Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 13: Biscoitos normais

Após despertar, Hiroshi seguiu sua rotina de sempre, limpou toda a casa e depois treinou esgrima, que ainda não mostrava progresso. 

Já fazia sete dias desde o aviso de Kuro, mas nada havia acontecido desde então. 

— O que será que faço hoje? — Após alguns segundos pensando em seus desafios culinários, ele decidiu fazer biscoitos e foi à casa ao lado. 

— Biscoitos? Certo, busco os ingredientes na dispensa — disse Fuyuki. 

Hiroshi ainda tinha de encontrar uma motivação para cozinhar, porém, Fuyuki e Sue concordaram em o ajudar, ocasionalmente emprestando ingredientes, experimentando e dando notas para as comidas de Hiroshi — algo que vieram a se arrepender pouco depois. 

Enquanto esperava, ele ouviu um grito de Sue dos fundos. Saindo depressa para o quintal, Hiroshi se encontrou com Aki e Sue, tentando tosar a ovelha que estava fugindo desesperadamente. 

— Volte aqui! — Gritava Sue enquanto tentava capturar o animal. 

— Pegueeeei! — Se segurando na ovelha, Aki gritava enquanto era levado junto. 

Após correr por mais alguns minutos, a ovelha diminuiu o ritmo e foi finalmente capturada por Sue. 

— Precisa de ajuda? — Perguntou Hiroshi. 

— Ta tudo… Girando. — Ouviu-se de Aki, caído no chão. 

— Acho que meu ajudante não está em condições para isso, então sim. 

— O que faço então? 

— Só segura ela, eu faço o resto. 

A ovelha lutou mais um pouco, tentando fugir, mas só o olhar de Hiroshi foi forte o bastante para acabar com seu ímpeto. 

— É sempre assim? — perguntou Hiroshi. 

— Infelizmente sim, esse bicho é assim desde pequeno — respondeu Sue. — Teve algumas vezes que ela até fugiu de casa. 

— Como acharam ela? 

— A ovelha voltou por conta própria. 

— Que estranho... 

A montanha de pelo voou pelo ar, entrou nos olhos, na boca e dentro das roupas de Hiroshi. Quando ele se deu conta, a ovelha tinha diminuído três vezes de tamanho. 

— Deixa que eu termino daqui, pode ir lá — disse Sue. 

Hiroshi limpou todo pelo em sua roupa e foi para a cozinha. 

— Só tenta... Não queimar a cozinha dessa vez — disse Fuyuki. 

As ideias, receitas e produção dos alimentos vinham todos por parte de Hiroshi, o que na maioria das vezes resultou em uma catástrofe ou uma falha completa. 

— Ok, não vou complicar. 

Hiroshi quebrou os ovos com cuidado, os jogou em uma bacia, colocou farinha, manteiga, uma quantidade absurda de açúcar e cinco gotas de um frasco misterioso feito por conta própria. 

— O que é isso? — perguntou Fuyuki. 

— Segredo. 

Hiroshi adicionou água gradativamente e bateu tudo em uma velocidade sônica. Pegando uma consistência boa, ele jogou farinha na mesa e começou a sovar a massa. 

— Acho que você confundiu a receita de biscoitos com pão... — disse Fuyuki. 

— Biscoitos não são a massa de um pão em um formato diferente e mais crocante? 

Hiroshi enrolou a massa, criando dois longos tubos, então cortou tudo em três segundos e achatou individualmente cada biscoito com suas próprias mãos. Por fim, colocou tudo em uma assadeira. 

Aparentemente, fazer biscoitos era tão simples que até Hiroshi conseguiu cozinhar com certa tranquilidade e, surpreendentemente, tudo pareceu estranhamente normal, para os padrões de Hiroshi. 

— Agora é só pôr no forno e... Pronto. — Fuyuki, aliviado, foi pegar um pano para limpar seu suor, gerado pelo nervosismo de observar Hiroshi cozinhar.  

— Está chato aqui, vou brincar com a Mie, tchau! — exclamou Aki, assim que se levantou da grama. 

— Tudo bem, vai lá — respondeu Sue. 

A ovelha tosada acompanhou Aki até a entrada, e depois se deitou no chão. Até ela estava aliviada. 

— O que vocês fazem com a lã da ovelha? — perguntou Hiroshi. 

— Na maioria das vezes a gente vende, mas hoje acho que vou fazer algo para você. — respondeu Sue. 

— Tudo bem — respondeu sem curiosidade nenhuma. 

— Acho que já está bom para tirar do forno... — disse Sue. 

E Fuyuki, nada animado, perguntou: 

— Então, quem vai comer dessa vez? — Fuyuki e Sue combinaram, devido às assombrações que surgiam quando Hiroshi cozinhava, que deveriam alternar entre eles. 

Eh... Eu perdi a conta, quem que era dessa vez mesmo? — disse Sue. 

— Eu também esqueci... Quer decidir no par ou ímpar? 

— Que tal vocês dois provarem? — sugeriu Hiroshi. 

O casal se entreolhou preocupado. 

— P-primeiro vamos tirar os biscoitos antes que queimem! — disse Fuyuki. 

Apesar da hesitação, a primeira impressão dos biscoitos não foi ruim. 

— O cheiro parece… Normal?!  

— Não é possível, deixe eu experimentar... — Sue se levantou e hesitante, comeu um pedaço do biscoito doce. — Está… Está normal! 

— Impossível... Deixa eu ver também. — E Fuyuki fechou seus olhos e comeu de uma só vez, engolindo rapidamente. — Está normal mesmo, parabéns! 

— É sério? Já que gostaram tanto, eu vou deixar tudo para vocês comerem — disse Hiroshi. 

Fuyuki se engasgou. 

— N-não, não precisa é que…Ah, preciso ir à feira, você quer ir junto, Hiroshi? — questionou Fuyu. 

— Mas eu não preciso comprar nada. 

— Só vai logo — incentivou Sue, colocando o resto dos biscoitos em uma cesta, entregando e empurrando Hiroshi até a entrada. — Divirtam-se! 

E fechou a porta. 

— Mas eu não preciso comprar nada... — repetiu Hiroshi. 

— Deixa disso, caminhar faz bem para saúde! — disse Fuyuki, indo dar tapinhas nas costas de Hiroshi, mas parando logo antes de encostar. — E já que estamos aqui, que tal compartilhar os biscoitos com a vizinhança também? 

Para Fuyuki e Sue, que experimentaram diversas monstruosidades criadas por Hiroshi, normal passou a significar comestível. Comestível não significa agradável. Muito pelo contrário, em casos normais, esse biscoito seria entregue a ovelha, por ser julgado impróprio para consumo humano pelos dois. 

Sem saber disso, Hiroshi foi distribuir seus biscoitos pela vizinhança. 



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