Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Eles.

Dia 02, mês 5 do ano 362AG, dois dias após o embate. 10:20 Reino Celeste- BSC.

Louis recuperava a consciência aos poucos. Uma forte chuva com diversas trovoadas acontecia ao lado de fora. Quando finalmente recuperou a consciência e abriu seus olhos, percebeu que estava em uma sala completamente feita de madeira.

Ao tentar se levantar, notou três correntes presas à sua mão, pescoço e perna. Quanto mais força fazia para quebrá-las, mais fraco ele ficava.

A única coisa que lhe restou foi observar o ambiente ao redor. À sua direita, havia apenas uma única porta, também de mesmo material. Já em sua frente, duas grandes janelas exibiam a grande chuva que não dava indícios de cessar.

Quando virou a cabeça para a esquerda, enxergou uma pequena escrivaninha com alguns papeis em cima e também um grande armário vermelho.

“8 anos depois e estou preso novamente em outra sala”, bufou.

Após alguns minutos ali preso, Louis escutou do outro lado da porta passos somados a diversas vozes. Se preparando para o pior, tentou um último esforço para quebrar aquelas correntes.

— Merda! Aquela maldita…— Se sacudiu na cama a fim de quebrá-la.

Os passos pararam, até que a porta se abriu, e dela entraram quatro pessoas com roupas diferentes.

— Vejam só, ele acordou! — disparou o menor deles, de cabelos espetados e cor rosa.

— Nossa, ele está totalmente detonado, o chefinho não devia ter mandado a Mika — falava outra.

— Eu era o mais apto a ter ido.. — falou, enquanto se apoiava em sua bainha.

— Saiam todos. Preciso conversar com ele a sós — disse o mais alto com voz ríspida.

Todos os presentes se retiraram rapidamente, sem questionar a ordem. O homem continuou olhando para as janelas de costas para Louis.

— Solte essas correntes! — Tentava se levantar forçando as grandes correntes — Eu irei matá-los!! Começando por aquela puta! 

— Hahaha! A Mika deixou você só o bagaço — O homem se virou — Como vai garoto?

Os olhos de Louis arregalaram e, todo o esforço que estava fazendo cessava lentamente.

— Niko — Sua voz falhou — Nikolaus?! Que merda é essa?

— As coisas não eram para ter seguido assim. — Moveu-se para perto da cama — Espero que esteja preparado para ouvir as merdas, que você causou.

— Não estou entendendo nada, minha mão, aquela garota — Começou a ficar ofegante, enquanto sua cabeça aos poucos ia se fragmentando. — Eu.. O que você quer? EXPLICA! Você está com eles? Você é um traidor, não, mas meu pai, você prometeu,  não... — Antes que conseguisse dizer outra palavra, Nikolaus lhe acertou um soco leve em seu rosto, fazendo-o cuspir sangue.

Sua visão começou a ficar turva. Nikolaus imediatamente o segurou com os dois braços e o encarou.

— Se você não se acalmar, eu irei dar outro, porém mais forte dessa vez.

Aos poucos Louis recobrava sua consciência, enquanto ao mesmo tempo sentia uma forte dor de cabeça.

— Não.. Não sei o que aconteceu — Respirou calmamente — Agora me fala, o que está acontecendo.

— Suas ações tiveram diversas consequências; mudança nos nossos planos, prisão do seu pai, mãe e do Krave, além de revelar aos porcos daquela capital sua verdadeira natureza.

Louis abaixou a cabeça e apenas continuou a escutar as palavras de Nikolaus.

— Seu pai provavelmente sabia, que você algum dia ia tirar as amarras que ele colocou e também que nesse dia ele seria condenado à morte junto de todos que cercavam você.

— Então.. — suspirou — Quando foi isso?

— Um dia antes de eu enviar Mika a você.

— Mika?.. — Uma luz preencheu sua mente — Ah… O que você quer exatamente? Me matar? Me informar? Me entregar? Ou fazer todas as opções? — O encarou seriamente.

— Se você for mais paciente, talvez eu consiga responder essas perguntas todas.

— Não consigo ser paciente com essa coisa no meu pescoço.

Nikolaus levantou um dos dedos e partiu em dois, todas as correntes sem ao menos tocá-las.

— Por que não fez isso desde o início?

— A notícia da execução de seus pais e de Krave, me fizeram sair de última hora em missão, Mika foi em meu lugar para recrutá-lo, provavelmente ela pegou mais pesado do que eu pedi e, isso inclui essas correntes.

“Quem chega na casa dos outros quebrando a porta?”, pensou.

— Ela fez um relatório sobre sua magia. Creio que, mesmo com ela, você não consiga restaurar a mão cortada. Ela a trouxe também.

“Ela esqueceu de relatar a parte que quase me matou”

— O que será que ela estava pensando? Essa maníaca dos infernos! Mas o que me importa agora é minha família. — Se levantou estrelando seu pescoço — Quando vai ser a execução?

— Leia você mesmo — Nikolaus tirou de um de seus bolsos uma carta e estendeu a Louis.

Ao pegar ele a abriu e dentro continha a seguinte mensagem:

“No dia de hoje dia 29 do mês 04, foi-se entendido a cumplicidade de dois generais do alto comando do exército e de outros mais, no incidente diabólico, envolvendo a heresia proibida por nossa Deusa e mãe Belamore. Os seguintes nomes se encontram atualmente retidos e vão ser devidamente punidos em praça pública no dia: 29 do mês 11:

         Mark Scratch Bellmore, Lisa Scratch Bellmore, Krave Luja’ in e outros cúmplices.

Atentamos também que, a partir de hoje, declaramos a busca e prisão de mais dois cúmplices foragidos: Nikolaus Belacroft e Louis Scratch Bellmore.

                                                                                 Ass: Nyx, mestra oficial.”

Louis amassou a carta com força.

— Obrigado, Nikolaus — A soltou no chão — Irei dar um jeito nisso.

— Onde você pretende ir? — Tirou de seu outro bolso um charuto e o levou a boca — A merda já está grande demais, para você simplesmente sair e aumentá-la

— Então o que? Fico aqui relaxando e espero chegar o dia? — Andou até a porta — Eu vou pensar em algo.

— Nós podemos te adiantar esse caminho — Acendeu o charuto — Se você for paciente.

— Nós? 

— Você já pensou em algum momento que você não é o único sofrendo nessa merda toda? Milhares de pessoas morrem todos os anos apenas por nascerem “diferente”, enquanto outros são caçados por se opor a isso. 

Andou até a janela a encarando e tirou o charuto da boca.

— Tínhamos planejado dar um ultimato naqueles fieis e seus 4 mestres, mas como você decidiu se revelar assim matando 20 pessoas no processo, tivemos que adiantar um planejamento que já acontecia há a 2 anos agora para 6 meses.

— Chega de me culpar! Eu fui apenas um que não suportava mais tudo isso, precisava começar de algum lugar.

— Deixe-me te mostrar algo — Foi até a porta e a abriu, indicando a Louis para segui-lo.

Assim que Louis saiu do quarto se deparou com um corredor estreito e escadas que levavam para cima. A luz fraca dos lampiões pendurados nas paredes de madeira revelava um caminho até o topo.

Ao seguir Nikolaus pela escada, Louis percebeu que ele estava em alguma construção erguida nas copas de grandes árvores em meio a floresta. As paredes e teto eram formados por uma junção de folhagem, que por fora se camuflava com a natureza.

Quando chegaram ao fim da escada, uma enorme estrutura à sua frente mostrava diversas passagens e portas que se entrelaçavam, formando uma espécie de rede entre as demais árvores. Cada uma delas parecia levar para algum lugar daquela base. À medida que avançava o cheiro de terra e de outros elementos ficavam mais evidentes.

Finalmente alcançaram uma ampla área no topo, onde uma estrutura circular foi construída. No teto era possível observar a chuva intensa caindo. No centro daquela sala havia uma grande mesa redonda, com diversas marcações e mapas, em suas redondezas cadeiras com nomes escritos.

Nikolaus ainda com seu charuto em mãos, se virou para Louis com seriedade.

— Essa é a nossa base, Louis.

Louis encarou tudo com seriedade e, dando uma volta pela sala, finalmente parou do lado da grande mesa e se virou para Nikolaus.

— O que eu preciso fazer?

Nikolaus soltava uma grande gargalhada.

— Foi mais rápido do que pensei, seja bem-vindo a Sociedade do Crepúsculo.

— Esse nome é ridículo, vocês que criaram?

— Hahah, também odeio ele, seu pai quem o criou.

“O coroa não era muito bom com nomes..” — Coçava a cabeça.

— Qual será o meu trabalho aqui?

— Estou aguardando a Mika, quando ela chegar te explicarei o resto.

— Aquela mania… — Antes que completasse, um barulho de chute foi escutado na entrada da sala, e de lá, entrou Mika completamente ensanguentada. — Você ia falar o que?

“Viciada em chutar portas!", pensou.

— Andou cortando a mão de outras pessoas? Por que está assim?

— Não te interessa. Nikolaus, consegui. — Andou em direção à mesa redonda e colocou um pedaço de papel sobre ela.

“Nojenta, insuportável, eu ainda corto essa sua mão como vingança”, pensou enquanto olhava sua mão.

— Com isso temos 75% do mapa — falou Nikolaus se aproximando da mesa.

— Para que isso? — perguntou Louis, encostando-se na mesa.

— Faz parte do plano, assim que o restante chegar, podemos iniciar. — disse Nikolaus, juntando todas as partes do mapa.

— Ei, garoto. — Mika mexeu na bolsa — Aqui está a sua mão — Jogou para Louis — espero que consiga consertar, mas se não conseguir não me importo.

Ele encarou Mika com um olhar cínico.

— O que você espera que eu faça? — Jogou a mão no chão —  Minha magia não se estende tanto 

— O problema não é meu — Deu um leve sorriso.

Com sua mão direita, Louis a estendeu em direção a Mika, e todo o sangue presente em sua roupa, saiu flutuando em direção a Louis e pairou sobre sua mão. Ele focou toda a sua atenção nele e, com muito esforço, o sangue começou a tomar forma de uma mão.

— Isso vai servir por enquanto — disse, enquanto colocava um tipo de prótese sanguínea que se ligava ao resto do braço.

Mika retribuiu o olhar cínico.

— Qualquer sangue que estiver fora do corpo e na minha vista eu posso manipular — disse balançando sua nova “mão”. — Quando iniciamos, Nikolaus?

— Agora, com a Mika presente, podemos começar. — disse, enquanto se dirigia a uma parede à direita e pressionando um botão camuflado, que disparou um pequeno alarme. — Sente-se na cadeira com seu nome.

“Meu nome? Então ele...” sorriu

Louis se acomodou na cadeira, que ficava ao lado de Mika, enquanto Nikolaus ocupava a cadeira central. Aos poucos os outros membros começaram a entrar pela porta, o menor deles sentou-se ao lado de Louis e o cumprimentou com um sorriso largo. 

O silêncio preencheu a sala até que Nikolaus, apoiando as mãos na mesa, se levantou e disse: — Este é o seu novo companheiro, Louis Scratch Bellmore, filho… — Um dos membros interrompia. — Todos nós sabemos de quem ele é filho. A questão é: porque ele está aqui? Por causa dele, adiantamos o plano em meses.

— Noragami, Louis será de grande utilidade para a continuidade do plano. Com Mika tendo conseguido mais um pedaço, mesmo com esse adiantamento, conseguimos compensar. — Explicou Nikolaus, juntando mapas.

— Não estou aqui por você, metido de cabelo desbotado. 

— O que? Quem voc — foi interrompido por Mika. — Noragami, se você interromper o chefe mais uma vez, eu corto sua cabeça.

O silêncio voltou a preencher a sala, e Nikolaus retomou a palavra.

— Como eu estava falando, Louis será de suma importância aqui. Agora, com essa nova mudança devido à execução de Krave, Mark, Lisa, e os outros aliados, vou novamente explicar a parte de cada um e suas devidas funções a partir de hoje.

“Até o fim desse plano eu acabo com esse bosta também”

— O plano inicial, com a participação de Mark, Lisa e Krave, consistia em entrar na capital pela entrada inferior conectada ao sistema de esgoto da cidade baixa. Juntamente com outros soldados recrutados, dividiríamos nossas forças em quatro equipes — continuou Nikolaus — Em suas mesas, tem um papel com a divisão.

Louis passou o dedo lendo o nome de cada uma das equipes: Kaidan, Yuki, Taro e Momotaro, e seus objetivos. Ele leu bem despretensiosamente sobre cada uma, até que toda sua atenção foi tomada por um item: “Com a prisão do monarca regente do reino…". Sua surpresa foi tão genuína que soltou no mesmo instante um palavrão.

— Que porra é essa? — Gritou — O monarca está preso? Como isso é possível?

— Hihi, você não sabia? Ele foi preso há um ano e meio, mas para o povo comum ele ainda está como se fosse o mandante, enquanto na verdade os fieis controlam tudo. — Explicou Bruma, uma garota com longos cabelos ruivos, olhos verdes claros, se apoiando na mesa entusiasmada.

— Continuando! Sem Mark, Lisa e Krave, ficamos com duas equipes com problemas. Dito isso, eu me adiantei e remanejei Mika e Louis para a equipe 4 Momotaro. — escreveu os nomes — Vocês dois irão avançar juntos de um grupo de soldados ao local da execução.

— Tá de brincadeira! — Exclamaram Mika e Louis ao mesmo tempo.

— Esse insuportável (a) comigo? — repetiram.

Nikolaus bateu na mesa, fazendo o silêncio retornar.

— As duplas devem durante esses 6 meses partirem em missões e treinarem em conjunto. Como ainda faltam 3 plantas para finalizar o mapa por completo, com exceção de Mika e Louis todos os demais serão designados a partirem em missão para pegá-los.

Nikolaus juntou todos os papeis em sua grande mão e os encarou profundamente.

— Vocês dois estão dispensados por agora, aproveite para conhecer o restante do local, se precisar de algo a Mika pode te explicar.

Os dois saíram caminhando juntos, olhando com cara feia um para o outro, até cruzarem a porta e fechá-la.

— Agora, fazemos o que? — perguntou Louis.

— O que faço com você em.. — suspirou — Já sei.. Irei treiná-lo.

— Passei 8 anos da minha vida treinando meu corpo, você acha que tem algo para ensinar? — Debochou a encarando.

— A batalha que vamos lutar e a qual você está incluído agora não é algo que você possa lidar apenas com “físico” — Andou um pouco pela ponte — Se você quer salvar eles e a si próprio entenda isso..

Pela segunda vez naquele dia, Louis foi calado por alguém. Assim ele a seguiu até que ela parou abruptamente em meio a ponte.

— Antes que eu me esqueça, vá se trocar essa sua roupa está toda surrada.

“Por que será né sua..”

— Então quer dizer que eu tenho um quarto? 

— Agradeça o Nikolaus por isso, por algum motivo o velhote mandou construir a 4 meses atrás. Enfim irei te esperar lá embaixo — Desapareceu em alta velocidade.

— Mas… Olha o tamanho desse lugar! Como eu vou achar?!! VOLTA AQUI! — Correu pela ponte.

 



Comentários