Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 29: Vitória completa

O cheiro de sangue trouxe a mente de Hiroshi de volta de sua lamentação pela derrota.  

— De o que, de quem... Essa carne veio de onde? — perguntou Hiroshi, com um olhar amedrontado. 

— É de um animal. — E Will estendeu sua mão para ajudar Hiroshi a se levantar. — Antes de treinar, é bom almoçar primeiro. 

Ah, sim — respondeu Hiroshi, aceitando a ajuda. — Se for mesmo de um animal então eu cozinho isso. Mas como achou essa casa? 

— Vagando por aí. Está difícil viver depois do decreto? 

— Pelo contrário. 

— Sendo sincero, como não te ensinei nada além de lutar, estou surpreso em encontrar qualquer coisa além do seu defunto, está quebrando o decreto para poder sobreviver? 

— Sem ajuda do imperador, você provavelmente estaria correto em uma das duas suposições... Mas, agora estou conseguindo me virar sozinho. Aprendi cozinhar descentemente e descobri que também sirvo para pescar. 

— Então por que continua treinando esgrima? 

— Que direto. 

— Ficar circulando o assunto só gastará tempo e aumentará a minha fome, você também não odeia essas formalidades? 

— É impossível me desapegar completamente de algo que tive por toda minha vida, só treino o mínimo para não perder a prática.  

— Treinar por sete horas é seu mínimo? 

“Passou tanto tempo assim?”, pensou Hiroshi. 

— É que eu... 

— Fale a verdade, você sente falta das guerras. 

— Vamos comer. — Hiroshi pegou o prato cheio de carne das mãos de Will e voltou para sua casa. — Podemos conversar melhor enquanto comemos. 

— Boa ideia. 

Hiroshi colocou o prato sobre a mesa e começou a pensar no que poderia fazer. 

“Um bife frito com batatas assadas deve ser o suficiente.” 

Hiroshi foi a sua dispensa, pegou os ingredientes e uma das facas que ganhou de presente de Fuyuki do armário, temperou a carne, mas com a faca prestes a despedaçar a carne, um terrível pensamento veio a sua mente. 

“É mesmo, a ovelha... Ela desapareceu ontem.” 

— Q-que animal exatamente é esse? — perguntou Hiroshi. 

— Carneiro... Ou ovelha?... Um dos dois. 

Hiroshi sentiu sua barriga se revirar. Mentalmente jogou a faca que segurava na cabeça de Will, e essa imagem o acalmou. 

— Essa carne... Está estragada, vou jogar e comprar outra na feira. — E começou a limpar o tempero da carne com água e um pano. 

— Como está estragada se eu peguei ela hoje? E mesmo que estivesse, se fritar, tudo que nos faria mal morreria. 

— Para que arriscar? Estou financeiramente bem e comprar outra carne não me fará mal. —Hiroshi pegou uma caixa, mas antes de conseguir jogar a carne nela, Will segurou seu braço. 

— Estou com fome e você sabe que não passarei mal por algo pequeno assim, cozinhe agora. 

— Por que tanta insistência? — Uma disputa de força começou, Hiroshi tentava colocar a carne na caixa com todas as suas forças, mas o braço de Will não se movia. 

— Posso dizer o mesmo, para que recusar tanto? 

— Você matou um animal que não deveria. 

— O que eu não deveria? 

— Você roubou o animal que morava na casa ao lado!  

Will subitamente soltou o braço de Hiroshi, o fazendo derrubar a caixa e a carne no chão.  

— Se é isso que te incomoda, eu mesmo colocarei outro carneiro no lugar. — Ele se virou para sair, mas Hiroshi o impediu, colocando sua faca de cozinha a frente do pescoço de Will. — Qual o problema? 

— Mudei de ideia, se sente, eu vou cozinhar essa carne — disse Hiroshi, com uma expressão vazia de qualquer emoção. 

Will era perigoso e imprevisível demais para chegar perto dos Sakurai, porém, demonstrar qualquer sinal de que se importava com eles ou tentar o impedir excessivamente, teria o efeito contrário e só atiçaria sua curiosidade.  

— Tinha me esquecido que hoje a feira não abre. 

Com uma dor imensa em seu peito, tendo que segurar a ânsia de vomito e controlar suas expressões, Hiroshi finalizou o prato. 

— Demorou bastante... — Will deu a primeira mordida. — ...E parece que esse animal morreu em vão. Me desculpe, mas o gosto está bem ruim, não tem nem como fingir o contrário. Sinceramente, acho que eu estava errado em esperar demais, não tinha como você ser bom em qualquer coisa além da espada. 

Mil cenários passaram na cabeça de Hiroshi. Esse foi o tanto de vezes necessário para se acalmar dessa vez. 

— É... Você está certo. 

Will caiu na gargalhada, rindo até seu ar se esvair e seus olhos encherem de lágrimas. 

— Estou brincando, nem estava tão ruim assim. E pensar que você os valoriza tanto assim... Bom, agora já deve ter acabado. 

— Acabado? 

— Todos os seus esforços em me impedir de ir para a casa ao lado foram em vão, vai lá e olhe com seus próprios olhos. 

Will continuou a comer tranquilamente, e Hiroshi partiu correndo para fora de casa. Após terminar de comer, Will foi até a dispensa procurar por mais comida, mas em um instante, todo ambiente foi tomado pelas sombras. 

— Como estava o prato? — perguntou Kuro. 

— Delicioso. 

Após a resposta, as sombras tomaram a forma de correntes que se prenderam a Will e o arrastou violentamente, batendo nas paredes e apertando seu pescoço por um longo trajeto até uma escada que levava a uma guilhotina. 

— Que bom que aproveitou sua última refeição  

— Não será a última. — O corpo destruído de Will se recuperou em um instante ao engolir o frasco de vidro enquanto era jogado de um lado para outro. 

As correntes o penduraram de ponta cabeça e o balançou, derrubando e estilhaçando dezenas de frascos de vidro escondidos. 

— Que desculpa tem agora? Seus planos falharam, os magos pegaram o moleque antes de você. 

— Esqueceu de um. — E Will voluntariamente revelou e jogou o último frasco no chão. — Você anda bem impaciente ultimamente. Sendo breve antes que arranque meu pescoço, não, eu não perdi a criança para os magos, eu os deixei pegarem ele.  

— Por que faria isso? 

— A esse ponto, as suas espadas já devem ter o recuperado. Eu enganei eles, foi tudo uma armadilha... Seu plano ainda vai funcionar. Me deixa ir agora. 

— Espera, você deixou a criança com aqueles malucos!? — Kuro e as sombras desapareceram, derrubando Will de cabeça no chão. 

— Ele podia ao menos me... 

— Terminei o serviço — disse Sota. 

— Pode ir resolver seu negócio, e é bom que seja rápido, de preferência, se conseguir, fugir do país não é uma má ideia. Se eu falhar e ele te achar, você está morto. 

— Certo. 

Sota saiu e Will fechou seus olhos. 

— Quanto tempo será que ele vai levar para chegar aqui? 



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