Volume 1
Capitulo 6: A mulher de cabelos verdes
Em pleno fim da tarde em uma estrada de terra, uma garota caminhava saltitando.
Vestia-se com um vestido social, e em uma de suas mão carregava uma coruja de pelúcia enquanto na sua outra mão carregava uma sacola de pães recém comprados.
— Hehe, Eric vai ficar maravilhado quando ver essa pelúcia que ganhei— falou a garota.
Era Aisha, que havia fugindo em segredo de sua casa. Não entedia o porquê de seu pai a proibir de sai quando ele não estivesse, já havia andado tanto por aquela região que a conhecia totalmente, não havia motivos de ele se preocupar tanto
— Eric, não vai se importa de eu ir alimentar os peixes antes de ir o visitar — falou a garotinha, ao adentra mata dentro.
Caminhou por algumas horas até chegar a uma clareira aberta. O local era uma nascente que desaguava em um rio próximo da região, entretanto, a garota notou que ela não era a única no local
Parada ao lado do riacho, existia uma figura coberta por um capuz longo, a figura estava jogando algo dentro do rio que deixava os peixes oiriçados.
Splash
Soou o barulho dos peixes pulando.
— Hehe, não precisam ficarem eufóricos meus pequenos, tenho comida para todos — falou a figura.
Aisha encarou curiosa para a cena, não sabia quem era aquela pessoa desconhecida, nem o porquê se vestia com um capuz. Em uma tentativa de ver melhor, a garota pendurou-se em um galho, de repente o objeto se partiu por conta de seu peso, fazendo-a cair.
— Ai… — choramigou a garotinha, erguendo sua cabeça.
Notou, então, que a pessoa que observará perto do rio, estava de joelhos quase cara a cara com ela.
“Quando foi que essa pessoa chegou aqui!?”, surpresa, a garotinha indagou em seus pesamentos.
Por conta da proximidade, Aisha pode ver por de baixo do capuz, notando que a figura era uma mulher. Os seus olhos possuíam uma estranha tonalidade esverdada, lembrando joias
— Está tudo bem com você, pequena? — falou a mulher, ao erguer Aisha do chão pelos seus braços.
A mulher começou a dar tapinhas leves na roupa da garotinha, limpando a sujeira da queda.
— Estou bem… Ah, minha corujinha! — exclamou Aisha, ao pegar o boneco do chão, vendo se não havia nenhum rasgão nele.
A mulher então notou a sacola de pão, pegando-a.
— Veio alimentar os peixes também? — perguntou, com um sorriso gentil em sua face.
— Sim, obrigado por juntá-los — agradeceu a garotinha, ao pegar a sacola das mãos da mulher.
Começou a dividir o alimento em pedacinhos, jogando-o aos peixes. Enquanto isso, a mulher ajoelhou-se ao seu lado, tirando seu capuz, revelando longos cabelos.
Algo nos cabelos daquela mulher arrancou a atenção de Aisha logo de cara, eles eram de uma tonalidade tão verde quanto seus olhos, pareciam até plantas
— Por que pintou seus cabelos? — De maneira inocente, Aisha perguntou curiosa
— Hehe, eu não os pintei, meus cabelos são verdes de nascimento — explicou a mulher, ao esboçar um sorriso gentil. — Herança de família, por assim dizer…
A mulher, então, colocou sua mão dentro d'Água, acariciando os peixes que passavam. Aisha ficou maravilhada com a cena, pois, curiosamente, os animais não sentiam medo de se aproximar da mulher.
— Uau… Como a senhorita faz para eles não sentirem medo? — perguntou, boquiaberta.
A mulher então caminhou até as árvores próximas, erguendo um de seus dedos, de repente, um pássaro empoleirou-se nele.
— É questão de confiança… — falou a mulher, oferecendo o animal para Aisha.
Ao erguer seu dedo, o animal subiu nele, tendo assim um vislumbre melhor da ave, as suas penas eram de uma tonalidade amarronzada com parte de sua barriga tendo cores mais claras.
— Parece ser algo complicado… — murmurou a garotinha, ao observar o animal voando.
— Sempre será… A natureza fez dos covardes vencedores, enquanto os valentes eram facilmente mortos ou presos, os covardes sobreviveram e puderam passar seus genes adiante — comentou a mulher, com um olhar admirado. — Por isso eu amo como a vida é algo complexo, difícil de ser entender até para o mais sábio dos sábios…
Aisha não compreendia a mulher, estava mais interessada em poder se aproximar dos animais sem os assustar, seu interesse era tanto que até esqueceu dos seus reais motivos de está fora de casa naquele dia.
Perto dali…
Eric ponderava em sua cama. Desde o piquenique com Aisha, esteve pensativo sobre a clareira amaldiçoada e sua estranheza familiar
— Já fui lá, tenho certeza… Droga! Odeio essas perdas de memória… — choramigou.
Ao seu lado, Angel brincava com uma bolinha de lã. A boneca acabou por ficar curiosa sobre os resmungos de seu irmão.
— Maninho, quando eu não consigo lembrar das coisas, eu tento voltar ao lugar para ver se lembro — respondeu à boneca. — Tem funcionado bastante.
A ideia de Angel não faziam sentido para o garoto, já que ele passou um bom tempo na clareira, e mesmo assim não se lembrou da informação que procurava, contudo, decidiu por fazer lá, precisava ir naquele local de qualquer forma.
— É… Pelo visto vou ter que sair escondido de casa hoje… — resmungou Eric, desanimado. — Tenho impressão que aquele lugar ainda irá me causar problemas algum dia…
Angel nada respondeu, apenas continuou focando em seu brinquedo.
De volta a Aisha.
A garotinha acompanhava a mulher em meio ao matagal, ficou conversando com ela nesse tempo, acabou por gostar de sua personalidade estranha e de seus papos esquisitos sobre a natureza, a lembrando os mendigos da vila, os quais seu pai taxava como loucos.
— Eu gosto como a senhorita trata bem os animais — comentou Aisha.
— É o mínimo… Os seres humanos esquecem que são apenas peões da mãe da natureza— respondeu à mulher, calmamente. — Vivemos em uma biosfera, cada ser vivo é fundamental para o equilíbrio e funcionamento deste planeta, os humanos, com seu grande ego, não percebem isso.
Aisha escutava tudo atentamente, mesmo não entendo a maioria dos termos que a mulher utilizava, ficou maravilhada.
— Cara pequena, quero que lembre que a natureza sempre nos lembra de nossos erros, pode não ser agora, mais um dia ela vai lembrar… — falou a mulher, com uma expressão seria.
As duas caminharam por um tempo, até chegar perto da clareira Amaldiçoada. Por algum motivo, Aisha começou a se sentir incomodada com o local, era como se algo estivesse diferente, contudo não entedia o porquê.
Ficou imersa em seus pensamentos, sentia-se como se estivesse em perigo, sendo observada por inúmeros olhos, ela queria sair daquele local, o mais rápido possível, contudo a mulher a tirou de seus pensamentos com uma pergunta.
— Diga-me pequena, gostaria muito de saber o porquê dos moradores chamarem esse local dê a clareira amaldiçoada?
— Nada nasce aqui… Meu pai me contou que os antigos acreditavam que essa terra era amaldiçoada, que deus deixou o mal preso em baixo de toda essa terra — explicou Aisha. — Eu não acredito nisso…
— Maldiçoes existem, mas não é como você está pensado — respondeu à mulher, ao pegar um pouco de terra. — Esse local é bem especial…
Aisha não entedia, estava mais incomodada com seus pensamentos. A mulher então virou-se para ela
— Agradeço pelo papo minha pequena, espero nos encontrar em algum outra hora — falou a mulher
A garotinha sorriu, havia gostado também do tempo que passou com a mulher.
— Eu que agradeço pelo papo, senhorita…
A mulher, que até pouco tempo estava a sua frente, havia sumido completamente em um pisca de olhos. Aisha até procurou ao seu redor, mas não encontrou vestígios de onde a mulher tinha ido.
— Eita! Poxa… Nem consegui perguntar onde ela morava ou qual era seu nome… — choramigou Aisha.
De repente a garota notou alguém se aproximando pela estrada, alguém que reconhecia.
— Olha é o Eric… — murmurou
Eric aproximou-se do local observando a região.
— Podem me chamar de paranoico, mas aqui tem problema… — murmurou o garoto.
Ele se afogou em pensamentos, não notando a garotinha que se esgueirava por atrás dele, como um felino aproximando-se de sua presa
— Olá Eric! — gritou a garotinha.
Devido ao susto, o garoto reagiu dando um golpe, agarrando-a pelo vestido, jogando-a ao chão como um saco de batatas.
A reação foi um tanto inesperada, pois Aisha nem sequer teve tempo de raciocinar o que havia acontecido. Ao notar o que havia derrubando, Eric, se pois em desespero.
— Aisha! Que susto, você está bem!? — perguntou, levantando a garotinha do chão.
— Ai… Mais que golpe — choramingou.
— Perdão, mas você me assustou com aquele grito… Ei, o que você está fazendo fora de casa em uma hora dessas?
Aisha sorriu com a pergunta, botando a pelúcia próximo à face de seu amigo, explicando-o.
— Vim lhe mostrar o presente que o meu pai me deu! Bonita, não é?
Por conta da euforia de mostrar o objeto a seu amigo, a garotinha acabou por omitir o fato de ter fugido de sua casa.
Eric acabou por estranhar dessa situação. Ele conhecia Oliver muito bem, para saber que o homem não seria irresponsável ao ponto de deixar uma garotinha de três anos sair de casa perto do anoitecer
— É bonita… Mas não está tarde para seu pai deixar você sair de casa só para me mostra isso?
Aisha ia responder, mas um barulho ao horizonte a fez perder seu foco.
Cabrum!
Ao fundo, nuvens negras formavam-se nos céus. Mesmo longe, Eric conseguia sentir o cheiro forte de chuva, mas outra coisa o incomodava naquele fenômeno.
Sentia uma sensação de estranheza vindo daquelas nuvens, era como se aquele fenômeno fosse algo anormal, algo que não deveria está lá, de repente a manga de sua roupa foi puxada.
— Eric, pode me levar logo até sua casa… — murmurou a garotinha.
O garoto notou que sua amiga estava muito inquieta, olhando para os lados a todo momento, assimilou que era devido ao som dos trovões vindos da tempestade ao fundo.
— Está bem, mas vamos depressa, não parece que aquela coisa vai ser uma chuva fraca — falou Eric, agarrando a mão de sua amiga.
Ambas as crianças, correram o mais rápido que podiam, Aisha agarrava-se fortemente a sua pelúcia, para ela não cair, enquanto Eric, olhava para atrás, a fim de determinar o quão longe a tempestade estava, percebendo o quão rápido o fenômeno aproximava-se deles.
“Que rápida! Vai nos alcançar!”, exclamou o garoto, em seus pensamentos.
As gotas de chuva começaram a os bombardear, deixado-os encharcados, Aisha cobriu sua pelúcia a fim de evitar que ela molhasse.
— Apresse os passos Aisha, ou teremos um resfriado — falou Eric.
De repente um barulho vindo do matagal a sua frente, fez as crianças pararem de correr, o garoto não sabia o que era, mas ficou em frente a sua amiga para a proteger.
— O que é, Eric? — perguntou Aisha, ao segurar a roupa de seu amigo assustada.
Da vegetação, uma figura macabra surgiu, parecia ser um humano, suas roupas estavam rasgadas revelando que já foi um vestido, entretanto o que mais chamava atenção era sobre sua face, onde um cranio canino era usado como uma espécie de máscara.
A figura exalava um cheiro forte de sangue e carne podre, mas devido à escuridão da tempestade era impossível ver sua silhueta totalmente, apenas o que o clarão dos trovões permitiu enxergar.
— Ahh! — gritou Aisha, sentando de joelhos e cobrindo sua face.
Devido ao grito da garotinha, a figura, pois sua atenção nas crianças, aproximando-se lentamente como se as temesse
Por conta da proximidade, Eric pode notar mais das características da fera. Seu corpo estava sendo ligado por ossos de algum animal, formando algo semelhante a uma armadura tribal.
A fera encarou Eric com seus olhos totalmente esbranquiçados, parecia até que ela era cega. O garoto conseguia sentir o calor de seu halito, entretanto não recuou, continuo com sua pose de proteção a Aisha que estava encolhida por de trás dele.
Ao abrir a mandíbula de sua máscara de ossos, a fera revelou uma face humana coberta por sangue. Eric ficou surpreso, reconhecia aquela figura.
— Não é possível… — murmurou.
A fera rosnou, inundando as narinas do garoto com mais puro fedor de sangue e carne podre.
Grrr
De repente, um clarão do relâmpago cegou a visão do garoto por alguns segundos, tempo o suficiente para a fera pular e sumir mata adentro. O garoto olhava a criatura balançar a vegetação enquanto fugia, um nome surgiu a inúmeras dúvidas que inundavam seus pesamentos.
“Isabela!?”
Imagem da cena da figura macabra