Volume Único
Capítulo 36: A mansão dos pássaros
Pavlov se curvou, batendo sua cabeça no chão, implorando para que poupasse Hiroshi:
— Ele é só um cozinheiro! Ele não entende russo, por favor, pode me levar, mas deixe ele ir! Ele não tem nada a ver com isso.
— Um cozinheiro... Que desculpa deplorável.
— Perdão? O que quer dizer?
Contra todas as expectativas, enquanto Hiroshi pensava em uma forma de lutar mantendo a distância e Pavlov uma forma de fugir, quando Mário viu Hiroshi, ele começou a dar passos para trás.
— Seu covarde! Como pode tentar me enganar, tentando disfarçar o próprio Sol Invictus como cozinheiro!?
— Mas ele é... — Hiroshi fez um sinal para Pavlov ficar quieto e os dois começaram a se aproveitar desse mal-entendido. — Ah, droga! Como você descobriu meu plano?
— Por mais que tente mascarar, essa quantidade irracional de mana irradiando do corpo dele é algo impossível para qualquer outro ser vivo. E é claro, todas as outras características inconfundíveis que você deixou escapar também ajudaram um pouco.
— Oh, não! Eu demorei uma semana para esconder essas características! Como esperado de um subordinado do Rovina... Não tem como escapar de seu olhar atento!
Enquanto Pavlov o enrolava, Hiroshi se aproximou dos corpos dos cavaleiros para tentar descobrir alguma pista de como a morte instantânea funcionava.
— Eu sabia que você tinha um contato direto com o Sol Invictus, mas o que você fez para trazer ele pessoalmente? ...Será que temos um espião?
Hiroshi colocou sua mão sobre o pescoço dos cavaleiros, chegou o pulso e confirmou que eles realmente haviam morrido, então se apressou e tirou as armaduras, se deparando com enormes manchas espalhadas por todo o corpo e uma vermelhidão na pele como se estivessem se ferido.
— Veneno? — Hiroshi checou as partes do corpo onde Mário havia tocado, mas não encontrou nenhum vestígio de agulha ou corte, eliminando essa possibilidade, porém, nessas partes as manchas eram mais intensas e maiores.
— Eu nunca entregaria um de nós!
— Obviamente. — Mário deu uma última olhada para Hiroshi e sorriu. — Agora eu sei a distância entre nós dois Sol Invictus! Na próxima vez teremos uma luta apropriada.
E ele fugiu.
— Quer ir atrás dele? — perguntou Pavlov. — Coloquei um pássaro para vigiar ele.
— Eu sou só um cozinheiro, o que eu faria contra alguém como ele?
Pavlov assoprou um apito inaudível para o ouvido humano, chamando o pássaro de volta e antes que ele voltasse, caminhou em direção dos cavaleiros.
— Ainda não entendi completamente como que funciona esse poder, pode ser infeccioso, então é melhor que não toque eles — alertou Hiroshi.
— Mas você mesmo encostou neles agora pouco.
— Porque eu achei que era veneno.
— Mesmo que fosse, acho que não seria bom os tocar da mesma forma. — E Pavlov deixou escapar alguns murmúrios. — Então teremos que deixar eles aí, jogados no chão?
— Quer enterrá-los?
— Melhor não nos arriscarmos mais, vamos. — E Pavlov voltou para a carruagem.
Hiroshi colocou um pano no rosto de cada um dos caídos e voltou.
O resto do percurso foi mais do mesmo, Pavlov lendo um livro e Hiroshi perdido em seus pensamentos, que dessa vez eram batalhas imaginárias contra o subordinado do Rovina.
— Chegamos — disse Pavlov. — Bem-vindo a minha humilde casa!
— O que diabos é você? — Mesmo com as expectativas altíssimas, novamente Hiroshi foi surpreendido.
A casa estava mais para uma catedral ou um castelo tradicional europeu, que de alguma forma era colorida por cores ainda mais vibrantes que a casa do mago, e rodeada de um labirinto de flores. E seria fácil confundir esse lugar com um centro comercial, pois seus arredores eram repletos de estátuas de todos os tipos de pássaros e decorações um tanto quanto excêntricas. O céu estava preenchido por inúmeros pássaros indo e voltando da mansão e as ruas adjacentes estavam lotadas de carruagens e pessoas.
Logo que pisou para fora da carruagem, diversos assessores e secretários pularam em sua direção para alertar o Pavlov dos mais novos problemas e pedir conselhos para decisões importantes.
— Me desculpe Hiroshi, acho que acabei ficando fora por tempo demais, então vou ter que pedir para uma criada te guiar no meu lugar. Quando conseguir resolver tudo isso, provavelmente a noite ou de madrugada... Eu apareço no jantar!
— Espera! Ela fala japonês? — Mas os gritos de Hiroshi não foram respondidos e Pavlov foi levado pela multidão.
— Falo sim, por aqui, por favor. — A empregada mal deu tempo para Hiroshi se despedir e partiu em passos apressados. — O senhor Pavlov me instruiu a te guiar até o jovem Mikhail, o filho do senhor, que atualmente está na estufa de vidro; a senhora da casa, que atualmente está na biblioteca e o chefe de cozinha, que atualmente está descansando na horta subterrânea.
— Agora fiquei na dúvida se ele ama mais plantas ou pássaros — comentou Hiroshi.
— Definitivamente pássaros. Agora, qual dos três gostaria de visitar primeiro?
— Fiquei curioso para ver essa estufa, onde ela está?
— É difícil ver a estufa daqui, pois fica exatamente atrás da mansão. — E eles entraram dentro da mansão, atravessaram diversas portas, andaram por diversos corredores e fizeram uma pausa em frente a uma porta. — Você ficará hospedado aqui. Como seu quarto fica no caminho para a estufa, decidi economizar tempo e mostrar os dois de uma só vez. Pode entrar.
O quarto de hóspedes era tão luxuoso quanto o exterior da casa, mas para Hiroshi, Pavlov havia montado uma mesa cheia de ingredientes que ocupava quase metade do quarto e trazido diversos utensílios e materiais para cozinhar, então o luxo estava quase que completamente ocultado pela enorme bagunça que estava o quarto.
— Podemos indo — disse Hiroshi. — Agora que parei para pensar, você não parece japonesa, de onde aprendeu a falar?
— Tenho um certo interesse por aprender línguas, falo fluentemente sete idiomas e consigo me virar em mais vinte e quatro.
— É a intérprete dele?
— Ainda não sou boa o suficiente.
— Mas é boa o suficiente para conseguir trabalhar em lugares melhores que aqui, não?
— O senhor Pavlov preza muito por você, cheguei aqui faz pouco tempo e te garanto que estou recebendo o suficiente. No dia em que ele te conheceu, ele enviou os homens deles para procurar por toda a região por alguém que falasse japonês.
Após mais uma série de portas, corredores e escadas, eles chegaram em um espaço aberto. A estufa ainda ficava dentro da mansão, porém, o teto era aberto e o chão era de grama, dando a impressão que haviam saído. A estufa estava repleta de pássaros ainda mais exóticos que os de fora e cada um deles possuía uma coleira contendo um número. Atravessando pequena floresta, eles chegaram em uma mesa de madeira cheia de papeis, onde o filho de Pavlov estudava.
— Muito prazer, eu me chamo Mikhail Pavlov.