Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 7 – Arco 3

Capítulo 73: Confronto de Sangue e Podridão

— Que coisas irritantes!

Zero exclamou enquanto saltava, corria e desviava. Os ataques dos fios de cabelos não chegavam nem perto dele, porém, ainda assim, a quantidade delas era maior do que poderia sonhar em contar. As facas, que se misturaram à ventania, velozmente cortaram e rasgaram-na, fazendo os tufos voarem. Não importava quantos golpes viessem, ele sempre seria mais rápido.

— O que acha disso, então?

Como uma cobra que rastejava pelo chão, Zero deslizou por baixo de Anoiem. E, ao atravessá-la, uma lâmina de vento arrancou fora uma das pernas de seu corpo principal, rasgando pelo joelho. O membro, duro como o de um defunto, jorrou sangue podre e caiu no chão fazendo um som oco. 

Anoiem soltou um grito de raiva e dor que fazia doer os tímpanos, sacudindo o ar. O corpo principal cedeu um pouco mais em direção ao solo, tremendo. O golpe desestabilizou a criatura. 

— Vamos, vamos, vamos! O que aconteceu?! Não me diga que isso é tudo o que pode me proporcionar! — falou Juan, ainda trocando golpes com a besta que começava a ficar mais lenta.

Os sabres, que até então estavam apenas mantendo as garras, agora foram capazes de avançar e realizar cortes sutis em Anoiem. Os ferimentos que se abriram nos ombros e barriga fizeram sangrar um líquido de odor terrível e escuro. 

— AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!!!

Mais um berro foi evocado, e a criatura, que antes apenas possuía um sorriso largo e desagradável, agora abriu a boca por completo. Um buraco grande o bastante para um ser humano ser engolido foi revelado, assim como dentes pontiagudos e faltantes. O bafo que fedia tanto quanto seu sangue atingiu o rosto do nobre, que ainda a atacava. Os pontos brancos no fundo dos buracos em seus olhos… Se tornaram tão vermelhos quantos as íris de Shin, que, também sorrindo de forma divertida, aproveitou-se do momento da fraqueza da besta para bater sua odachi contra seu ombro.

— Minha vez!! Há, há, há, há! Quero ver se livrar dessa! Destroce-a, Carmin! Tu! Huo!

Os olhos vermelhos de Shin e de Anoiem se encontraram. Uma visão assustadora de dois seres além da compreensão se encarando com sorrisos macabros durou apenas alguns segundos antes do assassino começar a rir como insano, afundando Carmin, sua espada, ainda mais no corpo principal da besta. O sangue vermelho do Akai se misturou ao corpo da besta, repentinamente fazendo o líquido podre queimar e se desfazer. 

— Há, há, há, há, há, há!

Risadas soavam conforme a odachi afundou no osso e estalou, e então Shin começou a fazer movimentos como a de uma serra. Lentamente, a carne podre cedia à lâmina e sangue escuro espirrava devido a brutalidade do golpe. A força imposta nos braços de um velho que estava pendurado nas costas de Anoiem, uma criatura intimidadora, era admirável. 

Mesmo quando uma das garras, desesperadas para impedi-lo de continuar, voou contra seu torso e atravessou seu estômago, o patriarca não parou. Na verdade, o golpe que fez sangue escorrer de sua boca a cuspes pareceu apenas incentivá-lo a continuar, acelerando o processo. Anoiem soltou outro berro de dor e agonia, irada com a cena que se desenrolava ao seu lado, porém incapaz de impedir.

O sangue de Shin que escorreu e caiu no corpo da criatura derreteu a pele e borbulhou o sangue escuro. Com o pé esquerdo apoiado contra suas costas, Shin continuou a serrar o braço de Anoiem sem parar. Carmin queimava e dilacerava ossos, carne, e tudo o que mais haveria pelo caminho. E, finalmente, quando aquele membro caiu fazendo um som oco no chão…

— HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ, HÁ!!

… Shin continuou a rir e se divertir.

Em comparação a dor que sentia, a duquesa, que agora estava sem um dos braços, cerrou os dentes para conter o choque que quase dilacerou o cérebro e arregalou os olhos. As íris verdes faiscaram em fúria. Até então, Fuyuki estava levando aquela luta à sério… Mas as coisas ficavam diferentes quando havia sentimento pessoal envolvido. 

— Como você ousa…?!

O sangue que jorrava o braço cortado, de repente, parou e solidificou, tornando-se cacos de gelo. O estancamento, produzido enquanto ainda estava em movimento, não foi exatamente o mais correto para aquela situação. Entretanto, Fuyuki estava apenas concentrada demais em matar a criatura responsável pelo seu ferimento diante de si. 

Koalem berrou de volta contra a duquesa ao vê-la avançar, ainda sentindo a dor da espada de gelo do antigo golpe. A criatura, com a expressão de palhaço distorcida, ergueu as garras na sua direção.

A matriarca bateu a sola do pé, e então pilares de gelo nasceram do solo, atravessando o corpo da besta várias e várias vezes. Fuyuki perfurou o corpo e viu um líquido negro que fedia a podre jorrar, mas antes que ele pudesse tocá-la, um escudo de gelo a protegeu. 

— Háááááá?!

Porém, antes que partes vitais pudessem ser acertadas, Koalem mais uma vez demonstrou sua elasticidade e capacidade de mutação de membros. As pernas se ergueram para o céu e, como se apenas desse uma cambalhota no ar, a criatura rolou como uma bola e caiu atrás da duquesa. 

Fuyuki se virou bem a tempo de ver a face sorridente da besta se transformar. Dentes pontiagudos preenchiam a boca de Koalem, os lábios pintados de vermelho pareciam sangue. As crateras no lugar dos olhos, de repente, foram preenchidas por uma imensidão sombria. Os pontos brancos sumiram, dando lugar a algo que quase escorria como lágrimas negras por seu rosto perfeitamente pintado em branco. A duquesa detectou imediatamente pelo fedor que era seu próprio sangue.

A face de Koalem se aproximou, rindo baixinho. Estavam a um palmo de distância. 

— Então, esta é sua expressão de irritação? — perguntou Fuyuki para a criatura que repentinamente parou de atacar para observá-la. Então, a duquesa afinou os olhos —  Que desprezível.

— Hááá?!

Como que entendendo que o torcer de seu rosto era um sinal de rejeição, a criatura com forma de palhaço urrou nos ouvidos da moça. Sangue escapou e manchou sua pele, mas ela não se moveu, continuando a encarar o poço sem fundo dos buracos de Koalem. 

No reflexo dos cacos de vidro que haviam se rachado e caído aos seus pés, Fuyuki notou uma movimentação clara como o sol. E foi nesse instante que, mais uma vez, usou sua mobilidade para abrir as pernas e deslizar até o chão, permitindo que o chute duplo de Al-Hadid acertasse perfeitamente na face da criatura, mandando-os contra um prédio que imediatamente se desfez. 

Escombros começaram a se empilhar e tremer a terra, mas Anoiem sequer foi capaz de notar o estado de seu companheiro. Afinal, ela mesma estava em uma situação tão terrível quanto. Tendo perdido dois membros do corpo, a criatura percebeu que não havia mais opções para ela além de apostar tudo o que possuía. Por conta disso, ao abrir a imensa boca com poucos dentes afiados, mas uma língua grande o bastante para alcançar o rosto de Juan, o nobre soltou uma risada.

— Ainda não está na hora do almoço! — disse ele, desferindo então um corte na vertical com Fátuo. O sabre fincou-se logo abaixo do queixo e fez a ponta alcançar o céu da boca. Sangue podre jorrou e escorreu pela lâmina quando ela rasgou ao meio aquela parte inferior, retornando para perto do espadachim. 

A visão horrenda de ter a parte debaixo da boca aberta em duas fez até mesmo o nobre torcer o rosto em nojo. Porém, ao mesmo tempo, ele estava confiante de que poderiam vencer. 

— Pessoal! Vamos acabar com isso! — exclamou ele, então.

— Sim! — respondeu Zero.

— Manda ver! — do outro lado do espaço, a voz de Omar foi ouvida, respondendo também às palavras do nobre. 

Anoiem, com seus membros cortados e boca aberta, e Koalem, com metade do rosto arrancado e fumaça das queimaduras saindo, urraram ao mesmo tempo. Aquele também foi, de certa forma, uma garantia de que estavam prontos para finalizar aquela luta. Colocariam tudo de si para derrotá-los… E foi então que a agitação continuou.

Anoiem usou seus cabelos para fincar-se no chão, permitindo usar ao máximo suas garras afiadas contra Shin e Juan, que agora estavam lado a lado. O velho parecia mais lento devido ao grande buraco em suas costelas, mas continuou a se mover. Zero não parou de correr ao redor do campo de batalha, desferindo cortes aqui e ali na criatura. E, mais uma vez, passou por baixo dela para arrancar-lhe a outra perna, mas não sem sair pelo outro lado com um rasgo de raspão no ombro. Foi por pouco, mas Juan foi capaz de defendê-lo.

Koalem se colocou de pé, sangrando e com a marca dos pés de Al-Hadid em sua face e pedaço do corpo. A área atingida queimou e derreteu, separando-se do corpo. Quando o lorde saltou para trás e se aproximou da duquesa, arregalou os olhos.

— Mocinha! O seu braço! Ele… Ele-

— Eu estou bem — afirmou Fuyuki, suando pelas têmporas e rosto ao encará-lo com firmeza. 

Aquela atitude fez as sobrancelhas douradas do homem se ergueram, surpresas com a determinação dela. Omar balançou os cabelos loiros e olhou para o adversário, decidindo acreditar em suas palavras. 

— Vou finalizá-lo — disse a duquesa, dando um passo à frente — Pode me dar suporte?

— Normalmente, eu negaria… Mas só dessa vez vou aceitar — disse Omar, cruzando os braços — É melhor ser capaz de fazer isso com um único golpe.

Um sorriso lento se abriu nos lábios de Fuyuki, que afinou os olhos na direção do lorde.

— Pode apostar que consigo.

Com isso, as garras de Koalem se abriram. Porém, apenas elas avançaram, estendendo-se de seu corpo como espinhos na direção da dupla. Os dois saltaram, desviando, e Fuyuki invocou uma espada de gelo novamente. Ainda que o outro braço tivesse sido arrancado, o restante ainda reservava espaço o bastante para conjurar um escudo. Dessa forma, a duquesa avançou, saltando e rolando pelo chão. Então, desviando as garras para os lados e defendendo-se de ataques que rasgariam a pele. Aos poucos, se aproximava cada vez mais da criatura. 

Enquanto ia pelo solo, Omar saltou nos ares e, novamente, usou suas pernas para focar em um novo golpe em meia lua. As pernas queimaram e se acenderam em chamas, brilhando contra o vidro no chão. Seu corpo girou rápido o bastante para que sua forma se distorcesse em uma espécie de sol, voando contra Koalem. Dessa vez, no entanto, antes do ataque acertá-lo no peitoral, as garras estenderam-se e, então, atravessaram um dos seus pés. Sangue escorreu e dor atingiu o cérebro de forma exponencial quanto mais profundamente as garras afiadas adentravam em seu corpo, subindo da canela até uma parte da perna.

— Aaargh! — gemeu ele, ainda com o poder concentrado em seus pés e um sorriso no rosto — E-Então vai ser assim?! Vamos ver quem aguenta mais, então!

Contra qualquer lógica de um ser humano normal, ao invés de Omar recuar, ele apenas continuou a avançar. As garras fincaram-se e adentraram em seu corpo, atravessando a carne. Uma dor lancinante que o fazia ver estrelas atingiu seu cérebro, mas Al-Hadid manteve-se acordado. Afinal, tanto ele quanto Koalem sofriam com dores. A criatura escancarou a boca e urrou quando as chamas se alastraram e queimaram cada vez mais, alcançando seu braço e carne que não podiam se tornar garras.

Fuyuki alcançou o corpo da criatura e, sem pensar duas vezes, fincou a espada em seu peito com um grito de força. Em seguida, empurrou o corpo de Koalem ainda mais para trás com o escudo, derrubando-lhe no chão. Com um joelho dobrado sobre seu corpo, a mão livre parou na face meio queimada da criatura, pronta para tocá-la.

— Finalize-a… Garoto Furoto! — exclamou Juan, olhando para cima.

Seus olhos não focavam-se na face horrenda de Anoiem, agora completamente distorcida. Mas no rapaz de cabelos violetas que, logo depois de ter sido ferido, havia saltado para cima de uma construção usando a aceleração com vento nos pés. Em um piscar de olhos, lá estava ele. O corpo flutuou no ar e, por fim, começou a cair em alta velocidade na direção da criatura. 

— Vamos, vamos! Acelere esses movimentos! — continuou Juan, agora focando-se nos ataques de Anoiem com as garras.

Os sabres rebatem os cortes, e o nobre empurrou Shin para o lado ao perceber que ele apenas acabaria o atrapalhando — principalmente por conta de seu ferimento no estômago. Agora, o choque das armas faziam rugir luzes como raios diante de seus olhos, quase o cegando. 

— Acelere, Fátuooo!

Choques, o tremor do ar que fazia vibrar os corpos, o som se desfazendo e ocultando qualquer voz ao redor, a energia que atravessava os braços e queimava o corpo com ansiedade, a euforia de um combate em que era necessário derrubar sangue e suor para que fosse capaz de vencer incentivou Juan a continuar. Os sabres bateram e bateram, acelerando o ritmo a um ponto que não eram mais capazes de serem vistos como espadas, mas como rastros de luzes brancas. As lâminas, de repente, começaram a brilhar tão forte quanto uma estrela no céu noturno.

Juan sentiu os sabres se comprimirem e então multiplicam, ganharem mais força e velocidade. Primeiro, eram duas, e então se tornaram quatro. Por fim, quando o clímax chegou, seis espadas se tornaram oito, cada cabo segurada com uma força abismal entre cada um dos cinco dedos da mão. Agora, era como se dois seres com garras se enfrentassem, mas ninguém de fora era capaz de enxergá-los como nada além de luzes.

— Aaaaaaaaaaaah!

— Aaaaaaaarrrrgh!

Gritos de homens e uma mulher se sobrepuseram. 

Os dentes de Koalem afundarem-se na mão de Fuyuki, atravessando a carne. E, nesse instante, o poder concentrado fluiu de dentro para fora, congelando e destroçando o corpo com lanças. 

Al-Hadid atravessou as garras e queimou-as, afundando e arrancando o torso da criatura com chamas que se alastraram em parceria com o frio.

Juan fez o elemento luz chegar ao seu ápice e superou a besta, finalmente superaquecendo as garras e quebrando-as com um som agudo.

Zero segurou as duas facas nas mãos e, pousando com os pés nas costas de Anoiem, fincou ambas as lâminas em seu pescoço, arrancando-lhe a cabeça.

Assim que o corpo de Anoiem bateu contra o chão, uma odachi ergueu-se antes de bater contra suas costas. Sangue podre mais uma vez voou para todos os lados quando Shin cerrou, rasgou e dilacerou todo o corpo principal da criatura.

E assim, mais uma vez, as duas criaturas invocadas foram derrotadas.

***

— Uma mensagem do patriarca — murmurou Kanami para si mesma ao sentir um branco na mente.

Ela parou onde estava, tendo saltado entre telhados e parado no topo de uma casa. De onde estava, podia ver praticamente toda a cidade de Hera. Fumaças se espalhavam pelo céu, e pessoas se escondiam em ruelas. A garota observou Sora, seu irmão, guiá-los corretamente na direção de um local seguro — o bunker. 

— Escutou, não é?

— Sim — respondeu o irmão gêmeo ao saltar para perto dela novamente, parando agachado. Sora franziu a testa — Eles estão ocupados. 

— Eu gostaria de poder matar todas essas criaturas, mas segundo o patriarca, parece que as cobertas por carne e sangue podem se regenerar após um pequeno período de tempo.

Sora estalou a língua. Graças aos seus instintos, a dupla foi capaz de auxiliar um grupo de pessoas perdidas a um local seguro. Obviamente, acabaram encarando as criaturas estranhas e precisaram enfrentá-las. Não foi um embate difícil, porém certamente desgastante pela quantidade que ainda vagava pelas ruas e becos da cidade. Mesmo agora, eles podiam enxergar várias delas andando de lá para cá, sentindo o cheiro de sangue ou procurando novas presas.

Kanami soltou um suspiro. 

— Repassarei ao nosso avô o relatório — disse ela, e então fechou os olhos.

Conectar-se entre familiares era uma habilidade realmente útil entre o assassinos da família Akai. Não era como leitura de mentes ou telepatia, apenas uma espécie de contato sutil entre eles. Como mensagens passadas através de poucas palavras ou imagens, como conhecimentos natos que uma pessoa poderia aprender. Em especial, Kanami e Sora apenas podiam fazer isso com uma pessoa de cada vez — ou melhor, com um membro da família de cada vez. Entretanto, Shin foi capaz de mandar uma mensagem para todos os que estavam na cidade.

— Mas ainda há algo errado.

Uma terceira voz feminina e baixa se aproximou, parando próximo a eles. Era Amane, a mulher com cabelos negros e que cobria um dos seus olhos vermelhos. Ela não os olhou quando falou, parecendo perdida em pensamentos.

— Estão libertando prisioneiros e propositalmente ocupando a mente da guarda real. Enviaram duas criaturas para que a corte pudesse lidar, separando-os de seus guardiões. Não parece que estão apenas ganhando tempo?

— … Estive pensando o mesmo — concordou Sora.

Amane piscou o único olho à mostra, colocando-se de pé na ponta do telhado da casa.

— Os guardiões de lorde Al-Hadid e do senhor Over estão ocupados com a circunstância nas celas — ela afinou o olhar — E, aparentemente, Miura esteve presente no local há até pouco tempo atrás… Ah, mais pessoas chegaram.

Sora observou que Amane possuía uma visão assustadoramente boa. Sua capacidade de observar, transparecer e processar informações em poucos segundos era um talento único dentro dos Akai. Entretanto, ainda assim, ela passou por tudo aquilo dentro da família… 

— O patriarca nos informou que estão a um passo de derrotarem as criaturas — falou Kanami, abrindo os olhos na direção dos dois — E que devemos continuar com as patrulhas. Porém, notou que Miura está rejeitando suas mensagens.

— Miura esteve no palácio desde o início. Talvez algo tenha acontecido — Sora se colocou de pé — Irei verificar sua situação. Kanami, permaneça aqui e continuaremos em contato caso necessário.

— Certo, meu irmão.

Enquanto a dupla conversava, Amane focou sua visão nos gêmeos com um brilho diferente no olhar. Entretanto, logo o desviou quando os dois notaram sua atenção.

— Muito bem. Então, se me dão licença — falou a assassina, desaparecendo com um único passo adiante, misturando-se às sombras ao saltar na direção da cidade.

Amane atravessou os becos, ignorando as criaturas que as povoavam e o cheiro de sangue. Saltou pelas paredes escuras e deslizou como uma serpente. Por fim, logo quando alguns poucos minutos se passaram, a assassina pousou em uma rua perto do palácio. Era um beco isolado e silencioso, sem qualquer presença significativa.

— Retornou cedo.

— Vim assim que requisitou minha presença, dona Sofia — Amane abaixou a cabeça e reverenciou sua mestra.

A nobre, que saiu a passos lentos das sombras, sorriu para a guardiã de expressão neutra. Então, segurou seu queixo e influenciou-a a olhá-la nos olhos. Íris vermelhas sem vida encararam os azuis esverdeados por um mero instante.

— Você fez muito bem, querida — Sofia acariciou a pele pálida da assassina, subindo os dedos magros e delicados de seu queixo para a bochecha, afastando levemente sua franja — Meu trabalho aqui se encerrou. Agora, vamos partir.

— Mas e quanto ao senhor Sasaki e os outros? — perguntou Amane, em voz baixa. Ela não reagiu de forma alguma à carícia, e também não se importou quando a bela moça afastou a mão de seu rosto.

— Não se preocupe. Afinal, como sempre, as conjunturas estão ocorrendo como previsto. Estou certa de que eles nos encontrarão no devido momento.

— Certo, dona Sofia.

Amane abaixou a cabeça outra vez em respeito. E então, as duas deram meia volta e marcharam na direção das sombras, desaparecendo por trás dos prédios.



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