Volume Único
Capítulo 12.5: Pequeno imprevisto
Em uma madrugada fria no campo de batalha, o general que comandava as tropas de um Xogum acordou preocupado em seu acampamento.
“Um passo?”, pensou ele.
O general se levantou sem fazer barulho, segurou o cabo de sua espada com sua mão direita, e olhou com cautela para fora de sua barraca.
Mesmo com a pouca iluminação, era inegável que o que ele viu era uma silhueta humana, porém, sua mente discordava de seus olhos, pois se seus sentidos estivessem corretos, uma criança teria passado despercebida pelos mais de cem soldados que também acampavam ali, algo impossível, a menos que tivesse caído do céu.
“Uma assombração? Estou alucinando? Um animal?...”
Diversas possibilidades como essas passaram por sua mente por cinco minutos, mas a suposta criança permaneceu ali, parada.
O general afunilou suas ideias e as diminuiu para duas suposições razoáveis: aquela pessoa era um assassino ou uma criança perdida, em ambos os casos, tomar a iniciativa primeiro seria a melhor escolha. Para evitar mortes desnecessárias de ambos os lados, ele saiu da cabana.
— Está perdido... Onde estão seus pais? — disse o general, andando em direção da criança.
O garoto encarou para o braço do general. O tom e as palavras do general aparentavam ser gentis, mas suas ações não condiziam, ele ainda segurava o cabo de sua espada.
— Morreram.
— Sinto muito. — O general teve um veredito, ele imediatamente desembainhou sua katana ao ver que a criança misteriosa possuía uma wakizashi em suas costas e começou a correr.
— Não tem problema, já faz um tempo. — Já a criança, sem reação alguma, permaneceu imóvel.
Pensando em mais duas possibilidades: a criança estava parada por medo ou por haver alguma armadilha preparada, o general parou de correr, e ao invés disso, voltou a fazer perguntas:
— Qual são suas intenções aqui? — Não havendo resposta prosseguiu. — Por que pergunto ainda? Um assassino não falaria suas intenções de bom grado.
— Está errado, não sou um assassino.
— Mesmo que diga isso, como posso confiar em uma pessoa armada e infiltrada em meu acampamento no meio de uma guerra? O que é senão um assassino?
— Um demônio. — O garoto desamarrou sua wakizashi de suas costas e levantou suas mãos. — Me dê duas refeições por dia que eu matarei quem você quiser.
O general deu uma alta gargalhada e também guardou sua katana.
— Pareceu um assassino agora! Um demônio... Está mais para um diabinho mirim, enfim, qual é seu nome?
— Hiroshi, não tenho sobrenome.
— Eu sou Koji Mizutani. Não podia ter pedido um emprego de uma forma mais comum?
— Quem daria emprego a uma criança?
— ...Não prefere ajudar a cozinhar ou limpar? Pago o mesmo tanto que se lutar.
— Só sei matar.
O general bocejou.
— Tenho comida, mas não espaço para você dormir.
— Tudo bem eu durmo no chão.
— Eu não me sinto bem em deixar uma criança dormir no chão, mesmo sendo um demônio, vai contra meus princípios.
— Então eu durmo onde?
O general foi em direção de outra barraca e Hiroshi ouviu um grito.
— Fique de guarda.
— M-mas o que?!
— Não questione, fique de guarda.
— Argh, tudo bem.
E Koji voltou.
— A cabana aqui do lado ficou livre, durma lá a partir de hoje.
Hiroshi olhou para o general, olhou para o soldado que foi despejado, olhou para o general novamente, o cumprimentou e andou para sua nova cabana, sem dizer mais nada.
— Até amanhã. — Ao sair, Koji mandou os soldados que assistiam de longe voltarem a dormir.
“Prefiro ser enganado por um possível assassino que duvidar de uma criança, se eu morrer esta noite, é a vida...”, pensou o general, que ainda acreditava que a criança era um assassino enviado pelo exército inimigo.
Ele voltou para sua cabana e dormiu tranquilamente.