Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 3: Ruptura.

 Dia 5 ano 362AG, 8 anos depois, reino Celeste, Quartel de testes.

DING-DONG

Um enorme sino ecoou incessantemente.

DING-DONG

Tocou novamente.

Louis, já com 19 anos, cabelos pretos e olhos amarelos como de uma águia, um corpo treinado, acordou em seu quarto, percebendo o som do sino na terceira batida.

DING-DONG

— Ai, droga! — caiu da cama — Esqueci do meu exame!

Rapidamente, ele se levantou e se trocou o mais rápido possível. Mal teve tempo de arrumar seu cabelo quando foi interrompido pela quarta batida.

DING-DONG

— Essa porcaria de sino não para de tocar nunca? — Ele se olhou no espelho uma última vez ajeitando sua luva e colocando sua roupa rapidamente, depois lançando um sorriso e um gesto com a mão


e saiu.

O garoto correu pelos corredores o mais rápido que pôde, virando na primeira porta à sua direita e se dirigindo ao pátio. O pátio era amplo e possuía duas fileiras com cerca de dez pessoas em cada uma. No centro do pátio, erguia-se um imponente palco de madeira, onde um senhor alto se posicionava.

General Krave, com seus 55 anos e 180 de altura, vestindo seu colete do exército, tinha cabelos e olhos pretos. Uma cicatriz em forma de X no lado esquerdo de seu rosto.

— ATENÇÃO! Garotos e Garotas hoje é o dia em que vocês passarão pelo teste de admissão como soldados oficiais do exército. Devo alertá-los que — O general foi interrompido por um som de batida — Que atrasos NÃO SERÃO TOLERADOS cadete Louis.

— Me desculpe general Krave — Se curvou — Perdi a hora.

— Atrasos como esses não serão mais tolerados. Não é porque seu pai é comandante do exército que você pode fazer seu próprio horário.

Louis imediatamente entrou para a fila sem dizer mais nenhuma palavra.

— Como eu estava dizendo, hoje é o teste final. Apenas dez de todos vocês entraram oficialmente como soldados, afinal eu como seu general quero apenas os melhores, os fracos não tem lugar em nossa luta. — Diversos murmúrios foram escutados — SILÊNCIO!.

Krave pegou um pote de vidro à sua esquerda com diversos papeis dentro, ele o balançou e retirou um papel — Venha a frente cadete Lucian Vortia.

Um garoto de olhos azuis com cabelos castanhos e mais de 185 de altura se aproximou do palco com um olhar sério e se curvou em frente ao general.

— O teste vai ser um combate um contra um, o sorteado deverá escolher outro para lutar e assim vai ser até o último ser testado — Ele se virou para Lucian o encarando seriamente — Escolha alguém cadete.

Lucian com um olhar frio e prepotente procurou os mais fracos visualmente e ao olhar todas as fileiras ele encontra seu alvo. Uma garota pequena com cabelos pretos, morena e com olhos marrons — Aquela — apontou Lucian.

— Cadete apresente-se — disse o general rispidamente.

— Me chamo… Dyna prazer — Se curvou.

Antes de iniciar o combate, Krave ordenou que todos os presentes se organizassem nos bancos, para se assegurarem que não se feririam durante os combates.

— É válido qualquer método de derrota contra o oponente e as armas de curta distância estão completamente liberadas — levantou a mão — Estão preparados?!

— Sim senhor! — Disse Dyna

— Estou pronto… 

Krave olhando os cadetes de baixo a cima abaixou a mão anunciando: — COMEÇEM!

Lucian retirou sua espada da bainha a segurando com firmeza, mantendo sua ponta em direção a Dyna. Rapidamente ela entrou em posição de luta, empunhando suas duas adagas com certo nervosismo. Ele avançou se impulsionando com força contra o solo, rompendo a distância que os separava. Sua espada se ergueu, mirando um golpe direto no peito de Dyna, mas ela reagiu, cruzando suas duas adagas e bloqueando o ataque. Ao mesmo tempo, Dyna desferiu um chute em sua barriga, jogando-o metros para trás.

Lucian se recompôs quase que instantaneamente.. Ele ergueu sua espada na horizontal, mirando diretamente no pescoço de sua adversária. No entanto, antes que ele pudesse desferir o golpe, Dyna reagiu rapidamente. E num movimento ágil e preciso, ela se abaixou, desviando-se da lâmina.

Dyna usou seu braço esquerdo, deslizando sua adaga afiada pela barriga de Lucian com um único e forte corte. O sangue jorrou imediatamente. — ARGH! — Grita Lucian, enquanto caiu de joelhos segurando-se em sua espada.

— Ei! Você me escolheu porque achou que eu fosse a mais fraca correto? — Abriu um sorriso de orelha a orelha — Você é um lixo qualquer mesmo.

Dyna guardou uma de suas adagas e segurando a outra com as duas mãos firmes, ela manteve o sorriso, mirando as adagas na cabeça de Lucian, porém antes que as acertasse, Lucian levantou sua mão direita colocando-a na frente da adaga. Sua mão começou a sangrar incessantemente.

Ele aproveitou a distração de sua adversária e contorceu seu braço esquerdo acertando um gancho no queixo de Dyna, fazendo ela voar alguns metros do chão e caindo imobilizada

O general Krave levantou seu braço direito e sinalizou o fim do combate, declarando, enfim, Lucian como o grande vencedor.

Os dois foram socorridos logo em seguida por um grupo de médicos que os levaram a enfermaria

Sem enrolações, Krave pegou novamente o pote e retirou mais um nome. O general ao ver o nome sorteado se encheu profundamente de entusiasmo.

— Apresente-se a frente cadete Louis Scratch Bellmore

Louis se dirigiu ao palco lentamente, apreciando os olhares de todos com um ar de superioridade. Ao alcançar o mesmo, curvou-se ao general e sem demora alguma apontou — Aquele ali.

De imediato todos presentes arregalaram os olhos e começaram a sussurrar incessantemente. Louis apenas sorriu e confirmou sua decisão

— Venha a frente então cadete Shins — Antes que pudesse continuar o cadete apareceu atrás de Krave. — Shinso Toshigura.

O cadete, com mais de 190 de altura, cabelos brancos como a lua e olhos tão escuros quanto um abismo misterioso, se curvou ao general e entrou em posição de luta, antes mesmo da contagem.

— PREPARADOS?!

— Vou pegar leve ok? — disse Louis sorrindo novamente.

— Tsc.

— COMEÇEM!!

Louis arregalou os olhos e flexionou suas panturrilhas, como se estivesse prestes a dar um impulso. Entretanto, antes que conseguisse agir, Shinso surgiu como um vulto por trás dele, segurando sua cabeça com as mãos e pressionando-a com uma força imensa contra o chão de madeira.

O palco de madeira estremeceu completamente, chegando a se partir ao meio. O general presente no palco deu um salto para trás, escapando de ser levado ao chão.

Entre a fumaça, Shinso emergiu, mas Louis já não estava em suas mãos. Em um instante, ele acertou as costas de Shinso com uma faca azulada.

Shinso sequer teve tempo para pensar de onde Louis havia tirado aquela faca.

Quando a fumaça se esvaiu por inteiro, Shinso colocou as mãos em suas costas tentando alcançar o local perfurado, sentindo uma dor imensa junto de um tipo de queimação, ele se virou a Louis e gritou: — MALDITO! De onde tiraste esta faca?

— Agora você fala? — Abriu um leve sorriso — Eu nunca me familiarizei com essa sua raça, todos tratam vocês “Lumis” como se fossem descendentes divinos e por isso se acham no direito de se impor sobre outros, eu irei mostrar para os demais aqui que vocês não são tão perfeitos.

— Tu nem ao menos chegaste no horário requerido e ainda achas no direito de me julgares minha raça? Biltre.

Shinso se recuperou rapidamente do golpe recebido.

— Hahahaaa. Claro… — Louis lançou sua outra faca em direção ao olho de Shinso.

Shinso defendeu o ataque, quebrando a lâmina com sua mão.

— Só isso? — ele zombou, avançando com passos pesados e lentos. A cada passo, o chão treme como se estivesse afundando.

Sem se abalar, Louis rapidamente se aproximou, tentando desferir um soco com a mão direita. Embora Shinso tenha conseguido segurar seu punho, ele previu seu movimento e, com sua outra mão, atingiu com força suas costelas, arremessando-o para longe.

Enquanto a fumaça se levanta no ar, Shinso emergiu novamente, gritando intensamente: — AHHAHHHHH — Seu olhar fixou-se em Louis.

De forma abrupta, ele avançou como se tivesse perdido completamente sua sanidade. Sem medo, Louis correu em sua direção o encarando de frente, mas antes que pudesse realizar algo, o lumis desferiu um golpe tão intenso e poderoso com sua mão esquerda, que, fez Louis de última hora tentar desviar, porém é acertado em cheio em seu peito.

Um jato de sangue é expelido.

Louis colocou a mão em seu peito, caindo de joelhos. Antes que todos conseguissem assimilar a diferença na coloração do sangue, o berserker Shinso atacou Louis com um chute tão forte que cortou o vento.

Louis foi lançado a vários metros de distância, parando a centímetros de atravessar a parede do quartel.

— Então é isso… — disse, Krave satisfeito.

O general estendeu sua mão para declarar o fim do embate, até que uma lança azulada vinda em grande velocidade, atravessou o peito de Shinso o derrubando-o no mesmo momento, assustando todos os cadetes presentes.

— Me perdoe pai. — Deu um sorriso novamente. —  mas eu não aceito mais essa vida.

Louis apareceu do outro canto da parede, em meio a poeira completamente ileso, sem marcas de sangue ou ferimentos, porém com mais uma lança afiada e com uma tonalidade azulada.

— O TESTE ESTÁ ENCERRADO! TODOS SAIAM IMEDIATAMENTE DO QUARTEL! — Ordenou o general, sua voz ecoou com tanta intensidade que parecia fazer as paredes tremerem. Suas veias saltaram como se fossem explodir.

Os cadetes, atordoados pela sua voz, começaram a se dispersar em murmúrios, questionando-se o que exatamente o irritara tanto.

— Então o que eu mais especulava, estava certo..  — falou Krave com um tom de sarcasmo, enquanto se aproximava lentamente.

— O que isso importa agora? Por que interrompeu o embate? Logo agora, quando eu estava prestes a finalizar o arrogante ali.

— Acidente do ano de 354AG, dia 5 do mês… — Antes que completasse, a lança que antes estava na mão de Louis passou por seu rosto e fixou-se no chão, fazendo um corte próximo à sua antiga cicatriz.

Krave passou a mão no rosto e sentiu o sangue escorrendo aos poucos.

— Não ouse falar sobre esse dia — suas pupilas dilataram e seus dentes ficaram levemente cerrados pela tensão.

— Você está bem encrencado mesmo, garoto. Apenas me pergunto: você sabe quais são as regras do reino, correto? Por que mesmo assim insistiu em revelar isso? 

— A anos eu não suporto mais viver escondendo isso, esses malditos nos forçam a viver assim, mas por que?.

— TOLO! Arrogante, você sabe o que vai acontecer agora?.. Eu imagino o quanto Mark tentou esconder que seu único filho possuía magia, além dessa coloração estranha em seu sangue.

— Otimo! Já que quer tanto falar de passado, me explique então do porquê eu nasci com esse sangue?!

— Eu, nem ninguém nesse quartel, pode explicar isso. O que eu tenho certeza é que não tem nenhuma ligação com sua magia, mas independente do que seja, pelas regras do reino você deve se entregar aos fieis.

— O QUE?! — Franziu a testa — Vocês do exército se submetem a eles? São tão fracos assim?

— HAHAAA! — Gargalhou o general — Essa conversa já se estendeu demais. Agora, eu acho bom você se entregar.

— Então você realmente vai se submeter a eles… — Louis pegou sua última faca restante e cortou a palma de sua mão esquerda.

— Então vai pelo jeito mais difícil — disse o general enquanto se dirigiu à parede e acionou o mecanismo de alarme.

 BRRRING!

Um som estridente começou a tocar por todo o quartel, por cerca de 10 segundos. Então dezenove guardas, apareceram com uma armadura preta e com máscaras entalhadas nas mesmas, todos ali usavam também um bastão de madeira com uma ponta de ferro bem afiada.

— Essas mascar — Antes que completasse um dos soldados atirou o bastão em sua direção, que passou de raspão em seu rosto.

O sangue em sua mão começa a se contorcer e ao fim se formou um pequeno machado.

Todos os guardas partiram em sua direção empunhando seus bastões, Louis avançou calmamente e quando o primeiro lhe alcançou, ele girou tão rapidamente a arma que cortou a cabeça do mesmo sem dificuldade alguma.

O sangue jorrado se espalhou pelo campo, Louis deu um pulo rápido para trás enquanto contorcia seus braços o máximo possível e atirou seu machado diretamente na cabeça de um outro soldado.

— Faltam 17.

Um dos guardas aproveitou a brecha de Louis e conseguiu quebrar a distância entre os dois em uma rapida arrancada. Ele ficou a centímetros de acertar até que Louis usando sua perna direita chutou seu rosto. fazendo-o expelir sangue e voar alguns metros.

— Faltam 16.

Os demais guardas ficaram completamente parados observando a tensa situação, que parecia piorar a cada minuto.

Até que um dos presentes gritou: — Por Belamore! Devemos matar esse ser impuro.

— Então vocês realmente baixaram a cabeça para essa vaca. — Falava com um tom de decepção.

Louis estendeu suas duas mãos para cima e, de repente, o sangue espalhado pelo campo começou a se mover.

Os guardas ali deram passos lentos para trás, enquanto Krave apenas observava de braços cruzados, sem se preocupar com o que estava por vir.

Então, em poucos segundos, todos ali se viram presos no sangue de seus colegas mortos, sem conseguir ao menos mover os pés. Louis fechou suas mãos e do chão de sangue surgiram diversas estacas afiadas que, aos poucos, iam perfurando os soldados remanescentes.

Os gritos de dor se espalharam por todo quartel, somados ao som das estacas atravessando os corpos. A expressão no rosto de Louis não se alterava. Quando enfim o barulho cessou, o silêncio pairou sobre o campo encharcado de sangue. E Louis caiu de joelhos, já sem forças, encarando o general.

— Eu já esperava que eles não conseguiriam fazer nada contra você, mas não imaginava essa carnificina toda. Você só piorou sua situação. O alarme foi soado e, mesmo que você tenha matado esses, mais e mais virão…

— Você… por que não lutou? — falou pausadamente, respirando desesperadamente.

— A 35 anos atrás, houve uma guerra civil aqui no reino. A nobreza se juntou secretamente aos fieis da Belamore e confrontaram a monarquia a aceitar todas as regras que eles acreditavam corretas, foi um ultimato. Eu e seu pai — Colocou o cigarro na boca e o tirou — Na época, tínhamos apenas 19 e 20 anos. Nós enfrentamos os fiéis e seus 4 líderes, que na época tinham recém ocupado os cargos de grão-mestre e, bem… Como você pode perceber, nem mesmo toda força militar do reino os pararam.

— Isso ainda não explica o porquê você não interferiu.

— Pense um pouco garoto idiota! Eu nunca compactuei com esses lunáticos, mas como eles vivem com uma lança apontada para nossas cabeças, temos que fazer o que for necessário, além do mais eu não me importo suficientemente com esses ai.

Louis, incrédulo, finalmente se levantou com grande esforço. Com os olhos arregalados, ele observou o campo coberto de sangue e os diversos corpos empalados.

— Esse seu jeito arrogante decretou isso… Você teve sorte que, hoje o "rei" requisitou uma grande comitiva, mas em cerca de dois minutos, esse local vai virar um completo formigueiro cercado por, no mínimo, 500 soldados.

— Isso tudo… O que você vai fazer agora? — Olhou fixamente.

— Não sei… — Jogou o cigarro no chão e pisou — Talvez eu deixe você ir. Direi a eles que você conseguiu escapar… Bem, talvez não acreditem, hahah.

— Meu pai..Preciso ir vê-lo

— Se eu fosse você não faria isso.. Assim que a senhora Nyx e os outros 3  descobrirem a verdade, seus pais com certeza serão os primeiros a serem interrogados, se esconda garoto eles provavelmente vão querer sua cabeça.

Louis se afastou ainda mais e, acenando com a cabeça para o general, virou-se em direção ao muro quebrado e começou a correr até o alcançar, ele dá uma última olhada para trás e o atravessa.

— Por qual motivo deixou ele ir? — disse uma voz masculina, escondida na sombra

— Já tinha percebido sua presença.. — Krave se virou em posição de luta — E por qual motivo você não o impediu então? — Retirou do bolso sua pequena caixa com cartas — Estou fazendo uma aposta com o futuro.

 

 



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