez fosse que não tinham aventureiros contratados exclusivamente, apesar de serem mercadores da cidade de Beim?
Nessa escala, não seria estranho se eles estivessem apoiando uma porção de grupos promissores. Ainda assim a Casa Trēs não estava fazendo nada do tipo.
Rauno-san explicou:
— Eles estão trabalhando bem extensivamente, mas esse não é o único problema. Ao se enviar um navio, sabe. Com tempestades e acidentes, e ataques de monstros, não é raro que afundem. Mas a Casa Trēs possui uma alta taxa de sucesso. Se comparar a outros, é uma diferença considerável. Então eles têm essa credibilidade, e uma ampla relação com outras casas mercantis. É por isso que são um dos mercadores proeminentes de Beim. A tal ponto que não há um tolo que ponha as mãos neles.
Eu olhei para os documentos.
Estava tentando encontrar um mercador que nos patrocinasse, mas apesar de a Casa Trēs estar no topo da lista, eles eram o grupo com o qual tínhamos as menores chances de sucesso. Ou assim estava escrito no relatório.
— Você não acha que eles sentirão vontade de me patrocinar?
Rauno-san sorriu enquanto repousava seus braços em cima de seu sofá.
— Apesar de soar rude, com seu nível ou reputação, mesmo se criarem um mercado próprio, não sei se eles sequer os levarão a sério. Para a Companhia Comercial Trēs, países como Zayin e Lorphys são peixes pequenos no reino de parceiros comerciais. Mesmo caso ofereça um monopólio nessas nações, não posso dizer com certeza que eles agirão.
De dentro da Joia, o Quarto soava conflituoso:
『Fazer uma coisa dessas seria problemático. Monopólios têm sua parte de méritos, mas têm muitos deméritos também... Mesmo assim, eu subestimei Beim. Como esperado, não podemos deixar nossas guardas baixas em volta de mercadores.』
O Sétimo estava considerando os outros relatórios também, mas...
『A melhor escolha ainda é a Casa Trēs. As outras irão querer a fama do Lyle, então serão relativamente fáceis de apanhar, mas essa daí não receberá muitos méritos de receber o Lyle sob suas asas. Não, há até uma chance de colidirem com outros mercadores.』
Zayin e Lorphys estavam lidando com mercadores de fora dos Trēs.
Jogar essas casas de lado, e até entrar em conflito com aqueles que definiram Zayin e Lorphys como suas bases principais de operação... Duvido muito que a Casa Trēs fique interessada.
Atualmente, eles estiveram conduzindo largas transações entre outros países. Eles são uma casa mercantil que não precisam da minha fama ou conexões.
— ... O dinheiro e termos dos outros lugares são basicamente os mesmos. Mil ouros por ano, não é? Pedidos de trabalho são uma quantia separada.
Rauno-san riu.
— Se vão contratar um grupo famoso, certamente há mercadores que investirão o dobro. Mas se for um grupo aventureiro que estarão usando regularmente, irão se assentar por uma quantia menor, é certeza. E isso tudo desde que obtenham você para si próprios, é a condição. Além do mais, isso é uma estimativa, ouviu? Negocie mal, e estará sob termos ainda piores.
Com minha reputação, parece que esse era mais ou menos o limite.
(Como a Tanya-san disse, ao invés dos meus méritos como mercenário, eles podem estar avaliando com base na minha proeza solo.)
Se forem ser usados como guarda-costas, mesmo se não forem muito espertos, pessoas fortes são o melhor.
Guerreiros acima de estrategistas.
Foi por isso que a Tanya-san me disse para me aproximar dos mercadores após ter abatido um ou dois dragões.
Terminando de ler os papéis, Miranda virou seu campo de visão para mim.
— De qualquer jeito, se queremos ter uma chance, está dizendo que terá que ser com aquela tal de Vera? Lyle, acha que consegue deixar ela caída?
Enquanto ela perguntava isso muito naturalmente, apontei ambas as minhas palmas para ela, e sacudi minha cabeça.
— Eu não tenho ideia do que você tá falando. Cair? Isso envolveria um precipício? Apesar das aparências, eu ainda tenho uma resistência enorme quando se trata de bater ou cortar garotas, sabe?
Rauno-san olhou para Miranda.
— Se vocês quiserem uma chance, terá que ser a garota, é o que estou dizendo. É inacreditavelmente baixa. Acima de tudo, não ouvi conversa nenhuma de ela ser alguém frívola. E atualmente, o tempo que ela gasta no mar é maior do que seu tempo em terra. Perguntei aos marinheiros, mas aparentemente, ela é uma deusa da sorte, e não um alvo de afeição romântica.
Ouvindo sobre deuses da sorte, inclinei minha cabeça.
— Deusa da Sorte?
Rauno disse “é só um rumor, sabe”, e falou que era um pedacinho de informação incerta.
— Não importa quão difícil a viagem, se a Vera estiver a bordo, ela terá sucesso... não só os marinheiros que acreditam nisso. As pessoas da Casa Trēs também acreditam. É por isso que a Vera é uma deusa da sorte.
Olhei para os documentos, enquanto levava minha mão ao queixo, e ponderava.
(Se quisermos dinheiro, esse é o melhor lugar... com outras casas mercantis, eles terão relações com outros aventureiros ou mercenários. Isso não é ruim, mas não gosto de como parece que eles vão restringir nossos movimentos.)
Enquanto eu pensava, Miranda olhou para o meu rosto, enquanto dava risinhos para si própria.
— Parando para pensar, você precisa de uma rota marinha para ir para o norte, certo? Que tal saltar a bordo de um dos navios de ponta da Casa Trēs? Isso vai reduzir o caminho de ida e de volta.
O Rauno-san também.
— Parando para pensar, ele acabou de entrar no porto. Um modelo de larga escala com bastante velocidade. Ouvi que é o pessoal da Vera, mas posso estar enganado.
O navio de ponta que a Casa Trēs não queria que afundasse a todo custo, foi naturalmente dado a Vera-san.
— Bem, deixando seduzir a garota de lado, você pelo menos terá uma chance de conversar e ver se quiser obter algum suporte.
Nisso, o Quarto soltou uma voz interessada.
『Parando para pensar, eu nunca testei a efetividade da minha Skill em um navio. Ela funciona em barcos menores, só para que saiba.』
O Terceiro:
『Ah, parece bom. Se ele puder elevar a velocidade de navios, então o Lyle tem algo a oferecer para a Casa Trēs.』
Aquele oposto a opinião dos dois era o Quinto.
『Ele pode quebrar alguma coisa, e haverá disputas, então melhor vocês pararem aí. Embora não deva haver problema nenhum se for só para testar. Mesmo assim, Trēs e ser uma deusa... uma coincidência? Certamente não parece.』
Pensei nas palavras do Quinto, enquanto colocava os papéis em ordem, e os entregava para a Miranda. Ela usou um dedo para escrever o nome da Vera na frente do documento.
— Que interessante. Da última vez a Novem recusou a Princesa Annerinne, mas me pergunto como será dessa vez.
Ouvindo isso, Rauno-san cobriu sua boca.
— Aquele rumor era verdadeiro? Além do mais, Damien de Arumsaas se enfurnou na sua mansão... o que vocês estão fazendo dessa vez?
Me levantei, e me dirigi a ele:
— Deixarei o pagamento com a Innis. E não estou fazendo nada muito grandioso dessa vez. Só estou indo completar um pedido.
Falei isso com um sorriso, mas não parecia que ele acreditava.
— Acredito que matar um dragão seja importante. Mas aqui temos um cara que fugiu da Cavalaria... bem, se não é nada, então que seja. E apenas entregue a recompensa para mim. Com a Innis, ela vai imediatamente desaparecer com aluguel e gastos diários, e eu só recebo uns trocados aqui.
Miranda riu de suas palavras.
— Não quero. Quero ficar em bons termos com a Innis. E você deveria pelo menos pagar o aluguel e custos de vida.
Rauno deu uma resposta desmotivada de “é um saco. E as coisas dão certo de um jeito ou de outro, mesmo se não pagarmos”, enquanto se deitava no sofá.
Eu pensei:
(Quando ele é tão instável na vida, por que seu trabalho é tão minucioso?)
Fiquei um pouco interessado no homem conhecido como Rauno.
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... Novem foi até a Companhia Comercial Trēs.
Ela carregava uma carta de introdução da guilda, e havia passado com a Clara para perguntar se eles levariam o grupo a bordo de seu navio.
Elas foram levadas para uma sala dos fundos da firma, e o homem encarregado veio lhes oferecer seus cumprimentos. O homem em seus trinta trajava um terno estiloso, e tinha uma conduta mole.
Ele sentou-se no sofá oposto, com uma mesa de café baixa entre eles. Clara levou a bebida oferecida à sua boca, e não parecia que iria participar da conversação.
Novem falou ao homem seu negócios.
— Nós ouvimos que haverá um barco destinado ao norte. Que sua velocidade de movimento está um nível acima do resto. Seria possível nos levar a bordo?
Nisso, o homem encarregado respondeu.
— Li a carta de introdução da Guilda. Nunca imaginei que o grupo do Cavaleiro Sagrado dos rumores faria tal pedido a nós. Mas não é um navio de passageiros. Ele tem as instalações necessárias, mas não podemos simplesmente deixá-los pegar uma carona e partir, podemos? Acredito que seria mais seguro navegar em um navio providenciado pela Guilda.
A região onde a subjugação do Dragão Terrestre aconteceria iria levar muito tempo para se chegar por terra. Eles precisariam cruzar uma cordilheira, e apesar de não ser impossível, uma rota terrestre não era lá uma grande opção.
E um navio da guilda também demoraria demais. Isso além dos perigos de afundar.
(... Honestamente, seria possível chegarmos lá sozinhos.)
Novem falou com um sorriso:
— Não estamos pedindo uma carona de graça. Nosso objetivo é reduzir nosso tempo de viagem. Seremos capazes de pagar dinheiro para compensar.
Nisso, o homem fingiu pensar bastante nisso...
— Infelizmente, mesmo se oferecerem dinheiro, acho que será difícil. É nossa embarcação de larga escala de última geração, afinal de contas. Algumas partes de sua feitura foram mantidas em absoluto segredo. Se insiste tanto assim, poderia abordar outro navio? Será um de nossos próprios navios, e com a alta recomendação da guilda, não nos importaremos de vocês viajarem de graça.
Do homem sorridente, elas podiam sentir uma intenção consideravelmente forte de recusar. Naquele momento, um som de batida soou pela sala.
O homem fez uma expressão perturbada e se desculpou, antes de se levantar, e ir até a porta.
— O que foi? Quando estamos lidando com visitantes...
A voz do homem de fora mal era audível.
— ... Não, esse assunto não era jurisdição minha...?
Parece que eles estavam argumentando fora da sala.
Clara esvaziou seu chá, e olhou para a porta.
— Parece difícil. Como esperado, eles não querem que nos aproximemos de sua deusa da sorte? Bem, há aqueles tipos de rumores sobre o Lyle-san.
Após ouvir os rumores sobre o Lyle, pai nenhum em sua sã consciência jamais deixaria sua preciosa filha a bordo da mesma embarcação. Fora por essa razão que Novem e Clara foram aquelas que vieram para negociar.
Havia terminado em falha. Foi isso que a Novem pensou, mas...
— ... Não, tem alguma coisa estranha.
Ela podia ouvir algumas vozes afobadas do outro lado da porta.
— ... Em uma hora dessas? M-mas ainda assim, podemos encontrar aventureiros para assumir dever de guarda em qualquer lugar. Eu vou tentar perguntar. Diga pro chefe também.
A porta se abriu, e o homem entrou. Ele parecia um pouco mais impaciente que antes, mas seu sorriso não havia se desfeito.
E o homem...
— Peço desculpas por antes. E nossas circunstâncias mudaram. Se aceitarem um pedido nosso, aceitaremos a questão anterior. É claro, também pagaremos uma recompensa considerável por isso.
Vendo a mudança de atitude do homem, Novem sorriu.
— Poderia entrar em detalhes?
E falou isso...