Volume 1 – Arco 2
Capítulo 13: O começo do fim.
Dia 27 do mês 8. oito dias depois, topo da grande árvore.
Nikolaus estava sentado, observando através da janela, quando ouviu duas batidas na porta. Antes que ele conseguisse dizer algo, a porta se abriu e Pedro entrou, sem pedir permissão.
— Não posso fumar em paz? — Virou-se para Pedro, tirando o charuto da boca.
— Desculpe, mas é importante — puxou uma cadeira ao lado da porta e a aproximou da cama. — É sobre o Louis e a Mika — completou, sentando-se.
Ele colocou o charuto na boca novamente e encarou Pedro o esperando continuar.
— Já não tenho ideia de quanto tempo o banho do Louis vai levar, eu esperava ter alguma ideia já no segundo dia, mas não houve qualquer movimentação lá em baixo.
— Está preocupado que o moleque não saia a tempo? — Soltava a fumaça da boca — você sempre se preocupou além do necessário, de um tempo ao tempo.
— Não dá mais, Nikolaus! A Mika... — Pressionou seu punho contra o joelho — por que logo agora? Essa caça dela aos fantasmas do passado vai acabar a matando e nos matando junto.
Nikolaus tirava o charuto da boca mais uma vez e o colocava sobre uma mesa de madeira ali perto, virando-se para Pedro novamente.
— Se você não confiar nos seus companheiros, então de nada serve seguir essa causa — Se abaixou colocando a mão sobre o ombro de Pedro — todos nós entramos aqui sabendo o que poderia acontecer. Eles vão voltar — continuou, levantando-se e indo até a porta.
— Como pode ter certeza?
— Eu não tenho HAHA — Abriu a porta — estou esperando você junto dos demais lá embaixo.
Pedro continuou a encarar a paisagem visível da sacada, apertando com força sua calça. Um sentimento de insegurança percorria todo o seu corpo, e pequenas gotas de lágrimas caíam de seus olhos. Depois de alguns segundos, surpreendentemente um morcego pousou na sacada.
O animal o encarava, enquanto uma de suas asas sangrava. Pedro se levantou devagar e quase que paralisado não conseguiu realizar quaisquer outros movimentos.
No globo, as diversas culturas divergem em seus modos de pensar e viver, mas boa parte delas concordam em uma coisa: a mudança repentina de comportamento dos animais ou a quietude na natureza indicam apenas uma coisa — mau presságio.
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Debaixo da grande árvore, no campo de treinamento 1, estavam Noragami, Bruma e Toshi, aguardando a chegada de Nikolaus e Pedro.
— Se o chefinho reuniu todo mundo, a coisa deve ter ficado braba… — Bruma se alongava.
— Pior do que já está impossível — Toshi se deitava na grama.
— Vocês dois podem guardar o pessimismo para vocês.
Depois de vinte segundos de puro silêncio, a porta enfim se abriu, e Nikolaus saiu, com um sorriso no rosto e as mãos nos bolsos. Ao dar mais dois passos em direção a eles, ele retirou as mãos dos bolsos e, quase de imediato, uma pressão avassaladora cercou todos ali, fazendo-os serem jogados contra o chão.
— A partir de hoje eu não quero mais desvios, até o atual momento todos agiram sob ordens, porém seguindo suas convicções de como segui-las , porém — Andou passando lentamente por eles — os últimos acontecimentos nos trouxeram a essa situação.
Noragami e os demais se forçavam contra o chão, tentando se manter de pé, entretanto, foi tudo em vão. Quanto mais brigavam contra aquela força, mais pesada ela ficava. Aos poucos, de suas bocas começava a escorrer sangue.
— Essa será a punição e o teste inicial de vocês — retornou a andar, agora em direção a porta — quando conseguirem ficar de pé, irei prosseguir. — se sentou em frente a ela.
“Porra…Impossivel”, pensou Noragami.
“O chefinho enlouqueceu? Quer nos matar?”, pensou Bruma.
“Punição?! Isso mais parece tentativa de assassinato”
Quando Nikolaus se sentou os encarando, o tempo parecia se arrastar enquanto Noragami e os outros continuavam a lutar contra a pressão. O suor escorria por seus rostos, misturando-se ao sangue que gotejava de suas bocas. Gemidos de esforço ecoavam por todo o campo, e suas pernas tremiam, quase cedendo.
Com um esforço máximo, Noragami conseguiu apoiar um joelho no chão, usando toda a sua força de vontade para não desmoronar outra vez. Viu de relance os outros tentando o mesmo, seus rostos contorcidos em expressões de dor e concentração
Dentre todos ali, ele parecia ser o que evoluía mais rápido, Noragami cerrava os dentes, sentindo os músculos protestarem enquanto tentava levantar o outro joelho. Novamente voltou a erguer os olhos em direção a Bruma e viu que ela estava quase lhe acompanhando, enquanto Toshi mal conseguiu levantar uma das pernas.
Minutos se passaram como horas. Os três se encaravam de canto de olho, se apoiando silenciosamente. Até que finalmente, após um tempo que mais parecia interminável, todos conseguiram se levantar. Suas pernas tremiam, os corpos doloridos, mas estavam de pé. Respirações pesadas preenchiam o ambiente. Enquanto em seus rostos uma expressão de cansaço os dominava.
— Muito bem, levaram apenas 13 minutos — disse ele, batendo palmas com um leve sorriso. — Agora podemos ir para a segunda parte.
— Tem mais?! — gritava Toshi com o resto de força que lhe restava.
Nikolaus mal teve tempo de dar mais um passo, e a porta atrás dele se abriu. Pedro saiu, com o rosto fechado, e parou ao seu lado.
— Por que... o Pedro não participou? — falou Bruma, se apoiando em sua lança.
— Ele vai participar agora. A segunda parte é: bonecos de prata.
Antes que tentassem associar o que seria, Nikolaus estendeu o braço esquerdo para a frente e, com a mão virada para baixo, começou a lançar pequenas partículas laranjas ao solo. Depois de alguns segundos, delas saíram pequenas flores de lótus, porém totalmente prateadas. No segundo seguinte, essas flores aumentaram e se transformaram em cópias exatas dos quatro mestres no poder.
— Ataquem para destruir, esses bonecos não possuem a exata força dos mestres, mas tudo que era de meu conhecimento sobre cada um deles, foi aplicado aos bonecos, então lutem a sério.
— Aqui?! — indagou Noragami com a voz falha.
— Antes de vocês pisarem aqui hoje, eu alterei a estrutura do campo, agora suas adjacências possuem paredes camufladas entre as árvores e os arbustos, então… — se sentou novamente — lutem sem se conterem.
O silêncio voltou a preencher o ambiente, até que Noragami, apoiado em sua espada e ainda respirando lentamente, deu um passo à frente, apontando para o boneco com o rosto de Axl. Em seguida todos os demais se afastaram lentamente.
Axl de prata criou dois machados de gelo e entrou em posição de luta. Noragami com um certo esforço retirou sua espada da bainha e a colocou à frente do peito, esperando que o boneco atacasse.
No segundo seguinte, Axl simplesmente desapareceu da vista de Noragami. Em meio segundo, Noragami pensou que fosse teleporte, mas logo percebeu que era apenas velocidade. Axl apareceu atrás dele, girando o próprio corpo em 360 graus e segurando os dois machados, que subiam em direção à cabeça de Noragami.
Por puro instinto, ele se virou e se defendeu com sua katana. O choque entre as armas gerou um atrito que reverberou por todo o campo. Noragami tentava se manter firme, mas a força aplicada pelo boneco aumentava cada vez mais. No instante seguinte, o boneco usou os pés para chutar a canela de seu adversário, desequilibrando-o, e em seguida o jogou para trás com um movimento brusco do corpo. Aproveitando a oportunidade, fez um corte diagonal no peito de Noragami.
Ele caiu no chão, colocando as mãos sobre o peito. Axl se aproximava lentamente, segurando firmemente os machados. Com um movimento rápido, ele levantou as armas acima da cabeça, com a intenção de decapitar. Entretanto, antes que conseguisse finalizar sua ação, Noragami já havia se preparado.
— Yami! — gritou Noragami.
Em meio segundo, sua espada se encheu de chamas negras. Usando ambas as mãos, ele lançou as chamas que consumiram tudo em seu caminho.
Após aquele ataque, uma grande fumaça cercou todos. As árvores e arbustos simplesmente evaporaram, e, um segundo depois, uma das paredes feitas por Nikolaus desabou.
“Um mestre não morreria com isso”, pensou se levantando com esforço.
Ao longe, passos pesados foram ouvidos, como se metal batesse contra o chão. Em seguida, os passos cessaram. Noragami se inclinava para a frente, esperando o pior, até que, novamente, o clone apareceu atrás dele.
A luta se iniciou novamente, agora em alta velocidade. Bruma e Toshi se esforçavam para visualizar os movimentos com precisão, enquanto Nikolaus e Pedro apenas encaravam, como se conseguissem ver exatamente tudo.
Os golpes trocados aconteciam com cada vez mais velocidade e, a cada batida, o som metálico das armas ecoava pelo campo. A cada choque as faíscas das lâminas voavam iluminando entre a fumaça seus rostos.
Axl continuava a atacar mirando no pescoço, em determinado momento ele obteve uma abertura e então lançou o machado com força, mas Noragami se abaixou no último instante, sentindo o vento do machado passar por cima de sua cabeça. Aproveitando a posição baixa, Noragami girou sobre um joelho e cortou a perna de Axl, que se desequilibrou momentaneamente.
Noragami não perdeu tempo. Levantou-se rapidamente e lançou mais um ataque, sua katana cortou o ar em formato circular. Axl bloqueou com um dos machados, mas o impacto o fez recuar.
“Essa coisa não vai parar tão facilmente” , pensou segurando a katana com as duas mãos “Tenho que cortá-lo sem deixar chance para se regenerar”
Empunhando sua katana com firmeza, ele se jogou contra Axl novamente. Mirou seu golpe em direção ao rosto do boneco. Axl ergueu os dois machados em frente ao rosto, mas aquilo era apenas um blefe. Noragami mudou o curso de sua espada e agora mirou na perna direita do mestre, cortando-a com um golpe limpo.
“Não vou deixar se regenerar!”
Puxando todo o ar de seus pulmões, ele levantou sua katana e, em alta velocidade, cortou o braço esquerdo do boneco. Aquele ser de prata não deveria possuir sentimentos ou instintos, mas naquele momento, estranhamente, ele se sentiu em desvantagem. Em uma medida desesperada, ergueu seu machado e o lançou com toda a força em um golpe descendente.
Noragami, com reflexos aguçados, desviou-se para o lado e, em um movimento fluido, empunhou a katana com ambas as mãos, encarou o boneco a sua frente e com uma expressão de raiva, lançou pela última vez.
“Tem que ser agora”
— YAMI!
A espada novamente se envolveu nas chamas negras e, agora vindo de baixo, lançou o corte que atravessou a defesa de Axl, cortando-o de baixo a cima. O impacto novamente foi devastador arrastando todas as plantas, pedras e folhas ao redor.
Antes que a fumaça cessasse por completo, Noragami caiu de joelhos, ofegante e coberto de suor e sangue. O silêncio emergiu novamente ao fim do combate, se quebrando apenas após Nikolaus tomar a palavra.
— Está finalizado — Andou entre a fumaça até se aproximar de Noragami caído — Pense que eles não deixaram você descansar, se esforce nesses 2 meses finais.
Naquele dia, todos os quatro membros restantes, com exceção de Nikolaus, lutaram. Bruma enfrentou o boneco de Elohim. A luta foi equilibrada a maior parte do tempo, mas, ao fim dela, Bruma caiu, incapaz de finalizar seu adversário.
O próximo foi Toshi, que enfrentou o clone de Valerius. Ele não conseguiu reagir frente ao mestre. Mesmo usando sua forma roxa, o resultado se manteve o mesmo. Pedro foi o último a lutar e enfrentou Nyx. O boneco foi desintegrado em apenas alguns minutos de luta.
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Em algum lugar no entre-mundos, Louis se encontrava de pé, ensanguentado, encarando um ser feito de tentáculos caído a seus pés.
— Afinal quantas vezes mais isso será necessário?