Volume 9 – Arco 4
Capítulo 19: Empíreo
— O-O quê?!
Um suspiro pesado e alto escapou de seus lábios quando o mundo clareou ao ponto de quase cegar seus olhos, e então o ambiente ao seu redor mudou completamente. Quando a luz que tornou o céu branco lentamente desapareceu como se desmanchasse, revelando um cenário que deixaria qualquer um paralisado.
Os olhos azuis piscaram para se acostumar com a mudança e se arregalaram ao refletirem o espaço escuro — uma imensidão sombria que se estendia infinitamente, pincelada por pequenos pontos brancos que pareciam cintilar como purpurina. Era como um céu noturno preenchido por estrelas de variados tamanhos, criando um verdadeiro espetáculo visual.
Mover seus pés apenas um pouco para o lado enquanto observava o que estava acima de sua cabeça fez um som baixo e agudo ressoar, e Ryota olhou para baixo. O que a cumprimentou em retorno foi seu próprio reflexo, agraciado como um espelho de água que criava pequenos “splashs” a cada pequeno deslize de seus pés naquela estranha superfície.
O ambiente repleto pela imensidão escura com estrelas acima e abaixo de seus pés apresentava um clima ligeiramente frio, mas não era congelante ao ponto de precisar cobrir sua pele com roupas pesadas. Era agradável, refrescante e preenchia seus pulmões do ar mais puro que alguma vez pôde desfrutar.
Em comparação com os sentimentos que outrora arranharam seu interior ao ponto de sentir que sangrava de tamanho desconforto e agonia, o que preenchia o corpo de Ryota agora era um estado de serenidade que era quase assustador.
Levando a mão direita lentamente em direção ao próprio peito, acima do coração, inspirou fundo antes de expirar.
— Acalmou-se um pouco, filha da luz?
A voz que ecoou pelo espaço era doce e atraente como se pudesse roubar a atenção do mundo para si mesma. E quando as íris azuis escuras desviaram-se na direção da beldade parada a alguns metros de distância, de costas para uma grande escadaria branca.
Era uma figura conhecida. Cabelos e olhos azuis esverdeados, um corpo coberto por um vestido azul que parecia ter um tecido suave o bastante para apenas tocar sua pele como um véu, uma coroa prateada repousando entre os fios e um sorriso digno de uma anfitriã em seu castelo.
— Vejo que ainda está um pouco confusa… Não que eu possa culpá-la. Afinal, a provação da barreira foi propositalmente um pouco mais difícil do que a anterior. Qualquer filho do homem sucumbiria diante de tamanha pressão mental, mas para a sua sorte, ou talvez graças ao Destino, a porta para sua salvação se abriu. E assim, finalmente pudemos nos reencontrar.
Ryota ouviu as palavras de Sofia Megalos com uma expressão neutra. Ela estava certa — sua mente ainda estava lentamente processando as informações uma após a outra, e encontrar a reitora de Gnosis em um ambiente fantasioso como aquele era certamente surpreendente. Foi apenas após as palavras dela e o sorriso que se alargou que algo saiu por seus lábios:
— … Por quê?
— Responderei a todas as suas perguntas que se referem a este lugar e às provações. Mas, antes disso, por que não nos acomodamos?
Sofia alargou o sorriso e estendeu o braço para o lado, indicando a escadaria branca atrás dela, como se convidasse a garota a acompanhá-la.
Em resposta, Ryota franziu um pouco mais a testa. Naquele pequeno instante, sua mente conduziu as possibilidades daquele convite amigável ser uma armadilha. Entretanto, todas as suas dúvidas e suspeitas diminuíram, ou melhor, foram deixadas de escanteio, ao perceber que todo aquele cenário era simplesmente absurdo demais.
Ainda que a aura fosse agradável, a pessoa diante dela parecia perigosa. E mesmo que fosse o caso, e o pior cenário pudesse se desenrolar, não havia nada que pudesse fazer. Sua mente imediatamente compreendeu que aquele não era um ambiente que se moldava às suas vontades — era o território daquela mulher com um sorriso doce.
O que significava que suspeitando ou não, Ryota estava dançando na palma de sua mão como uma formiga. Recusar e tentar voltar ao “mundo real” talvez fosse possível, mas as consequências dessas ações poderiam não ser assim tão boas. Ela perderia a oportunidade de conseguir as respostas que desejava — e quem garantiria que recusar as palavras de Sofia não desencadearia em sua fúria?
Havia muito em jogo para ser desperdiçado por seu medo humano do desconhecido.
Foi com isso em mente que a garota de cabelos negros deu alguns passos adiante. Devagar, ainda um pouco hesitante, ela caminhou na direção da beldade que tinha uma expressão suave em seu rosto.
— Siga-me.
Com a aproximação de Ryota, Sofia virou-se e começou a caminhar. Os passos das duas faziam pequenas poças de água balançarem como se estivessem andando sobre a água, mas seus calçados ou roupas não molhavam.
A beldade alcançou a escadaria branca e começou a subir. Os degraus cediam um pouco a cada passo, mas retornavam ao seu estado original logo quando se continuava a subir. Eram como teclas de piano quando empurradas, e Ryota ficou um pouco surpresa em como flutuavam no ar conforme subiam.
Seus olhos se ergueram para o fim da escadaria que era visível, embora o que as aguardasse lá em cima ainda fosse desconhecido.
— … Ah.
Outro suspiro de surpresa escapou de seus lábios de forma involuntária quando chegaram ao topo da escadaria. A subida, que não durou mais que alguns poucos minutos, revelou diante de seus olhos outro cenário fantasioso.
Ryota não sabia para onde olhar primeiro.
Se era para a enorme mesa redonda com cinco cadeiras; para o chão branco como a escadaria também em formato circular, mas que era como uma plataforma flutuante; para Sofia Megalos que andou com seus saltos fazendo barulho para se sentar; para o céu estrelado que parecia ainda mais próximo do que antes…
… Ou se era para a espiral de estrelas logo adiante da escadaria e atrás da mesa circular, que se unia como o desenho de um universo em direção ao seu centro, onde uma estrela particularmente chamativa brilhava em dourado.
— … O sol.
As palavras que escapavam de seus lábios eram baixas e sussurrantes. Os olhos de Ryota encararam aquele sol no céu, que parecia estranhamente mais próximo do que deveria, mas que por alguma razão tinha o tamanho de uma bola de futebol.
E mais estranho ainda era o fato daquele sol não emitir qualquer calor, mesmo que pequenos raios pudessem ser vistos ao seu redor.
— Sente-se, filha da luz. Vamos conversar, apenas nós duas.
Sofia Megalos chamou a atenção de Ryota e indicou com a mão a cadeira logo adiante.
— O que é isso de “filha da luz”?
— Em breve, as respostas chegarão a você.
— Eu odeio quando vocês começam a falar em enigmas.
Sofia riu baixo.
— Estou apenas poupando um pouco a sua ansiedade. Gostaria de desfrutar de sua companhia, ao menos por algum período de tempo. Não pretendo me conter em responder suas perguntas, mas poderia ao menos considerar os sentimentos da anfitriã que lhe recebeu tão bem, não acha?
Dessa vez, foi Ryota quem riu, mas sem abrir um sorriso.
— … Está bem.
E então sentou-se na cadeira branca diante da mulher, ainda com ar um pouco hesitante.
— Obrigada. Acredito que deva ter ficado um pouco cansada depois da primeira provação, então me permita demonstrar um pouco de empatia por sua situação e lhe proporcionar algum conforto.
Inclinando a cabeça sem entender para as palavras de Sofia, que apenas alargou o sorriso misterioso e bateu duas palmas suaves no ar, seus olhos azuis como o oceano imediatamente se arregalaram com o que aconteceu. Como em um passe de mágica, surgindo com um som de “puff”, a mesa redonda foi preenchida por louças elegantes, biscoitos, bolos, chás, cafés e sucos. Haviam todos os tipos de delícias possíveis naquele pequeno espaço preparado para o que seria uma pequena pausa para o lanche durante a tarde.
Sofia indicou com a palma para que se servisse.
— Faça bom proveito. Eu também estou um pouco sedenta, então beberei chá para lhe fazer companhia.
A expressão suave e presunçosa em seu rosto não se alterou, jamais desviando o olhar das íris azuis da convidada, mesmo quando a jarra com chá flutuou no ar na direção de Sofia, inclinando-se para preencher sua xícara com o líquido amarelado.
Ryota observou o cenário cada vez mais fantasioso com um pouco de surpresa, mas engoliu em seco a saliva presa na garganta e se recompôs. Não havia como esconder a verdade de que estava mentalmente e fisicamente exausta, e negar isso seria negligenciar o convite da anfitriã — que até o momento agia com paciência em relação à sua teimosia e hesitação.
Sofia bebericou de seu chá e observou quando as louças na mesa voltaram a se mover mesmo que a garota de cabelos negros nada tivesse dito.
— Neste lugar, as palavras não são essenciais. Seus pensamentos e sentimentos estão inteiramente conectados com o ambiente, então vão se movimentar de acordo com suas vontades conforme a minha permissão.
Sofia explicou a razão da xícara de Ryota ser preenchida com um café fresco e o prato receber alguns biscoitos coloridos e um pedaço de bolo acompanhado dos talheres necessários para o consumo. Logo quando as louças terminaram de servir, elas voltaram para a mesa e pararam de se mover.
Ryota timidamente segurou sua xícara com as duas mãos e inspirou o cheiro de café fresco, suas palmas e dedos frios regozijando com o calor. Sua expressão perdeu um pouco a tensão graças a essa sensação agradável, e ela bebericou de sua bebida.
— … É bom.
— Naturalmente. Eu jamais prepararia qualquer coisa com a intenção de deixar meus convidados desconfortáveis.
Ryota ergueu suas íris do café para Sofia, que bebia de seu chá com o mesmo sorriso no rosto. Era uma expressão constante em sua face que jamais desaparecia, e justamente por isso lhe dava arrepios apenas sentir os olhos azuis esverdeados analisarem sua figura.
— Com “convidados”, significa que outras pessoas também vêm a este lugar? E, aliás, onde nós estamos? E como você consegue controlar tudo isso?
— Uma resposta de cada vez, Ryota. Não precisa se afobar.
Sofia riu baixinho, baixando sua xícara para o píres. Atrás dela, as estrelas no céu escuro pareciam cintilar.
— Como deduziu, outras pessoas também possuem acesso a este lugar. Algumas delas não são convidadas, mas anfitriãs como eu. Outros são aqueles que encontramos ou desejam se encontrar conosco e, assim com você, fazem promessas e votos em troca do que nós podemos proporcionar individualmente.
— … Então, existem outras pessoas que controlam esse lugar.
— Exato. Como pode ver, somos cinco anfitriãs… Embora nem sempre estejamos juntas, costumamos nos reunir aqui para conversar, tomar chá e descansar em nosso tempo livre. Se eu precisasse usar termos humanos, somos como amigas… Ou talvez colegas de serviço.
Ryota franziu a testa para as palavras, refletindo em silêncio. Sofia aproveitava as pausas para beber seu chá, enquanto a garota de cabelos negros apenas havia bebido de seu café até o momento.
— Em relação à sua segunda dúvida… Este local originalmente não possui um nome, mas o nomeamos como Empíreo. E, para ser mais exata, ele “não existe”.
— O quê?
Vendo que Ryota se calou, Sofia deu continuidade à conversa e falou algo que fez a garota erguer os olhos e encará-la de imediato.
— Como assim “não existe”?
— Ele “não existe” no mundo real, mas pode “existir” quando as anfitriãs decidem que o utilizarão.
— … Eu não sei se entendi direito. Está me dizendo que ninguém pode entrar aqui a não ser que vocês queiram?
— Poderíamos dizer dessa forma, também. Em termos de criações humanas, ele “não existe”. Mas ele “existe” assim que chegamos aqui. Você poderia dizer que o conceito dele existir ou não está diretamente relacionado às anfitriãs.
— … Certo. E para que outras pessoas cheguem aqui, vocês precisam convidá-los, certo?
— Exato.
Sofia pareceu sorrir ainda mais para a conversa, como se estivesse se divertindo com o rumo dela.
— … O que é este lugar, afinal? E… Quem é você, Sofia? Ou será que eu deveria chamá-la por seu pseudônimo?
Os olhos azuis esverdeados se estreitaram ainda mais em regozijo quando uma risada escapou de seus lábios presunçosos.
— ... Acho que falei um pouco demais, não? Se bem que você descobriria cedo ou tarde.
A expressão de Ryota ficou imediatamente enrijecida e séria, seu corpo endireitando-se na cadeira conforme suas pernas se fixaram no chão em alerta. O sensor de perigo ficou ainda mais forte ao ouvir as palavras de confirmação em relação às suas suspeitas, mas o brilho afiado nos olhos azuis escuros eram reação o suficiente para que a beldade adiante percebesse a tensão que se instalou.
Ela sempre soube que havia algo de errado. E não foi um sentimento estranho que brotou de repente, mas algo que vinha crescendo cada vez mais conforme o tempo passava e quanto mais via Sofia ao longo de todos aqueles meses.
Desde a primeira vez que se cruzaram "por acidente" na capital de Thaleia, em Hera.
Desde quando tocou aquele livro que fez passar por seu corpo uma sensação de profundo horror e perigo, mas ao mesmo tempo de atração — sim, eram como sentimentos opostos, mas ela não havia parado para refletir a razão daquilo até aquele instante.
Por que Sofia se envolveu com ela?
Por que Sofia se envolveu com Zero?
Por que Sofia se envolveu com Albert?
Por que Sofia sempre era tão diferente dos outros nobres, mesmo possuindo o mesmo ar de superioridade?
Por que sentia um frio na espinha sempre que a encarava? Por que aquela atração nascia do fundo de seu inconsciente e a fazia querer se aproximar e saber mais, ir mais a fundo, conhecer profundamente aquela pessoa que no mesmo íntimo a repelia com seu olhar e expressão?
Por quê? Por que, por que, por quê?
Havia apenas uma única resposta para todas aquelas dúvidas que dançavam em sua mente o tempo inteiro quando pensava, olhava ou estava no mesmo ambiente que aquela mulher.
Era porque a sensação era a mesma. O receio, o pavor, a marca deixada em sua alma que jamais se apagaria pelo trauma... Eram os mesmos.
Foi com aquela conclusão, com as suspeitas que se acumularam ao longo do tempo, e com o entendimento que finalmente chegou após as palavras daquela beldade confirmando suas suspeitas que Ryota disse em tom baixo, quase como se a ameaçasse:
— … Me diga, agora. Diga-me por que me trouxe até aqui… Entidade.
Sofia inclinou um pouco a cabeça na lateral ao ouvir Ryota dizer aquilo enquanto se levantava com uma postura defensiva e voz autoritária, mas sua expressão não mudou.
— Apenas conversar. Eu lhe disse isso antes, não foi?
— Não consigo acreditar nas palavras de monstros em pele humana como vocês.
— Nossa, isso foi cruel. Mas acho que não deveria esperar menos de alguém que foi alvo de Mania… Coitadinha.
Ryota sentiu seu corpo esquentar tão rapidamente em fúria que seu coração disparou. Seu olhar se tornou ainda mais afiado e a pressão que emanava da garota era forte o bastante para fazer qualquer pessoa hesitar um pouco antes de dizer algo outra vez.
Mas Sofia não era “qualquer pessoa”.
— Não ouse falar sobre isso.
— Ah, eu pensei que tivesse superado o ocorrido, mas parece que me enganei. Não, na verdade, isso esteve claro o tempo todo… Afinal, você é uma mentirosa perfeita. Capaz de controlar e manipular perfeitamente as próprias emoções e expressões quando necessário, mas evoluiu essa habilidade para influenciar os outros, também.
— Você não sabe nada sobre mim!
— Eu sei e conheço tudo… Incluindo sua podre hipocrisia.
— Não, não, não! Isso tá errado!
— O que está errado? Estou apenas apontando os fatos. Não vejo como poderia ter me enganado… Eu nunca estou errada.
— Chega! Fica quieta! Eu não quero mais saber! Não vou mais me envolver com você, entendeu?! Me recuso… A me envolver com um monstro manipulador e nojento como você!
Pontuando com uma calma admirável, Sofia usou poucas palavras para levar Ryota ao seu limite e fazê-la explodir em seu temperamento que já estava abalado com a antiga provação. Sua fúria despertou e ela ergueu a voz, apontando seu dedo na cara da Entidade que apenas permanecia com a expressão de presunção no rosto.
Após disparar sua acusação e dar alguns passos para trás, pronta para se retirar daquele lugar estranho, ouviu a resposta de Sofia por trás de suas costas.
— Então, está desistindo de salvar Zero?
Os passos dela pararam, mas a voz da beldade sentada em sua cadeira bebericando chá continuou a falar.
— Abandonará Jaisen ao desconhecido? E quanto à sua promessa à Sora e Fuyuki? O que vai acontecer com Kanami em alguns meses? Ou melhor… O que acontecerá com todos eles em alguns meses caso não retorne a Thaleia com a cura que prometeu? Que tipo de reação Edward terá ao perceber que você falhou ao ficar com medo da verdade e virou as costas para proteger seu coração cheio de orgulho?
Sentiu seu corpo efervescer e cerrou os punhos para conter as emoções. Era uma provocação barata. Sofia nunca falaria o nome daquelas pessoas tão informalmente caso não fosse essa a sua intenção. Chamá-los pelo nome e mencionar suas circunstâncias não era apenas tocar na ferida, era enfiar a mão e rasgá-la com seus dedos frios e cruéis apenas usando as palavras.
Aquela sim era uma atitude esperada de uma Entidade.
E por isso Ryota não poderia baixar sua cabeça ou rebaixar-se ao nível da reação esperada — envolver-se completamente na raiva e perder a noção do que diria ou faria.
— … Eu vou achar outra forma de salvá-los.
— Como?
— … Ainda não sei, mas vou descobrir.
— Quanto tempo levará para que encontre essa resposta, quando pode tê-la imediatamente agora em suas mãos?
— Eu não confio em você.
— Mas fizemos uma promessa uma à outra. Não pode voltar com sua palavra, agora.
— … Ainda assim…
— Entendo seu ressentimento e hesitação. Mas não estou aqui na intenção de lhe enganar.
— Não acredito em você, não acredito!
Como poderia acreditar? Que tipo de ser humano normal pensaria em acreditar em um ser tão horrendo quanto esse? Alguém da mesma laia que foi capaz de matar milhares de pessoas a sangue frio…
O olhar de repulsa em Ryota era visível quando se virou para Sofia, franzindo profundamente a testa.
— Não importa o quanto insista, não vou acreditar.
A Entidade observou a garota de cabelos negros afirmar sua descrença em tom ríspido e seu sorriso diminuiu até desaparecer, tornando-se uma expressão neutra. Era como se estivesse pensando a respeito, até que eventualmente, após fechar os olhos por alguns segundos e abri-los outra vez, respondeu em tom baixo:
— Muito bem. Aceito sua desconfiança e ódio. Não estou em posição de julgar seus sentimentos, ao menos não no momento. O que desejo de você… Não, o que preciso de você é uma resposta que apenas pode ser dada ao final de todas as provações. E, para isso, preciso que continue a trilhar o caminho que prometeu seguir em troca das respostas que procura.
— Mas-
— Mas estou ciente de suas inseguranças, e as respeitarei.
Ryota se calou imediatamente quando ouviu aquilo sendo dito com tamanha sinceridade e seriedade, mesmo tendo a própria fala cortada.
— Então, vou lhe provar que estou dizendo a verdade.
— … Como?
— Não estou pedindo sua confiança, mas desejo apenas que acredite no que digo em respeito ao que juramos uma à outra no início.
Sua expressão se tornou um pouco menos tensa conforme ouvia Sofia falar. Ryota pensou consigo mesma que sua insistência era reflexo da sua necessidade em ter a garota por perto. Por alguma razão, a Entidade precisava dela… Para chegar à sua própria “resposta”. Ambas buscavam por informações uma na outra, mas a falta de confiança e a hesitação em serem traídas as fazia temerem dar um passo adiante — ou melhor, isso valia apenas para Ryota, pois Sofia continuava a insistir em uma forma de trabalharem juntas.
Entidades eram seres horrendos — sabia disso desde o momento em que viu Mania pela primeira vez. Elas poderiam ter aparências e objetivos diferentes, mas seu interior era sempre composto por uma crueldade e necessidade de controle infindável. O sensor de perigo alertava-lhe igualmente quando pensava em Mania e quando olhava para Sofia.
Não sabia se a beldade diante dela era perigosa no sentido de poder tirar sua vida, mas haviam outras formas de se aproveitar de alguém — isso Ryota havia aprendido. As palavras eram a chave, e desde que tomasse cuidado com cada coisa que ouvisse e dissesse, seria capaz de se manter segura.
Ao menos, essa foi sua conclusão inicial ao ver que a Entidade aguardava uma resposta à sua oferta.
— … Estou ouvindo.
Ryota deu permissão para Sofia continuar a falar, sem aceitar ou negar sua proposta.
No mínimo, dizer isso em voz serena, mas ainda mantendo a cautela, pareceu deixar Sofia um pouco menos séria. Portanto, seu sorriso casual e presunçoso retornou.
— Pouco mais de um mês se passou desde que você entrou no Instituto Gnosis. E duas foram as provações que passou: a primeira, foi uma avaliação para testar sua resistência mental e ativar formalmente o seu gatilho.
— … Gatilho?
— A segunda provação, na verdade, poderia ser considerada como a primeira, então consideraremos assim para que se torne mais simples. A primeira provação com seu gatilho ativado lhe permitiu atingir o primeiro estado. Foi um resultado perfeito.
— E-Eu não entendo o que está me dizendo. Como isso pode provar sua palavra?
— Estou apenas informando que sua provação inicial foi um sucesso e, portanto, como recompensa, lhe garantirei a primeira das informações requisitadas por você.
Ryota franziu um pouco mais a testa para Sofia quando ela falou, então sorrindo um pouco mais:
— A localização e a verdadeira identidade da Maga Veridian.