Volume 1
Capítulo 3
Depois de confirmar que a temperatura de Eric tinha voltado ao normal, Leon abriu a boca: — Você foi ver o Henry?
— Sim. Não queria que ele ficasse sozinho nessa tempestade. Estava tão frio que eu não consegui voltar.
— Henry tem estado solitário há tempos. — Eric ficou confuso, e o mordomo continuou: — Ele sempre gostou de passar tempo com os irmãos.
— Não tenho mais o direito de chamá-lo de irmão mais velho. Eu deixei ele ir sozinho. — murmurou o rapaz.
As costas do seu irmão, tão amável e confiável, pareciam estar diante dos seus olhos. A sua voz afetuosa, a mesma que respondeu a Ophelia quando tentou dissuadi-lo de ir, também estava clara na sua mente.
“Vou voltar logo, Ophelia. Tenho que me casar, no fim das contas.”
“Todos estão dizendo que é morte certa! As pessoas também falam sobre os Avery tentando matar o Duque de Cambridge! Por favor, Henry!”
"Não é bem assim. Meu bem, não confie nos outros, mas em mim. Eric, Ophelia e mamãe…”
“Ok, então volte logo.”
Mesmo com as palavras bruscas, ele devolveu um sorriso brilhante. Era uma pessoa boa e generosa. A sua lealdade à família real e ao reino era altíssima. E o que Avery deu a ele?
Ele voltou morto, mas mesmo assim não pôde descansar em paz. Só então Eric lembrou da noiva, com quem não fez nem mesmo contato visual no casamento.
— E… e a princesa Alyssa? — Como chamá-la de esposa lhe dava nojo, esse foi o título que escolheu para evitar aquilo.
Os olhos de Leon se encheram de raiva, e ele pausou por um momento. A família real Avery, o rei que forçou o seu mestre a se casar depois da morte do Duque anterior, e a princesa que veio para Cambridge, animada. Quando pensava neles, ele sentia vontade de vomitar.
— Ela está no quarto. — respondeu brevemente.
Eric sabia muito bem do ódio e da raiva que o mordomo tinha em relação à princesa. Mas não era só isso, não era? Era óbvio que nenhum dos que viviam na mansão daria as boas-vindas a ela.
Ainda assim, o jovem Duque deu as costas para isso. Ele mesmo não poderia recebê-la de braços abertos. A mulher que quase se tornou a sua cunhada, e que agora era a sua esposa. Uma mulher de sangue real. Por conta disso, Eric decidiu colocá-la no canto da sua mente, em um lugar de pouca importância, onde poderia esquecê-la.
Mas era difícil organizar as suas ideias agora, tão tarde. Mesmo assim, assentiu de leve enquanto dizia: — Você pode decidir como lidar com ela.
Com a resposta, ele apagou tudo sobre a Princesa Alyssa, incluindo o seu rosto tenso, que tremia levemente através do cabelo loiro claro brilhante.
— Quando a madame Juliana e Ophelia poderão visitar o cemitério? — Leon mudou de assunto.
— Bem… — Eric se levantou devagar. Gotas de água fluíram pelo seu corpo enrijecido, caindo como joias na água. Sentado parado por um tempo, disse em um sussurro: — Não sou eu que decido, é?
Ao contrário dele, que tinha se casado com a Princesa Alyssa e virado parte da família real, Madame Juliana e Ophelia eram apenas nobres — não tinham permissão para entrar sem o aval da família governante.
“Até parece que o rei vai permitir…”
Dependeria do que Eric devia à família real, ou de mover Henry, como o rapaz queria.
No entanto, devia haver uma boa razão para trazer o seu irmão de volta. Uma hora ou outra conseguiria tirá-lo da família real…
“Seu filho da…”
Ele estava ficando cansado daquela situação em que parecia não ter nada a seu favor. O homem acabou por suspirar novamente.
— O que você quis dizer com isso?
— Também não sei.
Leon fechou a boca com as palavras do seu mestre. Os ombros que pareciam pesados e a expressão cansada feriram o coração do velho mordomo, que sempre rezou pela felicidade dos meninos que viu crescer.
— Vou descer para o Sul em breve. Preciso terminar a negociação do minério de ferro que o meu irmão tentou começar.
Dinheiro era essencial quando se tinha que pedir algo à família real.
A família Avery era cheia de vaidade. Os seus membros valorizavam as aparências e, por isso, todos os dias, ingredientes caros e requintados e álcool da melhor qualidade eram enviados ao castelo. Mesmo a mesa tinha sido construída para parecer magnificente, e carregava toda a sua arrogância no dia da delegação.
O mesmo valia para a caixa de joias da Imperatriz, que mudava todos os dias.Dessa forma, a melhor forma de lidar com a família real era com dinheiro. Muito dinheiro.
— Uma negociação com minérios de ferro?
— Preciso que dê tudo certo. Diga a Pauline para me trazer todas as informações relacionadas a essa transação.
— Certo, entendido.
Eric organizou mentalmente o que tinha que ser feito. As ideias formavam uma rede complicada. Os seus olhos, mergulhados na escuridão, olharam para o jardim. Nos dias em que tinha muitas preocupações, costumava andar pela mata e pelas plantas ali. Ele gostava de fazer trabalho braçal para limpar a cabeça.
“Vai ser difícil fazer isso daqui pra frente…”
Tinha que trabalhar incessantemente para que pudesse se aproximar do seu objetivo.
Ainda assim, Alyssa não estava listada entre os seus problemas. Eric estava sobrecarregado com os pensamentos sobre o seu irmão e a família real, que tinha que pagar um preço justo pelos mal que fizeram O preço certo por destruir e esmagar as estrelas de Cambridge.
Os olhos do mais novo Duque brilharam de raiva.
***
Alyssa não pôde ver Eric. Nem por um dia, nem por um mês. Como estava sempre muito ocupado, ele nem chegava a entrar na mansão.
Ela era como um fantasma na casa dos Cambridge.
Não havia nada que pudesse fazer. As damas e os empregados faziam de conta que ouviam as palavras dela respeitosamente, mas, no fim, nada ia de acordo com a sua vontade. No entanto, não podia falar nada para eles, que estavam ocupados superando o luto pela perda de Henry e a raiva contra a família real. Foi graças a Sasha que Alyssa foi capaz de sobreviver.
Madame Juliana não saía do quarto, enquanto Ophelia apenas encarava Alyssa, usando todo tipo de palavreado ao se encontrarem..
“É disso que você gosta? Quando sua alteza entra, o meu irmão sai. Ah, o seu plano é expulsar os meus irmãos e matá-los um a um?”
Eventualmente, Alyssa também parou de sair do quarto.
— Milady… — Sasha explodiu em lágrimas.
A dama de companhia chorava rios todos os dias. Era Alyssa quem estava acostumada a fingir que estava tudo bem, mas ela não conseguia fazer o mesmo.
— Está tudo bem. Isso sempre acontece comigo.
— Como está tudo bem? Eu estou chateada! O que a nossa pobre senhoria fez de errado?
Alyssa esboçou um sorriso amargo.
— Acho que o meu erro foi nascer na família Avery…
— Não diga isso!
Sasha trançou o cabelo de Alyssa habilidosamente.
Quando a serva disse que seria melhor dar uma caminhada lá fora do que ficar trancada em casa,pensou em dar uma volta no jardim pela primeira vez. A mulher sempre gostou mais do Outono — uma linda estação. Era tudo vermelho e amarelo, e o céu azul.
Enquanto andava pisando nas folhas, Alyssa, que estava vazia, parecia cheia.
— Você vai se sentir melhor depois de uma caminhada. Se não quer se ligar a uma pessoa, crie uma ligação com o jardim. Os jardins de Cambridge são um dos mais bonitos do reino.
— É verdade? Então eu posso ver a Colônia do Cosmo? — perguntou ela com uma expressão tímida, como uma flor.
Sasha assentiu.
— Sim. O Sol está quente hoje, então, por favor, use um chapéu. Esse vestido ficará bom.
A dama deu um guarda-sol, que combinava com as roupas, para Alyssa, que sorriu depois de muito tempo. Após hesitar por um instante, Sasha guardou as costas da sua senhora, enquanto a princesa saía do quarto.
A atenção das pessoas na mansão dos Cambridge caiu em Alyssa, mas ninguém se interessou verdadeiramente no que ela fazia. E, no fim, era mais confortável assim.
Os empregados pareciam ocupados com alguma coisa, mas a dupla, alheia aos arredores, não ouviu qualquer notícias. Alyssa andava rápido, evitando os olhares críticos que caíam sobre ela.
A luz do sol brilhante caiu sobre a sua cabeça. Tudo no outono lhe era agradável, a luz solar, o vento, o cheiro...
Depois de um longo tempo, Alyssa inspirou fundo o ar do exterior e o espalhou por todo o seu corpo. Antes de descer, checou a direção do jardim. Parecia um longo caminho a percorrer, mas valeria a pena. E, respirando fundo uma segunda vez, pisou no jardim.
Ela se tornou uma noiva outonal — como sempre sonhou —, mas não ficou nada feliz. Quando era jovem, prometeu ser uma noiva feliz… Lembrando dessa tola promessa, Alyssa deu um sorriso amargo.
A jovem continuou sua caminhada pela floresta bem organizada. Não parecia difícil para o jardineiro podá-lo enquanto andava, era tão bem cuidado que se poderia andar descalço e não teria problemas.