Volume 1
Capitulo 4: Angel Yggdrasil
Dois dias passaram após a vinda de Aisha.
Enquanto isso, Eric utilizou-se de seu tempo livre para curar-se de sua dislalia. O garoto já estava de saco cheio de trocar o R pelo L nas palavras
— Rato, rapeira, rei…— recitou em voz alta. - Ótimo, creio que logo a dislalia sumirá, já era tempo!
Entretanto, mesmo estando satisfeito com a evolução de seu aprendizado na linguagem, algo pairava em sua mente, uma dúvida que teve desde que tornou aquela fábrica de nozes abandonada em seu esconderijo particular.
Para confirmar tais dúvidas, ele pegou de cima de sua escrivaninha, um vaso com belas flores de pétalas brancas, margaridas, colocando-as ao chão, falou consigo mesmo.
— Perdoe-me tio Oliver por roubar essas flores de seu jardim, mas necessito delas.
O garoto levou as suas mãos até a planta, tentando colocar um pouco de sua energia na margarida, contudo, nada ocorreu. Eric tentou novamente, com mais força mental, seu esforço era tanto que era possível ver as veias em sua testa.
— É…. Não consigo acessar meus poderes, isso é estranho...
Compreendia que isso tinha alguma coisa a ver com o seu novo corpo, mas, mesmo assim, era impossível aos seus olhos, pois por mais que a carne afora fosse estranha, a alma interna ainda era a mesma, portanto seus poderes deveriam permanecer sob seu controle. Tais dúvidas martelavam sua cabeça, lembrava-se que havia conseguido com êxito acessar seus poderes há dois dias, quando derreteu o cadeado que prendia os portões daquela fábrica abandonada, por mais que era notável o enfraquecimento de suas habilidades naquele momento. Entretanto, ponderava o motivo de ter conseguido utilizar de seus poderes.
Eric deitou-se em sua cama, perdido em pensamentos, foi então que uma ideia surgiu em sua mente.
“Hum, naquela hora eu irritei a minha pele para criar uma faísca…”
Dirigindo-se para fora de seu quarto, ele caminhou discretamente até a sala, lá procurou a máquina de costura de sua mãe, tinha conhecimento que ela a deixava naquele local, e ao encontrá-la pegou alguns alfinetes de uma caixa próxima à máquina. Saindo discretamente do local, retornando ao seu quarto, despejou os alfinetes em cima de sua cama.
De maneira delicada, espetou a ponta do objeto em seu dedo, na mesma hora o sangue começou fluir, e no mesmo momento sua energia original surgiu em volta do líquido vermelho vivo.
— Hum… Estranho.
Por motivos que desconhecia, a sua energia original, só reagiu quando seu corpo sofria algum atrito, isso lhe causou curiosidade e desconforto.
— Isso explica o porquê consegui utilizar meus poderes naquele dia, sinceramente… Complicado.
Não conseguia ver sua nova descoberta como algo positivo, tal coisa demonstrava que algo ruim havia acontecido a ele antes de possuir este corpo.
Enquanto ponderava, sentiu uma presença familiar próxima a ele.
— Maninho, seu machucado dói? - uma voz feminina perguntou.
Em uma rápida reação, Eric pegou um alfinete e mirou no objeto que falou, deparando-se com algo que nunca pensou que iria ver. Flutuando sobre ele, estava uma pequena esfera esbranquiçada, cuja aparência e comportamento, lembrava a de uma estrela, uma alma.
A esfera reagiu surpresa; maninho o que foi?!
Tal reação fez com que uma lâmpada surgisse acima da cabeça do garoto, ele reconhecia aquela voz. Aquele ser esférico que flutuava à sua frente era, na verdade, a alma original dona do corpo, no qual havia conversado há alguns anos.
As memórias daquele momento inundaram sua mente, fazendo-o lembrar de como a nomeou.
— Angel! Como você está aqui!? — Em um tom de surpresa, o garoto indagou
A alma começou a rodopiar em sua cabeça de maneira eufórica, ela lembrava uma bola de fogo esbranquiçada.
— Não sei maninho, é, aliás, até que enfim prestou atenção em mim em… Estive tentado falar contigo desde aquele nosso primeiro encontro. Você prometeu ser minha irmã, esqueceu?!
Eric ponderou tais palavras; Angel você esteve comigo desde que a gente teve aquela conversa de ser uma família?
— Mas é claro… Espera realmente não me via? Achei que me ignorava de propósito.
O garoto não sabia o que responder, tinha certeza que havia mandado Angel ao pós vida antes de possuir seu corpo, era impossível ela estar em sua frente naquele momento.
— Maninho, eu não estou zangada por ter me ignorado; notando as expressões de Eric - Para ser sincera, eu estou mais confusa do que zangada.
O garoto a encarou- Angel me conte o que aconteceu depois de nosso primeiro encontro, por favor.
Angel então explicou, contando-lhe que após o acordo de se tornarem irmãos, a alma não foi ao tal pôs-vida que seu irmão falava, ao invés disso, ela permaneceu ao seu lado, aproveitando para aprender sobre esse mundo junto a ele.
Eric, escutava a toda história de Angel para ficar ao seu lado de maneira séria, aquela alma fez tudo para conseguir o convencer a ser sua família, e na primeira oportunidade ele quis a abandonar, isso lhe causava uma tremenda vergonha, por isso decidiu que ia fazer diferente, se aquela alma queria que ele fosse seu irmão mais velho por, ele seria, e seria até muito mais, seria seu porto seguro, alguém no qual ela sempre poderia contar.
— Maninho posso lhe perguntar uma coisa?
Eric sorriu; vá em frente querida, me pergunte qualquer coisa.
— Hum, você parece mais um menino agora… Mas lembro, de antes você ter me dito que era uma rainha?
— Sobre isso…; Coçando sua bochecha- Acho melhor lhe explicar outra hora…
Depois do encontro repentino. O garoto começou a analisar o estado de sua irmã.
Em toda sua vida como Nephrite, era a primeira vez que algo como Angel aconteceu, em suas análises constatou que a garota usava da energia de seu pacto de sangue como combustível para se manter naquele estado.
— Pelo visto, eu não fui o único a ter efeitos colaterais devido ao pacto…
Eric se afogou em pensamentos. Como Nephrite, ele sempre fez pactos de sangue com outras raças, era uma forma mais fácil de ganhar confiança, e, em casos maiores, evitar conflitos, entretanto, sua maior preocupação era como Angel sentia-se naquele momento.
— Maninho, está bem? — preocupada, perguntou.
— Estou, não se preocupe; dando-lhe um sorriso gentil — Angel, você não sente nada de ruim, né? Tipo dor, fome ou alguma coisa do tipo?
A garota ainda nem havia completado seu estado embrionário quando ele a ofereceu o pacto, temia que isso a estivesse afetando de outras formas.
— Não, não sei nem o que isso significa… É algo bom?
Tal resposta causou espanto em Eric, tudo o que ele citou eram conceitos simples que qualquer ser vivo sentia mesmo não os conhecendo, o tal instinto. Estranhando tal resposta, ele levou sua mão até a esfera flutuante.
— Angel, permita-me testar um negócio; tocando-a. — Você sente o que estou fazendo?
— Me tocando, porém, não sinto sua mão se é essa sua pergunta.
O garoto não gostou do que tinha ouvido, assimilou que isso era uma consequência de ele ter quebrado um dos tabus ao colocar sua alma no corpo que seria por direito de sua irmã, e assim como ele foi afetado tendo mudanças em seu corpo e poderes, Angel foi afetada de uma forma que foi obrigada a ficar neste mundo como uma alma errante. Não conseguia para de se sentir culpado, tudo aquilo era consequência de suas ações imprudentes, por conta disso, sua irmã sofria sem saber que estava sofrendo.
— Perdão por lhe fazer sofrer, Angel — em tom triste, Eric falou.
— Mas você não me fez nada maninho, e mesmo que tenha feito, eu sempre irei perdoar você.
Mesmo recebendo o perdão de sua irmã, os sentimentos ruins não saiam de seu peito, ele precisava fazer algo. Primeiramente priorizou em como resolver a questão do corpo de Angel, não o deixando como um fantasma.
Então uma lâmpada brilhou sobre sua cabeça.
Saindo em disparada de seu quarto, Eric correu até parar no fim do corredor.
Angel o seguiu – O que foi maninho?— Preocupada, perguntou.
Ao pular, o garoto agarrou a corda que liberava as escadas para o sótão, subindo ao cômodo, começou a procurar algo em meio aos baús empoeirados, enquanto isso, Angel observava o local.
O ambiente se encontrava em uma grande bagunça, havia muitas roupas espalhadas em baús cobertos por uma poeira fina, lembrando areia, teias de aranha decorava o teto, de iluminação, apenas uma janela ao fundo, cuja a mesma estava coberta por um pano meio rasgado.
— Esse local é estranho… O que procuras aqui maninho?
– Isso!
Em suas mãos, o garoto segurava uma boneca de trapo, ela vestia uma roupa de bailarina de cores rosadas, com sua saia possuindo um leve rasgo, seus olhos eram dois botões e sua boca uma fina linha de tecido preto, formando um sorriso.
Angel olhou curiosa para a boneca, não entendia o motivo de seu irmão mostrá-la.
— Esse será seu corpo Angel… Não é muito convencional, mas lhe permitirá sentir gosto e as coisas ao seu redor pelo menos.
Angel olhou incrédula, ela não entendia muito sobre esse mundo, mas sabia que era impossível o que seu irmão dizia.
Eric então aproximou-se da alma — Fique parada, Angel, será um procedimento rápido; espetando seu dedo novamente com o alfinete.
O garoto então deixou uma gota de seu sangue respingar sobre a boneca, começando a recitar um canto.
— Sobre esse corpo, eu lhe faço essa morada, cuja protegerei e tutelas
Angel observou tudo curiosa, não compreendendo o que seu irmão estava fazendo. O garoto então passou seu dedo ensanguentado em Angel, recitando.
— É deste sangue que ofereço, eu lhe tornarei um dos meus!
Após o fim do canto, Angel começou a se sentir tonta, sua visão começou a escurecer, e, na mesma hora, seu corpo foi recebido por inúmeras sensações diferentes, sensações que não compreendia. Sentia que precisava fugir dali, porém tudo cessou após um abraço aconchegante.
— Está bem, irmã?
Angel aos poucos abriu seus olhos, percebendo logo de cara que possuía mãos feitas de tecido, ela olhou-se incrédula ao perceber que agora estava habitando a boneca de trapo que seu irmão a apresentou.
Eric a observava — Talvez seja difícil você compreender o'que eu fiz, mas…
Maninho você…; interrompendo-o — Você é incrível!
Aquelas sensações eram um sonho sendo realizados, Angel sempre via nos livros de seu irmão como as figuras reagiam diferente a coisas ao seu redor, e por isso sempre teve curiosidade de saber como era sentir aquilo, e graças ao seu irmão, agora ela podia.
O calor das mãos de Eric era viciante, a leve brisa que batia em seu peito era aconchegante, e até mesmo os leves batimentos cardíacos do peito de seu irmão causavam-na uma sensação feliz.
— Muito obrigado, maninho!- Abraçando-o em sua perna.
Por mais que a felicidade de sua irmã fosse cativante, Eric não parava de se afogar em pensamentos. O garoto percebeu desde que teve seu primeiro toque em Angel que seu pacto de sangue estava incompleto, não sabendo o porquê, portanto ele apenas precisou completar o pacto para conseguir, de maneira provisória, colocar Angel naquela boneca.
Ele não ia deixar sua irmã naquele objeto para sempre, em seu castelo possuía materiais capazes de criar um corpo feito de carne, o problema era como ele ia conseguir acessar seu castelo.
— Angel, se sentir alguma coisa errada, me avise!
A boneca concordou com a cabeça, ao mesmo tempo que tentava dar seus primeiros passos.
— Opa; caindo — Não se preocupe maninho, esse corpo é tudo de bom.
Enquanto observava sua irmã agindo de maneira fofa ao tentar caminhar, Eric pensou em como ia explicar aos seus pais sobre ela, chegando a conclusão que não havia como.
Desde que chegou a essa terra, percebeu o quão pobre ela era culturalmente, sem a existência de pessoas capazes de usar os poderes elementais ou de qualquer órgão representando outras terras do tecido dos mundos.
Aos olhos de Eric, tal coisa era uma faca de dois gumes, ao mesmo tempo que era positivo, permitindo-o se afastar de qualquer coisa referente ao seu passado, porém ao mesmo tempo que se usava seus poderes, aquele mundo ia reagir negativamente.
“Devo proteger Angel, diferente de mim, ela é inocente”, pensou
Por mais que sua mente estivesse uma bagunça, Eric tinha certeza de uma coisa, sua família havia aumentado. Em toda sua vida nunca teve um irmão, por isso iria ser o melhor irmão mais velho para aquela pequena alma que habitava a fofa boneca de trapo, a protegeria com todas as suas forças e a amaria como um verdadeiro irmão mais velho.
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