Seria Melhor Ter Morrido Coreana

Tradução: Themis

Revisão: Apple


Volume 1

Capítulo 4

Estava tudo vazio. Alyssa finalmente se sentiu livre dos olhares que a culpavam o tempo todo, andando confortavelmente com o rosto relaxado.

Enquanto caminhava, observava pássaros, esquilos e coelhos. Embora apenas recebesse olhares cheios de ressentimento, quando olhava para esses animais puros, se sentia mais leve. Ela considerou que fez muito bem em seguir o conselho de Sasha e ir ao jardim.

Alyssa coçou a cabeça enquanto ponderava para que lado seria a Colônia dos Cosmos — a parte do jardim que mais ouvira falar.

De repente, alguns galhos podados caíram na frente da moça, que ergueu a cabeça, paralisada.

“Será… que tem mais alguém aqui...?”

Hmm, hmm. — Desconfiada, tossiu levemente, tentando chamar a atenção de quem quer que estivesse por perto.

Porém, não houve reação alguma; e Alyssa balançou a cabeça, com um coração trêmulo. A mulher viu um homem no alto da árvore com a cabeça apoiada no tronco, em cima de uma escada.

Ele estava usando botas pretas ásperas, calças igualmente escuras e uma camisa xadrez confortável. Seria o jardineiro?

O sujeito, que não tinha ideia de como arregaçar as mangas e espiar através da árvore, desceu depois de um longo período de tempo. Ele tinha um cabelo loiro, como se soprado pelo mar, e olhos claros que lembravam o céu outonal. A aparência dele — completada pelo nariz afiado e pelo queixo bem definido — era bela demais para ser a de um mero jardineiro.

Dobrando a escada, ele deu sinais de que partiria logo.

— Licença… — Alyssa o chamou, fazendo-o virar a cabeça na sua direção. — Você trabalha aqui?

O homem assentiu levemente. Considerando a naturalidade dos seus movimentos, ele devia conhecer o jardim melhor do que a moça.

Ah… Então, você sabe onde fica a Colônia dos Cosmos? É a minha primeira vez aqui.

Os olhos dos dois se encontraram. As íris de um azul profundo do indivíduo pareciam ondular de forma leve, quase imperceptível. Alguns instantes depois, os seus lábios vermelhos abriram: — Os cosmos?

Ele tinha uma voz profunda e envolvente. Alyssa assentiu.

— Sim, eu quero vê-los.

— Por ali. — O homem deu uma resposta curta e apontou para uma direção com a mão.

A moça olhou para a mão estendida e respondeu com um sorriso brilhante.

— Obrigada. Algum deles ainda está para florescer? Acho que vi há um mês…

— Tenho certeza que estão desabrochando.

Uau, então posso vê-los. Obrigada.

Alyssa passou por ele lentamente. Por um instante, os seus olhares se prenderam, mas foi só isso. Os dois seguiriam caminhos diferentes, de qualquer forma.

Ela andou pela mata e se sentiu melhor, como Sasha tinha dito.

“Que tipo de homem ele é para ter deixado esse jardim tão bonito?”

Passando por Alyssa, Eric escovou o cabelo com os dedos. Depois de olhar para trás por um momento, voltou a seguir seu caminho.

— Princesa Alyssa...?

Com certeza era ela. Cabelo loiro claro e olhos roxos. Pela branca e pálida. Era de quem a fofoqueira Ophelia vinha falando horrores.

Ele franziu o cenho: — Por que raios você está aqui?

Esse não era um lugar para uma nobre filha real. Nem mesmo Ophelia ligava para essa floresta e madame Juliana preferia conjuntos de chá a essas plantas, então esse jardim era responsabilidade de Eric, que mal conseguia acreditar que uma garota da realeza tinha decidido pisar ali. Se sentiu enojado.

Ele gostava de esfriar a cabeça com jardinagem, sozinho.

Desde a infância, frequentava o local quando não tinha ninguém por perto. Agora, costumava podar e observar os ninhos dos pássaros que viviam por ali. Também, removia plantas perigosas ou venenosas com frequência, e colhia as frutas comestíveis, guardando-as em sacolas.

Só depois de fazer tantas coisas que conseguia esquecer todos os problemas do mundo. Tudo para, então, encontrar a princesa. Uma jovem garota que de forma inocente  o perguntou sobre a Colônia dos Cosmos.

Ela parecia solitária demais para ele ignorar a sua presença.

“Bem, não é nada demais dar um pouco da floresta para ela…” Eric suspirou.

De qualquer forma, não estaria por perto por um tempo. Não havia mais um Henry que voltava do campo de batalha para tomar conta dos negócios que a mãe estava tocando por um tempo. Eric deveria assumir todas as responsabilidades agora.

No mês que se passou, esteve extremamente ocupado, trabalhando no que o irmão deixou para trás.

Esse era um lugar que ele nunca imaginou ter para si, então agora estava muito ocupado ajustando e aprendendo a lidar com tudo. Então, ao invés de voltar para a mansão, ele estava ficando em um hotel.

Não só isso, Eric tinha que sair em breve para obter os direitos sobre os negócios da mina de carvão ao sul no lugar de Henry, e estava aproveitando os dias para se preparar para ir para lá. Tinha que agradar os investidores que queriam sair, a fim de conseguir fundos e contratar trabalhadores confiáveis.

Pauline foi secretária de Henry e agora era de Eric, ajudando-o tanto quanto possível com tudo, desde assinatura de contratos, até listas de necessidades, e mais. Ela era fundamental.

Ele tinha toneladas de trabalho para resolver, e Pauline ajudava com apenas parte disso. Fora isso, ele tinha que cuidar da saúde da sua mãe e do aniversário de Ophélia. Além de…

Ah.”

Somente agora a pessoa que ele esqueceu — consciente ou inconscientemente — voltou à sua mente.

“Eu nunca pensei na princesa.”

Eric se sentiu meio culpado, mas ele estava casado…

No fim, a princesa Alyssa também foi jogada nos ombros dele. Gostando ou não, ela era alguém que também precisava de cuidados. Afinal, era uma filha preciosa de Avery.

Se a princesa abrisse a boca para a sua família sobre algum tratamento injusto que tenha recebido em Cambridge…

Hahaha. Nada está funcionando.”

Eric tirou as luvas, enfiou-as no seu bolso de trás e passou a mão no rosto. Antes de sair, ele precisava instruir Leon a cuidar da princesa.

Será que ela sabia que ele estava indo para o sul?

“Será que eu preciso mencionar isso?”

Não, ele não devia. Era uma coisa que precisava ser dita por alguém na mansão de qualquer forma. Eric ainda não queria encará-la. Quando ficava diante dela, não conseguia não odiar a princesa. Ele temia lançar toda a sua raiva contra a família real nela ao invés de soltar contra os verdadeiros culpados. Tudo porque Henry ainda era uma ferida aberta no seu peito.

Quando chegou a hora de voltar para onde veio, ele parou.

— Com licença!

Eric parou de novo ao ouvir a voz o chamando. Alyssa agarrou a barra da sua camisa enquanto ofegava. O rapaz soltou a sua roupa, franzindo a testa.

— Por que você fez isso?

Ah, bem. — A garota girou os olhos e abriu os lábios. — Uma vez li um livro que… animais como lobos e raposas vivem em florestas como essa. Talvez…

— Esse tipo de bicho não vive aqui. Pode ficar tranquila.

Ah, que sorte. Essa é a primeira vez que saio sozinha. — disse.

Essa era a primeira vez que alguém nessa mansão tinha sido hospitaleiro com ela. Então, Alissa hesitou sobre o que falar, já que não queria deixar o homem ir assim.

Eric, que estava olhando para o pequeno rosto da princesa, franziu o cenho.

“Ah.”

A figura de Henry se sobrepôs à de Alyssa.

Isso era esperado. Eric ainda era um humano tolo. Alyssa era da família real. Uma corrente inquebrável ligou o seu irmão a ela, então ele sentia como se o fantasma de Henry vagasse ao redor da princesa. Para Eric, ela era o pecado original da família real.

Por isso, a sua face ficou fria e rígida.

Ele não queria mais falar com Alyssa. Por sorte, ela parecia ainda não ter percebido a identidade dele, então não seria capaz de falar bobagens para a família real.

Eric moveu suas pernas e apressou o passo como se estivesse sendo perseguido.

Ah…

Alyssa deixou o braço cair enquanto olhava para Eric, que avançava mais a cada movimento.

Ela estava tão animada. Uma pessoa de quem ela gostava na mansão…

Alyssa mexeu na terra com a ponta do sapato. O seu coração, que tinha florescido, pareceu murchar e ir embora. Ela não conseguiu desviar os seus olhos das costas do homem por um longo tempo.

Mas logo ela ergueu os seus ombros caídos. Estava tudo bem. Se andasse mais um pouco, chegaria na Colônia dos Cosmos, e Sasha ainda a esperava voltar. E sempre foram só as duas desde o começo. Sasha ficaria com ela, então ela poderia sobreviver.



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