Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 16: Espírito do mais forte.

Dia 02, 5 dias depois no mundo real. (Quase 3 anos depois no entre-mundos)

Na ponta de uma montanha, Louis se mantinha sentado, equilibrando-se de olhos fechados em sinal de meditação. O vento passava por entre seus longos cabelos, enquanto as árvores de cerejeiras continuavam a despachar suas pequenas pétalas rosas ao vento.

No pé daquela montanha, Morya o observava atentamente, carregando consigo um livro que parecia ter o triplo do tamanho de qualquer outro já visto. Ele andava em círculos enquanto lia, mas sem perder de vista seu especial visitante. Depois de algumas passadas de páginas, seus olhos brilharam, parecia ter desvendado o maior dos mistérios.

— LOUIS! — sua voz ecoou por todo aquele vale. — Desça daí imediatamente.

Aquele grito, assim como a risada de Morya, eram igualmente estridentes. Ao alcançarem os ouvidos de Louis, ele arqueou as sobrancelhas e franziu a testa. No segundo seguinte, desapareceu da ponta da montanha em um borrão e, como mágica, reapareceu atrás de Morya, sem fazer nenhum som.

— A prática leva a perfeição, ein? — Deu um leve sorriso, fitando Louis. — Você dominou boa parte das técnicas bases, agora podemos iniciar as técnicas envolvendo espada.

Louis acenou com a cabeça e bateu seu punho contra a mão aberta em sinal de reverência. Morya seguiu em direção ao templo, e Louis o acompanhou. Os dois andavam a passos calmos, quase silenciosos. Ao passarem pela grande escadaria e atravessarem a porta principal, foram engolidos pela imensidão de uma centena de prateleiras que se erguiam entre as paredes, repletas de antigos e misteriosos volumes.

No final daquele imenso templo, encontrava-se uma pedra roxa, flutuando serenamente acima de uma pedra. Ele emitia um brilho suave, iluminado também por uma abertura no teto que deixava entrar a luz natural, criando um efeito etéreo.

Os dois pararam em frente a ele e o encararam com seriedade.

— Alguns dos livros contidos aqui, juntamente com este minerio, foram o que Nihilo deixou para trás. — Deu um passo à frente e, com delicadeza, segurou a pedra com as duas mãos. — E agora, ele será a base de sua espada.

Louis abria um sorriso discreto e enfim decidiu soltar suas palavras.

— E quem vai fazê-la? Você é ferreiro?

— Achei que estava óbvio — O estendeu — será você.

— Que?! Eu não tenho ideia de como fazer isso.

— Pare de choramingar e me siga — Jogou a pedra em direção a ele e se dirigiu para fora do templo.

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Do lado da casa, onde costumam ficar, havia uma pequena extensão a qual escondia uma pequena, mas completa forja. Morya deu o primeiro passo e pegou um martelo acima de uma mesa de madeira ao lado da forja.

— Este — estendeu o martelo — será seu principal companheiro a partir de hoje.

— Como você espera que eu faça uma espada? — pegou o martelo com sua outra mão. — Isso nunca fez parte da matéria base na minha escola no exército.

— Esse — Apontou um pequeno livro empoeirado abaixo da mesa — livro pode lhe ajudar. Você tem 2 ticks para fazê-la, caso não consiga darei por encerrado seu treino. — Começou a andar novamente em direção ao templo — Boa sorte Bellmore.

“Quanto tempo é 2 ticks mesmo?...”, pensou enquanto coçava a cabeça tentando se lembrar. 

— 44 dias para nós! — gritou Morya já na escadaria do templo.

Louis colocou a pedra e o martelo levemente sobre a mesa. Em seguida, agachou-se rapidamente e pegou o livro totalmente empoeirado, colocando-o sobre a mesa. Passou a mão levemente por cima dele, retirando a camada de pó, e o abriu, soprando as demais poeiras que estavam dentro dele.

O livro era estranhamente curto; na verdade, possuía apenas algumas páginas, nas quais havia algumas ilustrações seguidas de diversas instruções, uma abaixo da outra.

Ainda com o livro em mãos, Louis se sentou ao lado da forja e começou a ler instrução por instrução. Levou alguns minutos, mas quando alcançou o fim do livro, já havia se esquecido de boa parte das instruções. Mesmo assim, ele persistiu, dedicando horas e horas apenas à leitura daquele livro. Depois de mais algum tempo, mal teve chance de retornar à sua cama; dormiu ali mesmo, sentado, com o livro em mãos.

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Pela manhã, Louis ainda se mantinha na mesma posição, dormindo. Nem mesmo o forte balançar do vento que passava entre seus cabelos e roupas o fazia largar aquele livro. Alguns minutos depois, Morya se aproximou com as mãos nas costas, parando atrás dele e o encarando de cima.

Morya dirigiu-se até a mesa próxima e pegou o martelo com cabo de madeira e ponta de ferro maciça. Posicionou-o acima da cabeça de Louis, levou o braço para trás e lançou o martelo em sua direção. No entanto, antes que o alcançasse, Louis o parou com apenas um dedo da mão esquerda.

— Detecção das sombras. — Forçando aquele dedo, ele empurrou o martelo para fora da mão de Morya. — Já havia sentido sua presença desde que saiu do templo. — Sorriu.

— Oh — se virou — então continue. 

Assim que Louis se levantou, voltou a repassar as páginas rapidamente. Dessa vez, ele se atentou aos pontos-chave nas descrições minuciosas. Após alguns minutos de leitura cuidadosa, decidiu iniciar o trabalho.

Pegou o minério e o mediu, lembrando-se das descrições: "O material ideal deve ter entre 60 a 100 cm de comprimento.” Em seguida se dirigiu a forja totalmente revestida, que por sua surpresa, já estava acesa.

Com o material em mãos, preparou-se para jogá-lo na forja. No entanto, antes que o fizesse, um flash de memórias percorreu todo o seu cérebro, fazendo-o soltar de repente, assustado. Quando olhou para o minério à sua frente, percebeu que ele estava pulsando intensamente. Com as duas mãos, preparou-se para segurá-lo novamente. Estendeu os braços e, em um rápido movimento, agarrou-o. No segundo seguinte, um flash roxo de luz o lançou a 30 metros de distância.

“Que porra é essa?” , pensou se levantando lentamente.

— Eu consigo sentir… Aquela coisa emana energia assim como um ser vivo — pensou em voz alta.

Louis voltou a se aproximar lentamente, observando o material brilhar cada vez mais intensamente. Quando colocou os pés novamente na estrutura de pedra que cercava aquela parte da casa, viu um espectro se formar acima da rocha à sua frente.

— Você…Quem é você? — falava o espectro de braços cruzados.

Ele possuía um grande cabelo e barba, seu corpo era musculoso e era cercado por diversas tatuagens, seguidas por uma maior em símbolo de dragão.

— E que droga é você?! Até uma pedra tem vida nesse lugar? — se inclinava para frente o encarando.

— Eu esperava algum descendente legítimo… Não um qualquer.

— Olha bem como você fala, seu monte de nada! — cruzou os braços. — Agora me deixe finalizar o que comecei — disse, avançando em sua direção.

— Pare! — Apontou com o braço esquerdo — o que diabos você quer fazer?! Se você me colocar nesse fogo, minha alma vai enfim definhar por completo.

Louis olhava para cima suspirando lentamente e, em seguida, voltou a lhe encarar.

— Olha… Preciso terminar essa espada ou o Morya vai jogar para fora daqui.

— Morya... — colocou a mão sobre a cabeça. — MORYA!! — soltou um grito tão alto que pôde ser escutado até de dentro do templo. — Eu estive apagado por tanto tempo... Então ele finalmente achou! Você é quem herdará o poder da família Ken’jin. Diga seu nome criança.

“Espera… Então ele é…” 

— Sim, Louis. Bem-vindo de volta, 1 líder, Nihilo Ken’jin — Morya apareceu ao lado de Louis como se tivesse se teleportado.

Um frio percorreu todo o corpo de Louis, suas mãos formigavam, enquanto seu coração parecia bater cada vez mais rápido. Ele encarou Morya novamente, agora com o rosto fechado e a respiração lenta.

— Por que você não me contou... que ele virou uma pedra? — sussurrou em sua direção..

— Eu posso ouvir. Não virei uma pedra, apenas transferi minha alma para esse minério. 

— Por qual motivo alguém faria isso?

— Foi o único meio que encontrei para garantir que minha arte seria passada adiante — desviou o olhar para cima. — Sabe... muitos morreram para que ela sobrevivesse. Infelizmente, este mundo — a pedra começou a brilhar intensamente — nos obriga a se tornar monstros em prol de um objetivo.

Em um rápido movimento, Nihilo estendeu a palma esquerda da mão e lançou Louis para trás com uma aura roxa.

— Prove para mim, Louis. — O espectro de Nihilo saiu quase que totalmente da pedra, ainda ligado a ela por um fio roxo, e tocou o chão. — Essa sensação... que nostalgia! Enfrente aquele que derrubou todas as grandes casas sozinho.

“Ele é com certeza a pessoa mais forte que já vi”, pensou, enquanto limpava resto de sangue em sua boca.

Louis o encarava seriamente. Num piscar de olhos, Nihilo desapareceu. Antes que Louis pudesse pensar em onde ele estaria, Nihilo surgiu à sua direita e desferiu um soco rápido. O instinto de Louis fez com que ele levantasse o braço para defender o ataque, mas o impacto foi tão poderoso que ele foi lançado a 400 metros de distância, rasgando o ar com um estrondo. Louis bateu contra o solo, dispersando a fina camada de água ao redor, deixando uma trilha de destruição enquanto rolava.

Mesmo com intensa dor, ele se levantou rapidamente e olhou para onde Nihilo deveria estar, porém já havia sumido novamente.

— Muito lento. — Nihilo reapareceu atrás de Louis, desta vez preparando um chute poderoso.

“Nem pensar”, pensou.

Ele pulou entre a perna de Nihilo e, girando rapidamente no chão, desferiu um chute poderoso em seu peito, lançando-o vários metros para trás. O impacto do golpe ecoou pelo ambiente, enquanto o Ken’jin recuperava rapidamente o equilíbrio.

— Hum… — Levou a mão ao queixo em sinal de pensamento — use alguma das 10 técnicas.

— Isso não será possível Ken’jin san — falou Morya se aproximando — eu ainda não o mostrei nenhuma delas.

Ignorando completamente suas vozes, Louis manteve os olhos fechados. No segundo seguinte, ele os abriu abruptamente. Levantou a mão direita e olhou diretamente para Morya.

— Você não fez isso… — Morya franziu a testa.

Ainda com sua mão direita, ele fez um simbolo triangular e agora fitando Nihilo a sua frente, disse:

— Pilar, guardião, 1 técnica: Fortaleza infinita.

Nihilo sorria enquanto esperava de braços cruzados.

Todo o ambiente ao redor, em um raio de 112 metros, foi coberto por uma energia avermelhada. Atrás de Louis, um castelo da mesma cor começou a se materializar, suas torres e muralhas surgindo como se fossem esculpidas pelo próprio ar. No segundo seguinte, diversos guardas apareceram de joelhos, formando uma fileira atrás dele.

— Haha! Ainda não está totalmente refinado, mas já é um começo. Agora me ataque para matar. — Estufou o peito de braços abertos.

O bellmore estendeu o braço e uma espada vermelha surgiu em sua mão.

— Guardas! Matem aquele homem — apontou.

Todos se levantaram e posicionaram suas armas. No segundo seguinte, avançaram com extrema agilidade e começaram a atacar. Nihilo, movendo-se com uma rapidez impressionante, desviou dos primeiros golpes com facilidade.

Com um giro, ele desarmou o primeiro guarda, arremessando-o para trás. Em seguida, com um chute poderoso, derrubou dois adversários que se aproximavam por trás. Bloqueou uma espada com o antebraço, torcendo o pulso do inimigo até ele soltar a arma, e em um movimento contínuo, usou a mesma espada para neutralizar outro guarda que vinha pela esquerda.

Em seguida, veio Louis. Desta vez, seus olhos brilhavam intensamente enquanto ele entrava no mundo quadriculado. Tentava encaixar golpes de espada um atrás do outro, mas Nihilo desviava de todos com agilidade sobrenatural.

Os movimentos de Louis eram rápidos e precisos, mas Nihilo parecia antecipar cada ataque, dançando ao redor das lâminas com uma facilidade. De repente, durante uma girada de espada Louis, um dos guardas aproveitou a oportunidade e passou rapidamente entre eles, conseguindo realizar um fino corte no peito do Ken’jin.

Sem deixar escapar a oportunidade, ele abaixou sua espada avermelhada e de baixo para cima gritou:

— Segunda técnica: corte tridimensional. — De sua lâmina saiu uma energia vermelha que cortou todas as coisas ao redor.

Junto aos destroços, uma grande fumaça e poeira surgiu em volta deles.

“Nem mesmo ele escaparia ileso de um corte desses a queima roupa” , pensou ofegantemente.

— Uma coisa em você me surpreendeu — disse, enquanto o som de passos o cercava. — Sustentar a técnica e ainda usar o mundo quadriculado... você possui bastante reserva de Mukai.

Nihilo apareceu dentre a fumaça, com os braços novamente cruzados, mas com um pequeno corte no peito.

— Isso é o suficiente por agora, Louis — disse ele, erguendo o dedo indicador. No segundo seguinte, todo aquele castelo que os cercava foi quebrado, juntamente com os demais soldados.

“Como?! Dessa vez eu caprichei na defesa interna.”

Ele começou a avançar em direção a Louis, até que parou a poucos metros dele. Encarou-o por alguns segundos e, em seguida, bateu a mão sobre a palma aberta em sinal de reverência.

— Permita-me, Nihilo Ken’jin da 1 geração das grandes famílias, lhe acompanhar para fora deste lugar, desejo conhecer essa nova era.

Louis deu um passo para trás, com uma clara expressão de dúvida.

— Não sei exatamente por que você está fazendo isso, mas — disse, realizando o mesmo movimento com as mãos — será de grande ajuda para mim, Ken’jin-san.

Assim que os dois olharam para a direita, visualizaram Morya com uma expressão de raiva no rosto. Conforme ele se aproximava, Louis sentia um grande calafrio percorrer todo o seu corpo. Louis tentou argumentar pré sentindo a bronca, porém nada saiu de suas cordas vocais.

— Você sairá daqui hoje, Bellmore — Cruzou os braços fitando-o — você quebrou uma das minhas ordens, quando decidiu se esgueirar pelos livros. Por sorte, Nihilo poderá lhe ensinar o resto lá fora.

Passou por sua cabeça tentar argumentar, mas sabia o risco que corria ao tentar passar por cima de Morya. Manteve-se quieto, encarando-o e esperando que ele terminasse.

— Prepare suas coisas, finalizarei sua espada e nada mais. — Ele se virou e se afastou.

— Minha alma ficará embutida em sua espada, mas sempre que precisar de ajuda física é só chamar — levantou o polegar acompanhado de um sorriso.

Louis concordou com a cabeça e se virou para aquela que seria a saída daquele lugar.

“Estou trazendo ajuda, aguentem mais um pouco”

 




NOTA DO AUTOR

Olá, queridos (a) leitores. Autor aqui. Muito obrigado por terem lido Sangue Azul até aqui! Para mim, é uma felicidade enorme estar escrevendo e lançando esta obra para vocês. Aqui finalizo o segundo arco (Treinamento) e, já no próximo capítulo (17), iniciaremos o penúltimo arco deste volume: O Rei Prometido.

Obrigado por acompanharem até aqui. Um beijo para todos vocês!

 

Morya ( Desenho e pintura não 100% finalizado)



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