Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 9 – Arco 4

Capítulo 06: Falha

Com os corpos paralisados como se o tempo pudesse regredir a uma velocidade menor bem quando desejasse, Ryota parou seus movimentos quando a porta de correr foi ouvida deslizar ao seu lado, revelando duas armas carregadas apontando para suas cabeças.

Sua expressão sequer tremeu diante da ameaça emanada pelas pessoas que surgiram enquanto o trem ainda permanecia estável no local. Sua serenidade era verdadeiramente admirável considerando os riscos que estavam, e mesmo ela se surpreendeu um pouco ao perceber que a própria vida, estando em uma corda bamba, sequer tremulava com a possibilidade de cair e perdê-la.

— Não se movam ou vamos atirar!

A voz de um homem soou com autoridade e apenas seus olhos deslizaram na lateral, para a direita, em direção aos que portavam as armas. As íris azuis encontraram duas — não, três, havendo ainda um atrás escondido — pessoas com munição e capacidade para interceptá-los. 

Ao contrário do que estava acostumada a ver, comparando com suas experiências de morte anteriores, aquelas pessoas não estavam vestidas com o propósito de esconder as próprias identidades. Portando armas de fogo e dedo no gatilho, ameaças altas e claras o bastante para qualquer um escutar, homens na faixa dos trinta aos quarenta anos de idade, roupas sociais pretas com gravatas vermelhas e cabelos arrumados e um aparelho pequeno preso aos seus ouvidos que piscava às vezes — eram assassinos de aluguel.

Ryota ouviu falar que outrora houveram pessoas como aquela, quando o mundo ainda povoado por todos os tipos de culturas, tecnologias, conhecimentos e raças. Em contrapartida, aquele tipo de pessoa havia desaparecido dos rastros quando a destruição do mundo causada por uma Entidade começou. Eram trabalhos sujos feitos com objetivos óbvios, mas que apresentavam riscos e acrescentavam uma grande margem de ameaça quando eram contratados de outros países.

Antigamente, o objetivo era livrar-se daqueles que estavam no caminho de pessoas no poder, pagando para que sujassem as mãos em seu lugar. Vestiam-se com roupas elegantes e disfarçavam-se como espiões, criando o crime perfeito se passando por indivíduos comuns. Era como uma descrição retirada de um filme ou livro de suspense para ela. 

Entretanto, ainda haviam pessoas com tais profissões nos dias de hoje, embora, ao contrário do que antes, estavam muito mais explícitos para as pessoas. Não significava que era um assunto compartilhado e público, mas era mais fácil enganar aqueles que poderiam ver assassinos com os próprios olhos e pressupor que estavam errados do que passar anos escondendo a própria identidade e serviço. 

Ainda assim, a família Akai era insuperavelmente superior quando se tratavam de assassinar a mando de outros. Uma profissão que manchava as mãos de todos com sangue igualmente, mas discrição, lealdade e organização faziam parte de seu código de conduta como sanguinários. Era perceptível apenas olhando-os que eram pessoas aterrorizantes de se envolver ou aproximar, mas jamais permaneciam escondidos socialmente.

Era importante manter as aparências — e, principalmente, pagar muito bem por isso. Não era à toa que assassinos de aluguel estavam sempre envolvidos com a alta sociedade, reflexo na aparência de todos aqueles homens diante dela.

Durante aqueles milésimos de segundos, analisou os arredores e conservou a expressão de autocontrole, mesmo que nada dentro dela se remexesse ou temesse. O silêncio que atravessava os vagões indicava que a informação de que aqueles três estavam ali para arrastá-la fora divulgada, provavelmente com liberdade condicional. 

Dio paralisou no lugar enquanto segurava o pote de bolo comido pela metade, e Lion agarrou-se a ele imediatamente. Ambos arregalaram os olhos para as armas apontadas para suas têmporas e tremiam. Era quase capaz de enxergar os dentes batendo uns nos outros e o coração pulsando o bastante para se revelar através de sua camiseta velha. Os olhos dele, conforme os segundos se passavam e a noção de que a própria vida estava em risco, encheram-se de lágrimas.

Ryota franziu a testa. Enquanto isso, ouviu passos se aproximando de alguém que estava recostado na parte traseira, a poucos metros de onde estavam. Foi uma aproximação lenta e vagarosa, como se tivesse todo o tempo do mundo para aproveitar em realizar o próprio serviço. 

— Este lugar está fedendo. Não esperava menos de um trem público.

Ouviu a voz grave e rouca de um homem, parando no meio dos dois que mantinham as armas apontadas. A porta para o vagão não era grande o bastante para que pudessem permanecer todos no mesmo local, então os que mantinham as vidas da dupla sob a mira adentraram um pouco mais, dando um ou dois passos, para que aquele que fumava um charuto se aproximasse.

Sentiu o cheiro pútrido invadir suas narinas imediatamente quando aquela pessoa se aproximou, olhando-os com superioridade de cima a baixo. Era um homem mais velho do que os outros, de baixa altura e acima do peso. Cabelos e bigode por fazer, mas brancos quase amarelos claros — possivelmente pela falta de retoque na pintura. 

Afinando os olhos escuros como fendas, observou o cenário e abriu um sorriso receptivo.

— Ora, ora, veja só quem encontramos aqui. Foi um pouco difícil encontrá-la nas últimas semanas, senhorita, mas estou feliz que pudemos finalmente nos conhecer.

Ryota manteve-se em silêncio, impassível.

— Estamos aqui para acabar com nosso serviço o mais rápido possível, então ficaria feliz se pudesse colaborar conosco. Acompanhe-nos para fora deste trem e não machucaremos o garoto, nem qualquer um dos passageiros.

Olhou para as armas e os dedos nos gatilhos — sabia que atiraram sem hesitação. Eram pessoas acostumadas com o serviço que possuíam. E certamente ele não blefava. Ao menos, em um pedaço de suas falas.

— Por que estão aqui?

— Recebemos o serviço para levá-la conosco, então decidimos fazer isso do jeito fácil caso nos acompanhasse sem resistir.

— … Apontando uma arma para nossas cabeças?

— Não podemos baixar nossa guarda, não importa quem sejam nossos alvos ou o que o cliente insinue. Faz parte de nosso código de conduta.

Ryota, com o queixo abaixado e olhos afiados, encarou o homem líder. Vendo-a com tal reação de desprezo, ele estalou a língua e se aproximou, apertando o espaço.

— Não torne tudo mais difícil para o seu lado, garotinha — tragou o charuto e então assoprou a fumaça no rosto dela, que permanecia impassível, como se não sofresse alterações dos seus arredores — Estamos aqui a mandato e com identidades policiais, então não precisa se preocupar com os outros. Venha conosco, obediente, e mantenha em segurança a vida de todos.

Não desviou os olhos que ardiam um pouco e nem tossiu. Manteve-se encarando o rosto daquele homem por tempo o bastante para precisar piscar, mas a aura de hostilidade que vazava através de seus olhos não desapareceu. Ainda podia ver as armas apontadas para sua cabeça — especialmente Dio, que fechou os olhos, tremendo.

Seus ombros baixaram um pouco.

— Quem os mandou?

— Não falamos de nossos clientes.

— Certamente, foi uma pessoa de muito mal gosto.

— Para nos mandar atrás de uma vadia, com certeza.

— Sim, sou uma vadia com pouco tempo a perder com interrupções sucintas. Estou a caminho de algo muito importante, então desejaria que parassem de ficar no meu caminho.

Ryota escutou outro estalo da língua do homem, parecendo incomodado. Enquanto o tempo passava e a conversa se desenrolava, desconfiava que haviam pedido para os passageiros aguardarem enquanto retiravam a pessoa que foi detectada como criminosa pela “polícia”. Disfarçando-se e levando-a sem causar problemas ou gerar confusão, era certamente uma alternativa atraente.

Se estivesse em outro local, talvez outra circunstância, poderia ter seguido com suas opções. Ela teria se colocado de pé, as mãos atrás das costas, os olhos vendados e seria arrastada para fora dos vagões. Provavelmente, dopada para sequestro ou morta logo em seguida, levando sua cabeça como prova da missão completa para o cliente. 

Entretanto, nada daquilo importava. Ryota sabia dos riscos e das ameaças, sabia das vidas dos inocentes e do menino que chorava diante dela — que havia morrido uma vez diante de seus olhos. Jamais se esqueceria daquele momento, ou do sentimento que rasgou sua alma ao perceber que nada teve qualquer sentido.

Queria salvá-lo. Queria dar a ele a oportunidade de crescer e ver o mundo, mas não existiam razões para que isso ocorresse ao seu lado. Havia-o avisado daquilo apenas alguns minutos antes. E, ainda assim, ele permaneceu ao seu lado, ignorante à isso.

Talvez agora ele percebesse que foi um erro. Vendo que os perigos que a envolviam não eram mais apenas pessoas com identidades secretas que destruíram cidades e matavam sem pensar duas vezes, mas ela mesma estava sendo caçada. Sua vida estava em jogo, e de todos que a acompanhavam, também.

Ouviu o som de um clique, e percebeu que era da arma. O homem chefe a olhou com irritação, uma veia saltando de sua testa, e agarrou seu coro cabeludo para erguer seu rosto. Não na direção dele, mas do que estava para acontecer diante de seus olhos.

Ela viu a arma que estava contra a própria cabeça se afastar, mas a que apontava para Dio encostar em sua têmpora. Ouviu resmungos, lamentos baixos vindos do garoto que lutava contra as lágrimas e o medo. Sabendo que fazer barulhos para irritá-los apenas atiçar suas raivas e os faria matá-los, ele se conteve, ainda de olhos fechados.

O agudo som que escutou era da trava. Foi um som único, de aviso, mas que se repetiu algumas vezes como o tique-taque de um relógio. Era sua última chance. A oportunidade de abaixar a cabeça e prosseguir de acordo com suas ordens. A ardência do cabelo sendo puxado ou dos olhos com a fumaça não mudaram sua expressão de apatia, mas sua mente começou a trabalhar.

A se movimentar, a deslizar, a corresponder ao mundo ao seu redor. A considerar tudo e todos, o espaço, o tempo, os disparos, as divergências, a distância, os passageiros, as portas, as janelas.

As imagens se desenrolaram por sua mente, para seu cérebro, para seus olhos, para suas mãos. Ouviu os cliques das trancas, como se uma contassem regressiva atravessasse seu crânio. Sentiu o cheiro de pólvora. Ouviu os soluços. A garganta secou e os ouvidos zumbiram.

Ryota disparou um chute contra o estômago do homem que segurava-lhe o cabelo e o fez voar contra a parede diante da porta. Escutou o som de um disparo, que passou voando por seu cabelo, rasgando parte de sua orelha. Escutou outro, e então o som de algo estourando, como o de uma melancia batendo contra o chão.

Então, viu o sangue manchando a cabine. 

Ela viu o buraco aberto na cabeça de Dio quando seu corpo sem vida caiu contra o chão, duro, e o filhote em seu colo pular aos prantos para socorrê-lo.

Uma poça de sangue vermelha, quente e grotesca formou-se abaixo de sua cabeça. A expressão de choque e dor não sumiu de sua face nem após a morte, e as lágrimas que escorriam secaram.

Os olhos azuis se arregalaram em fúria quando avançou contra a dupla que apontavam-lhe as miras das armas de fogo. 

Houveram mais disparos. Lançando-se ao chão para que as balas atravessassem as paredes e o vidro das janelas, Ryota deslizou como uma cobra e lançou uma joelhada no estômago daquele que estava a direita, usando-o como escudo para os dois tiros que vieram de seu companheiro. 

Jogando-o no chão e chutando a arma de suas mãos para ainda mais dentro da cabine, escondendo-a atrás de si, trocou golpes com o outro que ainda estava armado. As balas que disparavam possuíam um pequeno período de tempo para serem recarregadas e prontas para voarem contra seu corpo outra vez. Era tempo mais do que suficiente para tratar daqueles que restaram.

Agachou-se e rolou para desviar das duas balas que vieram, uma de frente e outra da sua direita, daquele que havia chutado mais cedo. No chão, lançou um chute nas costas do joelho do que estava dentro da cabine com força o bastante para ouvir um estalo e resmungos de dor.

Passando de raspão por outro tiro vindo do líder que se erguia com dificuldade da potência do golpe que certamente deixaria uma marca roxa em sua barriga, Ryota passou os braços ao redor do pescoço daquele que se ajoelhava e segurou seus pulsos, desarmando-o a favor de sua força bruta grande o bastante para quebrar dedos e pulsos. 

Com a arma em suas mãos, virou o pescoço e bateu com o cabo na têmpora. Houve apenas um estalo quando o corpo daquele homem caiu, inconsciente, e sangue escorrendo de sua cabeça para o pescoço.

Ainda com a energia e hostilidade nos olhos, Ryota voltou a arma na direção do último que restara, apoiando-se na parede após perder o ar em questão de segundos de combate. Os dois homens que foram ao chão estavam inconscientes. Um sofria com os tiros nas costas, sangrando; o outro, desabou após o golpe no rosto que machucou seriamente.

— Impressionante. Devo dizer que estou realmente surpreso com suas habilidades.

— Talvez não tivessem passado por tamanho constrangimento caso fossem inteligentes o bastante para não me procurar.

— Está falando com bastante superioridade para alguém que nunca usou uma arma de fogo.

Ryota mexeu ligeiramente a sobrancelha. Era óbvio que sua postura de tiro era uma completa farsa, mas seus braços e pernas não tremiam. Para alguém que estava acostumado a atirar e matar com uma pistola, era perceptível todas as aberturas e inexperiência apenas ao observá-la.

Ainda assim, Ryota não desviou a mira de sua arma do pescoço dele.

— Renda-se. Vou perdoá-la por suas atitudes desrespeitosas se abaixar a arma.

— E se eu me recusar?

— Então, ela morre.

Ouviu outro clique. Era o mesmo som de uma trava sendo usada, e então, seu corpo congelou. Virando lentamente a cabeça para o corredor, observou a chegada do quarto e último assassino de aluguel. Com o mesmo porte e roupas sociais, segurava uma pistola apontada contra a têmpora de uma menina na faixa dos doze anos de idade. 

O zumbido em seu ouvido ficou alto o bastante para distanciá-la da realidade. A menina que tremia nos braços do homem armado estava chorando, pedindo socorro aos sussurros. Os olhos dela a olhavam com profundidade o bastante para atravessarem sua alma. 

À distância, escutou uma voz que implorava. Era possivelmente da mãe da garota, que pedia para que a deixassem em paz. Que devolvessem a filha para que pudessem apenas continuar a viagem. 

Eram apenas duas pessoas inofensivas que saíram a passeio. Ou para encontrar alguém. Não as conhecia, mas certamente ambas não esperavam precisar passar por uma experiência de vida ou morte. Em que o destino da mais nova, que encarava-a, estava nas mãos de Ryota.

Uma completa desconhecida que havia lidado com duas pessoas em menos de um minuto, mas que paralisou completamente ao ver que havia um refém. 

— Abaixe a arma.

Ryota ouviu o homem líder dizer, agora completamente em pé e restaurado do golpe anterior. Mas seus olhos não desviaram dos da menina que chorava, pedindo socorro aos sussurros, sem parar. Sem parar. Sem parar. Repetidamente. O tempo todo. Pra sempre. Implorava. Se desgastava. Várias. Vezes. Muitas. Vezes. 

- Largue a arma agora.

Sentiu os dedos das mãos obedecerem ao comando — e soltou a pistola. 

— Excelente.

Ouviu a voz do homem que soava aliviado por ter cedido. Viu aquele que ainda apontava a pistola para a cabeça da refém aliviar os braços que a seguravam. Viu as lágrimas da menina continuarem a escorrer sem parar por seu rosto, pingando de seu queixo.

Ryota não desviou os olhos dela. Mas a franja que cobria sua face e expressão tornaram-se uma sombra, e do ângulo em que aquele que estava diante dela, era impossível determinar o sentimento que se espalhava por suas veias.

Seria medo, para manter-se perfeitamente parada? Seria horror após perceber que mais uma vida seria perdida nas mãos daquelas pessoas? Seria desistência, para que ninguém além dela sofresse mais? 

Houve um estalo alto o bastante para que todos ensurdecessem. Mas sua origem era desconhecida. Não veio das armas, de suas trancas, de um tiro, de uma porta se abrindo ou janela quebrando. Não foram os homens inconscientes, o corpo morto de Dio, os lamentos de Lion ou um grito da refém ao perder a vida.

Veio de dentro. Profundamente, rachando e se distorcendo. Contorceu-se, amarrou-se, apertou-se e, finalmente, expandiu. Como o nascimento de uma brasa, a explosão de uma bomba ou o nascimento do sol. Foi quente o bastante para varrer o ar e queimar as gargantas que respiravam, para que a insuficiência cardíaca os fizesse serem incapazes de alcançar oxigênio. 

Os ar-condicionados esquentaram, esquentaram e então queimaram. As janelas embaçaram. Uma crescente energia espalhava-se em questão de segundos para os vagões, alastrando-se como fogo ardente e apaziguando o controle. 

Houve uma explosão de ar quente vindo de Ryota que abateu todos como uma ventania. Seus corpos foram lançados para trás, impulsionados pelo poder que rugiu de dentro dela. O calor queimou suas peles e roubou seus ares, derrubou as armas que seguravam com o suor e abateram suas consciências por um segundo.

— Ai! O que é isso?

Tossiram e semicerraram os olhos para suportar o calor. Então, com uma exclamação de surpresa e dor, os dois homens largaram as armas. Não foi apenas porque suas peles suavam o bastante para ser impossível segurar qualquer objeto naquele espaço fechado, como se estivessem presos com o próprio sol nascentes, mas porque as figuras das pistolas derreteram e se desfizeram como líquidos, fervendo até desaparecerem quando tocaram o chão.

— O-O quê?! O que, o que, o quê?! 

Logo quando o choque surgiu em suas faces, congelando os dois assassinos no lugar de pavor, a menina que chorava escapou dos braços do homem e fugiu para os braços de sua mãe. Ainda estava quente o bastante para derreterem, e as portas fechadas não auxiliavam.

Entretanto, não seria necessário muito mais esforço para que aquele cenário chegasse ao seu fim. O inferno que derretia, acalorarava e superaquecia fez o assassino que surgiu no corredor desabar no chão, em síncope de calor.

Então, da mesma forma que a explosão emergiu, a temperatura cessou. Em um instante, a onda de temperatura alta que impedia até mesmo de enxergar adequadamente graças ao vapor, ouviu-se o som agudo de algo se extinguindo, como o fogo que era apagado por um balde d’água.

Ryota voltou seus olhos azuis na direção do homem líder que a encarava, em choque. Ele balançou a cabeça para os lados, como que negando a realidade que via.

— N-Não… Não foi isso que disseram… Não foi isso que nos contaram! Isso… Isso não é trabalho pra nós…! Eu-

— Eu avisei que seu cliente tinha mal gosto — ela ergueu o queixo, fazendo a luz do sol bater em suas íris que brilhavam com fúria — Prendendo vocês aqui dentro comigo pra morrer.

Deu um passo adiante, então outro. 

— E-Espera! E-Espere um pouco, vamos sair do trem agora mesmo! Vamos cancelar o nosso serviço e não voltaremos mais!

— Não tente mentir para uma megera farsante como eu… Ou eu deveria me chamar de vadia farsante?

— N-Não…! Eu… N-Nós…! Ugh!

— Tchau, tchau.

Inclinando a cabeça para revelar um sorriso sinistro e sombrio, Ryota ignorou as palavras do homem que implorava pela vida e girou. Foi um movimento de um segundo, mas sua perna flamejante acertou a cabeça em cheio. O golpe acumulado em força bruta levou o assassino a perder a consciência no mesmo instante, caindo no chão, duro. A mancha da queimadura se alastrou por seu rosto, destruindo sua pele e fazendo-o sangrar.

— … Estou sendo um pouco generosa demais depois de terem matado alguém na frente dos meus olhos outra vez.

Murmurando consigo mesma, lamentando a própria fraqueza por sequer ter coragem de tirar a vida de qualquer um daqueles homens no chão, sentiu seu corpo relaxar um pouco ao perceber que havia acabado. O silêncio que perfurou seus ouvidos a fez olhar para o vagão ao lado, onde os passageiros se acumularam ao final dele para escaparem do conflito. As expressões de choque e medo eram nítidas, e Ryota apenas piscou, apática.

Foi nesse instante que uma das portas se abriu, e um homem baixo, magro e de expressão ansiosa entrou. Era um rapaz que deveria ter em torno de seus vinte anos de idade, segurando uma boina em sua cabeça. Ele olhou para os lados e arregalou os olhos para as pessoas inconscientes, então ergueu sua atenção para Ryota.

Engolindo em seco, inspirou fundo para começar a falar. Sabia que precisaria convencê-lo de alguma forma que ela não era uma pessoa ruim, e haviam mentido sobre tudo em primeiro lugar. Era uma dor de cabeça, mas não gostaria que aquilo repercutisse como uma notícia ruim para o maquinista, os passageiros e afastasse as pessoas por medo de viagens nos trens por sua causa.

Ao abrir os lábios para falar, viu o maquinista se aproximar.

— A-A senhorita está bem?! Não se machucou?!

— … O quê?

Mas sua expressão se distorceu em confusão ao vê-lo preocupado com ela.

— Estou. Estou bem, e nenhum dos passageiros… Ninguém que estava comigo na cabine se feriu. Os demais e a refém estão bem. 

— Aaah, que alívio. Eu fiquei um pouco surpreso quando ouvi os barulhos de tiro e até dei um pulo de susto, então vim correndo quando vi que as janelas ficaram embaçadas. Tive medo de que algo pudesse ter acontecido quando percebi que as identidades eram falsas.

— O senhor percebeu.

— Sim, mas demorei um pouco porque acabei de entrar aqui, há, há… Há. — ele riu, coçando a nuca, nervoso demais — Peço desculpas. Acabei sendo intimidado quando os quatro apareceram se identificando como policiais, e não consegui revidar suas afirmações quando entraram na sua cabine. Entretanto, quando notei que as identidades eram falsas, chamei os guardas e estão a caminho. Estou feliz que estejam todos bem, embora um pouco assustados.

O maquinista sorriu com ar de alívio, mas Ryota não mudou sua expressão endurecida pela tensão. Dentro da cabine, ainda havia o corpo de alguém que precisava ser relatado como morto, mas era difícil engolir a saliva que ficou presa em sua garganta.

— Senhorita? 

— Sinto muito por causar tantos problemas. Eles vieram atrás de mim por uma razão, mas não deveria ter envolvido tantos inocentes em meus problemas. 

— Eu entendo. Ainda assim, pode não parecer, mas é um pouco comum que ladrões surjam em viagens longas de trens, então estamos um pouco acostumados… Bem, “estamos” não eu, porque acabei de entrar no trabalho, mas meus colegas de serviço, sim. E, também, existem alertas e ações de segurança para o caso disso acontecer, então todos os passageiros estão cientes dos perigos, embora não seja culpa deles e nem sua de que algo assim possa ter acontecido.

— Não, na verdade, é minha culpa.

Ainda que o maquinista positivo tivesse apontado com o dedão para uma placa de aviso sobre possíveis assaltos, aquilo era completamente diferente de apenas um homem invadindo. Foi um grupo que trouxe uma refém, e poderiam ter causado uma chacina ali dentro, além de terem assustado crianças. 

E matado uma delas.

— Arcarei com as despesas de tudo o que foi danificado. E também… Buscarei outro meio para chegar ao meu destino. Não desejo interromper ou causar mais problemas a vocês.

Ryota falou com ar um pouco solitário, mas sincero, enquanto se virava. No chão, os corpos dos homens permaneciam perfeitamente imóveis, e ela começou a se aproximar da cabine. O local, que deveria estar cheio de sangue no teto, paredes, chão e vidro, se aproximava. Precisava conferir o corpo de Dio e o estado de Lion. 

Era tarde demais para se lamentar por suas falhas. Estava acostumada a ser uma, mas lidar com os atos ainda era difícil. Jamais poderia se acostumar.  Ao dar um, dois passos naquela direção e sentir que o maquinista a seguia, parou e virou-se.

— Na verdade, existe outro problema.

— Eu já lhe disse, senhorita. Não foi problema algum.

— Mas há um corpo na-

— Moça!

Ryota paralisou completamente ao ouvir aquela voz. Era conhecida, suave e delicada. Seu tom apresentava preocupação, ansiedade e alívio, bem como a sensação de ter corrido em sua direção. Arregalando ligeiramente os olhos e voltando-se para a cabine, ela viu o garoto de cabelos áureos e olhos marejados correr em sua direção com o filhote nos braços.

— M-Moça! Você tá bem?! Se machucou em algum lugar?! Ah, o que foi? P-Por que tá me olhando desse jeito?

Dio, assim como o maquinista, se aproximou para observar se nenhum ferimento surgiu em seu corpo além do arranhão na orelha. Entretanto, paralisou ao perceber que Ryota o encarava estupefata. 

— … Você… 

— Ah, fico feliz que vocês estejam bem — o maquinista interrompeu a conversa, batendo palmas com felicidade, antes de se aproximar da cabine e observar o estado dela — Bem, foram só alguns furos no vidro e provavelmente ar-condicionados, mas o importante é que nenhum dos passageiros se feriu.

Mas Ryota não o ouvia. Ainda que a informação “apenas tiros” a fizessem processar a possibilidade de que algo a mais havia de errado, seus olhos não sairam do garoto com ar temeroso, porém vivo, diante de seus olhos.

Ela viu Dio ser baleado na cabeça e morrer. Sua cabeça explodiu e sangue voou, manchando tudo. Aquele foi o gatilho para seus sentimentos despertarem e ela levar a luta com mais seriedade. Foi, também, a razão para paralisar diante da refém que havia sido pega nos braços de um dos assassinos de aluguel. Temeu que mais uma criança pudesse morrer por sua culpa. Era intrínsico e cruel. Se fizesse diferente, apenas um passo em falso, as coisas ruíriam. Ela precisava tomar cuidado, e, para isso, poderia se sacrificar no lugar deles.

Foi estúpida e lenta. Ela deixou Dio morrer. E aquela frustração, aquela raiva, as memórias de sua primeira morte, das crianças do vilarejo, do fogo, daqueles que morreram na capital, ferveu seu sangue ao ponto de ebulir.

Mas ali estava o garoto, vivo, e sem qualquer mancha de sangue em suas roupas. Não havia um ferimento em sua testa ou têmpora, e ele não parecia nem um pouco em choque pelo o que tinha acabado de acontecer. Foram menos de cinco minutos. E teve a certeza de que ele estava morto. Ela viu o sangue escorrer. Viu seu corpo cair. Viu Lion latir e chorar sob seu cadáver.

Como poderia, então, ambos estarem em pé diante dela?

Ryota, sem piscar em tamanho choque, se aproximou a passos tropegos da cabine onde o maquinista analisava os estragos e puxava para fora os homens que tiveram seus pulsos amarrados por cordas. Enquanto adentrava o espaço e ouvia os guardas chegarem com algemas, tomando identidades e acalmando os passageiros explicando a situação, adentrou aquele espaço.

Passo a passo. Observou. Olhou para os bancos. Para o pote de bolo. Para as paredes e para o vidro. 

Não havia nada ali. Nem sangue, nem pedaços de um corpo, nem uma bala caída, nada. Perfeitamente limpo, como se todos os tiros tivessem sido presos na parede ou atravessassem o vidro das janelas.

— … Moça?

Ryota sentiu sua cabeça girar e o corpo esquentar, um pouco tonta. Aquilo não fazia sentido. Não fazia o menor sentido. Como? Como? Como, como, como?

Como ele estava vivo?

Encarou Dio com a mesma expressão de pavor, mas pareceu para o garoto que ela estava apenas em choque pelo o que acabou de acontecer. Ele franziu a testa, segurando timidamente o tecido de sua roupa.

— A-Acho melhor você sentar um pouco, moça. Você tá ficando muito branca… Vai acabar desmaiando.

— Estamos cuidando dos meliantes, senhora Furoto. Vamos averiguar os demais espaços do trem e garantir sua segurança. Não se preocupe, estamos aqui para apoiá-la.

— S-S-Senhora Furoto?! M-Mil perdões! E-Eu não sabia que a senhorita… Que a senhora era membro da nobreza! Aaaaah, que vergonha! Me perdoe!

Quem falou com ar de seriedade, garantindo a estabilidade, foi um dos guardas reais uniformizados. Ele, junto de outros quatro, carregaram para fora os assassinos de aluguel, tomando suas armas e todos os objetos que haviam em seus bolsos. Nenhum deles despertou, mas também não estavam mortos, embora alguns parecessem bem feridos.

Em contrapartida, o maquinista arregalou os olhos e praticamente esfregou a testa no chão ao ouvir o sobrenome de Ryota, que piscou para acordar para a realidade. Então, contendo os sentimentos que nublaram a mente, olhou para os dois:

— Sim, obrigada. Peço desculpas pelo inconveniente, mas estou contando com o apoio de vocês.

— Sim, senhora. Nos foi informado que algo assim poderia ocorrer, agora que estamos cientes das ameaças envolvendo alguns membros da realeza após a Infração Hera. Estaremos mantendo a vigilância pelo resto da viagem e meus companheiros encaminharão os meliantes para a prisão.

— … Obrigada. E sinto muito, outra vez.

O guarda não demorou mais e saiu, adentrando os demais vagões e cabines. Enquanto alguns cuidavam dos assassinos do lado de fora, outros fizeram uma revisão procurando possíveis suspeitos ou perigos ocultos, enquanto outros explicavam e acalmavam os passageiros pelo ocorrido.

O maquinista, endireitando desajeitadamente a postura, olhou para Ryota e sorriu.

— Não acho que a verão com maus olhos. Eles sabem que não é culpa da senhori-... Da senhora. 

— Mas-

— Quanto aos custos, não se preocupe. Estamos de acordo com a guarda sobre esses incidentes. Além disso, veja.

Ryota franziu a testa para as palavras doces dele, não muito convencida. Então, olhou para o lado, na direção do corredor, onde uma mulher e uma menina se abraçavam. As duas pareciam ter expressões frágeis como vidro, prestes a se despedaçar em lágrimas a qualquer segundo. Aquilo perfurou seu coração, fazendo-o sangrar. 

Fechou os olhos uma vez e, inspirando fundo, inclinou a cabeça, escondendo o rosto com o cabelo.

— Peço desculpas pelo o que aconteceu e o que precisaram presenciar. Por favor, se houver algo que eu possa fazer pra compensá-las… Estou disposta a tudo.

As duas, dando olhares uma para a outra, abriram um sorriso tímido. Ryota apenas ouviu uma delas sussurrando algo, e então passos se aproximando. Quando ergueu a cabeça para ver suas reações, e possivelmente ouvir seus gritos de raiva pela experiência traumática, viu que a menina que outrora fora refém lhe estendia algo.

Era uma revista colorida com fotos e páginas de algum artigo. Mas o que importava não eram as palavras escritas ou a razão da entrega dos papéis, mas a imagem que a menina apontava com o dedo indicador. Aquela era uma foto de quando Ryota segurou Edward quando a coroação iniciou, impedindo que ele caísse e despencando de tamanha altura em seu lugar.

— … Essa… Essa é você, não é, senhora? E-Eu… Eu estava lendo ela hoje de manhã… S-Só queria dizer que você foi incrível e eu te admiro muito. E… Eu não tô brava com o que aconteceu antes, porque a senhora salvou a minha vida, assim como a de muitas pessoas na capital, não é?

Ryota paralisou, olhando um pouco em choque para a garota. Seus olhos ainda estavam manchados das lágrimas, mas o alívio expresso em suas palavras e face era claro como o sol. Atrás dela, a mãe observava com um sorriso tímido, mas orgulhoso.

— Obrigada por me salvar. A senhora é muito, muito legal… P-Poderia me dar seu autógrafo?

— … O quê?

— Minha filha admirou sua coragem e gostaria de agradecer pelo o que fez… E eu também. Por favor.

Ryota soltou um sussurro baixo o bastante para não ser ouvido, então olhou para as duas mulheres. Aquilo não fazia sentido algum em sua cabeça. Não estava certo. Por que não estavam irritadas? Por que não gritavam com ela? Por que não a culpavam? Por que havia um brilho de admiração em seus olhos?

Aquela reação não esperada, ao invés de alegrá-la, a instigou e fez ter medo. Havia algo de errado. Não estava certo. Isso… Devia ter algo de errado. Não era possível. Nada daquilo fazia sentido.

Sentiu um puxão em sua manga, então olhou para Dio ao seu lado. Ela o viu estender uma caneta em sua direção, e Lion dar lambidas em seu braço desnudo. 

— Aqui, moça.

Ela se esqueceu por um instante da presença dele, e percebeu que o havia ignorado. Então, pegando timidamente a caneta, assinou com os dedos trêmulos a revista. Assim que terminou, recebeu um abraço da menina — apertado o bastante para perder o ar —, e viu ambas darem meia volta, retornando para seus lugares.

— Viu? Elas não estão chateadas ou a culpam, então, não precisa se culpar pelo o que aconteceu, senhora. 

O maquinista observou tudo em silêncio com um sorriso gentil, então, falou aquilo enquanto inclinava a cabeça. Ryota, confusa, mas com uma expressão um pouco mais suave, apertou os lábios.

— … Certo.

— Aparentemente, estão terminando de revistar os vagões. Preciso me encontrar com os guardas do lado de fora, e então partiremos em pouco mais de meia hora. Tudo bem?

— … Sim. Obrigada.

— Peço apenas que troquem de cabine, pois devem investigar as balas e tomá-las como provas do crime, além de tirar fotos. Não se preocupe, não vamos delegar sua identidade a eles, pois estão cientes de tudo. Apenas se acomodem novamente em um local seguro e seguiremos viagem em breve. Se me dão licença.

Observaram o maquinista terminar de falar e sair acompanhados de alguns guardas que retornaram do corredor, após a varredura. Ryota e Dio tomaram suas coisas e foram encaminhados para outra cabine, onde foram acolhidos e rapidamente puderam se sentar outra vez, descansando. 

— … Não vai mais comer?

— Perdi a fome.

Dio abriu um sorriso tímido quando Ryota o viu dar seu bolo para Lion comer, praticamente raspando o pote com língua e dentes. Ela baixou seus olhos e os fechou por um pequeno instante, apenas para enxergar a cena de sua cabeça aberta pelo tiro, bem como a cena anterior a essa, com pedaços de seu corpo voando quando foram cortados por fios na capital real.

Foram duas mortes — agora ela tinha certeza. O viu morrer duas vezes diante de seus olhos, mas as evidências de que algo assim ocorreu não existiam. Não era como se ele tivesse revivido ou pudesse se curar — era impossível. Ele era apenas uma criança, e até mesmo seu filhote passou pelo mesmo. 

Não haviam manchas de sangue ou rastros de sua morte. Nada. Certamente, a investigação não encontraria o DNA nas balas ou qualquer coisa que pudesse delegar essa possibilidade.

— Moça? Parece que você ficou um pouco cansada depois de tudo… Não quer dormir um pouco? Eu… Eu vou cuidar de tudo aqui. Confia em mim.

Dio bateu no próprio peito e afirmou sua confiabilidade, mas para uma criança daquele tamanho, não pareceu realmente próprio. Ryota o observou em silêncio com ar de estranheza e exaustão, mas não conseguiu negar sua oferta.

Mas havia algo que precisava confirmar antes. Algo muito mais importante do que descansar a mente ou refletir sobre os acontecimentos recentes.

— Escuta.

— S-Sim?

— … Por acaso, você não tomou um tiro… E morreu?

Dio piscou uma, duas vezes, então franziu a testa e inclinou a cabeça em noventa graus. Lion fez o mesmo, em sincronia.

— … Não.

— Eu… Eu tenho certeza de que vi… 

— Será que não foi porque você tinha visto de relance? Tipo, pelo canto dos olhos, e imaginou isso? 

Ela assistiu perfeitamente, como se visse uma cena na televisão. Sabia o que viu, sabia do corpo que caiu. Ela ouviu e sentiu o cheiro de sangue. Mas não haviam evidências de que aquilo ocorreu.

E Dio não estava mentindo. Sua expressão, seus trejeitos, sua voz… Tudo indicava isso.

Ela estava alucinando? Poderia ter realmente apenas perdido o próprio senso por um instante e enxergado coisas, mesclando seus medos com a realidade?

— Sinto muito… Apenas esqueça o que eu disse.

— Quando o homem assustador atirou, eu me joguei no chão e rolei pra baixo do banco com o Lion. Fiquei abraçando ele até você terminar de derrotar os caras maus.

Ryota riu do tom de voz dele, mas não com divertimento. 

— Fala como se tivesse certeza disso.

— Eu tinha.

Eles se encararam outra vez, e Dio abriu um sorriso doce.

— Eu sabia que você ia salvar a gente, moça. Não foi sempre assim?

— … Sempre? Eu realmente não consigo te entender.

Dio riu baixinho da reação desconcertada de Ryota e recostou-se contra o banco, deitando nele. Parecia que ambos estavam cansados do que aconteceu, mas não demorou muito para que o som da locomotiva entrando em ação outra vez alcançasse seus ouvidos.

Ryota olhou pela janela para a paisagem e pensou. Pensou, pensou e pensou. E, finalmente, falhando miseravelmente em concluir algo que a satisfizesse, fechou os olhos e dormiu outra vez.



Comentários