Volume 1

Capitulo 9: O templo abandonado

A ventania balançava a vegetação.

A visibilidade era baixa, mesmo com o clarão dos relâmpagos iluminado de vez quando os arredores, era quase impossível saber onde estava. Entretanto, uma mulher caminhava de maneira calma entre a vegetação.

Ela vestia uma capa que cobria todo seu corpo, excerto por sua cabeça onde seus longos cabelos verde-esmeralda debruçavam sobre seus ombros, assobiava uma leve melodia semelhante a uma cantiga de ninar.

Ao parar, a mulher notou que havia chegado a seu destino, na mesma hora o clarão do relâmpago revelou para ela uma clareira descampada.

— Clareira amaldiçoada… Hunf — de maneira debochada, a mulher riu. — Se os mortais soubessem o privilégio que lhe foram dados.

Por de baixo de sua capa, a mulher brandiu leque de madeira, que na mesma hora transformou-se em uma espada japonesa. A lamina do objeto parecia se feita de cristal, seu cabo personalizado possuía um gume em formato de flor.

— Agradeço aquela jovem mortal que me contou sua história sobre esse local… Aisha, acredito que esse seja o nome dela.

Desde seu encontro com a garotinha, a mulher tentou chegar a esse local, entretanto a mesma garotinha não queria sair de lá, e pouco tempo depois um amigo dela apareceu em cena.

— Esse clima esquisito ajudou muito — em uma expressão seria, a mulher murmuro. — Se bem que tenho certas dúvidas se é uma tempestade natural…

A mulher então começou a analisar o ambiente, caso alguém de fora a observasse neste momento com toda certeza ia imaginar que ela era uma louca, pois não havia nada naquele lugar que necessitasse de sua atenção. Contudo, eles não vinham o que a mulher enxergava.

Dando um leve sorriso, a mulher atacou o nada, entretanto sua espada acabou atingido alguma coisa. Do que era antes uma clareira vazia, uma grande casa surgiu.

A casa lembrava um templo usado para fins religiosos, com seus telhados em formato de cone e pilares em granito, possuía também outras características que normalmente eram vistas em igrejas ou templos. De longe era possível ver o mal estado da estrutura, muitas rachaduras e com partes totalmente cobertas por musgos.

Ao retirar sua espada que havia ficado presa em uma das colunas, a mulher admirou um papel que ficou preso a lamina.

— Impressionante como uma mera camuflagem escrita em sangue, pode mudar totalmente o espaço a sua volta, caso eu não soubesse da explicação, com toda certeza diria que era feitiçaria…

Dirigiu-se então até a entrada do templo, adentrando-o. Diferente do espaço afora, a parte de dentro não estava em estado tão deplorável, na visão da mulher, uma leve faxina já era o suficiente para deixá-lo em estado agradável.

O templo não possuía móveis, apenas uma grande estatua de uma figura feminina e um pilar com uma bacia feita de um metal cristalizado. A mulher encarou a estátua, admirando sua beleza, voltando sua atenção para a bacia.

— Acorde irmã! Tenho algo a lhe propor — ordenou.

De seu cóccix uma cauda emplumada surgiu, de onde a mulher tirou uma de suas penas e a depositou dentro da bacia, na mesma hora a pena foi consumida por um líquido gosmento brilhante, tomando a forma de um animal.

O animal possuía uma aparência reptiliana, com sua cauda enrolada e seus olhos que mexia a 360 graus, encarando cada parte do local, um camaleão.

— Irmã? É quem seria você, nobre viajante? — Ao mexer sua cabeça de maneira curiosa, o animal perguntou.

A mulher transformou novamente sua espada em um leque, usando-a para cobrir sua face, onde ela expressava raiva pela pergunta do animal.

— Quem sou eu!? Essa juventude, não respeitam mais os parente mais velhos… Eu sou a Besta da Vida, a Pavão esmeralda, sua superior! — Com um sorriso esnobe, a mulher exclamou.

Devido à aparência animalesca, não era possível ver as expressões do animal, entretanto o tom de sua voz demostrava surpresa

— Vida!? Como saiu do selo do dragão da criação… Melhor que uma Besta do vazio desejas com uma mera Besta simples como eu? — perguntou o animal.

Ao notar que tinha a atenção do camaleão, a mulher sorriu com o canto de sua boca.

— Como eu sair não importa! Agora o que quero com você, irmã, é algo que ambos desejamos — respondeu Vida.

O reptil permaneceu em silêncio, demostrando está ouvindo a proposta. A mulher então começou a contar seus planos.

— Nos somos Bestas Aladas, seres nascidos do próprio sangue, é carne da Dragão da Criação! — Ao apontar seu leque para estátua, Vida discusou.

O animal continuo em silêncio, curioso sobre o futuro que aquela conversa ia se tornar.

— Presa nos fomos, separada de nossa criadora por conta do temor daqueles que não entedia nosso verdadeiro proposito neste mundo… O de levar nossa criadora ao patamar da Ordem!

O animal então suspirou. Essa reação fez com que Vida perdesse seu foco no discurso.

— Então sua proposta é torna nossa mãe um tirana? Compreendo agora o motivo de serem seladas muito antes de nos… Imagino se vivessem nesta época dominada pelo Concelho… — suspirou o reptil. 

Uma interrogação surgiu na cabeça da mulher.

— Concelho? É algo relacionado aos dragões governantes?

A pergunta de Vida fez o animal sibila um riso.

— O Concelho é uma invenção dos mortais. A guerra elemental ocasionou uma má fama entres os dragões, agora são os mortais que decidem por conta própria o que irão fazer — explicou o reptil. — Para alguém superior a mim, está bem desatualizada, irmã!

— A criadora está de acordo com isso? — revoltada, Vida perguntou.

— Mas é claro… Ela sempre esteve do lado dos mortais, inclusive sempre apoio eles terem sua própria voz no tecido dos mundos — respondeu o animal. — Infelizmente, eles também não confiam em nós, meu selamento é culpa deles.

Vida ponderou as novas informações, para esse tal de concelho conseguir exigir um selamento de uma besta alada, significava que possuíam bastante autoridade.

— É antes que você pergunte, não, eu não tenho nenhum ressentimento… Se eu fosse um mortal, também exigiria tal poder de fala… Além disso, permitiram que saísse do selo contanto que eu ache um receptáculo mortal — comentou o reptil.

Vida encarou sua irmã com desprezo, não imaginava que possuía o mesmo sangue que aquela covarde, muito menos conseguia crer que ela aceitou as ordens de mortais, estava claro que o selamento dela não era por temor, e sim por meras razoes politicas.

— Então no fim vai aceitar ter sua rédeas presas a alma de um mortal!? Você me enoja! — exclamou.

Seu ódio era tanto que a mulher não conseguia conter sua forma humanoide, com parte de sua cauda emplumada reaparecendo em um tamanho maior em seu cóccix em um formato de leque, e em suas costas um par de asas verde-esmeralda surgiram.

— Que estressadinha… Não tem nada de mais em ter minha alma presa a um mortal, ainda serei livre para fazer o que quiser, a única diferença é que terei um companheiro ligado a mim — Ao boceja, o animal comentou. — Além de que não é muito diferente da nossa antiga escolha de receptáculos.

A cada palavra que aquele reptil dizia, mais ódio surgia em Vida. Para uma besta alada um receptáculo não era algo simples, pois para surgimento de tal ser, era necessário que a alma da besta é de seu escolhido, fossem unidos por um estigma dada pela própria dragão da criação.

Vendo que sua irmã não ligava para tal honraria, ao ponto de ficar esperando a boa vontade de um escolhido aparecer em sua presença, lhe causou uma tremenda repulsa, não aguentava mais está na mesma presença que aquela coisa.

— Hunf… Estou vendo que você é apenas uma perda de tempo — ao cobrir sua expressão de nojo com o leque, Vida comentou.

A mulher então deu as costas para o camaleão e dirigiu-se a saída. Entretanto, o animal a impediu.

— Ei! Um momentinho aí, passarinha. Não está pensando em sair e me deixar acordada… Né!? 

Vida então virou-se com um sorriso malicioso estampado em seu rosto.

— Não estava tão ansiosa pela chegada de seu escolhido? Dormindo nunca irá o encontra, alegre-se pelo favor que sua irmã mais velha lhe proporcionou.

— O quê! Sua vadia, desfaça o que fez, rápido! — Em desespero, o animal a ordenou.

Vida nada respondeu, apenas se fingiu de surda. O camaleão em revolta tentou atacá-la, contudo, era impendido por um escudo invisível de sair de dentro da bacia.

— Ah que tristeza, a irmãzinha está enjaulada, snif… Snif —simulando está emocionada com o animal, Vida gozou.

Enquanto saia de dentro templo, a mulher observou pela última vez as tentativas frustradas de sua irmã de tentar sair de dentro da bacia.

— Ridículo… Ainda se diz uma besta alada…

Antes de fechar a porta, a mulher restaurou o papel com selo que camuflava o local, transformando o ambiente na clareira sem vida de antes.

Vida estava frustrada, tudo que havia planejado não deu em nada, mas também sua maior frustração foi ver como aquela besta alada estava rendida aos poderes de outros que não sejam de sua criadora.

— Bom, ela não é a única selada nesta terra, veremos sé as próximas serão dignas — murmurou.

Percebeu que mesmo com tempo que esteve dentro do templo a tempestade não havia terminado, ao contrário, parecia mais forte do que antes. Isso lhe causou um forte incomodo, pois sabia que aquele fenômeno era um reação do mundo pela quebra das leis naturais.

Mesmo que a situação fosse útil para camuflar sua presença, temia que tal coisa atraísse-se uma serva de sua criadora ou pior a própria. Com tudo aquilo, sabia que precisava ser rápida em encontra o resto de suas irmãs.

Perto dali…

Aisha observava as gotas de chuva pela janela, desde seu encontro com a criatura junto a Eric, não conseguia tira oque era aquela coisa de sua mente.

A figura parecia um cachorro, porem com um tamanho avantajado, pensou que podia ser um lobo, contudo não havia lobos em sua região.

 — O que será que era aquilo… — ao levar a mão ao queixo, Aisha murmurou.

Oliver, que arrumava a beliche atrás dela, encarou curioso para os murmúrios de sua filha.

— Então Aisha, o de cima ou de baixo? — Apontando para as camas, o homem perguntou.

Contudo, a garotinha nada respondeu, estava presa em seus próprios pensamentos.

— Aisha?

— Ein… Ah, sim… — gaguejou Aisha. — Ficarei no de cima.

Oliver estranhou a reação de sua filha, ficando preocupado.

— Algo lhe incomoda filha?

— Não, apenas pensado em que bicho foi aquele que eu e Eric vimos mais cedo — respondeu Aisha. — Estou em dúvida se era um lobo ou um cachorro.

Oliver sorriu, nessas situações a garota lembrava muito a mãe, pois ela também era muito curiosa quando o assunto era sobre animais.

— Vai ver é um cachorro de alguma casa que fugiu com medo da tempestade — comentou Oliver. 

Aisha duvidou da resposta de seu pai, mas preferiu na discordar dele, estava muito escuro na hora em que o acidente ocorreu, sua visão sobre o tamanho dele podia está muito enganada.

— Já arrumei sua cama, está tarde, então é melhor dormir logo — falou Oliver.

Aisha olhou revoltada, não queria dormir, queria brincar com seu amigo, pois não era todo dia que uma festa do pijama em uma tempestade ocorria, havia muitas histórias para contar a Eric.

Ia retrucar com o homem, mas deparou-se com mesmo já adormecido.

— Que rápido! — falou Aisha.

De repente, seu corpo começou a entrar em uma extrema fadiga, parecia quando ela tomou um remédio contra tosse de sua avó, seus membros estavam fracos e seus olhos pesados.

Por mais que tentasse lutar contra o sono, sua mente asseava pela cama, achou tudo aquilo estranho, pois era a primeira vez em toda sua vida que sentia tanto sono, até mesmo o encosto da madeira em que estava parecia um local agradável para uma soneca.

Foi então que Aisha avistou seu amigo saindo pela janela de seu quarto.

— Eri…

Tentou o chamar, mas seu sono era tão forte que suas palavras não saiam, tentou lutar o máximo que conseguia, contudo, por mais que tentasse, sua cabeça cedia a sonolência.

Debruçado-se da escrivania, a garota pregou sua bochecha sobre a janela, enquanto seus olhos pesados fechavam-se, notou algo curioso em sua amigo.

Foi algo muito rápido, mas acreditou ter visto os olhos de Eric, brilhando em tom arroxeado, infelizmente sua mente estava em um luta para se manter acordada.

Aisha então adormeceu, sobre a forte chuva do lado de fora, tudo que tinha presenciado naquele momento, sobre Eric, parecia nada mais que apenas um de seus fantásticos sonhos de uma garotinha criativa.

 



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