Seria Melhor Ter Morrido Coreana

Tradução: Themis

Revisão: Apple


Volume 1

Capítulo 1

O casamento de Eric Cambridge e Alyssa Avery foi uma grande tragédia problemática para o reino de Beaver e para os nobres que ali residiam.

Muitos assistiram a cerimônia, e os seus olhos seguiam a noiva e o noivo, que entraram de mãos dadas, lado a lado.

— Faz quanto tempo que Henry Cambridge morreu? Uma semana?

— O pior é que a Princesa Alyssa era a noiva dele.

— O Lorde Eric pirou? Está formando uma aliança com a família real Avery, que levou o seu irmão à morte? Será que foi forçado a ficar com a mulher que quase virou a sua cunhada…?

Shh. Dizem que a princesa e o Sir Henry ainda não tinham se encontrado cara a cara.

O casal passou pelas senhoras, que fecharam bem as bocas, mas Alyssa já tinha escutado tudo que falavam e mais. Ela agarrou a mão do noivo, sem saber se isso o confortaria.

Os olhos vermelhos e inchados de Eric se destacavam na sua figura. O coração da moça errou uma batida e afundou. Não era culpa dela. Não foi por sua culpa que Henry Cambridge morreu…

“Ele também me culpa?...” Alyssa mordeu os lábios.

O noivo não olhou para ela nem uma vez durante todo o casamento. Por isso, a jovem apenas teve a visão do seu perfil lateral, ou, graças ao véu que usava, apenas da nuca dele e a sua boca rígida.

Alyssa olhou para o ombro robusto de Eric. Enquanto a cerimônia corria, não conseguia ver nada do rosto do noivo além dos olhos vermelhos.

Ainda assim, era um casamento, e ela estava animada. Alyssa sorriu amargamente.

 

***

 

Henry, que lutou na guerra sob ordens da Família Real Avery, retornou com uma grande vitória. As pessoas o louvaram como herói, e ele se tornou a figura central da “Guerra de Trinta Anos dos Alpes''. O rei ponderou que recompensa daria para ele.

A família de Henry Cambridge tinha mais riquezas do que a família real, além de vastos territórios. Sob a jurisdição dos Cambridge, as plantações geravam enormes lucros todo ano, e nunca faltavam grãos em suas terras férteis.

A riqueza da família nunca acabava, e isso resultou em poder. Os nobres da rua Cambridge, com fama e riqueza antigas, se curvavam para eles. Por isso a família mantinha a posição de chefe do conselho por tantos anos. Não seria errado dizer que os Cambridge logo mudariam o reino.

Eles também não perdiam no apoio popular. Não davam as costas para o sofrimento dos seus, e eram respeitados como nobres honrados. Por isso o rei, que estava perdendo esse apoio, sentia inveja dos Cambridge.

Por conta disso, o monarca decidiu que era necessário pará-los antes que se tornassem ainda mais poderosos. E, então, ordenou o casamento entre o Duque Henry e a Princesa Alyssa.

Com um cabelo loiro claro que lembrava o da sua mãe, e misteriosos olhos arroxeados, Alyssa era uma pedra no sapato da corte real. Isso porque a sua mãe era uma cigana de quem todos tinham vergonha de falar. As pessoas consideravam a princesa uma desgraça real.

No entanto, ela também era uma pessoa adequada para ser sacrificada. Alyssa foi a responsável por presentear Henry com a assustadora algema de ser o marido da princesa.

Porém, sob ordens do rei, o herói, que estava a caminho da corte três meses antes do casamento, voltou como um cadáver.

Henry e os seus cavaleiros avisaram que não havia necessidade de perseguir o inimigo que recuava, e que fazer isso mancharia a vitória. No entanto, o rei não quis ouvi-los. Aqueles que não receberam as ordens reais para retornar, eventualmente, voltaram mortos.

As pessoas notavam vagamente o medo que o rei tinha da família Cambridge, mas o governante tomava cuidado para não expor a verdade de forma explícita. 

De qualquer forma, Alyssa se tornou viúva uma semana antes do seu casamento.

Como Henry era um herói de guerra, foi enterrado no cemitério real sob as ordens do rei.

Entretanto, aqueles que poderiam ser enterrados ali eram apenas aqueles com status real. Então, o monarca pegou os restos mortais de Henry e os usou como uma corrente para enlaçar Eric, irmão de Henry, a sua nova presa.

Todos os nobres sabiam sobre o comportamento desavergonhado do rei. Longe da corte, as pessoas fofocavam e apontavam o homem como “assassino de heróis”. Além disso, era dito que ele era um “ladrão” que roubou o corpo do herói.

A honra de Avery caiu por terra.

“Vai ficar tudo bem.”

Ninguém queria que Eric fizesse Alyssa parecer boa. E ela também não pensava que viveria para isso. A única coisa que fazia era contar o tempo, enquanto a sua vida ficava cada vez mais monótona. Era isso.

A vontade de Alyssa nunca foi feita. Mesmo que desobedecesse, o rei e a rainha não levantariam um dedo. Ao contrário, a desobediência só lhe causaria mais dor.

“Já que nasceu com sangue inferior, você deve ser bem disciplinada”

O livro de bolso de uma dama, que tinha sido copiado de novo e de novo em sua mente, e marcas de chicote que nunca cicatrizaram, ensinaram Alyssa as virtudes do silêncio e da obediência. Ela, uma princesa que levava uma vida mais dura que a de qualquer um, tinha que se proteger em silêncio; para evitar apanhar, teve que aprender a obedecer.

E era o mesmo agora.

Hoje, menos de uma semana depois da morte de Henry, as folhas ficaram vermelhas, comovendo os corações das pessoas. Alyssa se tornou uma noiva do outono.

Ela sorriu amargamente enquanto segurava o buquê amassado.

Foi deixada sozinha no quarto de núpcias, e tudo o que tinha era esse pequeno buquê.

Um outono frio, com uma brisa gélida, começou na mansão Cambridge. A estação também chegou na maior mansão dos arredores das ilhas, escolhida à mão pelo próprio rei para Henry e Alyssa; ampla o suficiente para ser chamada de uma pequena floresta.

O Jardim Argenti também começou a se pintar de escarlate. Esquilos com bolotas atravessavam os troncos.

Era um outono melhor e mais doce que nunca.

A movimentação da natureza era refletida pelo sol da manhã. Ela podia ver dessa distância.

Era uma bela vista.

Seria um desperdício ficar deprimida ali.

— Está tudo bem, Alyssa, você pode viver bem. — murmurou com uma voz fraca.

Mesmo quando o sol da manhã se ergueu e a luz do dia apareceu, Eric não apareceu.

Foi apenas mais tarde que ela ouviu notícias dele.

 

***

 

Eric tinha ido embora.

Tão logo trocou as alianças com a noiva, ele partiu em um cavalo imprudentemente, puxando os seus grilhões.

No Reino de Beaver, todos sabiam que Eric Cambridge tinha se casado hoje com a princesa Avery. Seja por compaixão, ou por ele ser o marido da princesa, ninguém o parou.

— É Eric Cambridge. Abram a porta.

Foi o mesmo no último portão. O portão de ferro do cemitério real, que nunca se movia, a não ser sob o nome do rei, foi aberto.

Eric entrou no lugar depois de deixar o seu cavalo com o coveiro. Folhas caídas, sopradas pela brisa do outono, voavam pelo ar com um leve som de farfalhar.

Essa não podia ser uma visão menos solitária.

O olhar de Eric passeou em busca da lápide mais limpa e menos notável. Um buquê lilás fresco estava na sua frente.

O rei disse que honraria o herói dando a ele um funeral no cemitério real. No entanto, o túmulo do seu irmão Henry era mais desolado do que qualquer outro.

O mármore que cobria o chão não tinha uma única inscrição, nem mesmo o escudo nacional, apenas o nome do cavaleiro. Tão solitário quanto um túmulo abandonado.

“O céu não é assustador, Avery sim…!”

O rei, que tirou a vida de Henry e manteve os seus restos reféns, incitou Eric a se casar com a princesa.

Que opções ele tinha? Era o corpo do seu irmão, que morreu no campo de batalha sob a ordem direta do rei, e Eric não pôde vê-lo nem mesmo uma última vez.

O monarca riu maldosamente e sussurrou: — A escolha é sua, Sir Eric. É um problema que será resolvido se você herdar o ducado e se casar com Alyssa. Tem algum motivo para correr em círculos? Isso não será ruim pra você também. — A corrente invisível que amarrava o seu pescoço estava clara. O rei acrescentou, olhando para Eric como uma cobra: — Também estou sofrendo muito com a morte de Henry. Por isso estou te dando essa oportunidade rara.

Condolências e oportunidades. Eram esses os termos certos para esse caso? Eric riu. Os seus dedos, fundos na terra, estavam rígidos.

— Foda-se, Avery.

Se fosse capaz, ele iria matar o rei, responsável por toda essa tragédia terrível. Queria ver o governante se arrastando pelo chão e pagando pelos seus erros diante da lápide do seu irmão. O seu coração pareceu se torcer, enquanto pensava no seu familiar que morreu injustamente e sozinho.



Comentários