Volume 1

Capitulo 1: A Fuga de Nephrite

Em um jardim florido, uma garota caminhava.

Vestia-se com uma roupa de empregada com uma saia longa, seus cabelos longos alaranjados voavam pelo vento. Com seus olhos procurava algo aos arredores do jardim, e ao olhar para atrás deparou-se com a visão surpreendente de um castelo. 

Os muros de mármore da estrutura, possuíam uma tonalidade esbranquiçada, que o fazia parecer ser feito de puro papel. Por causa desse seu design exótico, a estrutura era conhecida como o Castelo de Papel.

— A encontrei… — Ao avistar uma mulher no local sentada de joelhos, murmurou.

A mulher, vestia-se com um vestido branco que combinava com seus cabelos longo também de cor branca, possuía um par de grandes asas roxas em suas costas, em suas mãos carregava um guarda-chuva de cor purpura, sua beleza era deslumbrante, pareciam que haviam feito uma escultura grega ao céu aberto.

“Mamãe, sua beleza sempre me deixar sem folego” sorriu a garota, ao comentar em seus pensamentos.

Notou que a mulher do guarda-chuva encarava os céus, que por conta de fatores externos possuía uma tonalidade acinzentada.

— Parece pensativa, mamãe, algo está lhe incomodando? — perguntou.

A mulher do guarda-chuva suspirou, encarando-a com um sorriso complicado.

— Está tão na cara assim, minha querida?

As iris de seus olhos, possuía uma tonalidade roxa que lembrava ametistas lapidadas, era uma visão hipnotizante na opinião da garota.

— Sim, muito — respondeu, ao cruzar seus braços. — O que houve, mamãe Nephrite.

A mulher de guarda-chuva, chamava-se Nephrite Yggdrasil, rainha do tecido dos mundos, e dona do jardim do Castelo de papel. Sua função no local, era ser de uma administradora, lidando com os problemas e conflitos do chamado Tecido dos Mundos.

— A guerra elemental terminou, a forças de minhas tias prevaleceram contra as forças do império prisma — comentou Nephrite, encarando os céus sem cor daquele local. — Mas… Sinto me culpada por não ter me envolvido.

Milênios atrás um conflito iniciou entre a sua família, acabando por envolver duas potencias poderosas militarmente. Esse conflito ficou marcado e conhecido como a Guerra Elemental.

Devido à importância de Nephrite, como administradora, seu envolvimento na guerra, foi terminantemente proibido por suas tias.

— Me dão um título de administradora, mas não consegui impedir a criação de uma guerra, sou uma inútil… — murmurou Nephrite.

— Não diga isso mamãe! A senhora tentou de tudo para impedir essa guerra! — esbravejou a garota, tentando confortar sua mãe. — Os prismas foram expulsos, e agora o mundo está em paz, não há mais guerras! 

Ao se erguer, Nephrite começou a acariciar a cabeça da garota, que reagiu confusa.

— Guerras nunca acabam, minha querida… — comentou Nephrite. — Elas apenas fingem sumir… Esperando uma fragilidade emocional em seus líderes, para mostrar novamente suas presas afiadas ao mundo. 

A garota nada respondeu, estava preocupada com sua mãe. Ela entedia seus sentimentos, porém, entedia em partes, não conseguia compreender porque a mulher se preocupava tanto com as baixas da guerra.

Havia sido ensinada por ela, a nunca se sentir triste pela morte dos entes queridos, e sim seguir forte, para honrá-los no futuro.

— Se senhora quiser alguém para desabafar, estou aos seus serviços — comentou a garota. — Não curto ver você tão depressiva assim, acho que ninguém daqui curte.

Nephrite sorriu novamente, abraçando-a e cobrindo com suas grandes asas roxas.

— Eu estou bem, minha pequena, agradeço a ideia, pensarei sobre isso mais tarde.

A mulher então dirigiu-se ao castelo, oferecendo sua mão para garota.

— De qualquer forma devemos seguir em frente, e nos fortalecer, como sempre me diziam…

Suas memórias então escureceram…

“Devia ter levado no literal…”, pensou Nephrite.

Estava agora em um berço de madeira, encarando um teto de uma casa, em um ambiente desconhecido para ela. Entretanto, isso não era o que a incomodava no momento

“Vou ter que me acostumar com essa coisa entre minhas pernas…”, murmurou, em seus pesamentos. 

“Felizmente o procedimento com a alma deu certo”

Nephrite desistiu de tudo, motivada pela culpa e o peso de suas responsabilidades, decidiu fugir. Infelizmente morrer estava fora de questão, era proibida devido à importância de sua linhagem para o equilíbrio, entretanto havia outro método.

“Mãozinhas com gordurinha de bebê, fofas, mas irritantes”

Ela era a administradora do Tecido dos mundos, uma teia que ligava inúmeras terras paralelas pelo mesmo espaço-tempo. Após encontrar um corpo jovem que ainda não havia nascido, mas estava prestes a morrer devido a problemas de saúde, propôs um pacto para ter a posse do corpo, para que ele possa a servir de marionete para sua fuga.

“Hum, na minha conversa, a alma desse corpo parecia ser mulher…”

Não compreendia, o porquê da mudança de gênero, contudo não era algo que a incomodava, nunca possuiu órgãos sexuais em seu antigo corpo, sua aparência feminina de antes, era algo herdado das preferências de sua mãe.

Contudo, essa questão tinha que ficar para depois, havia algo mais importante por agora, que era saber onde ou em que tempo estava. Mesmo que as terras estivessem no mesmo espaço-tempo, o conceito de cronologia era diferente entre elas, existiam terras no início dos tempos, dividindo espaço com terras em seu fim de vida.

“Pelo sotaque da alma, acredito que não é algo tão futurístico assim…” Ponderou em seus pensamentos.

Tentou ser erguer, mas seu corpo ainda estava muito fraco para movimentos bruscos.

— Olha, parece que ele está mais espertinho — falou um homem, aproximando de seu berço.

O homem era um velho barbudo de terno branco, ao pegar o bebe em seus braços, começou a analisar lo.

— Senhora Emma, creio que ele não está mais em perigo — falou o médico.

O nome era estranho para ela, mas a reposta logo veio em uma exclamação de uma mulher.

— Que bom!

Ao fundo de uma sala, sentada em uma cadeira com um lenço em suas mãos, uma mulher em prantos, sorria após a fala do médico.

“Pela reação, deve ser minha nova mãe. Emma em…”, comentou Nephrite, em seus pensamentos.

A mulher vestia-se com uma roupa casual, com um avental de cozinha de cor azul, seus olhos estavam marejados pelo choro desesperado. Ao botar o bebe de volta ao berço, o médico aproximou-se da mulher, a entregando um frasco de vidro.

— Faça-o beber isso de duas a duas horas, deve ajudar a lidar com a febre — aconselhou o médico — Caso o Eric tenha uma recaída, leve-o até meu hospital.

“Eric? Pelo menos sei o nome deste corpo… Meu nome a partir de agora…”, pensou Nephrite.

Como ela havia fugido, uma nova vida era algo que estava em seus planos, agora esse plano seria concretizado. A mulher aproximou de seu berço, acariciando suas bochechas.

— Ah, Eric, que bom que esta bem — falou a mulher, limpando suas lagrimas.

Após o enrolar em um pequeno tecido branco, a mulher se sentou em sofá ao lado do berço, encarando-o. Não soube quanto tempo se passou após isso, mas foi o suficiente para a mulher adormecer em seu lado.

“Meu nome e da minha mãe eu já descobri, agora só falta descobrir o de meu pai, isto se eu tive um”, Comentou Nephrite, ao olhar para a mulher que a encarava.

Por ser um bebê recém-nascido, sua liberdade era limitada apenas ao que seu corpo gorducho permitia.

“Fazer o que, pelo menos estou segura”, pensou.

Ao analisar seu corpo, conferido o estado de sua alma, percebeu que estava servido ao seu proposito. Não havia sinais de rejeição, parte de sua energia era consumida pelo corpo, sendo usada para regenerar o que a doença havia destruído.

“Pela destruição que a doença fez, com certeza foi algum tipo de câncer, mas porque em um recém-nascido…” Indagou em seus pensamentos.

Havia outra coisa a incomodando sobre corpo.

“Sinto que isso será um problema para mim, felizmente a biologia ira limitar a consequência de minha energia nesta marionete de carne”, comentou em seus pensamentos.

Havia leis usadas para os seres vivos, a atitude de Nephrite em se apossar de um corpo, infringia uma dessas leis, isso lhe causo uma suspeita de que talvez a mudança de seu gênero tenho sido por consequência de sua interferência.

“Melhor eu focar em descobrir o ano em que estou”, comentou em seus pensamentos.

Ao pendura-se na barra do berço, com todo cuidado para não despertar a mulher ao seu lado, começou a observar o local.

“Vejamos se o ambiente me diz algo”

A casa era bem modesta, não parecia ser de uma família em estrema pobreza, nem de extrema riqueza. Ao notar um rádio antigo em cima de um móvel de madeira, tentou ao máximo identificar o ano pelo aparelho, infelizmente não obteve sucesso.

“Sou péssima em tecnologia, mas identificar lo não ajudaria muito nessa situação”.

De repente a mulher ao seu lado despertou, sorrindo ao ver o bebe ao seu lado.

— Eric, creio que esta na hora de você comer — falou a mulher, erguendo-o em seus braços, e oferecendo um objeto para o amamentar.

Enquanto comia, sem oferecer resistência, observou que em cima do sofá havia um jornal.

“Ótimo, poderei descobrir onde estou!”, exclamou em seus pensamentos.

As informações do jornal diziam que ele estava em Dunquerque, uma cidade do norte da frança, o conteúdo do jornal revelou a data, mas também uma notícia que não a agradou

18 de fevereiro de 1915, A guerra aflora na terra de ninguém!

Dizia a manchete.

“Não acredito! Sai de um conflito para entrar em outro!”, exclamou em seus pensamentos.

Bua! Bua!

Choramigou em seu corpo novo.

— Entendo, deve está com sono — falou a mulher, ao botar lo em seu berço. — Descanse Eric.

Após alguns minutos, acabou se convencendo da sua situação, era culpada por querer fugir a princípio, por isso teria que aguentar a consequência.

Percebeu que a mulher novamente adormeceu ao seu lado.

“Ela deve estar casanda, desde que nasci, não saiu de meu lado… Uma verdadeira mãe”

Um fio de empatia transbordou em seu peito, talvez a sua fuga não teria sido de todo ruim, sempre desejou tirar umas férias, mas, ao mesmo tempo, desejava sentir um amor materno, sua mãe nunca a ofereceu esse amor.

Nephrite novamente pendurou-se em seu berço, aproximando-se da mulher.

“Agora estou ligada a você jovem senhorita, uma ligação não de alma, mas de sangue e carne”.

Uma emoção diferente transbordou em seu peito, não a compreendia, contudo, não a achava de todo ruim. Passou um bom tempo ponderando, observando o teto de madeira do local.

Seu passado sempre teve altas e baixas, derrotas e vitorias, talvez essa nova vida poderia ser algo diferente.

“Me decidi, não deixarei guerras me causarem ternuras, viverei como uma pessoa normal, e morrerei como uma pessoa normal!” exclamou em seus pensamentos.

A oportunidade bateu em sua porta e ela a agarrou firmemente. Tentou serrar seus punhos, mas sua mão gordinha não a deixou fazer.

“Serei feliz, e farei as pessoas em minha volta feliz! Não sou uma mal agradecida, devo a eles essa vida”, pensou, ao olhar para a mulher adormecida ao seu lado.

Tocando suavemente na mão da mulher, tentando não a acorda.

“Serei uma boa criança, jovem senhorita… Não! Mamãe Emma”, falou em seus pensamentos.

Havia decido, a partir daquele momento, não era mais Nephrite Yggdrasil, rainha e administradora do tecido dos mundos. Ela era Eric, um garoto mortal Frances, vivendo sua vida tranquilamente naquela terra.

“Meu passado vai ser esquecido, agora o presente é que importa” concordou em seus pensamentos.

A euforia transbordou dentro si, era um sensação nostálgica, que só havia sentido em um passado bem distante. Havia também receio, não conseguia pensar em como se adaptar em uma sociedade nova, mas decidiu agir com coragem.

“Me acostumar com esse corpo novo vai ser um problema… Será que consigo?”

Tentou cruzar os braços, mas apenas se desequilibrou e caiu.

“Mas oque estou dizendo, eu sou uma rainha! Logico que consigo, isso é fichinha comparado a tudo que já passei nesses milênios que chamei de minha vida!” 

Olhando para janela da casa, pelas barras do berço, suspirou.

“Espero que, pelo menos, seja uma vida de paz…”

Nephrite não sabia que o futuro aguardava, mas sentia que estava pronta para tudo o que viria para ela.








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