Volume Único
Capítulo 42: Guerra iminente
Depois de três dias de viagem, dois terços dos empregados de Pavlov se despediram oficialmente, em frente a ferroviária que levaria o resto em direção ao Japão.
Nessa e em outras estações, Hiroshi foi parado e quase preso repetidas vezes por guardas russos, mesmo que bastasse uma pequena conversa com Pavlov para os mesmos voltarem se desculpando profundamente.
De início ele pensou ser só uma coincidência, pois as pessoas comuns o tratavam normalmente, mas não demorou muito para perceber que algo estava errado.
— O que eu fiz de errado? — perguntou Hiroshi. — Eu pareço errado? Estou vestindo algo errado?
— Eu não faço ideia — respondeu Boris. — De todo mundo aqui, se tiver mesmo algum motivo em específico... Acho que só o senhor Pavlov iria saber.
— Vou falar com ele.
Hiroshi foi falar com Pavlov, que desconversou e tentou mudar de assunto, só comprovando as suspeitas dele.
— Ele com certeza sabe de algo, só não quer contar — disse Hiroshi.
— Então vai ter que lidar até chegarmos no Japão — respondeu Boris.
— Quantas estações faltam?
— Algumas dezenas, se não me engano.
— Eu até queria sair das pousadas no meio do caminho para estudar possíveis curas para o Mikhail, mas se estou sendo tratado assim, andando com um grupo grande como esse, tenho medo do que teria que fazer se fosse pego sozinho — resmungou Hiroshi. — Se eu soubesse que seria assim teria ido com o Victor.
— Como sabe que seria diferente?
— Pelo menos ele era mais honesto e diria o motivo logo de...
— Hiroshi, o senhor Pavlov mandou te chamar — disse um empregado, abrindo a porta subitamente e interrompendo a fala de Hiroshi.
— Diga a ele que já vou... — E o empregado fechou a porta. — Talvez eu falei isso cedo demais?
— Não sei por que está tão irritado com o senhor Pavlov, mas é bom que não confunda as coisas. Isso tudo deve ser ainda mais irritante para ele, ele está fazendo o que pode e se não te contou ainda, tenho certeza de que é porque só pioraria sua viagem.
— Como tem tanta certeza disso?
— Eu trabalhei com ele por anos e já vi alguns funcionários brigarem com ele. Todas as vezes ele sempre foi razoável.
Hiroshi se levantou e andou, atravessando diversos vagões, até chegar em uma sala luxuosa, onde Pavlov estava lendo, como de costume.
— Que livro é esse? — perguntou Hiroshi, vendo que o título não estava escrito nem russo, nem em japonês.
— História coreana. Me interessei já que vamos passar bem perto de lá — respondeu Pavlov.
— Realmente nunca consigo adivinhar o que passa na sua cabeça. Para que me chamou?
— O motivo de eu estar indo para o Japão.
— Você já não disse que era porque sua atual esposa queria que seu filho crescesse lá?
— É mais relacionado com o motivo de você estar sendo tão parado.
— Finalmente vai contar o motivo.
— Vou ser bem breve. O império japonês está com ideias bem perigosas.
— Vai começar uma guerra!?
— Não, ainda está longe disso. Mas do jeito que as coisas estão se desenrolando e da proximidade geográfica dos dois países, é algo inevitável.
— Então é pura especulação?
— Pode se dizer dessa forma.
— Fico mais aliviado então. — Mas Hiroshi fechou os olhos e inclinou a cabeça, confuso. — Só que se isso não é algo nem perto de acontecer, por que tantos guardas me pararam?
— Rovina tem um dedo nisso. Desde cedo ele vem espalhando rumores exagerados nos exércitos dos dois lados.
— De novo esse nome... O que ele ganha com uma guerra?
— Tem notado algo de estranho na população?
— Eu tenho estado focado em meus estudos, então não percebi nada além de alguns funcionários malucos que gritavam de noite.
— Você vai perceber isso de forma mais aparente quando chegarmos nos portos. Se a guerra contra o Japão acontecer, meu superior tem medo de que ele use isso para escalar conflitos internos.
— Ele é um vilão que quer o caos no mundo então?
— O império Russo é um grande aliado do Sol Invictus. Enfraquecendo o império, o Rovina enfraqueceria diretamente ele, sem ter que gastar muitos recursos. Estou indo para o Japão exatamente por esse motivo, para impedir que isso aconteça. — E Pavlov riu. — Mas talvez tudo isso seja desculpas elaboradas para um vilão que quer ver o mundo explodir.
— Fins diplomáticos então... Agora faz sentido, obrigado por explicar tudo isso.
— Por que tanta pressa? Fique aqui um pouco.
— Humildemente recuso.
Quando Hiroshi abriu a porta para voltar para seu vagão, o trem freou bruscamente, o jogando contra parede.
— Hiroshi! Você está bem?
— Estou, estou... O que foi isso? — Quando disse isso, o homem que Pavlov anteriormente mostrou como novo guarda pessoal pulou pela janela e ordenou para que ninguém saísse do trem.
Depois de dizer isso, ele correu em direção da cabine do maquinista e Hiroshi foi atrás.
— Mais um enviado pelo Rovina? — perguntou Hiroshi.
O homem olhou para o lado, levemente surpreso por conseguir acompanhá-lo, mas deixou Hiroshi sem respostas, os dois correram silenciosamente até se depararem com o motivo da parada.
Em cima dos trilhos, na frente do trem, havia um enorme e perfeito cubo de terra, e em cima dele, o assassino de antes, dos dentes marcados, Mário, acompanhado de um homem totalmente coberto por um pano preto.
— Não, não é ele.
— Mas é claro que é ele!
— Você já viu ele pessoalmente?
— Ainda não.
— Então como sabe que é ele?
— Existe alguém forte igual a ele?
— Existe alguns. Vou embora.
Depois dessa discussão sem sentido entre os dois, Mário foi deixado sozinho.
— É, parece que sou só eu contra você. Vamos lutar Sol falso!
Uma flecha destruiu o vidro da cabine, voando a toda velocidade em direção ao cubo de terra. O cubo totalmente sólido, de dez metros de altura, explodiu para o lado oposto do trem, obrigando Mário a pular para longe.
— De onde que você tirou isso? — perguntou Hiroshi, tapando os ouvidos.
Hiroshi tirou o olho dele por um segundo, tempo suficiente para ele estar segurando um arco de ferro a altura de seu corpo e mirando uma flecha brilhante de forma indefinida, mesmo que antes ele aparentasse não estar carregando nada.
Na mesma velocidade, Mário caiu do céu, destruindo o teto da cabine, estendendo seus braços e pulando em direção ao arqueiro.
— Não deixe ele te encostar! — gritou Hiroshi, pulando para fora do trem.
O breve silencio após a fumaça tomar conta da cabine fez Hiroshi imaginar o pior, mas três flechas disparadas para o alto, carregando o corpo do Mário para o céu, aliviaram seu medo.
Mário puxou as três flechas de seu corpo, derrubando uma grande quantidade de sangue sem mudar sua expressão sorridente e aterrissou caindo de costas no chão, causando um estrondo na terra.
— Acabou?
— Ainda não — respondeu o arqueiro, surpreendendo Hiroshi, aparecendo repentinamente ao seu lado.
Então o arqueiro continuou a atirar flechas no chão, que Hiroshi notou que não vinham de nenhum lugar aparente, só surgiam nas mãos dele.
Mário se levantou e bloqueou todas as flechas com uma das rodas que arrancou do trem, então desapareceu da vista de Hiroshi.
— Não deveria estar guardando seu portão velho? — Em seguida da voz de Mário, uma roda voou em direção de Hiroshi, que desviou por pouco.
— Fui promovido — respondeu o arqueiro, guardando seu arco e indo lutar corpo a corpo com ele.
— Já disse antes, cuidado! Ele tem algum tipo de veneno que mata ao toque! — alertou Hiroshi, novamente.
Mas foi ignorado. Os dois trocaram golpes em uma velocidade frenética e para surpresa de Hiroshi, o arqueiro, mesmo minutos depois, não demonstrou nenhum sintoma dos cadáveres que Mário tocou.
— Vou levar esse incomodo para longe, alcanço vocês depois! — E ele agarrou Mário pelo pescoço e arremessou para longe, pulando logo atrás.
— Que monstros... Eles são incríveis, não são? — disse Pavlov.
— Isso não faz sentido nenhum.