Volume 7 – Arco 3
Capítulo 80: Buscando Conhecimento
— Certo, isso será o bastante — disse Edward para si mesmo, assentindo com a cabeça.
Segurando com as mãos aquilo que viera de tão longe buscar, sentiu que a incerteza dentro de seu coração se desfez. Enquanto o embate ocorria do lado externo do palácio, o príncipe correu, como pedido por seu pai, para se preparar para lutar. E, para isso, ele jamais poderia deixar de lado sua espada. Portanto, chegou até seus aposentos, onde trocou aquelas roupas cerimoniais que apenas incomodavam e sacou sua arma.
A espada que Edward retirou de um case preto escondido atrás de sua cama foi aberta acima do colchão, revelando uma bela espada. Era um modelo simples, entretanto, o que mais chamava a atenção eram suas cores fortes. A lâmina possuía um tom cinza claro afiado, a bainha era azul como o mar e seus ornamentos eram dourados. As cores da realeza se destacavam em seus menores detalhes, como se tivesse sido feita exclusivamente para ela.
E, em verdade, realmente fora. Afinal, aquela era a espada passada de geração em geração entre a família Fiore, que outrora fora de seu pai e agora lhe pertencia. Segurando-a com a mão, o príncipe retirou a espada da case e a olhou por um instante, antes de guardá-la silenciosamente na bainha e prendê-la ao corpo.
Agora que estava completamente pronto, começou a rumar para fora de seu cômodo. Àquela altura, o combate na capital havia se acirrado e pessoas poderiam estar sofrendo, então sentiu que deveria chegar o mais rápido possível. Entretanto, sua marcha firme foi interrompida quando passou diante de sua escrivaninha e ele desceu as íris roxas para o que estava em cima dela.
Haviam papéis, canetas, alguns livros, acessórios pessoais… E uma pequena caixinha do tamanho de uma palma. Por alguma razão, Edward não conseguiu simplesmente continuar andando e, como se fosse guiado, aproximou-se para abri-la. O que se revelou por baixo do tecido preto foi um anel relativamente simples com uma jóia brilhante em cima. Para os padrões da realeza, era realmente algo simbólico.
— O presente da dona Sofia… — murmurou ele para si mesmo, franzindo a testa — Por alguma razão, sinto que devo levá-lo comigo.
Edward retirou o anel da caixinha e o colocou no dedo anelar direito, devolvendo a caixa para a escrivaninha.
— Ah, é mesmo.
Enquanto saía do quarto às pressas, sequer fechando a porta atrás de si, o príncipe falou sozinho mais uma vez enquanto se lembrava de algo. Ele, que rumava para os andares inferiores, virou uma curva e decidiu seguir por outra trajetória.
Com essas roupas, não conseguiremos lutar. Preciso pegar a muda da Ryota, também.
Ele assim pensou, esperando que pudessem se reencontrar em breve. A garota, que havia se sacrificado para que o príncipe continuasse a proteger o palácio, colocou toda a sua determinação e força na segurança daquele a quem jurou lealdade como mestre. Ainda que fossem trabalhar juntos daquela forma por apenas mais algumas horas, ele ficava realmente feliz de tê-la ao seu lado. E foi justamente por isso que, quando um pedaço do castelo cedeu e pedaços começaram a ruir, sua preocupação com o estado de saúde dela foi à mil.
Eu preciso confiar nela. Sei que ela é capaz de se virar sozinha sem mim.
Ao pensar na jovem, um calor que chegava a queimar atingiu seu pescoço com um rompante. Foi simplesmente instantâneo, e seus passos diminuíram de ritmo. Foi uma pontada muito mais poderosa do que a anterior, quase como se levasse ferro quente à nuca e sentisse aquela dor por alguns segundos antes de se recuperar. Suor escorreu por seu rosto e ele torceu a expressão, mas continuou seguindo em frente.
As consequências da nossa negligência com o voto estão ficando cada vez mais poderosas. Quanto tempo será que temos para resolver essa questão?
Se Edward bem se recordava, quando haviam firmado o voto, há uma semana atrás, eles conversaram durante o início da tarde. Naquele instante, passava-se do meio dia para às uma. Ele não se recordava exatamente do horário em que ocorreu, mas estava certo de que o momento se aproximava. Eles não tinham muito mais tempo a perder.
E, com tudo isso acontecendo, sequer pudemos pensar em um plano para procurar o senhor Albert…
Enquanto as circunstâncias para a interrupção da coroação não fossem compreendidas e resolvidas, era impossível para eles correrem atrás de tal preocupação. Albert estava desaparecido. A corte real saira do evento para proteger os civis — e, aparentemente, enfrentavam monstruosidades do lado de fora. Pessoas deviam estar morrendo e pedindo por socorro naquele exato instante. Ryota e os demais lutavam lá embaixo, então ele deveria se esforçar também.
Mas o que é que vou fazer, afinal?
Desconheciam a origem da ameaça e sair do palácio àquela altura era como se entregar ao inimigo. Era certo que aqueles que invadiram desejavam sua morte. Ou, pelo menos, exigiam que Edward não fosse coroado como rei. E, para isso, usavam-se de meios cruéis para ameaçá-lo. O príncipe praguejou ao perceber isso.
Essas pessoas sequer se pronunciaram a respeito ou fizeram exigências para que pudéssemos entendê-los! O que querem que façamos, afinal?!
O andamento da situação não era nada favorável. Com ameaças fatais circulando pela cidade e a fuga dos prisioneiros, era difícil para ele ser capaz de entender suas intenções.
Acalme-se, Edward. Pense, pense.
Percebendo que sua mente estava sendo afetada pelo desespero, o rapaz decidiu fechar os olhos e respirar fundo. Ainda que sua marcha permanecesse e a dor alastrasse em seu pescoço, ele alcançou o quarto de Ryota e entrou. Lá, vasculhou por suas roupas casuais e as encontrou, colocando-as dentro de uma batida mochila amarela em cima de uma cadeira.
Impediram a coroação no último instante. Separaram a corte do palácio e os estão mantendo na cidade, ocupados com os civis. Aparentemente, a taxa de mortes está crescendo. Por uma razão desconhecida, liberaram os prisioneiros das celas ao lado da Sede dos Cavaleiros e a guarda real está dividida demais para se concentrar na proteção do palácio. Desconhecemos os responsáveis pelo ataque, e também-
Quando Edward estava prestes a sair do cômodo, ele estagnou seus passos e seus olhos se arregalaram.
Não, espere… Eu os conheço.
Sua mente vagou para o passado, um pouco antes de ter corrido. Quando seu pai e Miura ainda estavam ao seu lado, eles haviam mencionado algo bastante importante.
Como era mesmo o nome? Ritus… Ritus Valorem? Sim, isso mesmo. Esse era o nome usado por eles. Então, eles conhecem os responsáveis por esse ataque?
Ele cruzou os braços e assim pensou, ainda seguindo para os andares inferiores. Era, certamente, o nome de algum tipo de organização. Entretanto, ele nunca havia sequer ouvido falar a respeito deles. Edward era um príncipe com bastante conhecimento, mas mesmo ele tinha seus próprios limites quanto a tais informações. Como uma pessoa que nunca pesquisou tão profundamente a respeito das Entidades e apenas se limitou aos conhecimentos comuns, não tinha como ele saber a respeito de quem eram.
Apenas aqueles que realmente se dedicavam a encontrar o máximo de informações possíveis a respeito deles encontravam seus nomes mencionados aqui e ali. A Ritus Valorem era um grupo de pessoas que seguia uma espécie de crença distorcida, com origem e objetivo desconhecidos. Desconhecia-se seus membros, entretanto, sabia-se que seus meios eram sujos e cruéis.
Entidades eram seres superiores a qualquer outra raça existente. Eles sequer eram considerados humanos, por mais que se assemelhassem a eles. O que os diferenciava estava diretamente conectado às suas formas de agir e pensar, completamente incompreensíveis para qualquer um que tentasse. Na realidade, se você tivesse a oportunidade de conversar com uma Entidade, talvez sequer fosse capaz.
De toda forma, Edward, ao contrário de outras pessoas como Fuyuki, nunca procurou saber demasiadamente sobre as Entidades. Portanto, desconhecia aquele grupo cultista. Porém, ele sabia que seu pai estava ciente de sua origem e, possivelmente, a razão de terem ido até ali.
Ainda desconheço as intenções da Ritus Valorem, mas estou certo de que meu pai saberá… E, quando perguntar a ele, também o interrogarei a respeito do que mais ele sabe e nunca me contou.
A existência de um grupo que era contra a coroação deveria ter sido um conhecimento comum entre eles. Entretanto, ele sequer ouvira alguém mencionar a respeito. Se estava sendo negligenciado bem debaixo de seu próprio nariz, mesmo quando estava prestes a ser coroado…
Eu vou descobrir a verdade.
Edward inspirou fundo quando sentiu a marca em seu pescoço queimar, mas ignorou-a.
Agora que todos estão se esforçando para protegerem os civis e o palácio, consigo presumir que a corte e a guarda devem estar guiando todos para os bunkers. Com certeza, as celas serem abertas foi uma surpresa, mas acredito que devem conseguir deter pelo menos alguns prisioneiros e interrogá-los a respeito do que sabem e como foram soltos. Desconhecemos a origem das criaturas que rondam a cidade, mas quando a corte retornar, certamente conseguiremos entender melhor a respeito.
Ele refletiu em seus pensamentos a respeito da melhor visão possível das coisas que aconteciam na cidade. Como uma mente criada para entender circunstâncias difíceis, ele trabalhou internamente.
Sair do palácio seria o mesmo que entregar à Ritus Valorem aquilo que desejam. No mínimo, se a coroação e o indício de que não desejam minha posse for parte de seu objetivo, não devo me deixar levar pela vontade de proteger meu povo.
Ainda que brandir sua espada fosse um desejo do coroação, colocar-se à mostra poderia fazer os inimigos usarem os outros ou até ele mesmo como moeda de negociação para conseguirem o que quiserem. Embora eles ainda não tenham feito isso, Edward pressupôs que fosse uma possibilidade.
Em contrapartida, se seu objetivo não estiver relacionado a mim e interromper a coroação foi meramente uma forma de chamar nossa atenção para outra possibilidade, ignorando suas verdadeiras intenções… Faria sentido. Afinal, por que eles libertariam prisioneiros, em primeiro lugar?
Com certeza, haveriam pessoas que eram contra sua posse — por preferirem Fanes ou simplesmente odiarem a realeza. Entretanto, ele sabia, mais do que ninguém, que o retorno de um Fiore ao trono era desejado por todos. A tradição precisava ser mantida e honrada, e o próprio povo estava ciente disso.
Se seu objetivo fosse apenas impedir minha coroação, eles poderiam usar a segurança de Hera como moeda de troca. A vida de meu povo equivale ao meu reino, perdê-los seria perder minha coroa.
Era um pensamento simples de se entender. Portanto, para Edward, ainda era tudo muito ambíguo e as circunstâncias não colaboravam para que pudesse chegar a uma conclusão certeira.
De toda forma, preciso retornar ao meu pai e perguntar-lhe a respeito da Ritus Valorem. Dessa forma, conseguiremos pensar em um plano para impedi-los… E também serei capaz de compreender a razão de possuir tal conhecimento.
E, com essa determinação em mente, o príncipe seguiu em disparada pelos corredores.
***
Um rastro de luz rasgou o ar quando as facas kukri chocaram-se com a espada cimitarra, causando um estrondo que sacudiu o ambiente. No corredor preenchido por figuras encapuzadas que empunhavam armas brancas comuns, o assassino enfrentava uma multidão de adversários.
Os cacos de vidro no chão se espalhavam conforme Sora dançava entre o grupo que partia para cima dele empunhando suas espadas, visando acertá-lo. Entretanto, com suas habilidades e velocidade fora do comum, nenhum dos golpes o acertou. Seus pés deslizaram pelo solo do corredor, permitindo que os ataques passassem direto por ele.
Àqueles que chegavam o mais próximo possível, um movimento de braço desferia um acerto certeiro nos peitorais, joelhos e queixo dos adversários, a palma voltada para cima criava um impulso capaz de fazer seus corpos voarem para longe. Certamente, era tão doloroso quanto parecia. Mas as pessoas — não, os aprosopos — sequer demonstraram sinais de dor ou frustração por seus ataques estarem sendo repelidos. Tais como seres sem alma, quase como zumbis que apenas seguiam ordens antes de serem rapidamente repelidos, seus corpos apenas voavam para longe.
Uma vez que os golpes foram usados com a intenção de machucar, os aprosopos, mesmo depois de terem sido lançados para longe, levantavam-se, pegavam suas espadas e novamente se reuniam ao redor do assassino. A intenção não era machucá-lo, mas cansá-lo e impedir sua movimentação. Sora estalou a língua ao ver que havia sido cercado novamente.
Um pouco antes, conseguira avançar e chocar suas lâminas com aquele que parecia o líder daqueles corpos sem vida, mas pouco depois necessitou desviar dos ataques conseguintes.
— Que desperdício de energia — observou o mascarado principal. Seus olhos escuros claros pareceram se afinar por trás da máscara. O porte de soldado o fazia manter a postura ereta e as mãos atrás das costas — Por que não os mata, Akai? Não seria essa a sua especialidade?
Sora não ficou surpreso que ele tivesse reconhecido suas origens, e sequer se deu ao trabalho de entender a razão de suas dúvidas. Até então, o assassino apenas desferira golpes que faziam os seres ao redor se afastarem.
— Por que deseja que eu os mate?
— O senhor interpretou errado minhas palavras. Estou apenas lhe fazendo uma pergunta pertinente. Afinal, um Akai nasceu para tirar vidas, mas estou vendo que evita fazê-lo.
Trocaram palavras duras e frias, e o Akai percebeu que aquele homem estava realmente apenas curioso a respeito. Não era como se ansiasse por algo que viesse a acontecer quando matasse aqueles aprosopos que continuavam a rodeá-lo, mas apenas estava interessado em suas atitudes.
— Eu luto como quero, apenas cale sua boca.
Tal foi a resposta ríspida de Sora, afinando os olhos vermelhos na direção do loiro. À isso, o homem baixou os ombros com um suspiro discreto.
— Havia me esquecido de os Akai sempre foram amargurados — observou ele, se referindo à forma de agir e falar. Ainda que ambos usassem tonalidades formais, era Sora aquele que parecia atirar facas com as palavras — Diga-me, rapaz: Como anda o senhor Shin?
— … Por que eu deveria responder sua pergunta?
— Estou apenas curioso com o estado de um velho amigo — respondeu ele, simplesmente — Pelo seu comportamento, vejo que aquele senhor ainda continua firme em sua longa vida.
O mascarado abriu um sorriso, como quem relembrava de uma memória agradável. Sora sentiu um arrepio percorrer sua espinha, desagradado com a vista e fechou a cara.
— Está interessado?
Sora não respondeu a pergunta do homem e apenas o encarou de volta, apertando as facas kukri em suas mãos.
— No passado, eu e o senhor Shin trabalhamos lado a lado. Sabe, o seu avô sempre foi um homem honrado, ainda que seus meios fossem bárbaros. Com certeza, a essa altura, vocês todos sabem a que me refiro — ele abriu outro sorriso, porém um pouco menor e que parecia indicar algum sentimento desconhecido ao assassino — Sempre me perguntei se, algum dia, ele seria capaz de reconhecer o sangue que mancha suas mãos.
O loiro, em reflexo, ergueu as duas palmas de suas mãos e as observou.
— Como um guerreiro, eu o respeitava. Entretanto, jamais pude deixar de desejar que fosse capaz de enxergar um pouco melhor os seus arredores.
— … Diga-me seu nome.
Sora, abaixando as facas kukri ao perceber que os aprosopos pararam de atacar — e, também, porque algo dentro dele o incomodava — fez aquele pedido em voz baixa. Sua expressão ainda era séria, mas havia curiosidade em seus olhos vazios.
O sorriso ainda permanecia em seus lábios quando ele respondeu:
— Me chame de Roger.
— Então, você não é um aprosopo.
Sora fez aquela afirmação ao perceber que havia uma clara diferença entre ele e os demais. Não havia necessidade de uma pergunta para aquilo ser confirmado.
— Sou apenas um intermediário.
— Intermediário entre o quê?
Roger sorriu para as perguntas do rapaz.
— Como deve ter percebido, o meu trabalho aqui é bastante simples.
Ele abriu os braços, como que tomando todo o espaço ao seu redor.
Era um sinal de que sua tarefa era impedi-los de chegar adiante. Ou seja, de seguir na direção de onde Miura, Fanes e Edward estavam. Isso significava apenas uma coisa…
— … Então, não possuo escolha.
Sora decapitou o aprosopo que se aproximou às suas costas e ergueu os olhos vermelhos faiscantes para Roger.
— Ainda que possua conhecimento demais a respeito de nossa família e possivelmente seja um conhecido antigo de nosso patriarca, não posso permitir que continue em meu caminho.
Os dois se encararam.
— Mate-me, se puder — desafiou o mascarado.
E esse foi o estopim para que o combate iniciasse novamente.
Sora avançou como um raio na direção de Roger. O homem, que estava atrás de todos os encapuzados, apenas aguardava com sua espada na cintura sua chegada. As facas kukri dançaram no ar como se fizessem parte de seu corpo, e fincaram-se sem dó nos aprosopos que se aproximaram. Cabeças rolaram, braços e pernas caíram no chão e corpos perfurados brutalmente sumiam de sua vista. O sangue quente, comum à pele do assassino, banhou suas mãos e rosto.
Aqueles que antes foram humanos caíram aos seus pés e foram pisoteados para que dessem passagem. Sora matou todos aqueles que se aproximavam como se fosse um ato tão simples quanto respirar. Quando as facas kukri rasgavam um pescoço e atravessavam o coração de outro, Sora largava suas armas e perfurava o peito de alguém às suas costas, matando-lhe instantaneamente.
O braço que entrou e saiu do corpo adversário moveu-se rapidamente e deixando rastros de sangue e morte em seu caminho. Sora pegou novamente suas facas kukri — Castor e Pollux — pintaram o chão de vermelho e corpos começaram a se empilhar. Cadáveres ficavam para trás conforme o assassino prosseguia, saltando pelas paredes para tentar atravessá-los. Mas eram muitos, quase infinitos. E não era que os que foram mortos se levantavam, mas parecia que cada vez mais surgiam aprosopos em seu caminho.
Se o objetivo era cansá-lo, Roger estava sendo ingênuo.
O hobby de Sora era matar. Ainda que fizesse aquilo o dia todo, não seria o suficiente para cansá-lo. E com aqueles seres que sequer eram uma ameaça para ele, sua performance apenas melhorava com o tempo. Parecia que quanto mais sangue espirrava em seu rosto e mãos, melhor e mais cruel suas matanças se tornavam.
Enquanto Kanami era direta e lisa em seus ataques, matando seus adversários sem deixá-los entender o que acontecia, Sora era o oposto. Ele fazia questão de acertar os inimigos de forma que os fizessem morrer com tamanho choque ou dor. Alguns caíam no chão, sangrando e em agonia. Como duas faces diferentes da mesma moeda, os irmãos Akai se completavam.
Kanami era doce e sensível, portanto apenas tirava vidas da forma menos dolorosa.
Sora era cruel e frio, portanto apenas tirava vidas da forma mais dolorosa.
Era algo natural daqueles dois irmãos que foram criados para matar. Mas, segundo a família, relacionamentos bons eram repudiados. Eles não deveriam se ver como nada além de ferramentas descartáveis. Se um ficasse para trás, não teria mais volta. Não havia permissão para estenderem a mão ou ajudarem aqueles que precisavam de ajuda.
Mas Kanami sempre foi diferente. E, mesmo quando todos a olhavam com desprezo, mesmo quando o patriarca decretou seu fim e Sora a protegeu, ela jamais deixou de demonstrar aquele calor único. E se ele, o irmão mais velho, precisasse se esforçar duas, três, até dez vezes mais para que as coisas continuassem daquela forma, se ele precisava ser o assassino mais cruel, sanguinário e perfeito daquela família para protegê-la, não se importância.
Ele mataria todos, sem hesitar, para proteger o coração de sua irmã.
Mas por que estou pensando nela, agora?
— Não se distraia.
A voz que chegou aos seus ouvidos vinha diretamente de seu ombro. Ou melhor, da pessoa que se aproximou com a espada voltada na horizontal, pronta para cortar seu corpo ao meio. Enquanto Sora havia se perdido em pensamentos no meio da luta que se desenrolava naturalmente, ele cometeu um erro grave: não prestou atenção no oponente mais perigoso de todos.
E foi por isso que, aproveitando-se de sua fraqueza, Roger avançou.
Mas o corpo do assassino desapareceu como uma estática e surgiu logo atrás dele, a uma distância longa de onde estivera anteriormente. Todos ali pararam, em choque, quando uma figura nova apareceu no campo de batalha.
Era uma menina de cabelos loiros e que usava uma faixa nos olhos. Ela abraçava o corpo do assassino e havia se agachado, levando-o para um local seguro. E, quando Roger voltou sua atenção para ela, todos sentiram que aquele embate sanguinário estava prestes a mudar.