Volume Único
Capítulo 29: Vitória completa
O cheiro de sangue trouxe a mente de Hiroshi de volta de sua lamentação pela derrota.
— De o que, de quem... Essa carne veio de onde? — perguntou Hiroshi, com um olhar amedrontado.
— É de um animal. — E Will estendeu sua mão para ajudar Hiroshi a se levantar. — Antes de treinar, é bom almoçar primeiro.
— Ah, sim — respondeu Hiroshi, aceitando a ajuda. — Se for mesmo de um animal então eu cozinho isso. Mas como achou essa casa?
— Vagando por aí. Está difícil viver depois do decreto?
— Pelo contrário.
— Sendo sincero, como não te ensinei nada além de lutar, estou surpreso em encontrar qualquer coisa além do seu defunto, está quebrando o decreto para poder sobreviver?
— Sem ajuda do imperador, você provavelmente estaria correto em uma das duas suposições... Mas, agora estou conseguindo me virar sozinho. Aprendi cozinhar descentemente e descobri que também sirvo para pescar.
— Então por que continua treinando esgrima?
— Que direto.
— Ficar circulando o assunto só gastará tempo e aumentará a minha fome, você também não odeia essas formalidades?
— É impossível me desapegar completamente de algo que tive por toda minha vida, só treino o mínimo para não perder a prática.
— Treinar por sete horas é seu mínimo?
“Passou tanto tempo assim?”, pensou Hiroshi.
— É que eu...
— Fale a verdade, você sente falta das guerras.
— Vamos comer. — Hiroshi pegou o prato cheio de carne das mãos de Will e voltou para sua casa. — Podemos conversar melhor enquanto comemos.
— Boa ideia.
Hiroshi colocou o prato sobre a mesa e começou a pensar no que poderia fazer.
“Um bife frito com batatas assadas deve ser o suficiente.”
Hiroshi foi a sua dispensa, pegou os ingredientes e uma das facas que ganhou de presente de Fuyuki do armário, temperou a carne, mas com a faca prestes a despedaçar a carne, um terrível pensamento veio a sua mente.
“É mesmo, a ovelha... Ela desapareceu ontem.”
— Q-que animal exatamente é esse? — perguntou Hiroshi.
— Carneiro... Ou ovelha?... Um dos dois.
Hiroshi sentiu sua barriga se revirar. Mentalmente jogou a faca que segurava na cabeça de Will, e essa imagem o acalmou.
— Essa carne... Está estragada, vou jogar e comprar outra na feira. — E começou a limpar o tempero da carne com água e um pano.
— Como está estragada se eu peguei ela hoje? E mesmo que estivesse, se fritar, tudo que nos faria mal morreria.
— Para que arriscar? Estou financeiramente bem e comprar outra carne não me fará mal. —Hiroshi pegou uma caixa, mas antes de conseguir jogar a carne nela, Will segurou seu braço.
— Estou com fome e você sabe que não passarei mal por algo pequeno assim, cozinhe agora.
— Por que tanta insistência? — Uma disputa de força começou, Hiroshi tentava colocar a carne na caixa com todas as suas forças, mas o braço de Will não se movia.
— Posso dizer o mesmo, para que recusar tanto?
— Você matou um animal que não deveria.
— O que eu não deveria?
— Você roubou o animal que morava na casa ao lado!
Will subitamente soltou o braço de Hiroshi, o fazendo derrubar a caixa e a carne no chão.
— Se é isso que te incomoda, eu mesmo colocarei outro carneiro no lugar. — Ele se virou para sair, mas Hiroshi o impediu, colocando sua faca de cozinha a frente do pescoço de Will. — Qual o problema?
— Mudei de ideia, se sente, eu vou cozinhar essa carne — disse Hiroshi, com uma expressão vazia de qualquer emoção.
Will era perigoso e imprevisível demais para chegar perto dos Sakurai, porém, demonstrar qualquer sinal de que se importava com eles ou tentar o impedir excessivamente, teria o efeito contrário e só atiçaria sua curiosidade.
— Tinha me esquecido que hoje a feira não abre.
Com uma dor imensa em seu peito, tendo que segurar a ânsia de vomito e controlar suas expressões, Hiroshi finalizou o prato.
— Demorou bastante... — Will deu a primeira mordida. — ...E parece que esse animal morreu em vão. Me desculpe, mas o gosto está bem ruim, não tem nem como fingir o contrário. Sinceramente, acho que eu estava errado em esperar demais, não tinha como você ser bom em qualquer coisa além da espada.
Mil cenários passaram na cabeça de Hiroshi. Esse foi o tanto de vezes necessário para se acalmar dessa vez.
— É... Você está certo.
Will caiu na gargalhada, rindo até seu ar se esvair e seus olhos encherem de lágrimas.
— Estou brincando, nem estava tão ruim assim. E pensar que você os valoriza tanto assim... Bom, agora já deve ter acabado.
— Acabado?
— Todos os seus esforços em me impedir de ir para a casa ao lado foram em vão, vai lá e olhe com seus próprios olhos.
Will continuou a comer tranquilamente, e Hiroshi partiu correndo para fora de casa. Após terminar de comer, Will foi até a dispensa procurar por mais comida, mas em um instante, todo ambiente foi tomado pelas sombras.
— Como estava o prato? — perguntou Kuro.
— Delicioso.
Após a resposta, as sombras tomaram a forma de correntes que se prenderam a Will e o arrastou violentamente, batendo nas paredes e apertando seu pescoço por um longo trajeto até uma escada que levava a uma guilhotina.
— Que bom que aproveitou sua última refeição
— Não será a última. — O corpo destruído de Will se recuperou em um instante ao engolir o frasco de vidro enquanto era jogado de um lado para outro.
As correntes o penduraram de ponta cabeça e o balançou, derrubando e estilhaçando dezenas de frascos de vidro escondidos.
— Que desculpa tem agora? Seus planos falharam, os magos pegaram o moleque antes de você.
— Esqueceu de um. — E Will voluntariamente revelou e jogou o último frasco no chão. — Você anda bem impaciente ultimamente. Sendo breve antes que arranque meu pescoço, não, eu não perdi a criança para os magos, eu os deixei pegarem ele.
— Por que faria isso?
— A esse ponto, as suas espadas já devem ter o recuperado. Eu enganei eles, foi tudo uma armadilha... Seu plano ainda vai funcionar. Me deixa ir agora.
— Espera, você deixou a criança com aqueles malucos!? — Kuro e as sombras desapareceram, derrubando Will de cabeça no chão.
— Ele podia ao menos me...
— Terminei o serviço — disse Sota.
— Pode ir resolver seu negócio, e é bom que seja rápido, de preferência, se conseguir, fugir do país não é uma má ideia. Se eu falhar e ele te achar, você está morto.
— Certo.
Sota saiu e Will fechou seus olhos.
— Quanto tempo será que ele vai levar para chegar aqui?