Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 22: Templo Todaiji

— Pelo seu olhar, me explicar não vai ajudar muito — disse o assassino. — ...Pelo que ouvi, você é um Kōhei, não é? 

— De que isso importa? Vai implorar pela sua vida? — perguntou Sota. 

— Bom, se você é mesmo um Kōhei e a fama de sua família realmente não é exagerada, tenho quase certeza de que sua principal motivação para me matar não é a recompensa. 

— E se for? 

— Então o que iria dizer não vale de nada e você pode me matar. 

Sota pensou e, ainda apontando a lâmina para o pescoço do assassino, tateou todo corpo dele em busca de alguma arma escondida. Não encontrando nada perigoso, guardou sua espada e se sentou. 

— Continue — disse Sota 

— Se não existir outra opção além de me matar, por favor entregue a minha recompensa para o orfanato.  

— ...Criou esse orfanato para tirar o peso na consciência?  

— Eu não criei. Eu fui criado por esse lugar.  

— Pula toda essa história emocionante, só explica o que te fez matar aquelas pessoas. 

— Mas não tem como explicar direto sem.... — Sota começou a desembainhar sua espada e o assassino rapidamente mudou sua atitude. — Vou resumir um pouco. Cresci, sai desse lugar, me tornei um guarda, mexi com pessoas que não devia, armaram para mim e eu fui incriminado. 

— Explica melhor a parte do mexeu com pessoas que não devia. 

— Eu vi dois homens bêbados brigando com um garçom, tentei parar eles, eles ficaram mais irritados e... 

— Você matou eles? 

— Claro que não! Eu não sabia, mas eles tinham cargos altos de onde eu trabalhava, só fui demitido. 

— Então se vingou? 

— Eu não consegui um trabalho, acabei pegando uma dívida e fui obrigado a entrar em uma... Organização. 

— Uma gangue? 

— Eu vi coisas que não devia ter visto, então colocaram uma recompensa na minha cabeça. 

— Está dizendo que não matou ninguém? 

— Aqueles que eu matei foram os que vieram atrás de mim. 

— Por que não fez o mesmo comigo? 

— Porque você é mais importante que alguém como eu, enquanto só vou ajudar esse lugar, você e sua família ajudam pessoas de todo país. Os que eu matei até agora eram diferentes, criminosos que não fariam falta no mundo. 

— Seu senso de justiça é estranho. — Sota se levantou. — Faças suas últimas despedidas e prepare esse lugar para sua ausência. Ah, e qual o seu nome? 

— Sano, é o meu sobrenome, mas pode me chamar assim. 

Sota subiu as escadas do porão tampado e voltou a andar pelo orfanato. Nessa caminhada, ele se reencontrou com a garota de antes, que estranhamente, ela não teve medo algum dessa vez. 

“Aquela cuidadora acalmou a garota?” 

— Pareço menos suspeito agora? — perguntou Sota. 

— Você não parece suspeito 

— Que bom, agora sim começamos bem. — Sota pegou a vasilha de doces novamente e ofereceu para ela. — Mesmo que não goste de doces, compartilhe com os seus amigos. 

Dessa vez, ela aceitou imediatamente, com um olhar confuso seguido por um sorriso ao ver as balas.  

— Acho que você me confundiu com a minha irmã — disse, enquanto devorava os doces. 

— O que? Você não é a Yuka? 

— Eu sou a Ayane. — Ela riu, apontando para a rua. — Minha irmã está brincando ali, mas ela odeia doces.  Se quer fazer as pazes com ela, vai ter que arranjar outra coisa.  

— Do que ela gosta? 

Hm... O presente que ela mais gostou até hoje foi uma lembrancinha... Aquelas coisas que vendem em lugares famosos. 

“Tem um templo famoso aqui perto...” 

— Obrigado pela dica. 

Sota saiu do orfanato e foi direto para o templo, refletindo sobre o destino do assassino no caminho. 

“O ato de matar em si não é justo ou injusto. 

Hiroshi só matou aqueles que tinham o mesmo objetivo na guerra e até onde eu saiba nunca matou alguém indefeso, se provando justo ao permitir que todos aqueles que quisessem, tivessem a chance de se vingar, e sendo proporcional nessa chance, ao me poupar quando eu mal sabia lutar. 

Já o Xogum, nunca matou com suas próprias mãos, mas está disposto a começar uma guerra, aumentar os impostos de pessoas inocentes, prejudicando uma cidade inteira por culpa de uma pessoa, e mandar pessoas fazerem as injustiças por ele. 

Ser um assassino somente, não indicaria se essa pessoa merece ou não a morte. O mais importante é a condição, o motivo e as pessoas em que ele fez isso. 

Suas atitudes são muito justas para alguém que supostamente é um assassino em série procurado. 

Não tem como alguém ser injusto e fazer ações justas. Será que estou matando alguém que não merece ser morto?” 

— Da última vez, minha hesitação pesou em toda cidade. Ele pode muito bem ter mentido, por isso coloquei alguém para ficar de olho nele, mas isso também significa que se eu falhar de novo ele vai ficar sabendo na hora... 

Após a tentativa falha do filho do Xogum, os impostos na cidade aumentaram em um nível insustentável, fazendo comércios fecharem as portas, moradores criarem dívidas e pessoas se mudarem. Fazer uma cidade inteira viver na miséria para prejudicar só uma pessoa foi a atitude mais nojenta que Sota já viu. A imagem das consequências de sua hesitação voltava sempre que pensava em poupar alguém. Novamente, sua ignorância o fez tomar conclusões precipitadas. 

— Nossa, quanta gente.  

Cercado por duas planícies verdes, só havia um caminho enorme até o templo colossal em altura e largo ao ponto de superar a visão. O tamanho e os detalhes nas estruturas eram surpreendentes, mas mais ainda era o fato de estar completamente cheio de pessoas.  

“O que tem de tão especial nesse lugar?” 

Sota subiu as escadas de pedra e viu de perto a grandeza dos portões de madeira. Em poucos passos, ele se deparou com a atração principal, um Buda feito de madeira, do tamanho de dez homens, com um cenário dourado o engrandecendo ainda mais. Sota não se surpreendeu. 

— Então é só um templo normal maior que o comum? 

Shh... — alertou um visitante que rezava ao lado. 

— Desculpe. 

Ao explorar mais, ele encontrou estátuas que achou mais interessante, apesar de serem menores.  

“Que armadura linda... Espera, aquilo é um demônio na cintura? Isso não é um templo?” 

Depois de andar por mais algum tempo, finalmente saiu para encontrar o motivo de ter vindo. 

— Vou querer... Uma boneca, um leque e dois broches — disse Sota. 

— Aqui está. 

Depois de pagar, Sota foi embora, com a decisão final em mente. 



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