Volume 8 – Arco 3
Capítulo 89: Conquista
Edward franziu a testa quando Fanes, após baixar a guarda e se mostrar surpreso, encarou o anel que estava em sua mão direita. Era uma espécie bastante simples, com apenas uma jóia acima dele. Você poderia encontrar vários semelhantes em qualquer bijouteria barata, não sendo necessariamente uma peça rara ou visualmente especial.
Ainda assim, quando o príncipe ergueu a espada e os olhos do monarca encontraram a jóia, sua máscara caiu. Atrás dela, revelou-se um rosto chocado e quase triste, que parecia mesclar vários sentimentos naqueles olhos de cor laranja.
— … Um dos cimélios? — murmurou Fanes, agora finalmente compreendendo a resposta do filho — Então, o presente dado por aquela moça…
A Cerimônia de Benesse era um evento obrigatório na semana de coroação do reino de Thaleia. Afinal, nele, toda a corte real precisava presentear o futuro rei com algum item que representaria não apenas a sua lealdade e conhecimento, mas também seria um símbolo da relação pacífica entre aquelas pessoas. Os chamados cimélios permaneciam guardados em segurança, outros eram usados conforme o tempo passava. De toda forma, não importava qual fosse o presente entregue — desde que ele fosse valorizado pela família real, estava bom.
Distraído ou não, Fanes não havia parado para ver o presente entregue por Sofia Megalos. Se tivesse visto, teria reconhecido aquela peça. Seria possível que fora proposital? Teria sido entregue de forma discreta, no momento exato em que não estava olhando, para que não pudesse interrogá-la a respeito daquele cimélio?
— Por que está tão chocado? — perguntou o príncipe.
— Este é-
— O anel de minha mãe. Eu sei.
Ele rapidamente cortou as palavras de Fanes e o monarca arregalou os olhos, amaciando-os logo em seguida.
— Então, é verdade… Mas, como…?
Edward franziu a testa e levou a mão com o anel para perto do rosto, abaixando a espada, também. Ele olhou para o acessório e baixou as sobrancelhas.
— Eu não sei como ela conseguiu encontrá-lo, mas mesmo tendo-o visto poucas vezes, poderia reconhecê-lo — disse o príncipe, erguendo a vista para o pai — Ele estava em sua posse, não é?
A surpresa do monarca lentamente se desmanchou em uma expressão de irritação.
— Você ficou surpreso porque, na verdade, estava escondendo ele de mim. Na verdade, esteve escondendo muitas coisas de mim, desde o início.
O tom acusador e triste na voz do príncipe era claro, e Fanes não ousou respondê-lo.
— Mais uma vez, optará pelo silêncio…
— Quer saber?
Edward havia abaixado a cabeça e lamentando a atitude do pai, mas rapidamente ergueu os olhos violeta ao ouvir suas palavras.
— Quer saber minhas verdadeiras intenções, mesmo sendo tão óbvias?
Qualquer um teria deduzido imediatamente todos os pensamentos que passaram pela cabeça do príncipe. Era natural que entendessem aquilo como uma traição, um ato de rebeldia e ganância. Mas, dentro do coração de Edward, havia uma resistência que lhe dizia para insistir. Que poderia haver muito mais por baixo dos panos do que realmente parecia.
Fanes, após um instante de silêncio, abaixou a cabeça. Em seguida, uma lenta e maldosa risada escapou de sua garganta, crescendo conforme o tempo. Abrindo os braços, como que se revelando, Fanes encarou o filho com as íris brilhantes e um sorriso largo.
— Estou atrás da coroa, obviamente! — declarou, apontando a espada na direção do outro — Pensei que seria mais esperto do que isso, primeiro filho.
— … Por que me chama assim?
— É o que você é, certo? O herdeiro da coroa, o primeiro filho e aquele que preciso me livrar para conseguir o trono.
As palavras e o sorriso ditas em tom teatral martelaram na mente de Edward e ele se viu com uma terrível dor de cabeça. Ele fechou os olhos e mastigou aquela informação amarga, expirando o ar de dentro de seus pulmões.
— Está bem.
Ainda que lhe doesse o coração acreditar e um pedaço dele relutasse pela verdade, a dor física não lhe deu a paciência necessária para arrancar-lhe mais palavras. Quando o olhava, percebia nitidamente que Fanes não estava disposto a abaixar a guarda de novo — muito pelo contrário: agora que a apatia fora substituída pela irritação, era quase como se as chances tivessem se tornado nulas.
Ao menos, essa foi a conclusão que, naquele momento, Edward chegou. Com a queimação atravessando sua carne, pele e raciocínio, incapaz de relutar contra aquilo por mais tempo, o príncipe ergueu Gore diante de si e avançou contra seu pai. A decisão de voltar ao combate pareceu agradar Fanes, que relaxou os músculos do rosto para se concentrar.
Mais uma vez, as duas espadas se chocaram. As lâminas deslizam uma sobre a outra, e a arte de manejo revelou-se através de seus movimentos. Entretanto, Edward parecia ter se decidido, colocando mais força e atenção nas defesas e ataques de seu adversário.
Ainda que o pescoço ardesse como brasa ao ponto de disparar descargas elétricas ao cérebro, ainda que as emoções borbulhassem em seu coração, que as lágrimas quisessem escapar mais uma vez por seus olhos e o aperto em sua garganta quase o sufocasse, o príncipe colocou tudo de si naquele pequeno embate. Empurrou braço contra braço e deslizou os ataques de seu pai, deslizou os cortes no ar e desviou.
Mas, dessa vez, não recuou.
Enquanto uma espada comum era relativamente resistente, a potência geral de Gore, uma arma branca especial, era naturalmente superior. Dito isso, ao unir-se com as habilidades excepcionais de Edward, que velozmente girou a lâmina ao redor da espada adversária, tomando-a para si de uma única vez, rapidamente a luta encerrou.
Gore era infinitamente mais pesada do que a outra espada. Edward não era um espadachim habilidoso o bastante para manejar duas de uma vez, e também não desejava lançar para longe ao ponto de permitir que Fanes a tomasse novamente.
Por isso, fincou-a no chão, deixando-a na posição perfeita para cortá-la exatamente na guarda. A lâmina arrancada permaneceu ali, mas o cabo caiu no solo.
Com isso, ele não será capaz de manejá-la contra mim novamente.
A capacidade de trazer o fim de outra espada com apenas um corte liso, perfeito, não era algo que qualquer um poderia fazer. Não era uma habilidade relacionada ao príncipe, e sim ao próprio poder de Gore. Fanes, observando aquilo sem mover um único dedo, apenas abaixou os ombros. Seu sorriso lentamente se desfez.
— Acabou, pai. Renda-se agora e não precisarei machucá-lo.
— Me render? E o que pensa que vai fazer comigo? Acha que convencerá os outros de que sou um traidor? — um sorriso sarcástico se abriu em seu rosto, os olhos se apertaram com cinismo — Na palavra de quem acha que todos deste reino acreditarão? Em mim, seu doce e amado rei, ou em você, um príncipe que se escondeu dentro do próprio palácio por dezoito anos?
Edward estalou a língua. Aquele era um ponto inegável, e mesmo ele era capaz de entender para onde aquela conversa estava indo. Não importava o que acontecesse, se ninguém pudesse testemunhar os atos e palavras do rei, jamais acreditariam nas acusações feitas.
Fanes era adorado pelas pessoas. Ele ajudou o povo e prometeu esperança. Carregava nos ombros um fardo muito maior do que poderia ser imaginado, e seu carisma sempre venceria em qualquer que fosse o meio.
— Por isso, primeiro filho, quem precisa se render não sou eu…
Fanes levou a mão direita para perto do peito.
Edward entrou em guarda.
— … E sim, você.
O monarca retirou, de dentro da roupa, um item delicado que combinava perfeitamente com ele. Era um leque… Que, ao ser aberto e balançado, lançou uma ventania brutal pelo ambiente. O príncipe, como que ciente da ameaça, se protegeu do ataque, mas não conseguiu conter o próprio corpo de se afastar do monarca, voltando para perto da entrada.
Edward abaixou Gore e sentiu a ardência crescer, mas algo escorrer de seu rosto. Ao passar os dedos, percebeu que um pequeno corte fora feito em sua bochecha — e, como esperado, não apenas doía, como corroía todo o seu rosto. A queimação da marca do voto violou os limites e, mais uma vez, as sensações se tornaram insuportáveis.
Vendo-o passar por aquilo, ao invés de se perguntar a respeito da reação exagerada a um simples corte, Fanes apenas piscou em silêncio.
— Eu nunca fui bom em usar espadas — confessou ele, com um sorriso gracioso — Elas são pesadas e difíceis de manejar.
Como que refletindo isso, o monarca olhou para a palma esquerda. Ela era lisa e delicada.
— Foi por isso que optei por usar essas coisinhas, que são mais leves e fáceis — após retirar um segundo leque da roupa, Fanes adocicou o tom de voz para o conhecido aos ouvidos de Edward — Mas igualmente perigosos.
O príncipe, contendo-se, ergueu o rosto e ouviu-o falar. Fanes estava, constantemente, mudando seus trejeitos e postura, a face mudando de emoções com uma frequência grande o bastante para incomodá-lo. Normalmente, aquele homem sempre estaria sorrindo, falando coisas bobas e rindo. Às vezes, no entanto, podia ser bastante sábio e gentil. Era uma pessoa fácil de se lidar, mas que poderia ser perigosa se subestimada.
Agora, Fanes portou uma máscara de neutralidade que foi destruída imediatamente ao ver o anel de Teresa. Em seguida, a irritação, unida ao tom teatral de seus movimentos e palavras, moldou suas ações. E, agora, ali estava ele, mostrando-lhe mais uma vez a sua personalidade “casual”.
Alguma daquelas pessoas era o verdadeiro Fanes? O quanto ele esteve mentindo ao longo de todos aqueles anos? Não houve um único momento entre eles que tenha sido verdadeiro? Que ambos puderam se entender, ou compartilhar um sentimento de compreensão?
Edward jamais seria capaz de orgulhar seu pai?
Seus esforços foram realmente em vão?
Se tudo aquilo foi em vão, por que continuar tentando? Pelo reino? Mas tudo aquilo não era uma desculpa, apenas uma consequência do seu destino de ser rei? Sua vontade não foi sempre ser reconhecido por aquele homem diante de si?
— Mais uma vez, você está se distraindo.
Pontuando aquilo com irritação, a expressão de Fanes se tornou vazia e ele fechou os dois leques. Então, parado, rasgou o ar com aquele que segurava na mão direita.
— Urgh!
Edward soltou um gemido de dor quando foi acertado nos dedos e Gore voou, parando à distância. Ela deslizou pelo chão e bateu contra a parede. Sangue escorreu por sua palma e o calor aumentou, queimando seu cérebro em dor e choques que atravessavam seu corpo. O ligeiro ferimento criado à distância pelo monarca foi um corte que atravessou cada um de seus dedos, impedindo-o de continuar segurando a espada.
— Lento, distraído e fraco — suspirou Fanes, balançando a cabeça — Esse era o homem que se tornaria rei? Se isso é tudo o que tem a me oferecer, primeiro filho… Estou decepcionado.
Edward arregalou os olhos, ainda encarando a mão ferida.
Ele escutou quando um movimento aconteceu no ar, como se Fanes realizasse o mesmo golpe novamente.
Aguardou que o ataque chegasse, que a queimadura atravessasse seu corpo mais uma vez e a descarga de emoções destruísse seu coração de uma vez.
Ele era fraco, falho e facilmente manipulável. Desde o início, será que a sua própria máscara fria que afastava os outros não era apenas um reflexo de sua incapacidade de se aproximar dos outros? De tentar entender o que se passava na mente e coração daqueles que estavam ao seu redor?
Se eu, que passei dezoito anos ao lado dele, não fui capaz de entender suas verdadeiras intenções… Se não fui capaz de conquistar sua confiança, mesmo depois de tudo… Como poderia fazer o mesmo com o meu povo? Eu… Não sou digno de ser rei.
Foi incapaz de entender o coração de Fanes e ele se rebelou.
Foi incapaz de se aproximar de Ryota e ajudá-la, mesmo com ela se esforçando tanto por ele.
Foi incapaz de conquistar a confiança da corte e das pessoas ao longo dos anos, mesmo não tendo o direito de sair do palácio.
Ele se fechou em seu próprio casulo e convenceu-se de que era suficiente — mas, na verdade…
Por que estou fazendo isso, afinal? Por que eu queria a coroa? Eu sequer… Fui capaz de conquistar o coração de meu próprio pai… Como poderia fazer o mesmo, e até mais, por desconhecidos?
Fechou os olhos e assim refletiu. Mas, então, o espaço se contorceu e seu estômago balançou. Era uma sensação conhecida, de uma habilidade que não estava acostumado a usar. Uma técnica que jamais se esforçou para ele mesmo aperfeiçoar, pois não acreditava ser necessário. Portanto, mesmo quando os demais tinham seu cérebro e estômagos revirados, ele passava pelo mesmo com a falta de experiência e controle.
Em geral, Edward era uma pessoa resistente, mas usar seu teleporte exigia bem mais dele que qualquer outra coisa. E, dentro daquele contexto, considerando que sequer conseguia segurar Gore sem ceder os joelhos, apostar na habilidade secreta que não possuia controle era quase como se entregar. Porém, quando aquilo aconteceu e ele surgiu logo ao lado da espada, seus pelos se eriçaram.
Mas, mais estranho que o enjôo violento que socou seu estômago e o fez conter um arroto, foi a mão que segurava a sua esquerda. Era pequena, mas quente, e transferia confiança.
Era uma menina com cabelos loiros e faixa nos olhos que sorriu nervosamente para ele quando sentiu sua atenção nela.
— … Você é…
— Já faz um tempo, né? — cumprimentou Marie, a voz um pouco trêmula e as bochechas avermelhadas. Ela deslizou sua “visão” para as mãos unidas — Acho que vai ficar seguro agora. Você parecia bem abalado… Meio fraco… E aí, ela decidiu tomar o seu lugar.
Foi só naquele instante que percebeu a presença da garota parada diante de Fanes. Quando o ataque — uma lâmina de vento — foi desferida, a palma da mão que brilhava em amarelo, quase lava, se ergueu e impediu que prosseguisse. O corte a acertou, mas nenhum ferimento apareceu. Foi como se derretesse e desaparecesse.
— Então, você finalmente chegou.
— Há, mas é claro! Uma guardiã precisa ficar ao lado do seu mestre, né? — sorriu Ryota para o monarca, franzindo um pouco a testa antes de desfazer a expressão leve — Eu só queria entender o que tá rolando aqui, pra começo de papo.
Fanes se calou.
— Onde está Miura? — mudou ele o rumo da conversa.
— Digamos que está em maus lençóis — brincou ela com um sorriso.
Ryota não sabia o estado de Sora agora, mas tinha certeza de que apenas ele seria capaz de pará-lo. Ela desconhecia os conflitos familiares que os envolviam, mas sabia que mesmo os gêmeos tinham seus próprios problemas para resolver com ele. De toda forma, ela decidiu apenas confiar no amigo e deixar aquela situação em suas mãos.
E foi por saber das capacidades de Sora que assim respondeu com tanta convicção para Fanes, botando as mãos na cintura.
Os olhos azuis dela deslizaram para onde o príncipe estava, e eles se encararam. Ryota conseguiu ver, mesmo à distância, que a expressão dele era de abalo. Uma das mãos sangrava um pouco e sua espada estava jogada logo ao lado.
Ryota não era capaz de conversar silenciosamente com ele como fazia com Zero — afinal, isso só era possível graças à proximidade de anos entre eles. Entretanto, como ela estava acostumada a notar as diferenças nas expressões do príncipe, percebeu que havia algo de errado. Não era apenas dor que estava contida por trás das rugas, mas algo maior.
— … O que foi que você disse a ele? — perguntou, em tom ameaçador, unindo as sobrancelhas.
Fanes abriu um dos leques e se abanou.
— Nada.
— Mentiroso.
O monarca ergueu os ombros, como que reforçando suas palavras.
— … Eu devo estar repetindo palavras aqui, mas… Por quê? Eu… De verdade… Achei que fosse uma boa pessoa.
Ele se calou mais uma vez, mas não parou de se abanar.
— Esquece, Ryota. Ele não vai responder.
Não vai…?
A garota olhou de Edward, que estava visivelmente abatido e sentindo dor, para Fanes, que desviava o olhar para as janelas ao redor deles. A luz do sol atravessava as vidraças e os alcançava, iluminando os arredores e seus corpos.
Ryota apertou os lábios com amargura, e o mordeu.
— Não tira com a minha cara!
Ela ergueu a voz de repente, fazendo-a ecoar pelo espaço, assustando a todos. Até então, eles haviam conversado pacificamente, sem gritar. Porém, ao ouvi-la, todos se concentraram na garota que segurou o tecido da roupa cerimonial bem acima do peito, como se sofresse. Sua expressão se contorceu e ela curvou os ombros, apontando o dedo indicador para o monarca.
— Você vai dizer o que tá pensando, entendeu?! E nem vem com essa desculpa de merda! Não quero saber!
Em outra circunstância, apontar o dedo e xingar o rei daquela forma poderia ter sido uma sentença de morte. Se Miura estivesse ali, certamente a puniria. Porém, naquele instante, nada daquilo importava.
Para Ryota, ouvir de alguém que não contaria a verdade para alguém que desejava saber por puro egoísmo, por achar alguma coisa… Era imperdoável.
— Isso não lhe diz respeito — retrucou Fanes após conter a surpresa.
— É claro que diz! Eu sou a guardiã do futuro rei, e por isso não posso deixar essa baixaria passar, entendeu?
— Cale-se — ordenou Fanes.
— Cala a boca você! Ou melhor, começa a falar agora! Eu não vou aceitar isso… Não vou!
E assim, recusando-se a ouvi-lo, a garota começou a marchar na direção de Fanes. Vendo a tensão crescer, o corpo de Edward enrijeceu e ele tentou se colocar de pé, mas seus joelhos cederam e não conseguiu.
— …Argh! — a sensação do calor atingiu seu pescoço com força e, de repente, sua mente apagou. Como se desmaiasse por meio segundo, ele abriu os olhos e perdeu o foco da situação.
— Fica parado! Você tá queimando em febre! O que tá acontecendo, afinal? — refletiu Marie, preocupada ao ver o rapaz se contorcer ao seu lado, apertando ainda mais a sua pequena mão. Ela a apertou de volta.
Ryota, ouvindo aquilo, mas sem se virar, sentiu o calor crescer em si também. Seu pescoço ardeu e doeu, mas não na mesma intensidade que a do príncipe.
— Por que se importa? — Fanes franziu a testa, tentando ignorar os resmungos do príncipe — Você sequer é uma guardiã de verdade.
— E daí?! O que tem de errado em tentar ajudar um amigo? E você… Essa sua atitude… Me irrita!
Fanes não era capaz de entender a origem de seus sentimentos tão raivosos, que a faziam perder a noção do perigo e se aproximar a passos velozes. Porém, percebeu que estava falando sério.
— Me escuta, Fanes — disse ela, agora baixando o tom — Por que não fala nada? Você sabe que tá apenas criando um ciclo de desilusão, não sabe? Não tá vendo que as suas palavras machucaram o Edward? Não tá vendo que ele tá sofrendo por sua causa?
— Cale-se.
— Se você tivesse contado tudo pra ele desde o começo, as coisas teriam sido diferentes. Se você tivesse tentado ser mais claro sobre a verdade… Sobre as coisas que aconteceram, sobre o que você tá sentindo agora… Nada disso teria acontecido!
— … Cale-se.
— Não tá vendo? Ele tá chorando na sua frente, se contorcendo de dor! Não viu que, ao longo dessa semana, ele se esforçou pra caramba? Por que acha que ele se impôs e enfrentou os próprios medos? Não percebeu que ele mudou tanto? Nunca percebeu que ele jamais demonstrou nenhum outro sentimento perto de você que não fosse nervosismo e ansiedade? Isso tudo era porque… — Ryota apertou ainda mais o tecido perto do peito — … Ele se importa com você! Ele só queria que você… Que vocês-
— Cale-se!
Edward escutou o berro e, então, ouviu um barulho alto que reverberou em seu cérebro. Ele sentiu a terra tremer e poeira se erguer quando o monarca brandiu o leque que o abanava contra a garota que havia se aproximado, lançando-a tão rapidamente para longe que seus olhos nem puderam acompanhar.
O corpo de Ryota atravessou a entrada pela parede… E mais outra, e mais outra, até o som sumir. Edward paralisou e o som desapareceu de seu mundo. A dor em seu corpo sumiu, e de repente voltou com tamanha força que o fez gritar em desespero — porque ele queimava internamente, mas também porque seu coração foi esmagado por tamanha crueldade cometida pelo próprio pai.