Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 21: Primeiras impressões

— Tudo bem... Eu deixo eles irem — disse Sota. — Eu acabei de passar por uma situação complicada com pessoas que nem eles, por isso não estou pensando direito... Bom, essa não foi a melhor das primeiras impressões, então que tal esquecer tudo isso com uma bala e nos apresentarmos de forma mais apropriada? 

E Sota ofereceu a vasilha de balas que havia comprado antes, mas a garota recusou. 

Ah, deve parecer mais suspeito ainda... Hm... Depois posso te arranjar algo melhor e me introduzir de forma menos estranha, mas agora eu realmente preciso fazer uma coisa nesse lugar... — E Sota mostrou o papel com o endereço. — Você sabe o que tem nesse lugar? 

— O que quer fazer ali? — perguntou a garota. 

— Ali mora uma pessoa muito malvada, então eu vou dar um fim nela. 

A garota fez uma expressão de espanto, se virou e saiu correndo enquanto gritava. Sota foi atrás. 

— Hã? O que foi? O que tem com esse lugar? É uma casa mal-assombrada? Se acalma! 

Alcançar ela foi fácil, porém, Sota se deparou com outra pessoa. A garota, em prantos, correu e se agarrou as pernas de uma mulher alta de meia idade que vestia roupas cinzas e segurava um espanador. Ao ver o sangue nas mãos e nas roupas de Sota, ela jogou o espanador na cara do Sota, levantou a criança e começou a correr. 

— É tudo um mal-entendido! Não precisa correr! — Gradualmente, Sota foi percebendo que o lugar para onde ela corria combinava exatamente com as instruções do vendedor de doces. — Será que... 

As casas acabaram, pela quantidade de árvores, parecia que haviam chegado ao fim da cidade, mas a rua se estendeu por mais cinquenta metros, onde terminou em um portão velho feito de ferro pintado em amarelo, que dava a entrada para uma grande mansão, cercada por mais árvores, alguns brinquedos como escorregadores e balanços, onde mais crianças brincavam. 

“Será que é o lugar errado? Mas não tem nenhuma casa além dessa... Espera. Não, não, não... Um assassino em um orfanato!?” 
Sota começou a imaginar as possibilidades que um assassino em série teria em um lugar assim: usar as crianças como refém, para quando descoberto, ganhar tempo e fugir, treinar um exército de assassinos ou o pior de todos, torturas as crianças por pura diversão. Em todos os casos, Sota sentiu que deveria se apressar para parar o terrível sofrimento que as crianças estavam passando. 

— De todos os lugares, por que justo um orfanato!? Não... Eu devo ter me engando. Eu tenho que ter me enganado! Nem o pior dos demônios pensaria em algo tão... 

Sota se acalmou, respirou fundo, colocou a mão direita em seu bolso e pensou: 

“Todo esse mal-entendido pode ser resolvido com isso, mas se esse for mesmo o lugar onde o assassino está escondido, e ela estiver mesmo ajudando ele, o desgraçado vai fugir e a semana de busca do Will vai ter sido uma perda de tempo... Mas não explicar nada e chegar lá cheio de sangue é pior ainda...” 

Pouco antes das duas alcançarem o portão, Sota deu uma arrancada e entrou no caminho delas, mostrando uma placa de ouro. 

— Meu nome é Sota Kōhei. Esse sangue é de alguns ladrões que tentaram me roubar e eu vim para cá procurar um criminoso. Não tem motivo para fugir, não vim com más intenções. 

A mulher olhou para a placa de ouro, gravada com o sobrenome Kōhei, olhou para o rosto do Sota, então se acalmou. 

— Parece legítimo... Mas ainda não consigo me acalmar. O quão perigoso é esse criminoso para um nobre Kōhei ter que intervir? — Essa era uma reação que Sota estava acostumado, só de mencionar o nome de sua família, a atitude das pessoas logo mudava.  

“Que bom... Ela não parece estar ajudando ele. Errei mesmo o endereço?” 

— Eu posso responder todas as suas dúvidas... Mas antes, poderia me emprestar um pano? 

— Ah, não tenho um pano comigo, mas você pode entrar para lavar as mãos.  

A família Kōhei criou uma admiração entre as pessoas através das gerações. O tataravô de Sota se tornou conhecido por doar toda sua fortuna para os mais pobres, o bisavô se tornou famoso por ser um gênio nos empreendimentos, fornecendo as melhores condições de trabalho do país, com expedientes razoáveis, ótimos salários e sempre ajudando com generosidade aqueles que se feriam ou ficavam doentes, o avô espalhou o nome de sua família por todo país, ao questionar um mandato injusto do Xogum e quase ser executado pouco depois, inspirando seu pai a viajar pelo país, combatendo injustiças. 

A placa de ouro dos Kōhei, que indica o primogênito legitimo mais recente da família, por estar presente em todos esses grandes eventos, acabou virando um sinônimo de justiça. 

— Qual o nome daquela garota? — perguntou Sota, enquanto lavava suas mãos. 

— É Yuka. 

— A Yuka tem alguma ligação com os assaltantes daqui? 

— ...Acho que eu sei de quem você está falando. 

— Eles são uma péssima influência para ela, devia ficar de olho. 

— Aqueles hipócritas vêm para cá com presentes e comidas para as crianças. Usam parte do dinheiro roubado para limpar a consciência. 

— Limpar a consciência... 

Até agora, Sota não havia encontrado nada que comprovasse os atos malignos do assassino, na verdade, até agora não havia nem visto ele, por isso, decidiu investigar com mais cuidado toda a mansão. 

“Olhando assim até parece um orfanato normal... Bem cuidado, limpo, colorido, com brinquedos para as crianças, uma boa comida, camas confortáveis, cuidadores atenciosos... Mas se olhar bem, tem uma escada que leva para o porão e certamente... Ah, está tampado." 

— É... Acho que errei mesmo o endereço. — Logo após dizer isso, Sota se virou e se deparou com o homem que bateu em todas as descrições do cartaz: altura, peso, formato da face, cicatriz no rosto e uma tatuagem de tigre. — Ah! O homem do cartaz! 

— Homem do cartaz?... O emitido pela central? Sim, sou eu. 

Sota rapidamente desembainhou sua espada e encostou no pescoço dele. 

— Você tem uma chance de explicar o que diabos está fazendo aqui. 



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