Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 45: Começar do zero

— Com licença... — disse Hiroshi, entrando em uma pousada que ficava no meio do caminho até a vila, já que havia anoitecido.   

— Fique à vontade, quer algo para comer? ...Senhor?  

Ambos ficaram perplexos um com o outro, mas por motivos diferentes.  

— Sota?  — O corpo de Sota estava mal treinado como antes de se tornar o subordinado de Will. 

— Eu te conheço... Senhor?   

“O imperador ainda lembra de mim, mas você não?” 

— Uau... — Já Sota, estava admirado pelas roupas caras que Hiroshi vestia e pela katana que havia recebido de presente pelo imperador. Seu fascínio por guerreiros continuava até nesse mundo. 

Hiroshi deu uma risada e disse.  

— Eu quero um... Pode me dar o cardápio por favor?  

— Posso sim... Como sabe meu nome?  

Hiroshi observou Sota com um leve sorriso, e disse: 

— Você me contou.  

— É mesmo!? Não tem como eu ter esquecido de alguém como... — Sota correu para os fundos e Hiroshi o escutou cochichando com outra pessoa. — Por acaso ele já veio aqui?  

— Não largue o cliente assim só para perguntar isso! — A outra pessoa respondeu.  

Então os dois voltaram juntos.  

Eh... Aqui está o cardápio — disse Sota.  

— Essa é sua esposa? — perguntou Hiroshi.  

— É sim! — respondeu com orgulho.   

— Que os céus abençoem seu filho. 

A mulher grávida se curvou levemente em forma de agradecimento, deu um peteleco no ouvido de Sota e voltou aos fundos.   

— Vou querer um chá verde e um mochi, aqui o dinheiro, contando a estadia pela noite.  

Hiroshi ofereceu muito mais que o necessário e perguntou sobre as termas. 

— Muito obrigado! Certo, pode ficar lá o quanto quiser, vai indo que eu levo para você depois.  

— Onde posso guardar minhas coisas?  

— Ali. — E apontou para alguns armários.  

— Obrigado.  

— De nada.  

Hiroshi admirava cada aspecto do cenário por todo caminho.  

“O que quer que tenha acontecido nesse mundo, agradeço por não sermos inimigos nessa vida.” 

— Eu realmente devo ser um amuleto de azar. Ele parece bem mais feliz nessa vida... 

Hiroshi se limpou e entrou em uma grande piscina termal.  

— Aqui está o seu pedido! Se precisar de qualquer coisa é só tocar o sino. — E Sota colocou o prato que levava o mochi, o chá e o sino dentro da água com cuidado e o prato boiou na água.  

— Mas se nem tudo é igual por aqui, isso prova que o destino não é tão real assim. Ainda há esperança para meu azar. 

E Hiroshi deu um gole no chá.  

Ah, queimei a língua.  

O Sol nasceu e Hiroshi se preparou para continuar sua caminhada. 

— Acabei abandonando meu sonho de seguir com o nome da família, mas vou nomear meu filho com seu nome para que se torne como você e consiga fazer o que não consegui — disse Sota. 

— Não faça isso a não ser que queira amaldiçoar seu filho antes mesmo de nascer. Que tal Rin? 

— Também é um bom nome... Vou pensar melhor nisso depois. Obrigado por vir aqui — disse Sota. 

“Mesmo que ele não tenha sido afetado nessa vida, o que fiz contra ele antes se aplica nesse mundo também?” 

— O que eu vou dizer pode soar um pouco estranho... Me desculpe — disse Hiroshi.  

— Ah, por que está se curvando tanto? Você nem fez nada de errado!  

— Será que eu não fiz... Não, eu com certeza fiz, mas não aqui, de qualquer forma faço isso por mim mesmo, não se preocupe.  

Sota olhou confuso, Hiroshi se virou e abriu a porta, então uma pequena criança bateu com tudo nas pernas de Hiroshi.  

— Ei Aki! Tenha cuidado com os clientes! — gritou Sota.  

Bleh! Ele que estava no caminho, ele tem que se desculpar — respondeu Aki.  

Hiroshi começou a chorar.  

Ah! Sinto muito por ele! Olha só o que você fez! Se desculpe agora! — disse Sota, desesperado.  

— Está tudo bem. 

Hiroshi se agachou e abraçou Aki com força.  

— Ei, ei, me larga seu estranho! — gritou Aki, se debatendo.  

— Me desculpe por tudo, eu não pude protegê-los. — Hiroshi tremia.  

Argh. — Aki escapou e correu para Sota. — Proteger quem seu doido?  

— Seus pais.  

Aki riu.   

— E daí? — Hiroshi ficou perplexo e Aki continuou. — Eu nem tenho pais!  

— Espera, você conhece os pais do Aki? — perguntou Sota  

— Sim, eles me pediram para eu cuidar dele.  

Sota levou um tempo para processar tudo, mas depois começou a comemorar.  

— Finalmente a gente vai se livrar dele! — gritou Sota.  

— O que? Você achou os pais dele? — E ela correu para a entrada. 

— É, tipo isso! 

Os dois começaram a comemorar, mas Aki ficou emburrado.  

— Está com fome? — perguntou Hiroshi.  

— Sim — respondeu Aki.  

— O que acha de um udon?  

— Pode ser.  

Apesar da comemoração de Sota, ele ainda tinha o bom senso para não abandonar uma criança com qualquer um. Somente após uma longa conversa ele se despediu e deixou Aki com Hiroshi. 

—  Certo, acho que isso é tudo. — Depois de uma longa caminhada, antes de voltar para sua casa, Hiroshi fez algumas compras na feira.  

Em boa parte do caminho, Aki soltava alguns ruídos de incomodo.  

— Demorou demaaaaais...  

— Vai valer a pena — respondeu confiante.  

— Espero que sim, já estamos chegando?  

— Sim, minha casa é bem... Cadê a minha casa? 

— Eu vou embora — disse Aki.  

Toda a vila continuava a mesma, mas no lugar em que sua casa era para estar, não havia construção alguma.  

— As coisas mudam e não mudam aleatoriamente? O imperador disse que viu meu túmulo, o quão diferente foi a vida do eu desse mundo? Ou será que eu só morri antes de me mudar para cá? 

— Está procurando uma casa?   

Hiroshi reconheceu a voz e se virou rapidamente.  

— Eu vendo baratinho para você!  

Era Akira.  

Ah, tenho certeza de que você vai me enganar... — Hiroshi disse sorrindo.  

— O que!? Eu fui desco-... Quero dizer, eu não ia não!  

Os dois negociaram o terreno, dessa vez por um preço justo e Hiroshi perguntou para ela.  

— Até eu construir a casa tem algum lugar que eu possa ficar?  

— Hm... Acho que não, mas pode ficar na minha casa já que vou me mudar em breve.  

— Eu vou comprar também — respondeu rapidamente.  

— Aí sim!   

Antes de abrir sua padaria, Hiroshi viajou pelo país para se desculpar com a família de cada um que matou, alguns não entenderam nada, outros bateram em seu rosto, outros tentaram o matar em um duelo ou o emboscando, mas no fim Hiroshi saiu vivo. 

Depois dessa viagem, Hiroshi pendurou sua Katana na parede de sua nova cozinha, que se situava no subsolo de sua padaria, com a esperança de que serviria apenas como item decorativo até o fim de sua vida. 

— Hiroshi! Sentiu minha falta? — Um dia, Boris apareceu na vila. — O Pavlov está enfurecido com você, então é melhor que não tente nem procurar ele, pelo menos por um tempo. Apesar que ele se mudou para muito perto daqui. 

Por pressão dos Estados Unidos, o Japão foi obrigado a se reabrir e consequentemente a perseguição aos cristãos gradativamente foi diminuindo. 

Lentamente Aki passou a confiar mais em Hiroshi, mas ainda vivia mais fora do que dentro da padaria aonde só voltava para dormir e comer. Padaria que se tornou um sucesso, onde todos da região iam para lá sempre que estava aberta, e quando ela fechava, pessoas influentes de fora da região iam provar o menu secreto.  

Finalmente era concreto o sucesso do Hiroshi em algo fora do caminho da espada. Mas esse sucesso estava até demais, o que tornou difícil para só duas pessoas administrarem. 

Hm... Por que sempre é difícil escolher batatas doces? — disse Hiroshi.  

— Tome, essas estão boas... Ah, você não é o Hiroshi da padaria famosa? — perguntou Ayumi. — Vocês ainda estão contratando? 

— Sim, esse sou eu, e sim, estamos precisando de gente nova. 

— Pode esperar um pouquinho, por favor... Prima! Prima! Aqui!  

— Já estou indo! O que foi?  

— Você não precisava de um emprego?  

— Claro que sim. 

— Então, ele é daquela padaria que a gente comprou o bolo de aniversário da avó! Aquela super mega famosa. 

Eh? De verdade mesmo?  

— Sim, sim. — Então ela se virou de volta para Hiroshi. — Essa é a Hannya! Garanto que ela é muito competente! Se bem que minha palavra não vale tanto já que nós acabamos de se conhecer... Mas confie em mim! 

Os olhos de Hiroshi voltaram a brilhar como uma vez brilharam em sua adolescência.  

— Está contratada.  

— O que? Mas já? Não vai perguntar nada para mim?  

— Hahaha, você tá me devendo uma! — disse Ayumi. 

— Pode começar no início da semana que vem — disse Hiroshi contendo sua alegria.  

“Obrigado aos céus por me permitir voltar mais uma vez.” 

Em meio a tanta felicidade, Hiroshi nunca deixou de procurar o que havia acontecido com os pais de Aki. Em meio a tantos sucessos e finalmente paz, esse fracasso era o único que insistia em o perseguir.  

O sentimento de que havia deixado algo escapar permanecia o incomodando. 



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