Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Sem rumo

Dia 27 do ano 354AG, reino Celeste- Krista, hospital central.

Louis acordou em uma sala totalmente branca, com alguns poucos móveis, com um banheiro e uma única porta de saída.

“Onde estou?”, pensou, se espreguiçando na cama.

Tentou erguer os braços, mas, ao olhar para eles, soltou um grito estridente. Ambos estavam cobertos por queimaduras. Ele tentou manter a calma e, apoiando-se na cama, finalmente conseguiu sentar.

 Apoiou-se na parede à sua frente e chegou ao banheiro, onde se segurou para não cair. Quando olhou para o espelho, deu um pulo para trás.

Metade de seu rosto estava queimado.

“Como… Por quê?! Onde estou?”

Ele se forçou a ficar de pé novamente, mas ouviu passos se aproximando da porta. Preparado para o pior, segurou uma escova de dentes que estava à mão.

A porta se abriu lentamente, com um som estridente. Um homem em um colete militar, com uma cicatriz em forma de X no rosto, entrou. Ele olhou para Louis com seriedade.

— Por que está segurando uma escova de dentes? — ele perguntou com uma voz rouca.

“Quem é ele? Se eu falar algo, ele pode me machucar.”

— Vai ficar em silêncio então? — o homem começou a se aproximar. — Não há motivo para você ter medo.

— ESPERE! — gritou Louis. — Quem é você? Onde estou? Onde está o meu pai?

O homem sorriu. — Calma, garoto. Vou responder a todas as suas perguntas.— Ele andou até a ponta do quarto, onde tinha um pequeno banco de cor marrom e o levou até o meio do quarto — Pode sentar aqui por favor?

Louis, com as pernas trêmulas, caminhou calmamente em direção ao pequeno banco e se sentou.

— Ótimo, agora vamos tentar recomeçar, certo?

— Cadê meu pai?

— Mark veio te visitar todos os dias desde o acidente, mas hoje ele foi chamado para resolver detalhes desse mesmo acidente.

“Pera… Dias?! Como assim dias?! e como ele sabe o nome do meu pai?”

— Dias? A quanto tempo eu estou aqui?

— 18 dias.

Em um espanto, ele quase caiu para trás, mas o homem misterioso o segurou e disse: — Toma cuidado, garoto, você ainda não está em boas condições.

— Como você sabe o nome do meu pai?

— Fomos grandes companheiros no passado. — Ele se agachou na frente de Louis — Agora me diz o que aconteceu entre vocês naquele vestiário?

Louis se manteve confuso.

 — Eu… Não sei. Não consigo me lembrar exatamente o que aconteceu.

— Que problemão temos aqui então… Tinha prometido ao alto escalão descobrir… tenho uma ideia para ajudar a refrescar sua memória.

— Onde estamos?

— Você tem muitas perguntas, mas ainda não obtive respostas de você. Que tal jogarmos o jogo? — Pegou uma pequena caixa com cartas. — Este é um jogo bem conhecido chamado Twice. Na minha caixa, existem apenas três tipos de cartas: um homem com uma tocha, uma cruz dourada e um homem vestido de palhaço. Se você pegar a carta do homem com a tocha, faço uma pergunta. Se pegar a cruz dourada, você faz a pergunta, um aviso: evite pegar a do palhaço a todo custo.

Louis encarou seriamente o homem e ergueu sua mão em direção a caixa e puxou sua primeira carta, ela estava virada para baixo e quando ele a virou, veio o homem segurando a tocha.

— Que agradável, após o jogo o que exatamente aconteceu?

— Ainda está meio difícil de lembrar

— Faça um esforço por nós dois.

Ele se concentrou e se esforçou para lembrar exatamente o que aconteceu.

— Eu não estava por perto, mas um dos garotos estava falando com meu amigo.. — Naquele momento Louis se tocou — Pera, cadê meus colegas? Cadê o Igor?

— Lembre-se do jogo… agora puxe novamente outra carta — Estendeu a caixa — Pegue.

Com certo tremor nas mãos, Louis puxou outra carta com os olhos fechados e ao abrir se deparou com a cruz dourada, ele suspirou.

— Perfeito! Faça sua pergunta.

— Onde estão meus colegas?

— Você quer mesmo saber? — Puxou um maço de cigarro do bolso e acendeu um deles — Você pode ficar decepcionado ou mais triste — Colocou o cigarro na boca.

— Fala de uma vez! — Gritou.

O homem começu a falar o que aconteceu com cada um dos presentes no jogo, a cada palavra que saía de sua boca uma lágrima escorria do rosto de Louis. Assim se manteve até ele citar seu amigo. Igor foi o último dentre todos a ser citado, seu corpo estava completamente irreconhecível, ao saber da informação ele se manteve imovel.

— Talvez eu devesse te dar um tempo — O homem agachado se levantou — Você foi o único sobrevivente, se você não nos disser o que aconteceu alguém pior que eu vai aparecer e descobrir a força — Foi até a porta e a abriu girando a maçaneta com calma — Você entendeu certo? Se cuida — Saiu.

Ele continuou chorando, sem se dar conta de que o homem em questão saiu da sala. Louis só conseguia pensar no que poderia ter acontecido, e mesmo sem saber, ele se culpava pela morte de seu melhor amigo. Assim, continuou por cerca de oito minutos, até que finalmente se comprometeu a descobrir e honrar seu amigo.

Louis se levantou, apoiando as duas mãos no joelho. Já de pé, ele olhou ao redor do quarto.

Ao lado direito da cama, havia um grande armário. Calmamente, Louis se dirigiu a ele e o abriu cuidadosamente. Dentro, ele viu cerca de três conjuntos de roupa e não pensou duas vezes antes de pegar o primeiro conjunto.

 Uma camisa preta ajustada e uma calça branca larga.

Rapidamente, Louis se vestiu e correu para o banheiro. Lá, ele se encarou novamente, olhando para metade de seu rosto queimado. Abriu um sorriso e manteve um olhar fixo adiante.

Ele correu para a porta e, antes que conseguisse tocar a maçaneta, a porta se abriu rapidamente. Ele se afastou em um pulo, sem conseguir olhar para o rosto da pessoa, ouviu:

  — Louis?!

Levantou a cabeça, os olhos estavam brilhando em lágrimas. Ele correu para abraçar seu pai, mas antes de alcançar, Mark colocou a mão em seu ombro e abruptamente o fez ficar de joelhos.

— Isso doeu! Por que fez isso? — Franziu a testa.

— Quem… Quem veio aqui? — Aumentou o tom.

— Nã — Ele interrompeu Louis gritando — QUEM VEIO AQUI?!

— Um homem estranho… Ele fumava e tinha uma cicatriz no rosto, mas por quê? — Interrompeu novamente — O que você disse a ele?

— Eu não contei nada! Não consigo me lembrar.

— Mesmo se você lembrar, não deve contar a ninguém.

— Por que você está assim? O que aconteceu?

Mark pegou a mão direita de Louis e, com uma pequena faca em sua outra mão, fez um pequeno corte na mão de seu filho. Louis tentou se afastar, mas Mark o forçou a olhar.

O sangue que começou a escorrer tinha uma coloração totalmente azulada.

— Ai! Por que você fez isso? — perguntou Louis, segurando sua mão e se afastando.

— Momentos depois que aconteceu a explosão, eu fui o primeiro a alcançar o que restou do vestiário. Você era o único ainda respirando, mas ao mesmo tempo eu reparei nessa cor estranha em seu sangue. Não sei as causas dele… Mas não deixei ninguém o vê-lo

— Eu poderia ter morrido..

— Não… Você sobreviveu àquela explosão porque você a criou, assim como esse seu sangue o fez sobreviver ao impossível. Suas condições eram e se mantiveram estáveis.

— E meu rosto? Meus braços! Está tudo queimado.

— Enquanto aguardava você acordar, realizei algumas pesquisas, seu corpo vai reagir bem a esses ferimentos.

— Pai, você não deixou nem a mãe me ver?

— Não se preocupe com isso.

— Você está me assustando… Eu não estou entendendo nada! Desde que acordei, vocês entram aqui e ficam falando um monte de coisa, eu não consigo me lembrar de nada!

Mark andou até Louis, agachou colocando a mão no ombro e o encarou seriamente.

— Eu não esperava nem nos meus piores pesadelos ter um filho assim… Você é… Apenas saiba que se você revelar para alguém o que conversamos aqui, vão vir atrás de você, de mim e da sua mãe. Você é muito novo para isso — escorreu uma lágrima — eu sei… Mas é assim que vai ser. Saiba que no fundo eu tentei, Louis!

As informações invadiram de uma só vez a mente de Louis. Ele não conseguiu dizer mais nenhuma palavra. Mark se levantou e foi até a cama onde Louis havia dormido. Ele se agachou, e pegou uma maleta escondida embaixo. Cuidadosamente, ele a abriu e retirou dois objetos: uma pequena adaga com escrituras e um colar dourado com uma rubi no meio.

Ele se dirigiu a Louis, ainda no mesmo lugar paralisado, e olhou fixamente nos olhos dele. Puxou sua mão esquerda e entregou o colar, e na mão direita ainda cortada, entregou a adaga.

— Mesmo que não faça sentido agora, por favor, guarde com você! Não deixe ninguém pegar e use se necessário. — Louis segurou os dois objetos com força e se aproximou de seu pai.

— Krave deve ter avisado que você acordou. Eles devem estar vindo. Se cuide, meu filho. Quando sentir medo, segure esse colar com força.

No segundo seguinte, a porta se abriu, quatro homens cobertos dos pés a cabeça com uma máscara de madeira entalhada em suas roupas entraram na sala anunciando: — AVANTE! A SENHORA E GRÃ MESTRE DO REINO SR.NYX!.

Naquele instante o estômago de Mark revirou por completo, uma aura pesada o cercou, o sentimento de morte e perigo o prendeu contra o chão, deixando-o completamente imovel. 

— Já sou uma senhora? HAHAHA — disse entrando lentamente no quarto.

Ela avançou pelo quarto, com seus cabelos pretos, olhos e boca violeta. Nyx andava pelo quarto lentamente, com seu longo vestido preto. observando cada detalhe e sinalizou aos guardas para se retirarem.

— Mark Scratch Bellmore, comandante geral do exército, é uma honra, sabia? — Da um sorriso de canto de boca.

— A honra é totalmente minha, Sr.Nyx.

— De novo isso, senhora? Não sou tão velha assim. — se aproximou — Você é o querido Louis, certo?

— Si — Gagueja — Sim.

Ela continuou andando pelo quarto e olhando em todo lugar possível, até que reparou perto de Mark e Louis algo azulado. Curiosa ela se aproximou, agachou-se e passou o dedo pelo liquido e levou-o à boca.

— Vocês já ouviram a história de Gringe?

— Eu me recordo dela, mas nunca contei ao meu filho.

— Que pai é esse? Haha, Louis, há 120 anos atrás, um homem se infiltrou em nosso reino. Ele parecia um cidadão como qualquer outro. Mas ano após ano, ele ficava mais conhecido no reino. O povo comum o chamava de “Protetor dos Desfavorecidos”. Os bons ventos diziam que ele conseguia milagrosamente multiplicar qualquer coisa. Todos de bem achavam que ele era abençoado pela nossa deusa Belamore, mas nós, os reais protetores do reino, descobrimos que ele mentiu a todos. O que ele tinha não se tratava de uma bênção, e sim de pura magia. Nossa deusa nunca deixaria um servo dela usar tal artimanha nojenta.

— O que aconteceu com ele?…

— Ele teve a punição merecida! — Esticou os dois braços em êxtase —  Foi exposto a todo o povo e executado publicamente. O que eu quero dizer é que nunca poderíamos permitir que qualquer falso profeta invada nossos portões dizendo ser um enviado, quando apenas está usando a nojenta e antiga arte chamada magia. Eu vim até aqui porque acho que posso ter encontrado mais um lobo no rebanho…

Nyx ficou frente a frente com Mark e Louis e perguntou: — Por que ainda estão aí agachados? Podem se levantar.

Os dois se levantaram calmamente, e Mark ainda segurava a mão direita de Louis debaixo de seu terno. Nyx encara seriamente, sem dizer uma palavra. Ela se aproximou mais e disse: — Mostre-me a mão, rapaz — Abriu um largo sorriso.

— Não precisa, minha senhora, está tudo bem. — falou Mark sentindo uma aura pesada o cercando-o.

— Novamente, senhora? Achei que vocês do exército fossem mais bem disciplinados. Agora, mostre a mão, ou serei obrigada a pegar à força.

Louis, com medo, tentou relaxar, e aos poucos foi se desprendendo de seu pai, até que ele estendeu sua mão por completo a Nyx. Milagrosamente, ela estava seca, sem qualquer marca de corte ou sangue.

“Sorte!” — Mark relaxou os ombros.

— Ótimo! — Fez um carinho no cabelo de Louis — Foi bom te conhecer, garoto. Espero que seu pai explique bem como vai funcionar sua estadia na — Um dos guardas a interrompeu, entrando abruptamente pela porta e dizendo: Senhora Nyx! — Antes que completasse, a cabeça do guarda inchou e rapidamente explodiu, espalhando sangue por todo local.

— Eu tenho que remover essa palavra do vocabulário comum. Parece que tenho problemas para resolver, haha. Me desculpem pela bagunça, e Mark peça alguém para limpá-la depois

Assim que ela se retirou da sala, Mark abraçou seu filho e, segurando-o com os dois braços, perguntou: — Como você fez isso? 

— Isso, o quê? Não sei… Quem era aquela moça? Por que ela fez aquilo?

— Não! Não olhe! Isso não importa agora. Agora você precisa ir. Tem um homem chamado Nikolaus na recepção. Ele é alto, tem uma queimadura em seu rosto na parte esquerda do rosto, e está vestindo um sobretudo e um chapéu branco. Siga o que ele disser, mas não diga nada além do necessário.

Louis abraçou seu pai novamente, deu um beijo em seu rosto, e se preparou para sair da sala. Antes de alcançar a porta, Mark o chamou e disse: Lembre-se, não confie em ninguém. — Louis acenou com a cabeça e saiu da sala.

 

 



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