Volume 9 – Arco 4
Capítulo 05: Sobre a Viagem
Na sala do trono, cerca de sete horas mais tarde, um trio que passou a noite em claro conversando, atravessando histórias que foram paradas no tempo, se reunia para uma nova discussão.
— Eu já falei que não!
— Mas, Marie, eu estava ao seu lado e vi perfeitamente.
— Mentiroso! Mentiroso, mentiroso, mentiroso! Vocês dois tão tentando me irritar logo cedo, é?!
— Bem, quando despertei e a vi deitada em meu colo, dormindo tão profundamente, não consegui deixar de reparar em sua expressão serena.
— Mas como Sua Majestade é respeitável, ele jamais diria que você estava roncando.
— AAAAAAH! CHEGA! Chega, ou eu vou embora agora mesmo!
Edward, sentado no trono central, abria um sorriso largo e caloroso para a interação. A garota de cabelos loiros, de rosto vermelho em constrangimento e raiva, batia os pés como a criança que era, completamente indignada com os comentários dos dois — especialmente de Luccas, que fazia apontamentos cruéis sobre a manhã em que acordaram.
Como insinuado anteriormente, a dupla de irmãos, que não soltaram as mãos unidas até o amanhecer, conversaram durante longas horas. Agraciados pelo silêncio e a compreensão de que seriam devidamente ouvidos sobre o que estariam confortáveis em contar, os dois conversaram durante um período longo que atravessou as barreiras da noite, fazendo o próprio Luccas dormir na poltrona enquanto os ouvia.
Edward e Marie conversaram um com o outro e firmaram um pequeno laço de confiança. Ambos contaram sobre suas vidas, o que pensavam e o que desejavam fazer, mas estavam longe de serem capazes de se abrir completamente. Ainda havia um longo caminho a ser percorrido, um que não poderia ser tracejado por apenas uma única conversa ou explanação de sentimentos.
Entretanto, mesmo que tivessem se visto há mais de cinco meses, apenas vieram a se conhecer após todo esse tempo. Apenas agora, quando foram colocados em seus limites, que seus pensamentos e emoções foram capazes de alcançar o coração um do outro. Ao menos, agora, não precisariam temer tanto quando dialogam, tendo traçado uma linha firme sobre a confiabilidade e seus limites pessoais.
Um dia, talvez, fossem capazes de ultrapassá-los ainda mais. Edward desejava, do fundo de seu coração, ser capaz disso. Admirava a irmãzinha que viveu sob situações precárias durante tantos anos, e Luccas, aquele que resguardou sua segurança e honra. Aquele homem lançou-se ao mar violento carregando um bebê enquanto desprezava a si mesmo — não era necessário vê-lo dizer para compreender esse sentimento. Era claro através de suas expressões cabisbaixas, como se se autodepreciasse.
Em contrapartida, sua protegida era o oposto completo disso, o que sempre reerguia sua moral. Ela idolatrava a própria personalidade e confiança, então sobrepujava a insegurança dos outros com os méritos feitos à ela. Certamente, um ato digno de alguém com grande orgulho e sangue da realeza — seria perceptível as semelhanças entre ela e seu pai biológico, caso este não estivesse desaparecido.
Em contrapartida, Edward era como sua mãe, mas ambos se complementavam e precisavam das diferenças um do outro para se auxiliarem. Ao menos, era como gostaria que fosse, mas sua irmã já tinha alguém em quem pudesse apoiar as costas, e que a apoiava em retorno. Aquela era uma relação de confiança e carinho forjados por anos de dedicação, dificuldades passadas e sacrifício mútuo. Seria indelicadeza de sua parte se intrometer.
Portanto, ao invés de apenas invejar Marie, que sempre erguia a cabeça, decidiu que gostaria de se inspirar nela. E, dessa forma, enquanto o coração simplório dele balanceava ambos aqueles sentimentos controversos, tentaria buscar uma forma de mudar sua realidade.
Haveriam pessoas para estar ao seu lado, um dia? Alguém que visse sua fraqueza, alguém que pudesse estender a mão, alguém que o protegesse e alguém que o amasse? Eram dúvidas que rodeavam sua cabeça ao ponto de torturá-lo, mas precisava ser forte. E, acima de tudo, se assim desejava, precisava buscar por isso.
Caçando por respostas e pessoas que pudessem apoiar suas costas — esses eram seus novos objetivos pessoais.
Enquanto a mente vagava por aqueles pensamentos, apenas ouviu a discussão abaixo acalorar. Sob o tapete vermelho, visualizou Marie desferir um chute nas costas de Luccas, que soltou um gemido baixo de dor. Estranhamente, para seu pequeno porte e membros magros, ela parecia forte quando desejava machucar alguém.
— Isso foi pela implicância! Ai, que ódio de vocês, viu? Nem quero mais olhar na sua cara! Hmpf!
— V-Vamos, Marie. Não aja assim. Ainda precisamos discutir sobre algo importante.
— Então, vou falar sozinha com o irmão Ed. Cê fica aí sozinho, refletindo sobre seus erros.
— Não acha que está sendo muito cruel com ele?
— Claro que não, Ed! Não me venha dizer que vai defender o Luccas, que também te bato!
— M-Marie! Que falta de respeito!
Mas Edward apenas gargalhou da ameaça e sinalizou que ela poderia se aproximar. Luccas, constantemente preocupado com a postura da garota, e possivelmente refletindo seus erros ao criá-la — possivelmente por tê-la mimado muito —, cruzou os braços e observou a protegida subir o pequeno lance de escadas.
— E então? Sobre o que deseja discutir?
— Eu sempre fico irritada quando começa a falar desse jeito todo formal, mas acho que faz parte do sangue de vocês dois ficarem agindo assim, então vou passar.
Ela deu de ombros para o sentimento que borbulhou no estômago e “olhou” para o irmão. Sob as vendas, haviam cicatrizes de um ferimento que mudou sua vida para sempre. E, com ele, tracejou a jornada de uma nova Marie, reforçando ainda mais sua força de vontade. Sob circunstâncias normais, alguém que perdeu a visão sob um local e situação tão traumáticos teria se isolado para sempre dentro das próprias dores, mas esse não parecia ser o seu caso. Sua alma e coração continuavam a brilhar com a força do sol, radiantes ao ponto de cegar.
— Ontem eu queria falar sobre isso, mas acabou que não deu tempo, então vou adiantar logo o assunto porque não quero ficar me enrolando mais. Não é a minha praia.
— Estou de acordo.
— É sobre a nossa viagem. Decidi que faremos ainda esse fim de ano.
— Então, partirão de Hera?
— Isso aí.
Aquele era um assunto ao qual anteriormente discutiram, mas o rei ficou tão magoado por ter sido abandonado outra vez pela família — esta, que mal havia acabado de conhecer — que praticamente tapou os ouvidos para suas palavras, aceitando tudo o que ela desejava. Foi um comportamento infantil e que se arrependia, principalmente após ouvir a vida que Marie precisou viver. Era um sentimento de baixaria que também o atingiu algumas vezes durante a semana da coroação, encarando uma verdade que havia desviado os olhos.
Foi capaz de entender os sentimentos daqueles que se importavam com ele e escutá-los seriamente, não mais temendo mentiras; viu a crueldade das pessoas quando desejavam profundamente esconder algo; observou o estado da garotinha que sofreu nas celas e Ryota se esforçou para libertar e ajudar, mas que arregaçou seu peito como se uma lança o atravessasse. Cada vez mais, a experiência daquela conturbada semana moldou seu novo eu, o permitindo refletir sobre seus pensamentos e ações de cada dia — embora, naqueles últimos meses, tenha sido uma vergonha se isolar dentro das próprias dores como se ninguém pudesse, ou quisesse, entendê-lo.
— A princípio, a minha vontade era só sair por aí e conhecer o mundo, igual te contei da outra vez. Mesmo que eu não possa mais ver, eu sinto que ainda poderia aproveitar muito se partisse em uma nova jornada… Mas, dessa vez, não pra sobreviver, mas pra aprender.
— Vejo isso como algo bom. Estou completamente de acordo com sua decisão.
— Mas! Não é mais isso!
— … O quê?
Marie sorriu para o irmão que esboçou um som de surpresa. Então, estalou a língua, balançando a cabeça para os lados.
— Ai, ai, irmãozinho Ed. Tá pensando muito dentro dessa sua caixola. E eu também tava. Foi por isso que decidi não só viajar pra conhecer o mundo, mas pra ajudar, também.
— O que ela está tentando explicar é que partiremos em busca de informações sobre a Ritus Valorem e formas de auxiliar naquilo em que todos vocês estão se esforçando tanto.
Luccas subiu as escadas e corrigiu as palavras da garota, que inclinou a cabeça.
— É tipo isso. Eu não quero mais sair por aí pra curtir, mas pra poder te ajudar, e ajudar a Ryota, também, irmão.
Mesmo Marie conseguiu sentir o tremor que atravessou o corpo de Edward ao mencionar o nome dela. Então, saboreando a provocação, a garota loira riu outra vez.
— Há! Eu não sei o que rolou entre vocês ou com a moça duquesa lá, mas isso não vem ao caso. Só tô afim de entender qual o motivo dela ter ido embora tão do nada e de dar um chute na barriga dela pra deixar de ser idiota.
— … Vai ser um cumprimento doloroso.
— Se bem que esse é meu charme, né, irmãozinho Ed?
Os dois trocaram sorrisos.
— De qualquer forma, essa é a ideia. O Luccas falou algo sobre aquele país Polímia ser uma boa porta de entrada, então esse é o nosso destino.
— Polímia? Por que essa decisão?
— Durante a Infração Hera, tive contato com alguns membros da guarda real e alguns dos guardiões da corte. Meu velho amigo Tom me informou antes, mas acabei percebendo que tanto Isaac quanto Jamal, ainda que possuam mestres duvidosos, são confiáveis. Acredito que podemos contar com eles.
— Além disso, eu ouvi falar do que aconteceu com aquele remanescente dos Furoto. O Zero, né? Não cheguei a conhecê-lo direito, mas ouvi que ele era muito importante pra Ryota, então decidi que queria fazer um esforcinho e ajudar ele também.
O monarca arqueou um pouco as sobrancelhas, surpreso com a menção.
— Ouvi falar que Ryota partiu para Celestia procurando pela Maga Veridian, então contei à Marie sobre os outros Magos que vivem em cada país. Acredito que será um bom passo para começarmos nossa jornada.
— Isso aí!
— Seria muito prestativo da parte de ambos. Agradeceria profundamente. Como não estou a par apenas parcialmente da situação que envolve o ocorrido com senhor Furoto, e por decisão da própria Ryota de querer resolver este assunto sozinha, não vi espaço para me intrometer.
— Bem, entendo se foi um pedido dela, mas como ela foi embora sem nem me dar um “tchau”, tô nem aí pra isso. A gente vai ir pra cima com os dois pés, e de brinde tentar arrancar alguma informação sobre essa Risas Valor.
— … É Ritus Valorem.
— Isso aí, isso aí.
Marie abanou a mão, mas segurou a cintura logo em seguida.
— E… Bem, ah. Isso me lembra, agora que falamos desse pessoal, o que aconteceu com aquela moça que me salvou? Aquela que tava usando uma espada e até ficou comigo quando o Luccas tava contando a história triste dele, e tal.
— A senhorita Kanami?
— Sim, ela mesma. E tinha aquele outro, mas ele era muuuuito chato. Acho que deviam ser irmãos, porque tinham uma aura bem igual, mas a Kanami era mais gentil. Eu queria ter visto eles de novo, então não sei o que aconteceu. Eles dois ficaram meio sumidos, também. Rolou alguma coisa?
Edward e Luccas ficaram em silêncio por um longo tempo. Marie não entendeu a reação de ambos, até que o monarca tomou a dianteira e disse:
— A duquesa Fuyuki me informou que ambos passariam o fim de ano em suas casas, então estarão fora durante esse período.
— Hmmm, entendi. Bem, eles dois devem se enrolar bastante com a família que tem. Agora que a gente vai estar saindo pra fora da capital, vai ser difícil agradecer eles pela ajuda de antes, então fazer o quê? Só me deixa irritada todo mundo que preciso conversar indo embora do nada, mas tudo bem!
Considerando que o tempo passou em uma velocidade assustadora e todos que ela desejava conversar estavam muito ocupados ao longo daqueles meses, praticamente inacessíveis, e apenas agora seriam capazes de diminuir o ritmo de serviço, era esperado que essas pessoas acabassem tirando um tempo para “descansar”. Ao menos, esse era o raciocínio de Marie.
— Mas, e então, irmão Ed? O que achou da nossa ideia genial?
— Acredito que será de absoluta importância. Ficaria muito agradecido se pudesse aproveitar sua viagem, mas também honrado se fosse capaz de encontrar o Mago de Polímia, bem como algumas informações sigilosas.
— … Só um “bacana” era o suficiente, mas enfim.
— Pode parecer um pouco estranho, mas mesmo eu não conseguiria retirar muita informação do senhor Omar. Não apenas porque sua personalidade é um pouco difícil de lidar, mas porque Polímia é um país um pouco restritivo quanto a informações, assim como Clior. São um povo adoravelmente receptivos, mas que escondem muitos segredos. Estou certo de que, no entanto, se conseguirem contatos internos e convencer algumas pessoas que possam ter conhecimento, será de grande ajuda.
Edward podia ser um rei e o dono das terras em que os representantes de cada um dos três outros países residiam, mas isso não lhe dava o direito de revirar segredos, promessas e segredos ocultos na história. Eram coisas completamente diferentes. Para que informações assim chegassem até ele, seria necessário muito mais do que favores e um relacionamento bom entre ambas as partes — era preciso confiança e zelo. E, em algumas situações, poderiam até haver trocas de informações ou itens de valor por isso.
E, para o monarca, era imprescindível que não fosse ele quem tomasse tal dianteira, ao menos no que tangia os meios sombrios para se conseguir algo. Ele aprendeu após o voto com Ryota que eles poderiam ser cruéis, e não eram assim tão simples de serem cumpridos quanto originalmente pareciam. Às vezes, as circunstâncias os levariam a passar por dificuldades e sofrerem pelo trato, e, às vezes, a pessoa com quem se fez o voto poderia possuir uma personalidade ruim e tentar se aproveitar das brechas desse contrato.
Ele jamais usaria ninguém para tomar tal posto, e nem iria por conta própria — esse era um aprendizado e vontade pessoais dele. Entretanto, se havia alguém disposto a conseguir essas informações em seu lugar, não desprezaria essa vontade ou determinação. E Marie, mais do que nunca, parecia ser a pessoa certa para encarar esse tipo de situação — mesmo sendo uma criança, havia nela um fogo e uma esperteza que poucos poderiam naturalmente ter.
Era por isso que, intuitivamente, e não por mérito ou ações, ele conseguia confiar nela. Talvez porque fossem parte do mesmo sangue? Talvez por tê-la visto sofrer tanto e ainda assim se reerguer? Não importava. Edward apenas sentia que poderia colocar aquele dever em suas mãos, sem hesitar.
Entretanto, ela ainda era apenas uma jovem de doze anos com uma mente poderosa, então precisaria da sabedoria de alguém mais velho para redigi-la, e Luccas era a sabedoria em pessoa. Era a pessoa ideal para estar ao seu lado.
Mais uma vez, o sentimento de inveja o abateu, mas ele o consumiu imediatamente, não o deixando se alastrar pelo coração machucado.
— Mais uma vez, estou de acordo com sua decisão. Entretanto, acredito que, antes que parta, devamos conceber alguns cuidados.
— Cuidados?
— Eu deveria trocar a palavra para uma pequena cautela.
Edward cruzou as pernas.
— Se estarão se infiltrando em Polímia a fim de conseguir informações e encontrar o Mago, devemos manter contato. Entretanto, não acredito que os celulares nos ajudarão nesta situação.
— Bem, não é como se nós dois tivéssemos um, embora eu adoraria poder ouvir música enquanto a gente viaja.
— Ainda que sejam práticos, os celulares são muito fáceis de serem rastreados. Se nossas conversas forem gravadas ou vazarem para terceiros com más intenções, seria um problema.
Ainda que a tecnologia fosse consideravelmente avançada, permitindo a existência de uma comunicação instantânea através de pequenos aparelhos, os meios de roubarem esses dados eram fáceis para aqueles que eram especializados. Apenas um deslize, e seus planos iriam por água baixo.
— Portanto, acredito que se usarmos o trabalho de um selador, não precisaremos temer inconvenientes.
— Como assim?
— Significa que podemos usar os selos para garantir meios de contato, tal como um celular, mas de uma forma um pouco diferente.
— Sério?!
— Sim, embora seja um pouco trabalhoso de reproduzir na prática. Entretanto, estando com a curandeira da senhorita Fuyuki na capital, podemos pedir a ela que faça o serviço. Usando seus selos de comunicação via sistema vocal, unindo aos nossos elementos que entrariam em contato via reconhecimento, criaremos escutas seladas entre aqueles que interagem.
— E como isso funciona na prática? Não adianta me explicar a parte teórica que não entendi nada!
Edward riu da irmã que cruzou os braços, mas continuou a explicar:
— Em tese, usaremos um acessório prático que não chame a atenção como meio de contato. Da mesma forma que um celular, ele emitirá uma notificação quando estivermos em chamada, entretanto, quando começarmos a conversar, apenas nós dois seremos capazes de ouvir. Isso impede que meios externos possam usar os sinais para roubar informações ou nos rastreiam através de meios ilícitos.
— Basicamente, a gente vai conversar sem ninguém ouvir nada. Tendi. É por isso que usam selos, né? Pra manter isso bem fechadinho, impedindo a passagem. Saquei, saquei.
— É muito mais seguro, mas tem alguns defeitos. Os acessórios são discretos, mas assim como celulares, podem ser roubados. Além disso, não é porque foi feito por um selador que são invencíveis. Dependendo daquele que intervir, nossas conversas poderiam vazar, mas as chances são infinitamente menores.
— Tendi.
— Conversarei ainda hoje com a Maga Celeste para que ela possa criar selos em nossos meios de contato. Usarei meu anel, pois estou sempre com ele e perceberei caso uma anormalia ocorra. Assim, ninguém desconfiará ativamente.
— Mas ele não vai ficar fazendo barulho?
— Os selos não emitem sons próprios a menos que nós mesmos emitimos, portanto, eles apenas devem piscar em luzes e vibrar para chamar nossa atenção.
— Realmente, se torna muito mais seguro.
Luccas assentiu para as palavras do rei, que sorriu para o homem.
— Acredito que nós três devemos manter contato, mas talvez seja mais seguro se vocês dois usarem o mesmo meio para evitar maiores chances de vazamento.
— Entendo. Então, Marie, o que pretende usar?
— Ainda tem dúvida?
Ela imediatamente segurou o colar de botão e abriu um sorriso sapeca que mostrava os dentes.
— Como é uma luz emitida através de chi, mesmo você será capaz de enxergá-lo.
— Há! Então fechou! E quando será que isso fica pronto?
— Acredito que levará alguns dias, mas não atravessará o tempo estimado para sua viagem, Marie.
— Ótimo! Então, até lá, cê pode ficar com isso, irmão Ed.
Marie retirou o colar e entregou ao irmão, que arregalou os olhos.
— Tem certeza?
— Eu confio que você não vai perder. Até porque é a coisa mais preciosa do mundo pra mim, tendeu? E, se isso acontecer, vou te fazer varrer essa cidade toda pra achar.
— … Às vezes, você consegue ser um pouco assustadora.
— Faz parte do meu charme.
Rindo da garota que balançava os cabelos dourados com ar convencido, o trio encerrou a conversa e, como consequência, entraram em acordo sobre desejos e objetivos.
E, assim, se passaria algum tempo até que Ryota pudesse vê-los outra vez — entretanto, naquele exato momento, conflitos completamente alheios aos seus relacionamentos se desenrolavam a caminho de Celestia.