Volume 1 – Arco 2
Capítulo 12: Um novo eu.
Dia 19 do mês 8. duas semanas e meia depois, Campo de treino.
— ACABEI PORRA!! — Bateu o livro fechando-o.
Louis levantou lentamente, observando o campo com diversas marcas de cortes e queimaduras ao seu redor. Quando se virou para a porta de entrada da grande árvore, avistou Pedro encostado nela, olhando-o atentamente.
— Antes do esperado… — começou a bater palmas — eu levei mais de três semanas.
— Lute comigo — disparou. — Desde o dia em que a Mika… — respirou e voltou a encarar Pedro — estou mais forte.
Pedro concordou com a cabeça. Assim que se desencostou da madeira e deu seu primeiro passo, a porta ao lado se abriu. De dentro dela saiu Toshi, ainda totalmente encapuzado, mas agora rodeado por Tonbo, a maldição flutuante.
Ele passou por Pedro ignorando sua presença e se posicionou a uma distância de 10 metros de Louis.
— Louis — disse, tirando a luva da mão esquerda. — Mostre que valeu a pena termos adiantado tudo por sua causa — retirou a outra luva. — Se você perder, eu mesmo te mato.
Ele entrou em posição de luta, inclinando o corpo para a frente e colocando as mãos no chão, aguardando o mínimo sinal de movimento de Louis.
— Você deveria ir descansar. Não tem mais condições de lut…
Subitamente, Louis foi interrompido quando, em um movimento rápido, Toshi quebrou a distância entre os dois, tentando acertar um soco em seu queixo. Louis habilmente defendeu com a mão esquerda, enquanto tentava desferir um chute com a perna direita.
Toshi defendeu o chute com a outra mão e deu um pulo para trás, impulsionando-se novamente para a frente, desta vez em direção à perna de Louis. Assim que a alcançou, ele a torceu, tentando desequilibrá-lo. Louis, porém, rapidamente se recuperou com a outra perna e, usando a mão direita, aplicou um soco poderoso no rosto de Toshi, lançando-o a cinco metros de distância
Assim que se levantou, Toshi cuspiu o sangue que estava em sua boca e retirou o capuz, revelando seu cabelo meio espetado. Louis, decidido a finalizar a luta, avançou tão rápido que Toshi mal teve tempo de reagir. Com um soco imbuído com seu Mukai avermelhado, Louis atingiu a barriga de Toshi, lançando-o contra as árvores atrás deles.
— Você é o mais novo entre nós, certo? Tem muito a aprender ainda — mexeu o braço em movimentos circulares — nunca fiquei tanto tempo sem lutar.
Louis encarava os arbustos entre as árvores, esperando alguma resposta. De repente, um raio de cor roxa atravessou seu peitoral, fazendo-o cuspir sangue enquanto caía de joelhos. Ele levantou a cabeça com a sobre seu peito, esperando que Toshi aparecesse.
— Isso realmente importa? — Surgiu entre os arbustos, agora com os pés e braços cobertos por uma densa energia elétrica de cor roxa.
Assim que revelou seu corpo por completo, dois chifres da mesma coloração emergiram de sua testa. Ele lambia o sangue ao redor da boca, mostrando um sorriso sinistro.
“Não tem ninguém normal, nesse lugar”, pensou Louis enquanto se levantava.
Ele bateu as duas mãos e entre elas surgiu uma bola condensada de seu Mukai.
— Pode vir, chifrudo.
Toshi avançou com uma velocidade assustadora, um borrão roxo que mal dava para acompanhar. Louis tentou lançar sua energia, mas Toshi foi mais rápido, acertando um soco poderoso perto do coração. Golpe após golpe, Louis sentia sua carne queimando com cada impacto. Sangue espirrava a cada soco, manchando o chão ao redor.
Desesperado e sem muitas opções, Louis tentou condensar seu Mukai, assim como a 8 anos atrás. Assim ele liberou uma explosão vermelha que estremeceu todo o ambiente, ateando fogo a algumas partes ao redor. A força da explosão lançou Toshi com violência contra as árvores.
A fumaça junto do fogo os cercou e em nenhum momento passou por suas cabeças que poderia queimar a árvore central. De dentro dos arbustos, Toshi surgiu novamente, movendo-se como um raio. Ele passou por Louis, ainda de pé, e fez um corte profundo em seu braço direito, fazendo o sangue jorrar.
Louis cerrou os dentes contendo a dor, mas rapidamente curou seu braço usando seu Mukai. Toshi parou a alguns metros de distância, o observando com um sorriso sádico no rosto.
“Como… Ele consegue me ver? Não! Aquela coisa em volta dele, é isso.”, pensou.
O fogo em volta começava a se alastrar ainda mais, entretanto, os dois estavam tão centrados na luta que mal deram importância. Os olhos de Louis brilhavam intensamente, mesmo que a situação sugerisse perigo. Ele levantou sua mão esquerda e estendeu todos os seus dedos para cima e ergueu ainda mais a mão.
— Chega. — Toshi bateu uma mão contra a outra.
O sorriso na cara de Louis se esvaiu, juntamente das partes que formavam a transformação de Toshi.
— Ta de brincadeira? Logo agora que tava ficando bom? — Franziu a testa encarando Toshi.
Quando Louis se deu conta, viu o ambiente destruído e pegando fogo. Ele levantou as sobrancelhas, seguido de um sorriso sem graça, e se virou para Pedro.
— Porra… Verdade né, foi mal — Coçou a nuca rindo.
Pedro começou a andar em sua direção com a mão esquerda estendida em direção às árvores e arbustos em chamas. Como se estivesse pintando, ele começou a desenhar no ar. Antes mesmo de alcançá-los, todo o ambiente voltou ao estado original, sem que ninguém percebesse a transição.
Assim que os alcançou, ficou entre eles e com a mão fechada deu um cascudo na cabeça dos dois.
— Querem destruir a base? Não comecem a lutar a sério assim aqui.
— Foi um bom aquecimento — Estendeu a mão — obrigado, Louis Scratch.
— Gostei dessa sua transformação — Apertou a mão — parece um dos personagens que eu lia quando pequeno.
Os dois deram um sorriso, soltando as mãos em seguida.
— Apesar da destruição que vocês fizeram, pude perceber que essas 2 semanas lhe fizeram bem, Louis — falou Pedro, dando um leve tapa em seu ombro. — Agora podemos ir para a terceira e penúltima etapa, me siga.
Os dois seguiram em direção à grande árvore, enquanto Toshi os seguia lentamente atrás. Já dentro, era possível perceber seis escadas levando para cima, três à esquerda e três à direita. No centro, havia uma única escada levando para baixo. Pedro estendeu a mão e olhou para Louis, indicando para ir na frente.
Degrau a degrau, eles desciam a grande escada em espiral. Ao redor, algumas tochas — que mal iluminavam o caminho — lançavam sombras dançantes nas paredes de pedra, que exibiam diversas gravuras em uma língua que Louis não conseguia identificar. Conforme desciam mais, as tochas se tornavam mais escassas e a iluminação mais fraca. Esse padrão se manteve por cerca de um minuto, até que finalmente chegaram ao chão.
Lá embaixo não havia o menor sinal de luz, eles estavam completamente no escuro. Assim que Pedro se juntou a Louis, tocou em seu ombro e estendeu sua mão direita apontando para frente.
— Esse local foi construído a 1032 anos. Nem eu nem Nikolaus sabemos como exatamente — Colocou as mãos sobre o quadril — tudo aqui embaixo funciona por meio de Mukai, essa é a única coisa que sabemos — Deu um passo para trás — apenas um por vez pode ficar aqui. Não deve levar muito tempo, apenas siga em frente.
“Não é possível! Toda hora esse mistério”
Louis deu um passo à frente e começou a sentir uma ventania gelada que atravessava todo o seu corpo. A sensação aumentava a cada passo que ele dava. Em determinado momento, ele se viu diante de uma porta de mais de cinco metros de altura, revestida de metal. Estranhamente, a porta emitia um leve brilho cinza, sendo a única coisa visível naquele ambiente escuro.
Tentou a forçar com as duas mãos a fim de abri-la, mas ela sequer moveu-se 1 centímetro, ele continuou tentando, até cair em exaustão frente a ela.
— O que é essa coisa?! — Respirava profundamente — parece que puxou todo meu Mukai.
Ele tentou se levantar fazendo uma enorme força contra o chão. Assim que conseguiu, suas pernas balançavam como se fossem cair a qualquer momento, Louis iria tentar mais uma vez forçar aquela grande porta, até que se lembrou das palavras que Pedro havia dito: “Tudo aqui embaixo funciona por meio de Mukai”.
— É ISSO!.
Fechou os olhos e entrou na dimensão quadriculada. Assim que os abriu novamente, teve um choque ao olhar ao seu redor. Diversos corpos estavam empilhados, tantos que mal podiam ser quantificados. Alguns estavam empalados, outros reduzidos a ossos, alguns partidos ao meio, enquanto outros pareciam desnutridos, como se sua energia vital tivesse sido completamente sugada.
Quando retornou seu olhar para a grande porta, ela estava aberta e, à sua frente, um caminho era iluminado por pequenas tochas no chão. Louis continuou a avançar, mas sem conseguir esquecer a visão perturbadora que havia presenciado momentos antes.
Bruscamente, a porta se fechou assim que ele atravessou. O caminho parecia interminável, mas o ambiente agora estava mais leve e mais quente. Essa sensação se manteve até que ele ficou em frente a uma escadaria que levava a duas grandes piscinas.
Mesmo utilizando a visão quadriculada, ao redor das piscinas e até mesmo em suas águas, a única coisa visível era a escuridão. Louis tentou dar um passo em direção à escada, mas seu corpo se recusava a se mover. Ele havia congelado por completo ao entender o que deveria fazer.
“Nem fodendo vou entrar nessa água”, pensou, enquanto o medo percorria seu corpo, fazendo-o tremer só de imaginar entrar ali. Decidiu se virar para ir embora, mas antes que conseguisse, sentiu uma mão gelada em suas costas.
— Thalor… Encare seu medo por nós — sussurrou uma voz, enquanto a mão o empurrava com tanta força que o jogou até o fim da escada.
A batida foi tão forte, que Louis perdeu a consciência ao atingir o chão.
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Alguns minutos depois, ele levantou a cabeça, sentindo o sangue escorrer por ela. Olhou para frente, ainda meio zonzo, e a única coisa que podia ver era o vazio. As duas piscinas ao seu redor emitiam o som de ondas batendo uma contra a outra.
Se forçou contra o chão, na tentativa de ficar em pé, porém suas pernas pareciam ter parado de funcionar.
— MERDA! — seu grito ecoou por todo o local — Thalor?! Aquela sombra dos infernos tá aqui?
De dentro das piscinas, ecoaram duas vozes.
— Louis… Se arraste até aqui, eu cuidarei de você — disse a voz num tom feminino e calmo, vindo da esquerda.
— Não escute ela, venha! Pare de moleza! — falou a da direita, dessa vez mais bruta e nervosa.
Ele olha para trás, a fim de tentar voltar pela escada, mas percebeu que ela havia desaparecido, assim que ele caiu.
— Pro inferno vocês! Até parece que vou entrar nessa merda — canalizou o Mukai em sua perna e usando-o a forçou a ficar de pé.
Louis mordeu os dedos anelares das mãos direita e esquerda, deixando o sangue escorrer lentamente. Em seguida, apontou-os para o chão e começou a usá-los como impulso para cima. Assim que começou, em um rápido jato, se lançou a 10 metros de altura, ficando de frente para a saída. Entretanto, antes que pudesse alcançá-la, dois tentáculos emergiram das piscinas e o agarraram ainda no ar, puxando-o em direção a elas.
Cada tentáculo o puxava com força para uma direção, rasgando sua carne aos poucos. Louis sentia o sangue escorrer pela boca e tentava gritar, mas nenhum som saía de suas cordas vocais. Com um esforço extremo, levantou a mão direita e cortou o tentáculo vindo da piscina à esquerda. Porém, já sem forças, foi puxado para dentro da água da outra piscina.
De dentro da piscina, ele sentia ser puxado cada vez mais para baixo. Naquele momento, não tinha visão de onde estava; tudo era um breu absoluto. Após 102 segundos, sentiu seus pulmões se encherem de água. Tentava desesperadamente buscar ar e se debatia contra o tentáculo, tentando se soltar, mas a pressão só aumentava. No segundo seguinte, cedeu, já sem consciência.