Seria Melhor Ter Morrido Coreana

Tradução: Themis

Revisão: Apple


Volume 1

Capítulo 2

— Eric!

— Irmão? O que te traz aqui tão cedo?

Foi Henry quem chamou por Eric — que estava deitado no chão lendo um livro — enquanto passava pela trilha formada pelas árvores. O mais velho desceu do cavalo e envolveu os ombros do mais novo.

Foi um verão muito quente, quando tinha 15 anos de idade.

Era uma memória daquele dia.

Henry abraçou o garotinho e deu um sorriso brilhante.

— O que está acontecendo? Alguma coisa boa?

— Boa? Para de fingir! Ouvi que você foi o melhor colocado na Academia! Os meus colegas estão feito doidos agora. Eles ficam falando que Henry, um ignorante que só sabe balançar a espada, tem o irmão mais inteligente do mundo!

Eric riu. Henry, um ignorante? Era pela honra de Cambridge, não porque era ignorante. Sem ninguém saber, ele sempre se rebaixava e elogiava Eric sem parar.

— É tranquilizador ter você, Eric! Pode me pedir o que quiser. Esse seu irmão vai fazer qualquer coisa por você!

O sorriso largo de Henry fez o mais novo começar a rir.

— Para de se exibir.

Ele era uma pessoa amigável e calorosa.

Henry foi um irmão incrível para Eric. Sempre agia como um forte suporte para todos os momentos, e era a estrela dos Cambridge.

Mas essa estrela caiu. E Avery, que apagou essa estrela, certamente pagaria o preço por tais atos. Não importava como.

Eric estava decidido. A terra entrando debaixo das suas unhas despertou a sua mente.

— Irmão, eu vou te tirar daqui

Henry não deveria estar ali.

Eric lembrou do pedido que fez, para levar o corpo até o jardim onde os ancestrais dos Cambridge descansavam.

— Nunca te deixarei sozinho aqui.

O choque da morte de Henry era tão triste e tenso que Eric não conseguiu sair por toda a noite. Nem o ar frio do amanhecer foi capaz de pará-lo. Ele ficou ao lado do seu irmão como uma rocha firme, e contou as histórias que não pôde contar antes.

Infelizmente, nesse momento, ele não pensou na Princesa Alyssa, porque estava lutando para superar a própria tragédia.

 

***

 

Sasha, a dama de companhia que veio da capital com Alyssa, era a única ao lado da princesa. Olhares maldosos eram sentidos em toda parte na mansão Cambridge. Pouco depois de chegar, Alyssa notou que as pessoas ali não gostavam dela.

No começo da manhã, Sasha foi a única que se apresentou para cuidar da moça, que acordou sozinha.

— Dormiu bem? — A empregada falou afetuosamente, sabia bem que Alyssa não pregou os olhos, esperando por Eric, mas não encontrou outra coisa para dizer durante o silêncio.

— Bem… sim. — Alyssa respondeu com uma óbvia mentira, piscando os olhos vermelhos com calma.

Sasha a olhou com um rosto triste e removeu a maquiagem da sua pele pálida. Em seguida, a despiu no lugar do noivo.

Não entendia o porquê, mas o som do tecido era devastador.

— Milady…

— Você comeu?

A manhã dos atendentes começava bem mais cedo.

A mulher assentiu com um suspiro triste: — Sim.

— As pessoas te tratam bem aqui?

— Sim…

Sasha estava ciente dos olhares frios lançados em sua direção. Mas, para acalmar a sua senhora, escolheu também mentir. Não queria chatear Alyssa, que já tinha a cabeça baixa e os ombros caídos.

— Entendo.

Quando Alyssa pareceu aceitar a resposta e se deixou ser enganada pelas palavras da ajudante, a porta do quarto se abriu. As senhoritas que entraram eram aquelas que trabalhavam há tempos na mansão Cambridge. Dessa forma, deveriam saber etiqueta. Ainda assim, as empregadas que entraram não cumprimentaram Alyssa, mas começaram a arrumar o quarto.

— O que vocês estão fazendo? Têm que cumprimentar Milady! — Sasha reclamou.

— Dá licença? — bufou uma delas.

A empregada que removia os lençóis da cama em que Alyssa estava sentada suspirou, abaixando as mãos: — A cortesia deveria ter começado de Sua Alteza, a Princesa, antes. Você não mostrou respeito pelo falecido.

— Mas isso não é culpa…!

— É o suficiente, Sasha. — Alyssa interrompeu a companheira. — Continue com o seu trabalho. Eu estou bem.

— Sua Alteza parece ter a mente e o corpo tranquilos… Nosso duque passou a noite inteira diante do túmulo do irmão.

As pupilas de Alyssa dilataram.

Depois que o casamento no dia anterior terminou, ele desapareceu às pressas. Mesmo casada, ela não sabia o que se passava no coração do seu marido, que permaneceu em pé diante do túmulo do seu irmão por tantas horas.

Alyssa suspirou.

— Ele ainda está lá?

A empregada lançou um olhar desdenhoso para a moça.

— Agora você ficou curiosa. Bem, o Duque vai voltar logo. Ah, por que isso não tá indo? — murmurou irritantemente, enquanto enrolava a roupa de cama, e, logo depois, desapareceu pela porta aberta.

Alyssa deu uma risada sem graça.

Ela não podia acreditar. Seria a primeira vez que veria o rosto do seu marido.

Por ser uma filha ilegítima, nunca pôde fazer parte do mundo social. Quando nasceu, a imperatriz insistiu que, somente através de uma intensa educação em etiqueta, ela seria capaz de esconder o seu sangue cigano, por isso viveu sob controle estrito até agora.

O olhar transparente de Alyssa examinou os rostos das empregadas. Como no castelo, parecia que ninguém estava do seu lado aqui.

Sasha encarou as colegas de trabalho e abraçou os ombros da sua senhora.

— Milady não sabia. Nem eu sabia para onde o duque foi, como você saberia?

Alyssa mordeu os lábios.

O melhor seria os dois terem ido juntos? Era mesmo um lugar onde deveria ir, com o sangue Avery nas suas veias? Ela merecia prestar respeito a Henry, que morreu tão novo?

Alyssa se ergueu com dificuldade, mas foi ajudada por Sasha.

Olhares gelados as seguiram enquanto andavam rumo ao banheiro.

Alyssa e Sasha também eram estranhas ali.

A primeira sequer conseguiu comer confortavelmente.

Na sala de jantar, escurecida pelas nuvens acinzentadas, nada além do som dos pratos e talheres era ouvido.

Alyssa continuou a comer. Sob olhares cheios de malícia e hostilidade, mal conseguia mastigar e engolir a comida. Especialmente o olhar de Ophelia, a única jovem senhorita dos Cambridge, parecia perfurar a face da recém-chegada.

— Posso comer também? O Eric agora…

— Ophelia!

— O que foi, mãe? Falei algo que não devia? Por que nós…

— Ophelia, pare.

O rosto da garota ficou vermelho. Ela balançou os pés com um ar de quem ia começar a chorar a qualquer momento. Após lançar um olhar severo para a filha, a madame Juliana virou-se com um sorriso para a sua nora. No entanto, era claro que aquele sorriso não chegava aos olhos, o que não passou despercebido por Alyssa, que notou a falsidade do sorriso.

— Posso te chamar de Alyssa agora? Somos uma família.

— Sim, mãe.

Ha, ela disse “mãe”. — Ophelia resmungou, antes de bater a colher na mesa. Abaixando as mãos com força, se levantou e deixou a sala de jantar, como se não quisesse mais ficar no mesmo ambiente que a cunhada.

Madame Juliana não conseguiu parar o avanço da menina, por isso esboçou um sorriso estranho.

— Vai ficar tudo bem. Ophelia seguia Henry por aí com frequência, vivia dizendo que se casaria com o irmão…

— Eu…

— Sei que não é culpa sua. — Em contradição com as palavras ditas, a mais velha sorria como uma boneca de papel sem vida, sem um toque sequer de calor.

— Obrigada, mãe. Estou bem. De verdade. — Isso era a única coisa que ela podia dizer agora. Não era culpa de Alyssa, mas com certeza era culpa da família real Avery, da qual ela fazia parte. 

A realeza não seria destruída por esse erro, mas Cambridge ficou devastada.

Henry venceu a Guerra de Trinta Anos dos Alpes e ergueu a reputação dos Cambridge até o céu. O rei, que tinha inveja dele, ficou maravilhado quando soube da sua morte.

Alyssa não pôde ignorar a raiva deles, afinal, tinha visto o rei rindo com os próprios olhos.

“Acho que também sou uma pecadora.”

Esse casamento, que ela pensou ser um novo começo, poderia ser mais um inferno do que uma estrada esburacada.

O inferno é como uma prisão onde você deve viver como pecador pelo resto da vida.

 

***

 

Eric voltou para casa, tremendo de frio, pouco antes do meio-dia. Ele não pegou um resfriado por causa da sua imunidade e força física, mas, por garantia, Leon — um mordomo que estava em Cambridge mesmo antes dele nascer — o recomendou um banho quente.

O recém-casado exalou uma longa respiração, apoiando-se na mão do mordomo que, gentilmente, massageava o seu pescoço. A frieza que tinha se acumulado no seu corpo parecia ir embora, pouco a pouco.

 



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