Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 11: O fim de uma historia.

Dia 02 do mês 8. 7 dias depois,  Campo de treino.

Louis se mantinha em pé no centro, de olhos fechados, com sua única mão levantada à frente do rosto. Seus dedos estavam estendidos para cima, enquanto o dedão se deitava, formando o número quatro.

Lentamente, ele enchia seus pulmões e soltava o ar em seguida, repetindo o processo cinco vezes. Antes da sexta repetição, ele abaixou a mão, abriu os olhos e encarou a vegetação à sua frente, gritando: — Tatsu! — Seu corpo foi superficialmente coberto pela mesma energia avermelhada. Ele se virou para Pedro à sua direita, entrou em posição de luta, colocando a perna direita para trás e estendendo o braço na mesma direção.

— Pode vir! — ele estendeu ambos os braços.

Em uma arrancada, ele correu em direção a Pedro. Assim que o alcançou, tentou desferir um soco em seu rosto, porém Pedro desviou habilmente com apenas um dos olhos abertos, junto a um sorriso astuto que aparecia entre seus lábios.

— Entre no mundo quadriculado, como eu falei. — Se alongava.

Louis fechou os olhos novamente, mas dessa vez criou uma representação exata do ambiente a sua volta em sua mente. Tudo ao seu redor se transformou em uma malha quadriculada precisa, exceto os seres vivos, que brilhavam com a mesma energia que ele emitia. Com essa visão clara em sua mente, ele retomou sua posição de luta.

Ele partiu para cima de Pedro novamente, agora sentindo cada movimento dele. Cada respiração, cada contração muscular podia ser sentida por Louis. No instante em que disparou seu primeiro soco em direção ao estômago de Pedro, ele o segurou com a mão esquerda e, com um movimento ágil, desferiu um chute violento em seu rosto, fazendo Louis recuar cambaleando.

Sem dar tempo para ele respirar, Pedro avançou tentando aplicar um gancho no queixo de Louis, Contudo, com sua única mão ele conseguiu segurar e, usando toda sua força, ele apertou o punho de Pedro e o lançou contra as árvores à direita, em um movimento violento que cortou o vento ao redor.

— Está bem, está bem… — Ele se levantava distante com uma das mãos sob o pescoço — você melhorou muito! Mesmo com um braço só.

— Quando eu vou poder curar o braço? — Fitava ele.

— Bem…Você meio que já poderia ter começado a tentar — Coçava a nuca, com vergonha.

“Ele não é muito diferente da Mika..” , pensou.

— Demiurgo deve ter te falado como, certo…?

— Por algum motivo, todos vocês dão explicações rasas. Demiurgo não fez diferente, mas acho que entendi como.

Louis fechou os olhos e retornou à sua visão quadriculada do ambiente. Desta vez, começou a imaginar seu braço de volta no lugar. Por vários minutos, ele se manteve parado, concentrando-se para materializá-lo em sua mente. Quando enfim conseguiu visualizá-lo de forma clara, agora lhe faltava a parte mais difícil: sintetizá-lo no mundo real.

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Se forçando por mais de 40 minutos, ele tentou ininterruptamente regenerá-lo, mas não obteve nenhum resultado. Respirou fundo e quando ia tentar mais uma vez, sentiu um pequeno toque em sua cabeça, fazendo-o perder a concentração.

Assim que se virou para trás, viu que se tratava da pessoa que mais teve proximidade nos últimos tempos; Mika, ainda de roupas pretas, porém agora andava com uma venda preta em volta dos olhos.

— Então decidiu aparecer…? E que coisa é essa na sua cara? — Franziu a testa a encarando.

— Meus olhos se cansam a certos períodos.

Ela andou para um tronco de madeira próximo e se apoiou nele, virada para Louis.

— Você não é nenhum pouco prodígio em… Essa lentidão para aprender as coisas — Riu abertamente. — O quadriculado que você vê é uma parte da nossa dimensão, se quer curar esse braço aí, comece imaginando seu braço se formando, através de cubículos.

— Eu estava… Perto! Até você vir me atrapalhar como sempre. — Respirou fundo e novamente fechou os olhos.

Louis já havia materializado aquele braço tantas vezes que agora era um processo fácil para ele. No entanto, sintetizá-lo usando pequenos cubículos de energia era uma tarefa muito mais demorada. Cada cubículo se encaixava lentamente, formando o braço com precisão. Após mais alguns minutos ele já havia completado quase que por inteiro, assim que finalizou o último dedo forçou todos a se juntarem condensando-os.

Quando abriu os olhos, lá estava seu braço completamente regenerado. Ele mexia dedo por dedo, o balançava para os lados, enquanto um grande sorriso se abria em seu rosto.

— Parabéns! — Bateu palmas — só vai precisar fazê-lo mais rápido da próxima vez.

— Já usou sua nativa, novato? — Mika se sentava ao lado da árvore.

— Demiurgo falou de um tal de “multi-ofensivo”, mas não tenho ideia do que seja — andou para perto de Pedro.

Os dois arregalaram os olhos, fitando Louis.

— Que palhaçada! — Mika se levantava — é impossível.

— Você não se confundiu, Louis? Ter mais do que 1 nativa… — Levou a mão ao rosto em sinal de pensamento — isso deveria ser realmente impossível, mas levando em conta esse seu sangue, eu não duvido de mais nada.

— Não importa se é isso ou não, mas sim que eu deveria aprender logo.

— Ensinar uma habilidade nativa? — Riu — ela vem gravada na parte esquerda do seu cérebro, precisa apenas resgatá-la — Mika se aproximava.

“Como sempre…Falam, mas não ensinam nada”, pensou.

— Isso você aprende com o tempo. Agora vamos para a segunda parte do treinamento — andou para o centro do campo, fez estranhos movimentos com as mãos, onde delas saiam pequenas linhas azuis de energia.

Três livros enormes surgiram em sua frente.

— Os fundamentos! Você tem três semanas para ler, junto deles todos os dias você deverá treinar a liberação de Mukai.

— Tá brincando né? — Deu de braços — não temos mais tanto tempo, ficar lendo livros não vai ajudar em nada.

— Todos nós passamos por isso, eu preciso que você leia e tente aplicar o que aprender.

— Boa sorte novato — abriu um sorriso desdenhoso. 

Tanto Mika, quanto Pedro se retiraram, deixando Louis sozinho no campo de treinamento. Ele se manteve em pé observando a pilha de livros, enquanto sentia o silêncio ao seu redor, interrompido apenas pelo som de sua própria respiração.

“Merda…Odeio livros” 

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A base do Crepúsculo possuía, em suas adjacências, quatro áreas de treinamento, cada uma com 140 m², escondidas por arbustos e árvores. Em uma dessas áreas, no lado oposto de onde Louis estava, encontravam-se Toshi e Nikolaus.

Toshi vestia um capuz preto e uma venda ao redor dos olhos. Ele se mantinha em pé de frente para Nikolaus.

— Consegue ver? — Balançava a mão direita em sua frente.

— Não… — Abaixou a cabeça — não tem jeito Nikolaus. Nem o mundo quadriculado me deixa ver.

— Vai ter que se adaptar a isso — Colocou a mão sobre seu ombro — você pode vencer isso.

— Tsc — Deu um leve tapa na mão de Nikolaus — Nós sabemos que não vai ser igual antes. O maldito que me impos essa cegueira, sabe disso.

Nikolaus andou até um tronco ali perto e se sentou.

— Não podemos fazer nada quanto o que já passou, mas ainda podemos alterar o futuro — Tirou o chapéu da cabeça, o colocando a seu lado. — Podemos colocar uma maldição do seu lado. Assim como Mika e Tsuchinoko.

Ele abriu um leve sorriso ao ouvir o nome de Mika, mas logo em seguida retomou a postura séria.

— Uma maldição vai querer algo em troca.

— Não, uma maldição de nível baixo, é passível de obedecer ordens.

Toshi se manteve quieto, já esperando que Nikolaus tivesse preparado tudo.

— Tonbo é o seu nome. Uma maldição de nível baixo. Pedro a conseguiu a alguns meses — se levantou e andou até Toshi — estenda a mão.

Toshi estendeu sua mão esquerda e lentamente a abriu. Alguns segundos se passaram e nada aconteceu, até que uma grande energia começou a pulsar acima da mão de Toshi, depois de alguns segundos, uma orbe apareceu flutuando sobre sua mão. A orbe era maciça e possuía um único olho em seu centro, que parecia observar tudo ao redor.

Ele, de imediato, não entendia o que era aquilo. No entanto, graças ao Mukai, conseguiu sentir a energia que cercava o ser esférico. A orbe se virou para ele, encarando-o com seu único olho, e disparou suas primeiras palavras:

 — Você aceita?.

“Aceita? Aceitar o que?” 

— Você sabe como foi com a Mika, certo? Tenha em mente isso. — Cruzou os braços o encarando.

— A — Engasgou — aceito.

A pequena orbe começou a brilhar intensamente e, um segundo depois, caiu na mão de Toshi. Assim que os dois tiveram contato, seu corpo começou a queimar de dentro para fora. Uma sensação de ânsia de vômito o envolveu, acompanhada por uma dor imensa. Ele caiu no chão, arranhando a terra com as unhas, que começaram a sangrar lentamente enquanto ele tentava suportar a agonia.

Nikolaus assistia em pé, sabendo que não poderia fazer nada por ele naquele momento.

Ele levantou sua cabeça para cima uma última vez, fazendo o capuz e a venda caírem, teve um último vislumbre do céu e todo seu esplendor, até que então caiu no chão, já sem consciência.

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Logo abaixo de onde estavam Toshi e Nikolaus, encontrava-se a terceira área de treinamento, onde Noragami e Bruma treinavam. Diferente das outras áreas, esta era cercada por árvores de sakura, cujas pétalas rosadas caíam suavemente ao redor. Diversas dessas árvores, possuíam alvos e marcas de espadas.

— 478 ... 479 ... 480 — respirou ofegante — 481 ... 482…

Bruma ficava no centro, fazendo flexões, enquanto Noragami treinava estilo de cortes nas árvores ao redor.

— Não acha que já tá bom? 

— Na… Não, 487… 488… 489 — Forçou seu corpo para cima mais uma vez — 490… — E caiu em seguida, em exaustão. — Merda…

— Já está de bom tamanho. — Ergueu o braço para trás com a espada em mãos — a última vez foi 450x com 70 kilos não? — Disparou um suave corte no tronco da árvore, o partindo no meio.

Bruma se levantava retirando diversos pesos de gelo condensado por todo o corpo.

— Ainda é pouco! A baranga da Mika, preciso passar ela.

— Não sei por que perder tempo com isso. Você tem talento com a lança; use-a mais vezes.

Um enorme sorriso apareceu em seus lábios, revelando seus dentes um pouco tortos. Suas bochechas ficaram levemente rosadas, em timidez.

— Você acha? Obrigado Nora Nora.

Noragami fincou a espada no chão e se aproximou de Bruma, que estava perto do centro do campo. Os dois se sentaram lado a lado, observando as árvores de sakura ao redor, cujas pétalas caíam lentamente.

— Fizemos certo em não contar para eles? 

— A situação já está problemática demais. — Colocou o braço em cima do joelho — nosso foco deve ser apenas a missão. Bem — suspirou — é isso que o Nikolaus gostaria que fizessemos.

O silêncio se instaurou em todo o ambiente, sendo quebrado apenas pelo som do vento, passando entre as folhas.

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No centro da base, onde ficava a grande árvore central que ligava todas as demais áreas, Mika subia lentamente as escadas em direção ao seu quarto. A cada passo, a madeira dos degraus rangiam sob seus pés, e assim ela continuou até chegar ao piso superior. Virando-se para a direita, atravessou uma enorme ponte feita de madeira, sustentada por grandes cipós. Conforme caminhava, podia sentir a ponte balançando suavemente.

“Essa ponte…” , pensou levando a mão à boca.

Assim que atravessou, virou-se para esquerda e ficou diante de um grande corredor com diversas portas seguidas de placas. Avançou até a última delas e se virou entrando.

Seu quarto era limpo e muito bem arrumado, possuía uma cama de casal, diversas estantes de madeira, um pequeno tapete que se estendia até a cama, um candelabro no topo e, algumas 2 cadeiras perto de uma escrivaninha.

“Vocês são minha família” , pensou olhando pela janela, que lhe dava visão direta para Louis.

Mika abriu um pequeno baú e lá dentro possuía diversos, mapas e artefatos, dentre eles, ela pegou um em específico; uma pedra vermelha enrolada em um papel escrito casa.

— Tsuchinoko.

— Jijiji, vocês mortais são as reais maldições — Se enrolou entre a Mika a encarando. — Vamos matá-la então?.

— Se você se enrolar em mim novamente, eu quebro o seu pescoço. — Se afastou indo para perto da escrivaninha — antes — pegou um pincel — preciso que eles saibam que eu vou voltar.

— Jiji, ainda acha que voltará com vida?

Um silêncio profundo tomou conta do ambiente, rompido apenas pelo som da tinta sendo pressionada contra o papel. Assim que terminou, colocou a folha na parede e se dirigiu à porta, abrindo-a com um leve ranger.

— Eu sei que vou. — Fechou a porta bruscamente.



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