Volume 1

Capitulo 7: A caçada Parte 1

A tempestade estava intensa.

Na estrada de terra, um homem corria cobrindo-se com seu uniforme militar, ao parar em frente a uma casa, adentrou o jardim e abriu a porta exclamando.

— Aisha, você está bem?!

Sentada em um sofá, estava uma garotinha ensopada coberta por uma toalha, ao seu lado uma mulher lhe servia uma xícara de café.

— Oi, papai — falou a garotinha, sorrindo.

O homem suspirou em alívio, mas de repente fez uma expressão seria.

— Aisha, eu já não falei que não quero que você saia de casa sozinha quando é tarde!

A garotinha encolheu-se de vergonha, cobrindo-se com a toalha.

— Desculpa papai… Eu apenas queria mostrar o presente que você me deu ao Eric — choramigou.

Devido ao barulho, Aramis, que estava na cozinha, chegou para acalmar os ânimos de seu amigo.

— Não se preocupe, Oliver, meu filho a encontrou e a trouxe antes da tempestade começar.

Aramis então apontou para um canto da sala onde um garoto estava parado observando a chuva por uma das janelas da casa. O garoto então abriu a janela e botou uma de suas mãos para fora, deixando as gotas da chuva escorrerem sobre ela.

De repente uma pequena descarga elétrica, quase não perceptivo ao olho nu, ocorreu. O garoto encarou de maneira seria para o fenômeno, já possuía certas suspeitas desde o começo da tempestade, mas agora que tudo tinha se acalmado, pode ter certeza.

“Definitivamente, é um conflito de energias…”, murmurou, em seus pensamentos.

Lembrou-se de uma informação que era bem comum de seu trabalho, constantemente, Eric, quando era Nephrite, precisa administrar a entrada e saída de pessoas no tecido dos mundos para o cumprimento das leis naturais.

Quando alguém com uma abundância de energia elemental adentrava um mundo quebrando tais leis, sofria de reações por parte do mundo como um leucócito ao encontrar um invasor. Tempestades, tsunamis e até terremotos eram criados para tentar fazer o invasor recuar,

“Será que Isabela é o motivo?”, indagou, em seus pensamentos.

O encontro de mais cedo com sua companheira o deixou imerso em seus pensamentos, não sabia que forma monstruosa era aquela que a mulher possuía, isso o intrigava. De repente, um toque em sua roupa o fez voltar a si.

— Obrigado por deixar minha filha em segurança, estou lhe devendo mais uma — falou Oliver.

— An? Ah… precisa se preocupar não tio — respondeu Eric.

Oliver então encarou a tempestade, fazendo uma expressão seria em seu rosto.

— Ei, Aramis. Aisha e eu podemos passar a noite aqui? — perguntou ao cruzar seus braços. — Ia a levar para casa, mas estou vendo que essa é uma chuva daquelas…

Emma, que ouvia tudo, entrou na conversa.

— Mas é claro que podem ficar! O quarto de hóspedes está disponível, Eric leve-os até lá.

Após cumprir as ordens de sua mãe, o garoto dirigiu para seu quarto, deparando-se com Angel observando a chuva pela janela. A boneca sorriu com sua boca de trapo a chegada de seu irmão, notando algo em seguida.

— Parece preocupado, maninho, aconteceu algo?

Eric não respondeu, continuou imerso em seus pensamentos, ao correr até seu guarda-roupa, começou a mexer em uma das gavetas do móvel.

— Angel, separe alguns alfinetes por gentileza — ordenou, tirando uma luva de inverno da gaveta. — Essa vai servir.

A boneca fez o que seu irmão pediu, encarando curiosa quando o mesmo sentou-se ao lado dela, e começou a pregar os alfinetes na luva.

— O que está fazendo maninho? — perguntou.

— Essa chuva não é uma chuva normal, e com certeza isso tem correlação com a Isabela — murmurou Eric, ao terminar de pregar os alfinetes.

Uma interrogação surgiu na cabeça da boneca, que fez um jogo de cabeça.

— Isabela? Quem é Isabela?

Eric acabou se tocando, havia esquecido que tinha conhecido sua irmã recentemente e que ela não sabia de seu passado completamente.

— Tenho que parar com essa mania de achar que os outros sabem do que estou pensado… Isabela é uma antiga empregada minha do tempo que eu era Nephrite. Ela também foi uma de minhas alunas humanas.

A boneca ponderou as informações, uma antiga companheira de seu irmão tornava logico o motivo de ele está assim, mas algo nas informações a chamou atenção.

— Empregada? Então que dizer que mesmo você sendo adulta, alguém lavava suas roupas? — Indagou.

Eric acabou dando leve sorriso pela pergunta inocente de sua irmã.

— Empregada é um apelido que as pessoas deram para quando os que servem são mortais — respondeu Eric.

Ao terminar de pregar os alfinetes na luva, o garoto abriu um pequeno armário em sua escrivania, tirando um papel de dentro dele, grudando-o na parede.

— Angel, fique aqui, é cuide dos nossos pais — falou Eric, ao abrir a janela.

O vento da tempestade estava muito forte, quase não era possível ver o horizonte, excerto quando os clarões dos relâmpagos permitiam. Eric estava pronto para sair, quando um puxão em sua roupa o impediu.

— Eu vou com você, maninho! — exclamou a boneca.

— Angel, não! É muito perigoso… E eu tenho que ir salvar Isabela, pois os mestres sempre cuidam de seus servos — respondeu Eric, ao afastar a boneca de perto dele.

Angel pensou em recuar, entretanto, puxou novamente a roupa de seu irmão, estava cansada de ficar preso naquela casa, queria sair e ver o mundo.

— Eu irei com você! — falou a boneca de maneira firme — Se Isabela é sua serva, então também é minha serva, e como você disse agora a pouco, os mestres sempre cuidam de seus servos, então eu vou!!

O garoto relutou um pouco, temia sobre a segurança de sua irmã, mas sabia que não conseguiria a convencer a ficar. Dando de ombros, agarrou Angel, colocando-a em cima de sua cabeça

— Segure-se bem, então, está bastante escorregadio — falou, saindo pela janela.

Eric deslizava pela beirada das telhas de sua casa, enquanto Angel segurava-se pelos seus cabelos, ela respirou fundo ao ver a altura em que estava. Ao chegar no fim da telha, Eric deu pulo sobre a cerca, pousado em segurança no chão.

— Uau… — murmurou a boneca em surpresa

A parte de cima daquela cerca era bem pontiaguda, se ela tentasse imitar o que seu irmão tinha acabado de fazer com toda certeza ia ser machucar bem feio. O garoto, então, começou a correr estrada adentro, a boneca aproveitou então para olhar numa das janelas de sua casa, a fim de saber como estavam seus pais, notando que dormiam tranquilamente no sofá.

— Que sorte! Papai e mamãe cariam no sono — comentou Angel.

Eric então deu uma leve risada, deixando Angel confusa.

— Não foi sorte… Fui eu que os botei para dormir — falou Eric.

Angel não entendeu, contudo, não teve tempo de perguntar, pois seu irmão parou de correr de repente.

— Angel, já que você veio comigo, irá me ajudar a encontra Isabela — falou o garoto, ao tirar a boneca de sua cabeça, botando-a no chão.

A boneca o encarou confusa, não entedia o que seu irmão queria dizer com aquilo.

— E como irei fazer isso? Não tenho poderes como você, maninho… — choramigou.

Ao ficar de joelhos, sorrindo de maneira gentil, o garoto segurou as mãos da boneca.

— Mas é claro que você tem poderes, meu sangue é seu sangue… Feche seus olhos e siga minhas instruções — falou Eric, ao também fechar seus olhos.

Angel acabou acatando as ordens de seu irmão, escutando atentamente sua explicação.

— As pessoas e tudo nesse mundo são feitos de pequenos objetos chamados de átomos, eles não podem serem visto a olho nu, entretanto a alguns seres que possuem a habilidade de enxergar a energia que esses tais átomos soltam, os chamados Portadores. 

Angel nada respondeu.

— Libere sua mente, sinta essa energia desse belo mundo que chamamos de lar — falou Eric.

A boneca não entendeu as orientações de seu irmão, mas confiou mesmo assim, focando o máximo que conseguia. De repente começou a sentir um sentimento diferenciado em seu peito.

— Eu me sinto esquisita… É quente, é… Estranho — comentou Angel.

Eric então acariciou suas bochechas, orientando a abrir seus olhos. A boneca então ficou boquiaberta com o que testemunhava.

Tudo ao seu redor parecia que era uma pintura, inúmeras manchas de cores diferentes bombardeavam sua mente como gotas de tinta.

— É bonito… Mas também assustador… — Comentou a boneca.

— Sim, é mesmo — respondeu Eric, ao acariciar a boneca com suas duas mãos. — Vamos brincar de pinque esconde, Angel. Procure manchas esbranquiçadas igual a leite, é a energia elemental de Isabela.

A boneca fez o que lhe foi ordenado, contudo, teve um pouco de dificuldade, pois sua atenção era constantemente tirada pelas gotas de chuva que em sua visão era manchas azuladas.

— Encontrei! — ao apontar para um local — É meio difícil de ver, mas com toda certeza é branco.

— Estou a seus serviços, minha pequena, guie-me — respondeu Eric.

Angel concordou, começando a seguir os rastros de Isabela.

— Perdão por fazer você fazer isso, mas não quero que Isabela note minha presença, pois do jeito que ela está, é capaz de agir de maneira agressiva a mim — falou Eric

Angel nada respondeu, pois algo lhe causava duvidas.

— Maninho, por que essas manchas são coloridas?

Eric reagiu curioso a pergunta, explicando-a de maneira resumida para que entendesse

— Quando os átomos se ligam em conjuntos, eles se tornam algo que chamamos de moléculas… Moléculas essas que causam esse fenômeno das cores que os portadores enxergam.

Angel ficou maravilhada, havia tantas coisas que não sabia daquele mundo, a cada dia mais e mais informações surgiam, a deixando mais animada para o desbravar.

— A energia da Isabela é branca, pois ela controla o elemento gelo — comentou Eric.

Uma interrogação de repente surgiu sobre a cabeça da boneca.

— Gelo? Mas esse azul não é da chuva? — respondeu Angel.

Eric então fez uma expressão complicada, era um assunto bem chatinho de explicar e não estava com nenhuma vontade de explicá-lo.

— Então… Gelo é água, tem cores diferente, mesmo sendo o mesmo… — comentou o garoto.

A tempestade ficava cada fez mais forte, não dando indícios que ia acabar tão cedo, isso era mal visto pela boneca, pois sua visão ficou ainda mais poluída, dificultado sua busca pela energia de Isabela.

— Espere Angel — murmurou Eric.

A boneca não entendeu a princípio, mas um barulho na vegetação a frente tirou sua atenção. Isabela saiu do matagal farejando o chão como se procurasse algo.

Ao notar a presença dos dois, a mulher os ignorou completamente, como se ambos fossem parte da paisagem. 

— Essa é a Isabela? Parece um monstro…— comentou Angel, horrorizada com o que via

— Ela nem sempre foi assim… — respondeu Eric.

Eric aproximou-se da mulher, caminhava de maneira lenta, para não a assustar. O garoto então tirou as luvas de inverno que guardará no bolso de sua calça, vestido-as. 

Pode sentir o ardor dos alfinetes penetrando sua pele, como se fossem inúmeras ferroadas de inseto. A luva, que outra hora era marrom, começou a ficar com pequenas manchas de sangue.

— Angel, esconda-se em um lugar seguro, não quero que você se machuque ou que Isabela mire em você — ordenou o garoto.

A boneca concordou com a cabeça, indo se esconder atrás de uma árvore, onde observará tudo de longe, notava que o corpo de Isabela estava coberto por uma mancha, que parecia chamas totalmente esbranquiçadas, reconhecia tal coisa.

“Isso lembra minha antiga aparência… Será que a alma de Isabela? “, indagou em seus pensamentos.

De repente, a boneca engoliu seco. No corpo de seu irmão, uma energia se formava, era uma energia densa, ao ponto de deixar Angel completamente sem folego, sugava todas as outras cores envolta, deixando tudo em uma completa escuridão.

Ela não foi a única a reagir aquilo, Isabela, que ignorava as crianças até esse momento, de repente, pois em uma posição defensiva, ao sentir o poder de Eric, encarando-o com sua mandíbula aberta, revelando caninos afiados

O garoto respirou fundo, era a primeira vez que ele havia exposto o seu novo corpo a sua energia original, sentia-se como se um carro tivesse caindo por cima dele, juntado a uma tontura agoniante. Mesmo assim, o garoto se manteve em pé, era a vida de sua serva em jogo, não podia se deixar levar.

— Esse corpo não irá aguentar uma exposição prolongada… Devo fazer as coisas de maneira rápida… — Murmurou Eric.

O garoto, então, se posicionou em uma pose que insinuava uma corrida, ao fazer isso, os alfinetes penetraram ainda mais a sua pele, dando-lhe uma forte dor.

— Eu irei lhe libertar, minha cara Isabela — murmurou, enquanto sentia o calor sua energia em seu peito.

Ao encarar Isabela, revelou que as iris de seus olhos haviam mudado, ganhando um tom arroxeado iguais a ametistas lapidadas. Estava pronto para libertar sua serva.



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