Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 8 – Arco 3

Capítulo 96: Falhas do Amor

Quando o palácio tremeu e tudo começou a desmoronar, Edward perdeu o equilíbrio. Ele havia usado toda a sua força restante para mover suas pernas adiante ao perceber que Ryota fora lançada para longe. Ainda que ambos fossem mais fortes do que Fanes, agora que estavam sendo ameaçados pela marca do voto, era incapazes de usarem todo o seu potencial. 

Dito isso, aos poucos, a balança da vitória se inclinava para o monarca. Apesar dele ter sido facilmente desarmado e seus leques terem sido lançados para longe, ele ainda tinha sua força física. Querendo ou não, havia sido treinado para se proteger em situações de perigo, então deveriam ter tido cautela. 

Edward se lançou contra Fanes e o empurrou. E então, em menos de cinco segundos, a varanda rachou nas laterais e onde pisava, Com isso, ele se viu colocando ainda mais força nos braços, fazendo ecder o parapeito ao qual as costas de Fanes estavam encostadas. E. por fim, tudo se desfez.

O príncipe perdeu o equilíbrio e, por pouco, não caiu junto. Seus joelhos encontraram o chão e ele permaneceu congelado, olhando seu pai despencar da torre mais alta. Ele gritou seu nome uma última vez, as lágrimas de desespero e a mão esticadas sabendo que não poderiam alcançá-lo. Seu corpo se inclinou na direção dele ao ver sua expressão de serenidade e o sorriso, mas um par de mãos o puxou para trás, impedindo-o.

— Não!! Pai, não! Aaaaaaaaargh!

— Cuidado!

Ryota, sabendo que tudo o que poderia fazer agora era garantir sua segurança, o puxou ainda mais para trás quando seus pés cederam e o chão caiu. Os dois rolaram para o lado, na direção da entrada, e viram mais um pedaço da varanda despencar.

Após isso, o tremor parou, assim como as rachaduras. Poeira e fumaça subiram, assim como o som dos blocos de pedra se chocando contra o solo. O estrondo atingiu seus ouvidos e, Ryota, que segurava o príncipe por baixo das axilas, sentiu-se tremer da cabeça aos pés.

Ela murchou a expressão de preocupação e olhou para Edward.

— … Por quê?

Ao ser solto, apenas caiu de joelhos, inclinando o corpo para a frente e abraçando a própria cabeça. Emitia gemidos e batia os dentes uns nos outros. Suas lágrimas continuavam escorrendo como uma cachoeira pelo rosto.

— … Por que, pai? — continuava a murmurar — Por que escolheu… Por que você…?

As lamentações e perguntas que eram acompanhadas da dor jamais chegariam a lugar algum. As perguntas que tinha jamais ganhariam uma resposta. 

— Por quê? Por que… Você escolheu esse caminho? Esse… Fim? Por que… Você estava…?

… Sorrindo até o final?

A mente de Edward se tornou uma bagunça completa. Ele era incapaz de encontrar qualquer resposta para suas perguntas, e a angústia de entrar nesse ciclo de indagações o fez perder as forças do próprio corpo. A dor da queimação não era mais um problema, mas sua mente e alma tremiam em um vórtice de sofrimento. As lágrimas quentes não o permitiam esquecer e sequer considerar qualquer outra possibilidade para a verdade que seus olhos refletiam: Seu pai estava morto.

Não… Ele havia se matado.

Sob circunstâncias normais, teria sido apenas visto como um acidente. Porém, foi como se propositalmente Fanes tivesse induzido a destruição da varanda. E, então, permitisse que seu filho visse a morte do próprio pai. Edward não foi capaz de ver tão longe assim, mas percebeu que seu corpo, ao bater contra o chão, formou uma poça de sangue que se estendeu pelos arredores. Mas, em seguida, os blocos começaram a se empilhar um sobre os outros, esmagando todos os resquícios de sua existência.

E então… 

— … Por quê? … Por quê? … Por quê?

As perguntas murmuradas se empilhavam e não tinham resposta.

Até que um par de braços o envolveu, levando seu rosto ao peito. As mãos foram passadas em seu cabelo como forma de consolo. Ryota abraçou Edward, seu corpo trêmulo e cheio de dor parecia pequeno e frágil. Naquele momento, a garota, que normalmente era a pessoa que lamentava e chorava, inspirou fundo para tomar um posto diferente.

Ela esperava que fosse capaz de passar a mesma sensação de conforto e segurança de Zero.

Ao receber o afago, Edward resfolegou, como se voltasse à realidade ao toque. Mas, no fim, não conseguiu parar de chorar e precisou abraçá-la de volta para conseguir algum apego à realidade.

— Eu sinto muito — murmurou Ryota para ele, abaixando o rosto. Ela passou o dedo por seu rosto quente e enxugou parte das lágrimas.

— … A culpa é minha.

— Isso não é verdade — interrompeu ela de imediato — A culpa… Não é de ninguém.

— É sim. A culpa é minha. Eu… Fui eu quem não foi capaz de entendê-lo… Eu nunca… Nem tentei. O meu pai… Eu… Quando foi que comecei a fazê-lo me odiar… Tanto? Eu… Realmente… O desonrei tanto assim? Será que… Se eu tivesse tentando… Mais um pouco… Eu teria… Nós teríamos… 

A cabeça dele doía demais para raciocinar, então as palavras saíam cortadas. As lágrimas e soluços impedia que pudesse formular frases completas. 

— … Eu sou uma falha como príncipe… E como filho.

Ryota, em silêncio, franziu a testa.

Como ela poderia consolá-lo? 

Entendia a dor da perda e da culpa. Eram sentimentos recorrentes e que, por vezes, a faziam tropeçar nos próprios pés. A consciência de seus erros era uma característica importante, mas usar isso para se rebaixar… 

Ryota não conhecia a história entre Edward e Fanes. Ela apenas ouvira falar sutilmente a respeito, e então entendera o ponto de vista de Luccas sobre a situação. Mas o príncipe não sabia de nada. Ele jamais tivera a oportunidade descobrir, e provavelmente todas as oportunidades lhe escaparam dos dedos. Porque, possivelmente, Fanes jamais quis lhe contar.

Mas por quê? O que levaria alguém a esconder a verdade de outra pessoa? Seria o medo da reação? Seria as consequências da verdade? Será que a mentira deixava a pessoa que sabia na vantagem de determinada situação? Analisando dessa forma, a mentira nada mais era que uma máscara que escondia e censurava alguém. Como um pano que cobria seus olhos do mundo. 

Ryota entendia perfeitamente aquele sentimento. Ela sabia que ver as pessoas ao seu redor se negarem a confiar nela era difícil. Enfrentou diretamente aqueles que sabiam da verdade, mas se recusaram a dizer. E, por conta disso, pagaram as consequências — isso custou a confiança, o relacionamento de ambas as partes. No fim, a mentira apenas dividia as pessoas. Causava mais dor, criando rachaduras e rasgando o laço que possuíam.

Mas, ao mesmo tempo, a verdade parecia igualmente dolorosa. A garganta doía e a cabeça pesava com a responsabilidade, mas conhecer algo e privar isso de alguém era apenas hipocrisia e egoísmo. 

E, no fim, apenas causaria mais problemas. Apenas um ciclo infinito de dor, como uma grande bola de neve que, em breve, ficaria grande demais para ser empurrada —  e, finalmente, passaria por cima da pessoa.

A verdade doía, mas apenas uma única vez, enquanto a mentira doeria todas as vezes que você lembrasse dela. Era como uma ferida que sempre que tocasse, sempre que lembrasse, sentiria um sofrimento insuportável — e, talvez, cada vez mais difícil de lidar. A verdade, no entanto, podia ser como um soco no estômago, mas era isso. Quando se sabia dela, ficava mais fácil de entender seus arredores e se erguer, de tentar encontrar uma resposta para os seus problemas.

Mas, mesmo passando por tanta dificuldade, por que mentir, então?

Foi quando Ryota se lembrou de Jaisen no quarto de recuperação, e entendeu.

Porque é mais fácil. 

Era fácil fingir ser outra pessoa, fingir sentimentos que não eram seus. Ela mesma estava constantemente fazendo isso, usando uma máscara. Porque afinal de contas era mais fácil de lidar com as dores sozinha, e muitas vezes temia a reação dos outros a ela. Queria esconder algo que, mesmo machucando tanto que a fazia querer sumir, continuava a tapar com todas as forças. 

Nesse caso, de quem é a culpa? Da pessoa que foi censurada e, mesmo querendo saber, foi incapaz de alcançar a confiança da outra? Ou do mentiroso, que se esforçou para esconder a verdade pelo próprio bem e o da pessoa que nada sabia?

As circunstâncias eram diferentes, mas os sentimentos e dores passados eram os mesmos. E, agora que entendia isso, Ryota foi capaz de presumir o que se passava na mente de Fanes.

… Ele esteve em silêncio o tempo todo. Jamais respondia nada que o Edward dissesse, e apenas o influenciou a colocar ainda mais lenha na fogueira de suas dúvidas e frustrações. Por quê? Ele… Queria que o filho o odiasse? Por quê? Por que, mesmo sabendo que estava disposto a ouvi-lo, depois de escutar que ele o amava… Por quê? Por que escolher a morte ao invés da verdade?

— Você não falhou… Na verdade, se esforçou ao máximo como podia. 

Dentro das próprias limitações, Edward colocou sua vida em risco pelo reconhecimento do pai. Se aquilo não era se importar com o relacionamento deles, se esforçar por isso, então o que era?

— … Eu poderia ter feito mais…

Ryota baixou um pouco os olhos.

Eu pensei o mesmo quando Aurora foi destruída, não foi? 

— Edward, você foi corajoso e sincero. Colocou todo o seu coração no seu objetivo e nunca recuou. Até o final, você foi capaz de fazer o máximo. 

— … Não foi o suficiente. Eu… Não sou o suficiente… 

— Isso não é verdade, você-

— Se eu fosse…! Se eu fosse o suficiente… Se eu tivesse tido chance pra mudar as coisas… Ele não teria se matado! Ele não teria… Escolhido a morte ao invés de mim…! No fim… Quem estragou tudo… Quem o afastou… Quem decidiu dar as costas para nossa relação… Fui eu.

Ryota, ao vê-lo erguer o rosto e encará-la com fúria, erguendo a voz, se calou.

— A culpa é minha — soluçou — Eu… Eu afastei ele. Quando percebi que meu pai começou a ficar ocupado com seus deveres… Eu achei que ele começou a me ignorar. Eu achei… Que ele estava me negligenciando… Acreditei que não era tão importante quanto qualquer outro dever. Naquela época… Eu era tão, tão estúpido…

Edward relembrava de dias antigos, no passado. Quando ainda era um jovem adolescente, um príncipe que estudava para alcançar o posto digno de um rei.

— … E então… Quem começou a ser frio fui eu. Mas, mesmo quando comecei a me rebelar… Quando, no fundo, quis que ele visse atrás de mim, que tentasse entender… Ele não fez. Ele nunca… Tentou. E eu… Achei que era porque ele me odiava. Achei que… Meus esforços não eram o suficiente. Eu achei… Que ele tinha parado de me amar… Que não me olhava mais como filho, como seu orgulho…!

Edward não parava de chorar, e as palavras derramaram-se de seus lábios como uma enxurrada. Ele levou a mão aos cabelos e o puxou.

— Por quê? Por que fui tão cego? Como… Como pude dar as costas pra ele? Como… Por que… Eu não deixei meu orgulho de lado e tentei consertar as coisas…? Mesmo quando ele tentava ser legal comigo, quando sorria para todos e para mim… Eu… Achei que era uma mentira. Achei que estivesse usando uma máscara, assim como usava na frente de toda a corte, da realeza… Achei que o sorriso que mostrasse a mim, de vez em quando, era o mesmo que usava para falar com as pessoas… — os soluços se acumulavam — … E, no fundo, quando estávamos a sós, ele sempre ficava sério. Me repreendia, e nós discutíamos… E eu… Nunca… Consegui voltar atrás com nada. Eu tinha decidido me torna o rei ideal, me tornar a pessoa perfeita… Eu queria me tornar rei, não porque eu sonhava com a coroa, mas porque… Eu amava o meu pai…

— … Eu acho… Que ele nunca te odiou.

Lentamente, depois de ouvir aquelas palavras, Ryota começou a falar. A princípio, a resposta veio igualmente num murmúrio, mas recheada de cuidado.

— No fundo, mesmo que não parecesse, ele sempre te amou.

— … Você está mentindo.

Naquele segundo, Ryota se lembrou da primeira vez que viu Fanes. E, então, de sua reação ao vê-la como guardiã. Em seguida, a conversa em seu quarto.

Ela balançou a cabeça.

— Não estou. Eu acho que, no fundo, vocês dois… Apenas… Não encontraram espaço para se entenderem.

— … Mas… Eu tentei tanto…

— Não estou dizendo que não conversaram um com o outro. Estou dizendo que, mesmo assim, não foram capazes de abrir seus corações. 

Eram palavras difíceis, mas Ryota entendia o sentimento. E, por conhecer, tentava ser capaz de transmitir tal compreensão e a vontade de fazê-lo entender.

— Não acho que seja culpa de alguém… — ela acariciou seus cabelos e passou o dedo pelo rosto vermelho dele — … E, mesmo que fosse, não acho que isso seja importante. Acho que a parte que deveria se focar em entender não é a mentira, mas a origem dela. E, acima de tudo… — ela tocou acima de seu coração — … O sentimento que tinham um pelo outro.

— … Eu menti pra ele… E ele, para mim — Edward enxugou as lágrimas também, frustrado — Não está claro que ambos fomos… Estúpidos?

— Talvez. 

Edward fez uma careta de dor ao ouvir aquilo. Ryota, com as duas mãos, ergueu o rosto dele na direção do dela.

— Mas você o amava, certo? E eu acredito que seu pai também.

O príncipe abriu a boca para retrucar, mas ao encarar suas íris azuis, não conseguiu. Seus olhos se encheram de lágrimas novamente.

— Como pode ter tanta certeza?

Ela sorriu devagar.

— Quando se ama, você protege e preza pela outra pessoa. Você quer fazê-la te notar, fazê-la se preocupar com seu estado e receber sua atenção. No fundo, mesmo que a gente use uma máscara… Que a gente esconda essa fraqueza, esse é um sentimento igual para todos. Ainda que tentemos mostrar força, que queremos proteger quem amamos, ainda desejamos que esse sentimento seja recíproco. 

Ryota limpou as lágrimas dele, e percebeu que também começou a chorar.

— … E, ainda que seja difícil de entender… De entender a nós mesmos, e talvez aos outros… Talvez, no fundo, o que nos falte seja coragem. E eu acho que você teve essa coragem para ir atrás de entendê-lo.

— … Mas, não consegui…

— Eu desconfio que tenha conseguido, sim — os olhos da garota se tornaram ainda macios, e ela pegou as mãos do príncipe nas suas — … Quando conversei com Fanes no quarto, ele… Foi muito gentil. 

Ryota sentiu que contar tudo aquilo seria quase como revelar um segredo, então tentou ser sutil o bastante para respeitar ambos os lados.

— Eu senti que, quando conversamos… E, também, quando falou com ele, insistindo para que pudessem ser honestos um com o outro… Ele foi capaz de entender. 

Ryota apertou as mãos de Edward.

— … Mas… Eu não fui… Capaz de fazê-lo recuar em sua decisão… Ele… Nunca me olhou como filho de verdade… Ele… Talvez, realmente, apenas quisesse o trono…

Ryota suspeitava que fossem apenas desculpas ditas pelo monarca, mas percebeu que falar sobre suposições os fariam entrar na espiral de dúvidas.

— Edward, você é forte. Era uma pessoa um pouco fria e distante no começo, confesso. Mas, no fundo, você era… É gentil. Eu vi que passou a prezar pelos outros ao seu redor, e entendeu como se sentiam. E, ainda que diga que poderia ter sido tarde, esse sentimento alcançou Fanes. Eu sei que alcançou. Eu vi nos olhos dele.

Havia o desespero e o sentimento de hesitação. Havia também, no entanto, o de amor e a necessidade de seguir com uma ideia que talvez fosse absurda…

— … Mas, ainda que sejamos incapazes de compreender seus motivos, que não tenhamos a resposta dita nas palavras dele… Acho que, no fundo, ele sempre amou você e prezou pelo seu bem. Talvez a máscara que estivesse usando fosse difícil demais para ser retirada, e ele acabou se fundindo a ela? Bom, nem eu saberia dizer. Mas o que eu sei, e tenho certeza… É de que você não foi e não é uma falha. Nem como filho, ou como príncipe. E eu sei, como sua amiga e guardiã, que sempre colocou tudo de si pelos próprios objetivos. Eu vi, então sei do que estou falando — ela enxugou as lágrimas dele, mais uma vez — E, agora que sabe desses sentimentos, e que possui arrependimentos, você pode ser capaz de usar isso para seguir em frente.

— … Seguir? Como? Eu… Não tenho mais nada…

— Não é verdade — Ryota disse, e então olhou para trás — Você ainda tem uma irmã muito irritante para conhecer e amar. E, além disso, existe centenas de milhares de pessoas que precisam de você. As pessoas acreditam no seu potencial, e não apenas porque Fanes os fez acreditar… É porque, no fundo, ele também acreditava. Ou você acha que um pai que odiou seu filho falaria tão bem dele para os outros? 

— … Mas… Eu… — ele hesitou, baixando os ombros. As lágrimas foram limpas, mas parecia que seu ânimo ainda estava baixo — … Não sei se consigo.

— Consegue sim.

— … Não sei se posso acreditar nisso.

— Se não consegue acreditar em si mesmo, então acredite em mim — Ryota sorriu, lutando para manter os olhos dele nos dela — Você não está sozinho. Tem a mim, a Marie, o pessoal da corte, e… Bem, mesmo que eu não seja sua guardiã, com certeza encontrará alguém ideal para estar ao seu lado e te ouvir sempre que precisar.

Edward deu uma risada vaga.

— Eu bem que gostaria que fosse você.

Ryota devolveu o sorriso, igualmente sem graça. Mas aquele era um assunto que não poderiam prosseguir, pois ela havia dado sua resposta. Então, o príncipe inspirou fundo.

— Não sei por onde começar… Minha cabeça dói.

— Pra ser honesta, a minha também. Mas…

De repente, eles ouviram passos. E então, uma outra pessoa se lançou sobre eles, apertando o abraço. Era Marie, que de repente surgiu para se aproximar do irmão. Edward, completamente surpreso, arregalou os olhos para a menina.

— … M-Marie?

— … Você tá bem?

— Ah, sim — ele respondeu, meio sem jeito — E como você está?

— Um pouco cansada, mas viva — ela riu, e então colocou sua mão sobre a dos dois — Então, acabou?

Ryota franziu a testa.

— Não sei, mas quero ter certeza. Além disso — ela tocou no próprio pescoço — Ainda precisamos… Lidar com isso daqui. Tá queimando cada vez mais… E acho que meu chi tá acabando, também. Essa luta tomou tudo de mim.

— Eu também — suspirou o príncipe, fungando — Não acho que tenho mais forças… E suspeito que talvez, se não conseguirmos encontrar Albert o mais rápido possível, acabaremos perdendo a consciência.

Esse era um perigo que não poderiam passar.

Como se fosse um gatilho, a dor alucinante atingiu seus cérebros e ambos se encolheram.

— … O que acontece se não cumprirmos o contrato?

— Provavelmente… Perderemos a consciência e morreremos sem chi.

— Vai ser como uma pressão baixa mortal, hein?

Ryota fez uma brincadeira, mas estava suando por todos os cantos do corpo. Então, ela se colocou de pé, mas os joelhos tremiam tanto que quase se sentou de novo.

— Onde vai? — perguntou o príncipe, ainda um pouco tímido em passar o braço ao redor da irmã.

— Encontrar meu avô.

— Isso é loucura! Você não vai conseguir nesse estado, e ainda por cima sequer sabemos seu paradeiro!

Ryota ficou em silêncio, mas então voltou seu olhar para onde a última explosão havia ocorrido. Fora quase ao lado do palácio, em uma das ruas.

— Por alguma razão, eu sinto que sei por onde começar a procurar.

— Mas-

— E, além disso, eu preciso fazer isso. Quem precisa se encontrar com ele sou eu, e só assim vamos acabar com essa merda de uma vez por todas — ela estendeu a mão para Edward se erguer — Enquanto isso, eu quero que vocês dois descansem.

— O quê? Sem chance! — Marie imediatamente retrucou — Você não vai sozinha!

— Eu vou, e quero que fiquem aqui… Ou melhor, se quiserem conferir o estado das coisas lá embaixo, tudo bem. Mas eu vou atrás do vovô. Marie, cuide do Edward, ele não tá nada bem. Não deixa ele sair correndo, ou tentar pegar a espada.

A garota, após sentir a atenção da mais velha sobre ela, assentiu.

— Tá bom.

— Ei! Não me ignorem!

— E você — Ryota deu um peteleco na testa do príncipe, que havia se colocado de pé, apoiando-se em Marie — Recupera as energias um pouco e vê se aproveita esse tempo pra se aproximar da sua irmã, tá legal? A gente se vê daqui a pouco.

E, sem dar brecha para mais refutações, Ryota deu meia volta e começou a correr. Ela deu seu melhor para descer as escadarias e passar pelos corredores, deixando a dupla para trás. 

Vovô… Onde você está?

***

A uma pequena distância dali, em uma rua larga que abria passagem para uma pequena praça de pedras coloridas, estavam duas pessoas. Eram um homem e uma mulher.

O homem, que era mais velho e possuia uma postura exemplar, tinha cabelos brancos e olhos dourados. Era Albert, que encarava com uma expressão fria a pessoa do outro lado. Atrás de si, havia uma cratera criada após o ataque desferido por ela, que gerou um pequeno terremoto nos arredores. Foi um golpe disparado na pura emoção e que fez escombros se empilharem por perto. Albert, ao ver o estado do castelo, soltou um suspiro e deslizou suas íris cansadas para a mulher.

— Então… Você realmente deseja isso?

— Eu não estaria aqui por outra razão. 

Ela tragou seu cigarro e soltou a fumaça, olhando com ferocidade quando as raízes com espinhos que saiam do chão se embolaram em suas pernas como cobras, ganhando tamanho.

— Prometi que te mataria com minhas próprias mãos, afinal — assim declarou Gê, rangendo os dentes enquanto derrubava mais cinzas no chão.



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