Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 17: Culto de sangue.

Dia 02. Reino-Tsin, naquele mesmo dia mais tarde.

— Tem certeza que é aqui? — disse, Nihilo de dentro da espada.

— O local era esse. Eu tenho certeza! 

À sua frente erguia-se uma enorme fortaleza, com portões vermelhos. No topo das grandes torres iniciais, dois guardas descansavam. Além dos portões, era possível ver várias pessoas caminhando e carregando coisas.

— Esse lugar não me parece nenhum pouco uma vila.

— Shiu! Enquanto você se manter dentro da espada é melhor ficar quieto, não quero arrumar mais problemas. 

Em frente ao portão, Louis tentava chamar a atenção dos guardas, mas pareciam ter caído em algum tipo de sono profundo. Após algumas tentativas, deu um pulo e alcançou o topo da torre, entrando silenciosamente por uma escada que havia lá dentro.

“Aquele lugar não estava marcado atoa no mapa, tem algo acontecendo aqui.” , pensou enquanto avançava torre a dentro.

Desceu o máximo que pôde e, então, alcançou um enorme corredor que provavelmente contornava todo o cercado. Continuou a caminhar até que ouviu duas vozes vindas de outro corredor. Imediatamente, deu um pulo e se segurou no teto. Dois guardas passaram conversando logo em seguida.

— Espero que aquela mulher não tenha vindo para cá, arranjar problemas — falava um dos guardas, arrumando o capacete.

— Toma cuidado como fala! Esse pequeno condado enfim ganhou uma… — foi subitamente interrompido por uma presença, vindo do fim do corredor.

Assim que o visualizaram, abaixaram suas cabeças e se ajoelharam. O ser, possuía cabeça de tigre, longo cabelo vermelho, cinco braços e três caudas. Carregava um bastão de madeira, envolto por panos azul e vermelho, enquanto em um dos braços segurava um grande charuto na boca.

Suas vestimentas eram igualmente estranhas, era adornado por diversos panos e toalhas. Sua pata parecia a de um tigre

— Homens… — A estranha criatura retirava o charuto na boca. — Creio que não será necessário explicar novamente o que já foi dito hoje de manhã.

— Não senhor! — falavam junto — nós perdoe capitão Litch.

— Vocês estão tão distraídos que nem perceberam nosso novo visitante.

Como um raio, Litch pulou ao alto e encarou Louis, que tentava se esconder atrás de uma pilastra. No segundo seguinte, desferiu um chute, mas Louis rapidamente se defendeu, e os dois caíram ao chão lentamente.

— Me diga — colocou o charuto na boca —  qual seu nome, meu jovem?

— Creio que não seja da sua conta. —  Agarrou com força o cabo da espada.

— Creio que seja sim. Afinal você invadiu nosso condado, então pergunto novamente, qual o seu nome? — retirava o charuto, fitando-o com um sorriso no rosto.

— Luck loenirs.

— Mentira.

O ser avançou tão rapidamente que afastou a poeira ao redor. Com um de seus braços, tentou desferir um ataque no rosto de Louis, que acabou o defendendo com apenas dois dedos.

Com um chute poderoso, Louis o lançou com tanta força que atravessou a muralha de aço para fora do condado. O estrondo pode ser ouvido por todos dentro da muralha, alertando-os de uma possível invasão. Em seguida, Louis começou a correr para encontrar uma saída.

— Hahaha! É assim que você chama menos atenção?! — falava Nihilo.

“Droga… Não me controlei”.

Manteve-se em linha reta por alguns segundos, até encontrar uma sequência de portas. Entrou na primeira à sua esquerda e deu de cara com outro corredor, que parecia levar diretamente ao condado em si.

Logo que saiu, dirigiu-se a uma pequena cabana e, com passos silenciosos, pegou uma vestimenta toda preta que estava ali. O vendedor mal teve tempo de entender o que tinha acontecido.

Dirigiu-se a uma pequena viela e lá se trocou em questão de segundos.

— Talvez eu so devesse esquecer essa porra de lugar e voltar de uma vez para Celeste. — disse, enquanto arrumava o capuz e a capa.

— Não irei sair daqui — flutuava em volta de Louis —  eu preciso encontrar aquela puta de sangue, preciso fazê-la pagar pelo corte em meu peito.

— Não tem nada acontecendo nesse lugar, é apenas mais uma cidade.

Antes que Nihilo tivesse tempo para contra-argumentar, os portões da cidade se abriram finalmente. Deles entraram diversas carruagens, seguidas de soldados montados a cavalo. A última carruagem, aparentemente a principal, posicionou-se no centro, cercada por uma multidão que se formava ao redor.

Louis lentamente tentava se esgueirar entre as pessoas, a fim de visualizar o que estava acontecendo. Quando alcançou uma boa distância, apenas aguardou junto das demais pessoas, algo acontecer.

Um guarda corria atrapalhadamente em direção à carruagem. Assim que a alcançou, abriu a porta lentamente e se afastou. De dentro dela, saiu uma mulher. Assim que Louis visualizou seu rosto, sentiu seu estômago revirar por completo. Uma aura negra e pesada o cercou, e pela primeira vez em muito tempo, o sentimento de morte e perigo o fez cair no chão.

Um dos guardas se aproximava e gritava para a população:

— ATENÇÃO! TODOS SAÚDEM A GRÃ MESTRE DO REINO CELESTE!! SR.NYX!

Uma chuva de palmas e pulos se espalhou por todo o condado. Enquanto lentamente ela descia da carruagem, observando todos calmamente.

— Ei, você! — Ela apontava para o guarda que a apresentou ao povo. — Venha aqui.

Com as pernas bambas, ele voltou a se aproximar. Quando chegou a uma distância de 8 metros dela, ela estendeu a mão direita, pedindo para que parasse. Em seguida, sua cabeça começou a inchar descontroladamente. Ele tentava segurá-la, como se fosse saltar do próprio corpo, sentindo uma enorme falta de ar enquanto o sangue jorrava descontroladamente de sua boca, nariz e ouvidos. Ao fim, sua cabeça explodiu, encharcando o local ao redor

— Não sei quantos mais eu vou ter que matar, até tirarem essa palavra do vocabulário comum. 

O povo ao redor continuou aplaudindo, mas com cada vez mais intensidade. Isso prosseguiu até Nyx estender a mão, pedindo para que parassem. Enquanto isso, os demais guardas, trajando uma armadura dourada, abriram um caminho para ela, em direção ao castelo vermelho. 

Aos poucos aquelas pessoas iam se dispersando e voltando a suas tarefas rotineiras. Louis ainda se mantinha de joelhos no chão, tentando recuperar o fôlego.

— Aquela maluca, parece ter mexido com você, haha.

— É ela... Ela é o motivo de eu ter ido ao Morya. Temos que matá-la aqui. — Ele respirava profundamente. — Mas por que? Por qual motivo ela viria até Tsin, tendo problemas em Celeste?.

— Me de 10 minutos e, eu a mato sem problemas.

— Não! Assim não, primeiro vamos descobrir o que está acontecendo aqui.

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Quatro horas mais tarde, já à noite, as estrelas haviam dominado completamente o céu, enquanto as pessoas começavam a retornar para suas casas. Louis aguardava em uma viela, encostado na parede, terminando de comer um pedaço de pão velho. Quando se desprendeu da parede, aconteceu a primeira troca de turno, com os quatros guardas de armadura dourada, que cuidavam do castelo. 

— Terceira técnica: extensão das sombras. — O corpo de Louis se fundiu rapidamente com as sombras e, tão veloz quanto o vento, começou a avançar através delas.

Sem que os guardas percebessem, adentrou o castelo sem chamar atenção. Já dentro, pode visualizar uma grande escadaria que levava a duas direções diferentes em seu fim, enquanto em ambos os lados antes da escada tinha dois corredores diferentes.

Ignorou completamente a escada e seguiu em direção ao corredor da esquerda. Conforme avançava podia visualizar diversos quadros, bem coloridos e cheios de cor, enquanto as paredes e a iluminação eram escuros como a noite.

“Com certeza quem fez isso aqui, não tinha planejamento nenhum.”

Não demorou muito para chegar ao fim do corredor e, para sua surpresa, não havia absolutamente nada.—  A única coisa ali era um quadro de um homem com quatro caudas de raposa, vestindo uma roupa de judô, nada muito útil para ele.— Encostou-se na parede e esperou que Nihilo falasse algo. — para sua surpresa ele não disse nada.

“Que lugar estranho…Não tem qualquer supervisão dentro, apenas fora.”

Voltou a encarar o quadro e algo nele lhe causava estranheza. Era o único, dentre todos que havia visto, que tinha uma pessoa como foco; os demais mostravam apenas ambientes e objetos. 

— Talvez seja o dono do local — Nihilo flutuava para perto do quadro. 

— Isso não faz sentido, na verdade... Este lugar não faz sentido, aquelas pessoas são estranhas, este castelo também e — levou a mão ao rosto — não acredito que a Nyx viria conhecer um artista marcial qualquer.

Curioso e convicto, levantou sua mão esquerda e tentou tocar a única coisa que não fazia sentido naquele quadro: a pena azulada que flutuava acima de uma das caudas. Quando a tocou, o quadro girou para dentro da parede e, no momento seguinte, nada mais aconteceu.

— O pior de tudo... Eu não sinto o Mukai de ninguém, desde... — o chão abaixo dele se abriu, levando-o para baixo.

Ainda no ar, conseguia ver diversas prateleiras voando de um lado para o outro e, conforme caía mais, o ambiente ia se alterando. Dessa vez, uma sequência de pequenos quartos no estilo japonês. Antes que pudesse processar aquilo, o ambiente mudou novamente, agora assemelhando-se a uma masmorra muito antiga. Em seguida, a gravidade do lugar o jogou para o lado e, no mesmo segundo, inverteu seu senso de direção, fazendo-o parecer que sempre esteve de pé naquele lugar.

Encontrou-se diante de uma pedreira onde a água escorria abaixo. À sua frente, uma pessoa vestindo um kimono totalmente branco, com um grande chapéu redondo cor de palha que cobria seu rosto, segurando um quadridente preto.

— Bem-vindos ao submundo. — o homem batia o cajado três vezes no chão.

“Submundo? Que merda é…”, antes que concluísse o pensamento, o ambiente se alterou novamente.

Agora os três se encontravam dentro de um imenso palácio. Atrás da misteriosa figura, havia um enorme portão branco e dourado com cerca de 10 metros de altura. Ao redor deles, não havia nada muito diferente; tudo era branco.

— Qual motivo da visita de vocês dois?

“Nos dois?Então ele…”

— Viemos atrás de informações — Nihilo falava por cima de Louis. — Acreditamos que alguém importante está atrás desse portão.

O guarda se manteve em silêncio, fitando-os por alguns segundos, até que retomou a palavra.

— Podem passar — ele se moveu para o lado — force a porta e ela lentamente se abrirá

Louis caminhou até ela lentamente. Quando a alcançou, com apenas um dedo, a forçou a se abrir. Conforme se abria, já era possível visualizar o que havia além dela: diversas cadeiras e mesas redondas, grandes escadarias, candelabros, mordomos e várias pessoas dançando. Aquilo mais parecia um clássico salão de festas.

— Não era isso que eu esperava com o nome “submundo” — sussurrava para Nihilo.

— Ei guardinha! Que droga de lugar é esse?! Não viemos aqui atrás de festa.

— Você se engana se pensa que é uma festa. Esse lugar é... — antes que completasse, Louis o interrompeu.

— E quanto minha roupa?

— Ninguém vai ligar para suas vestimentas. No submundo, não há distinções, apenas negócios.

Louis respirou fundo e retornou os olhos para Nihilo dentro da espada.

— Fique aqui — ele retirou o capuz e ajustou sua vestimenta toda preta — se eu precisar da sua ajuda, você vai sentir.

Sem nem mesmo ouvir o que Nihilo tinha a dizer, Louis adentrou com um sorriso no rosto, caminhando lentamente enquanto observava os convidados ao redor. Alguns trajavam um simples terno, vestido e gravata, enquanto outros usavam máscaras de coruja e de outros animais.

Ele caminhou até o primeiro garçom, um homem alto e loiro, com algumas espinhas em seu rosto, carregava uma bandeja com diversas bebidas. Louis o abordou e imediatamente o homem o atendeu com o maior dos sorrisos.

— SEJA BEM-VINDO AO SUBMUNDO! O que deseja?!. 

— Desejo que me explique o que é esse lugar.

O alto garçom arqueou as sobrancelhas ao ouvir o pedido de Louis, e aproximou a bandeja dele.

— Não quer uma bebida, senhor?

— Eu quero saber… — Antes que completasse, foi subitamente interrompido pela entrada de um Lumis ao fim da grande escada.

Assim como o Shinso — o garoto que Louis enfrentou em seu teste de admissão no exército — os Lumis eram raramente vistos entre o povo comum. Eles eram considerados superiores, com sua pele clara como a luz e altura exageradamente maior do que as das demais raças, o que lhes conferia uma imponência perto das outras pessoas.

Lentamente, Lumis, de olhos azuis e cabelos ruivos, trajando uma imponente armadura dourada, descia as escadas, capturando a atenção de todos ao seu redor. 

“Não suporto esses caras” , pensou bufando.

O Lumis continuou sua entrada triunfante até parar ao lado de um garçom moreno e mais baixo, cuja bandeja cheia de bebidas ele empurrou. O garoto, desesperado, tentou limpar, mas antes que pudesse começar, Lumis desferiu-lhe um chute tão forte na barriga que o lançou contra a parede quebrando-a. O sangue se espalhou pelo chão enquanto o rapaz, lentamente, perdia a consciência.

Os convidados ao redor observavam com sorriso no rosto, ansiosos pelo seu próximo movimento.

— EI! Seus merdas, limpem essa bagunça e levem esse lixo para o processador — ele gritava, avançando salão a frente.

Parou no centro do salão e se virou para os convidados, que lhe fitavam sem parar.

— Hoje a corte… — O rapaz também foi subitamente interrompido, por uma velha mulher, no segundo andar do salão.

— Perdoem meu filho… — sua voz trêmula e fraca, entregavam sua idade — hoje a corte de sangue, enfim realizara seu movimento final.

“Essa mulher…Ainda bem que o Nihilo não entrou”

— Nosso rei nascerá em breve — disse ela, erguendo ambos os braços e lançando um olhar penetrante a todos abaixo — Graças à abençoada mulher de Celeste, tal sacrifício para seu nascimento já foi realizado. Em 1 dia, seu nascimento ocorrerá e marcharemos sob suas ordens!.

Ao finalizar suas palavras, todas as pessoas no salão pularam e gritaram de alegria. Alguns choravam de emoção, enquanto outros se autoflagelavam como um meio de sacrifício.



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