Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 30: Tragédias

Toc, toc, toc.  

— Já estou indo! — Fuyuki lavou suas mãos e correu para a entrada. — Chegou tão cedo que mal deu tempo de preparar o bolo... 

Após tantas visitas de Hiroshi, abrir a porta sem checar quem era já havia se tornado um hábito.  

Hm? Quem é voc- — Antes de terminar a pergunta, uma faca já havia perfurado seu peito.  

Fuyuki caiu no chão.  

— Ei! O que foi esse barulho aí? — gritou Sue.  

Sem resposta, ela correu para a entrada, mas logo que chegou, o mesmo homem mascarado que apunhalou Fuyuki, correu em sua direção.  

— Fuyu! — Ela, porém, manteve seus olhos trémulos fixos em seu marido caído.  

O homem jogou uma adaga e Sue desviou perfeitamente. Ele tentou reagir, mas antes de sequer conseguir pensar no que faria a seguir, a sua visão virou de ponta cabeça, sua cabeça se separou de seu corpo antes que pudesse fazer qualquer coisa.  

— Fuyu... Ainda está vivo? — disse ela, agitando o corpo com suas mãos ensanguentadas.  

Sem resposta, as lagrimas começaram a inundar sua visão.  

— Seu... Safado! Por que teve que ir antes de mim!? — E o balançou ainda mais. 

Fuyuki levantou seu braço, apontando para um dos armários que ficavam na entrada.  

— Quer me... matar de vez...? Pare com... isso. — Entre cada frase, Fuyuki tossia sangue. — Ele errou... Meu coração por pouco... Vou ficar... Bem. 

— Pare de falar! Eu vou ir buscar um médico!  

Prestes a se levantar, uma flecha foi lançada pela porta, em direção de Fuyuki. Sue se colocou na frente da flecha, a desviando com sua perna, então correu para fechar a porta. 

— Me deixe... Aqui sozinho... V-vai... Buscar o Aki — disse Fuyuki, fechando seus olhos. — Vou... descansar um pouco. 

Sue estava dividida entre ficar e ir, mas ao ouvir um grito de longe, ela abraçou e beijou Fuyuki as pressas, e correu para o quarto de Aki. 

— Não ouse morrer antes de eu voltar! — gritou Sue. 

— Digo... O mesmo, não morra!... Me faça esperar... Por muito... muito tempo... Te amo — cochichou Fuyuki, após ela ir. 

A dor cessou e ele deu seu último suspiro. 

— Aki! Droga, colocaram veneno na flecha... Aki! — gritou Sue.   

— Quem eram todas aquelas pessoas? Que barulhos foram esses? Eu acho que ouvi alguém na janela...— perguntou em um tom sonolento, pois havia acabado de acordar. 

— Rápido, se esconda lá embaixo!  

? O que está acontec- — Um barulho estrondoso veio da entrada.  

— Corra, agora! E não saia até eu ir lá!  

— T-ta, tá bom!  

Aki correu para o porão e Sue voltou para entrada. Lá, ela encontrou três pessoas que usavam a mesma máscara, mas com um porte físico maior que do homem de antes. Segurando lanças ao invés de espadas ou arcos, os três correram em direção de Sue que esperou parada.  

— Que covardia...   

Então o primeiro lanceiro atacou com uma estocada mirando na cabeça, o segundo na perna e o terceiro na barriga, todos perfeitamente coordenados. Sue pulou para trás, desviando facilmente, arrancou um pedaço da janela e jogou na direção dos três, porém, prestes a fugir pela janela, ela recebeu duas flechadas em seu braço e pescoço.  

Argh. — Ela arrancou a flecha em seu pescoço e a lançou na testa do segundo lanceiro que não conseguiu desviar. — Só mais...  

E outras três flechas voaram da janela e cravaram em suas costas. Ela se agachou e de uma só vez, puxou as três flechas, gritando de dor. Os dois lanceiros aproveitaram para diminuir a distância, mas isso só facilitou para Sue acertar uma flecha no primeiro lanceiro, que bloqueou com seu braço e continuou avançando para atacar junto do terceiro lanceiro.  

A esse ponto, o veneno havia começado a fazer efeito, dando uma leve dor de cabeça e fazendo ela perder a sensibilidade nos dedos. No entanto, o mesmo valia para o primeiro lanceiro acertado. Nele, o veneno teve um efeito mais brutal e quase instantâneo, destruindo seus órgãos e o matando, dando tempo para Sue correr para longe, evitando as portas e a janelas. O último lanceiro a seguiu. 

“Por que eu não trouxe aquilo?... Se eu tivesse uma arma... Ah!”, então despistou o lanceiro restante jogando objetos pesados para bloquear o caminho e correu para o quarto do Aki. 

Após revirar o quarto inteiro, ela encontrou o soco inglês, colocou em seu punho, mas logo sentiu algo estranho. Olhando para fora do quarto, ela viu que o lanceiro não estava mais a seguindo, e instintivamente correu para o porão procurando Aki.  

— Não, não, não... — Porém, lá estava vazio. 

Então Sue correu para entrada desesperadamente, mas foi barrada no meio do caminho pelo último lanceiro restante, dessa vez, sem hesitar, Sue correu e agarrou a cabeça dele com sua mão, apertando com força suficiência para deformar seus ossos, perfurar sua pele e transformar a máscara em estilhaços, chocando a cabeça com o chão, causando o estrago de uma bomba. Após a poeira descer, foi possível ver uma rachadura de oito metros de profundidade no chão.  

Ao tentar se levantar, ela tropeçou e caiu, o efeito do veneno estava piorando e no último ataque, o lanceiro conseguiu fazer um corte profundo em sua barriga. Mesmo assim, ela juntou suas forças restantes, se levantou e continuou se arrastando para a entrada.  

— Mãããe! — gritou Aki que estava sendo carregado por uma pessoa com o rosto também coberto pela mesma máscara, que pulou pela janela.  

— Aki! — Sue foi seguir os dois, mas uma chuva de flechas veio em sua direção, a derrubando no chão. 

Ela tentou se levantar mais uma vez, porém sua mão foi esmagada.  

— Esse sangue é mesmo perigoso 

Levantando seu olhar, ela viu o rosto daquele que havia feito isso. Ele não usava uma máscara, mas suas roupas eram iguais aos outros invasores. 

— Por que vocês fizeram isso? — perguntou Sue. 

— Eu estou disfarçado deles, não com eles. — respondeu Sota, que desembainhou sua espada e a apontou para baixo, pronto para matá-la. — Mesmo se não fosse eu, outro viria, não é algo pessoal. 

— Vocês estão bem?! — Uma voz do lado de fora causou um profundo medo no coração de Sota, que guardou a espada, jogou um papel no chão e fugiu. 

No caminho, Hiroshi viu o grupo de arqueiros mascarados, escondidos atrás de uma árvore. respirou fundo e com um movimento horizontal, matou todos sem pensar. Ele jogou o sangue que escorria pela sua wakizashi na grama e se aproximou da entrada andando com cautela.  

— Vocês estão...  

A porta estava aberta e a primeira coisa que Hiroshi viu, foi o cadáver de Fuyuki. Ele parou de correr.  

— Então eu cheguei tarde demais... De novo? — disse com a voz trêmula.  

Se aproximando do corpo, ele checou seu pulso, só confirmando a morte, Hiroshi rezou por ele e colocou um pano sobre o rosto.  

— Ei! — Ao ouvir a voz de Sue, Hiroshi sorriu, mas quando se virou, ele viu três corpos mortos no chão e depois treze flechas espalhadas por todo corpo de Sue, seu sorriso se esvaiu.  

— Me desculpe. — Diante das inúmeras emoções e pensamentos que sentia naquele momento, Hiroshi só pode dizer isso. — Eu... Se vocês não tivessem me conhecido, nada disso teria acontecido... Eu devia ter me afastado, eu devia... 

— Por que está se desculpando? O que fez já está feito, não adianta se remoer pelo que passou. — respondeu Sue.  

— Mas foi tudo minha culpa, foi justamente por minha causa que... — Enquanto falava, Hiroshi retirava as flechas do corpo de Sue e pensava em como salvá-la, mas nenhuma ideia vinha a sua cabeça.  

Sue viu os olhos de Hiroshi lentamente se umedecerem, então ela sorriu e apontou para um pequeno armário.  

Hiroshi apressadamente abriu o armário e jogou tudo que tinha de lá dentro, na esperança de encontrar algum tipo de equipamento médico, mas no fundo encontrou um livro comum.  

— Venha.  

Hiroshi voltou correndo. 

— O que esse livro significa? Por que me mandou pegar isso? 

— Salve o... Aki. — Não houve palavras de conforto, despedida ou consolação, Sue chegou à conclusão de que um pedido era mais necessário que todo resto.  

Hiroshi conteve suas emoções pulsantes, sorriu e respondeu, segurando suas lágrimas.  

— Não se preocupe, eu salvarei e cuidarei dele nem que custe minha própria vida.  

— Mas se morrer não vai conseguir cuidar dele, fique vivo também. Estou confiando ele a você. — Para sua própria surpresa, seu corpo forte permitiu dizer mais uma frase sem pausas.  

— Tudo bem.  

Hiroshi presenciou uma cena terrível após essa despedida pacífica. O sangue escorria dos olhos, nariz, boca e ouvidos, a pele se tornou cinza, os cabelos e dentes lentamente caíram, houve diversas convulsões, gritos de agonia e partes do corpo se moviam de forma grotesca como se possuíssem vida própria. Nesse momento, o corpo de Sue parecia uma maldição que só prolongava o sofrimento, o que fez Hiroshi pensar em terminar o sofrimento com suas próprias mãos diversas vezes, mas falhou em todas, após longos vinte minutos de agonia, ela deu seu último suspiro. Hiroshi havia presenciado milhares de mortes, mas nenhuma tão miserável como essa.  

Nesse meio tempo, as memórias de como se conheceram invadiram a mente de Hiroshi. Depois disso, o arrependimento de não ter os conhecido de verdade, de não ter perguntado o suficiente, de não ouvir suas histórias, a tristeza pelo pouco tempo que passaram, a imaginação de um futuro em que eles tivessem mais tempo, tempo para limpar completamente a si mesmo, limpar suas mãos da culpa, alcançando uma paz verdadeira, o ódio disso não passar de uma imaginação, o ódio daqueles que tomaram esse futuro de si, a felicidade de ter tido, mesmo que pequena, a chance de viver com eles, algo que ele mesmo sabia que não merecia, medo dos dias seguintes, medo de voltar a ser como antes, medo de acabar seguindo os planos de Willmut, tristeza em relembrar seu próprio passado, raiva por ter permitido a mesma tragédia acontecer duas vezes, raiva de si mesmo. 

No fim de tudo isso, só um pensamento restou. Vingança. 

Hiroshi se encostou na parede e caiu rindo euforicamente, então gritou de sofrimento até o ar dos seus pulmões se acabarem, então agarrou seus cabelos e bateu sua cabeça, destruindo a parede, arranhou sua pele até sangrar, e no fim, chorou, chorou por muito tempo.  

As lágrimas amenizaram um pouco do sofrimento, mas todo esse turbilhão de memórias, pensamentos, agonia e emoções o levou a esquecer o mais importante. 



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