Volume 9 – Arco 4
Capítulo 14: Negação
O mundo que tornou-se escuro, frio e confuso lentamente voltou a se moldar. Enquanto a temperatura ambiente parecia variar de tempos em tempos, chacoalhando sua mente e desestabilizando seu equilíbrio, Ryota tomou um período de tempo exaustivamente longo até que finalmente conseguisse recuperar seus sentidos. Afinal, durante o que pareceram segundos, ela perdeu a consciência e repentinamente a recuperou.
Apesar desse sentimento conturbado que fazia seus poros suarem, repentinamente o calor que se apossava de sua nuca, mãos e testa em forma de suor secou. Uma vez que a pressão baixada recuperou a estabilidade, a garota foi capaz de devidamente estabelecer contato com a realidade outra vez.
… Mas o que… ?
Ryota soltou um gemido quando a desorientação tomou conta de seu corpo. Eventualmente, ao piscar os olhos, a visão acostumou-se com a luz e pôde clarear o cenário adiante. Ainda estava na sala de aula onde seu teste para adentrar o Instituto Gnosis estava sendo administrado. Ambas mesa e cadeira estavam ali, embora a folha que havia virado tivesse desaparecido.
Franzindo a testa, olhou para baixo a fim de descobrir se, por ventura, enquanto havia quase perdido a consciência, não a derrubou. Entretanto, ela não estava em lugar algum. Com uma careta no rosto, Ryota finalmente ergueu os olhos da carteira para a fiscal que permaneceria diante dela enquanto escrevia as respostas.
Amane permaneceu parada com a mesma postura perfeita de sempre. Os dois olhos fechados e o rosto inexpressivo eram belos, mas a garota estava ciente que um passo em falso seria o bastante para despertar a irritação daquela mulher. Ainda não havia visto tal face da guardiã, entretanto, suas experiências passadas disseram-lhe que não demandaria muito para que isso pudesse ocorrer.
A princípio, Ryota imaginou que Amane a encararia de cima a baixo com ar de superioridade ao perceber que ela havia perdido a folha da prova. Entretanto, não houve reação por parte da aplicadora.
— … Com licença?
Não houve resposta, sequer qualquer ato que demonstrasse ter ouvido suas palavras. Ryota olhou para Amane com cara de quem se sentia um pouco frustrada, mas sua atenção foi imediatamente roubada por outra mudança no espaço.
A porta pela qual havia entrado estava aberta.
Era estranho que repentinamente, em uma questão de segundos, aquilo tivesse acontecido. Em primeiro lugar, Ryota a havia fechado quando adentrou a sala de aula. E, além disso, se alguém havia aberto sem querer, dado meia volta para ir embora ao ver que alguém estava ali dentro, no mínimo a aplicadora daria ao intruso um sermão verbal.
E isso certamente teria sido ouvido por Ryota. Afinal, não faziam nem cinco minutos desde que entrou ali.
— … Espera… Espera um pouco.
Quando pensou a respeito do tempo, seus olhos azuis se ergueram na direção do relógio de parede acima do quadro — e assustou-se ao perceber que nem mesmo um minuto se passou. Ou melhor, não era como se o período de chegada ao Instituto e ao momento em que sentou-se naquela cadeira tivesse mudado. A verdade era que não havia passado, tendo parado completamente.
Foi apenas questão de segundos para que as respostas para suas dúvidas atiçassem sua mente. Finalmente, Ryota colocou-se de pé, olhando para Amane — ela não reagiu. E se nenhuma palavra veio de seus lábios ao ver a garota se afastar da sala de aula onde a prova era aplicada, foi porque não era capaz de expressar qualquer reação quando o tempo havia paralisado.
Observando melhor, agora era perceptível que não apenas o mundo tornou-se lento ao ponto de parecer parado, mas mesmo o ambiente teve sua temperatura despencada. O frio não era grande o bastante para fazê-la congelar, mas Ryota sentiu uma diferença grandiosa entre antes de entrar na sala e quando despertou da repentina e veloz síncope.
Atravessando as íris azuis pelas janelas, observou o lado de fora do instituto. Ainda era possível ver os estudantes do lado de fora, apresentando seus trabalhos com gestos calorosos e pessoas andando — ou melhor, era o que pareciam estar fazendo, mas mesmo àquela altura era capaz de perceber que tudo, incluindo o exterior, tornou-se um mundo congelado.
Era silencioso, frio e um pouco assustador.
Mas acima de qualquer sensação, o que vinha à mente de Ryota era:
Quem foi o responsável por isso?
A princípio, imaginou que seria uma ação inimiga. Em geral, ela esperava que pessoas pudessem vir até ela com o propósito de tomar sua vida ou levá-la em condições precárias, mas não ao ponto de contratarem alguém com tamanho poder. O que a surpreendeu e imediatamente a fez concluir que este não era o caso foi o fato de ter se passado alguns minutos desde que este mundo parado começou, mas ninguém surgiu ou a enfrentou.
Ou será que esta seria uma habilidade com o intuito de me prender dentro da mente, para que pudessem me sequestrar sem dificuldades?
Era uma proposta perigosa, mas ao mesmo tempo divertida de se imaginar — quem em santa consciência teria tamanho poder? Quem contrataria alguém com uma habilidade dessas somente para que pudessem levá-la?
Além disso, se o propósito fosse este, estava certa de que Amane não permitiria que isso acontecesse. Independentemente de seus motivos de trabalharem para Sofia, a reitora precisava de sua presença ali, então não poderia causar danos à ela de forma alguma. Seus guardiões trabalhariam para impedir um possível ataque, principalmente se isso pudesse vir a ferir estudantes inocentes.
Portanto, com sua intuição guiando-lhe a encarar Amane, a mesa vazia e a porta aberta, apenas uma resposta para o estranho evento lhe veio à mente.
… Então, esse era o verdadeiro teste de entrada da Sofia?
Franzindo a testa, Ryota caminhou na direção da saída e discretamente olhou para o corredor. Como esperado, estava vazio e silencioso. Apesar de saber que o mundo permaneceria congelado durante algum período, ainda havia dentro da garota uma insegurança de que ela não necessariamente deveria ser a única que se movia dentro desta realidade.
O papel da prova estava completamente em branco, escrito “Negação”... O que isso significa, afinal? E como isso está relacionado a esse mundo congelado? Aliás, como alguém poderia criar uma realidade como essa apenas usando uma folha de papel?
Eram perguntas demais que formulavam em sua mente, mas ainda que elas não pudessem ter uma resposta tão cedo, Ryota decidiu priorizar uma forma de escapar dali. Afinal, se suas teorias sobre aquele mundo fossem parte do teste de Sofia, deveria haver alguma dica que a ajudasse a entender o passo a passo para isso ser real.
Os primeiros e óbvios apontamentos foram não apenas a mudança na realidade, em que tudo congelou — pois era esperado que se percebesse isso de imediato —, mas a ausência do papel e a porta aberta. Era um indicativo do que fez a prova começar e para onde deveria seguir.
— Mas ainda tem a questão do propósito desse teste… “Negação” não é uma palavra muito fácil de decifrar.
Ryota cruzou os braços e parou diante da escadaria que levava para os andares inferiores. Ela olhou pelas janelas que exibiam a cidade de Urânia em seu exterior e refletiu. Poderia Sofia querer que ela literalmente negasse algo? Se fosse isso, o quê? O que o mundo congelado simbolizava? Ou era justamente por estar congelado que algo poderia ser feito através dele?
Foi naquele instante que outra mudança na realidade ocorreu.
A princípio, aquele mundo repleto de silêncio e frio poderia parecer agradável para alguém que preferisse manter-se em seu próprio canto, sem interagir com qualquer outro ser humano. Porém, quanto mais tempo passava, mais Ryota sentia-se ansiosa. Ela se perguntou se aquela prova possuía algum tempo limite, e caso houvesse, haveria algum tipo de punição caso não pudesse passar por ela.
Supostamente, Amane comentou que o período para fazer a prova não era importante — talvez fosse um indicativo? Ela não tinha certeza, mas também não queria levar aquela fala como uma dica literal.
Foi naquele mesmo momento que ouviu algo. A princípio, pareceram sons muito, muito distantes, mas que começaram a crescer e finalmente ganharam uma tonalidade distinguível o bastante para entender do que se tratava. Eram vozes.
No começo, eram murmúrios que ergueram-se até finalmente tornarem-se uma conversa entre uma dupla que caminhava naquele corredor. Ryota se virou na direção de duas estudantes uniformizadas que dialogavam. Elas discutiam algo com naturalidade, rindo de algum assunto irrelevante — tanto que seus ouvidos sequer captaram o que falavam. O que chamava sua atenção era o fato de haver uma interação viva naquele mundo em que supostamente apenas ela deveria poder interagir.
Mas, bem, aquela era uma premissa retirada de sua mente. Ou seja, não era necessariamente real. Portanto, ela foi destruída imediatamente ao ver as duas jovens andando em sua direção.
Aquilo a deixou um pouco mais aliviada. Poderia interagir com aquelas duas pessoas e conseguir informações. Inspirando fundo, Ryota lutou para conseguir coragem. Havia algum tempo que conversar com desconhecidos tornou-se uma tarefa complicada de se realizar. Por alguma razão, há um período não tão longo, mas que era igualmente exaustivo, sua mente parecia necessitar de muito mais tempo para se concentrar no que precisava dizer do que o normal.
Em geral, ela não tinha problemas em iniciar conversas. Afinal, era aquela Ryota animada e impulsiva de sempre, certo? Portanto, conversar com duas estudantes na mesma faixa de sua idade não deveria ser assim tão difícil.
Ela ergueu a mão e abriu um sorriso casual quando as duas garotas passaram.
Literalmente passaram por ela.
Seguiram seu caminho, ignorando-a completamente.
Ryota fez uma expressão dúbia, olhando para sua mão e então para as meninas. Ela deveria dizer algo, certo? Antes, havia tentado conversar com Amane e não recebeu uma resposta. Talvez ela precisasse interagir diretamente com as garotas para ganhar sua atenção.
Dando passos largos para alcançá-las outra vez, Ryota abriu a boca e falou.
— …
Ué?
Ela estava certa de que havia dito algo. Sentiu seus pulmões se contorcerem, expelindo ar. A garganta vibrando quando as cordas vocais emitiram som. Será que havia dito baixo demais? Afinal, as garotas que ainda andavam à frente não pararam.
Um pouco frustrada, Ryota se aproximou, parando diante delas — no meio de ambas — e falou.
— …
Sua boca se abriu, mas nem mesmo um único “ah” saiu de seus lábios. Enquanto empalidecia ao perceber que sua voz desapareceu, apenas sentiu uma brisa congelante passear por seu corpo quando as duas garotas passaram por ela outra vez. Dessa vez, elas deram a volta ao redor de seu corpo, como se fosse um objeto no caminho, e apenas seguiram seu propósito original de caminharem enquanto dialogavam.
Ryota permaneceu parada no mesmo lugar, ainda perplexa. Sua mão esquerda, com os dedos trêmulos, alcançou a própria garganta. O corpo não possuía calor, sequer parecia estar tocando pele humana. Era uma textura áspera e maleável, mas fria o bastante para precisar afastar os dedos. Como se aquele corpo pudesse, pouco a pouco, endurecer como gesso.
Seus olhos se arregalaram quando percebeu que era a exata mesma sensação de um cadáver.
A mesma sensação de quando tocou o corpo de Zero, ensanguentado, violentado, destruído e humilhado, ao morrer em seus braços.
O frio que percorria suas veias despencou em uma velocidade alucinante, e Ryota caiu de joelhos segurando a própria garganta. A respiração condensada finalmente tornou-se visível, mas seus olhos desfocados não visualizavam a “realidade”. O choque das memórias que invadiram seu cérebro foi forte o bastante para despencar, e seu corpo endureceu. A respiração se deslocou, fazendo com que inspirasse e expirasse em uma velocidade assustadora para recuperar a sanidade e a calma.
Ao contrário da cena no banho, em que a mente desligou completamente, guiada apenas por um instinto de sentir a vida, Ryota sentiu como se sua alma tivesse atingido um ponto ápice daquele frio que chegava a queimar, a doer.
Ainda que as unhas buscassem abrigo daquele frio no calor da realidade, rasgando a pele e carne do pescoço, nenhum sangue jorrou. Os ferimentos sequer doíam, ardiam ou expressavam-se como reais. As lágrimas de agonia se acumularam nos olhos, mas nunca escorreram. Apesar de não mancharem o rosto por uma razão desconhecida, quando o rosto dela se inclinou em direção ao chão, enjoada ao ponto de poder vomitar, as gotas pingaram e mancharam o piso, eventualmente desaparecendo como fragmentos de inexistência.
Sua boca estava aberta ao ponto de saliva se acumular nos lábios, mas eles apenas pingavam no chão, derretendo e desaparecendo. A voz que deveria sair nunca foi exibida ao mundo, e os gritos de agonia e dor que poderiam aliviar o aperto profundo em seu peito, rasgando sua alma e ser, jamais alcançaram ninguém. Ela estava destinada a agonizar sozinha, isolada, no frio da realidade que a negava.
— Você é realmente penosa.
Ouviu uma voz conhecida disparar palavras afiadas de aversão. Quando erguia os olhos cheios de lágrimas que jamais escorreram por aquele rosto, encontrou uma figura — uma pessoa que era como um espelho, mas de um mundo diferente.
Ryota encarou a “si mesma”. Enquanto uma permanecia de joelhos, chorando, babando ao ponto de conter o embrulho no estômago e clamando no silêncio profundo da rejeição, a outra erguia o rosto encarando de cima a baixo aquela “eu” com fúria e repulsa.
Ao seus arredores, estudantes com rostos sombrios, sem identidade, caminhavam por elas duas, atravessando-as como se fosse dois obstáculos em seus caminhos, mas que desviaram naturalmente da mesma forma que atravessariam por uma lata de lixo na rua.
Exato, ela não era tão significante quanto um mero objeto que poderia meramente passar por cima, ou seguir seu caminho ignorando como parte de um cenário casual de sua própria realidade.
— Essa existência que disfarça sua dor com tanta clareza ao ponto de chamar a atenção dos outros certamente não sou “eu”.
— …
Ryota tentou resmungar, balbuciar ou responder, mas nada além de ar saía de sua garganta. Era incapaz de desacordar daquilo que era dito.
— Se vai se render às lágrimas tão facilmente quando estiver em um momento de dificuldade, de que serviu seu esforço para escondê-las? Decida se continuará choramingando como uma criança ou disfarçará esses sentimentos direito.
— …
— … Não importa o quanto tentem, eles jamais me farão chorar outra vez.
— …
— Nunca, nunca mais. Nenhum deles merece ou precisa ver.
— …
— Engula essas lágrimas e erga a cabeça.
— …
— … Dói, não é? Quando entala ao ponto de sufocar, é agoniante, não é? Quando aperta seu pescoço usando as unhas com tanta força ao ponto de sangrar, deveria arder e suprimir esse frio interno, não é? Se não consegue nem lidar com sua própria fraqueza e engoli-la em silêncio, morra bem devagar sufocando.
— … !
Lágrimas, ranho e saliva mancharam o chão. O sangue quente que deveria derreter o calor frio de seu coração nunca a alcançou. O desespero, a dor, as memórias, o sangue, os corpos, a agonia, a tristeza… Aquele misto moldou-se e inflou em sua garganta, sufocando-a. Não importava o quanto arranhasse ou rasgasse, jamais sairia. E se não fosse capaz de expelir, deveria engolir. Mas havia ganhado um tamanho grandioso demais para atravessar a faringe.
O ar que era impulsionado para fora agora era inundado para dentro. Ryota se esforçou, tremeu, gemeu silenciosamente e se contorceu para que aquele “bolo” pudesse ser consumido. Mas doía tanto, tanto, tanto.
Isso dói. Isso dói. Isso dói. Isso dói. Socorro. Por favor, alguém me ajuda. Por favor, por favor, por favor. Olhe para mim. Olhe para a minha dor. Seque minhas lágrimas. Me ajude. Pega na minha mão. Me segura. Não me deixa sozinha. Quero morrer. Me mata. Por favor, por favor. Isso dói. Tá apertando, tá apertando demais. Vai explodir. Vou morrer. Me mata. Ou tiro minha própria vida. Tá doendo. Tá doendo, tá doendo, tá doendo, tá doendo…
Aquele outro “eu” pisoteou a cabeça da garota de aparência idêntica que rachava como vidro, fazendo-a desaparecer daquele mundo cinza e frio. O pescoço explodiu, cacos voaram e fragmentos que brilhavam como estrelas banharam aquele mundo. Apenas o corpo caído e a cabeça que rolou com lágrimas manchando os olhos fechados, além da “Ryota” permaneceram naquela realidade.
***
— AAAAAAAAAAAAAAARGGHHHHH!!!
Das profundezas de seu âmago, nasceu um berro estridente e doloroso que estremeceu a sala de aula. Despertando daquele mundo, Ryota caiu da cadeira de costas e rolou pelo chão frio com lágrimas escorrendo por seu rosto como uma cachoeira. Ela gemia, grunhia e resmungava palavras incompreensíveis enquanto levava as mãos ao pescoço, tocando-o para ter certeza de que não haviam ferimentos. De que a cabeça que teve seu pilar explodido ainda estava ali. Que a dor profunda que inflou, cresceu e a destruiu ainda a mantivesse viva.
O aperto, a agonia, a dor… Tudo aquilo passou em um instante, como se acordasse de um sonho. Ainda assim, as memórias daqueles sentimentos não desapareceram como costumava ocorrer em pesadelos.
Eventualmente, as amarguras daquele fim horrível se acalmaram e sua respiração se estabilizou. Ryota agarrou sua cabeça para senti-la, tocou a própria pele e encarou suas mãos ao perceber que havia calor. Havia sangue correndo por suas veias. Ela ainda era um ser humano.
Fungando o nariz, finalmente percebeu as lágrimas que mancharam-lhe o rosto. Então, limpou-o imediatamente ao sentir uma movimentação em suas costas. Mesmo com a face vermelha e suja, voltou-a na direção da mulher que vestia preto. Ela havia se aproximado segurando a folha em branco, dobrando-a em quadro pedaços e guardando em suas mãos.
— Agradeço por sua presença, senhorita Ryota. Seu teste foi um sucesso, e sua avaliação recebeu uma nota positiva.
— … Hã?
Uma voz rouca e baixa escapou de sua garganta, mas não foi capaz de dizer mais nada além disso.
— Se me der licença.
Apesar de internamente desejar retirar suas dúvidas com a guardiã, sua mente não estava preparada para repassar tudo o que presenciou durante o “teste”. Ryota apenas observou Amane fazer uma reverência rápida, dar-lhe as costas e desaparecer por trás da porta de entrada da sala de aula — que estava fechada.
Lentamente, Ryota piscou para o ambiente que tornou-se vazio e silencioso. E isso a incomodou profundamente. Colocou-se em pé de forma desastrada, segurando-se na parede ao sentir as pernas bambas. Então, caminhou na direção da carteira no centro da sala.
E encontrou uma bala de hortelã em cima dela.
Não estava embrulhada, como nova. Mas preenchida por saliva, não parecendo ter sido consumida por menos que alguns segundos quando foi colocada na boca. Certamente, pela quantidade de baba e a forma com que o doce estava posicionado, você poderia dizer que ela havia sido cuspida com uma brutalidade impressionante.
A mente de Ryota latejou e doeu, a fazendo levar a não na direção da testa quente. Uma dor de cabeça retumbava, a fazendo querer apenas desligar a consciência outra vez, mas ao mesmo tempo um terror arrepiava os pelos de seu braço apenas de considerar essa possibilidade.
Então, querendo ao menos tomar um pouco de ar para poder pensar sobre tudo o que havia visto, ouvido e sentido, a garota deu um passo em direção ao corredor, finalmente saindo da sala de aula.